22/08/2012

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa - A doutrina da Igreja sobre o diálogo inter-religioso




Em nossos dias é comum ouvir falar de diálogo inter-religioso, como se fosse um imperativo do Evangelho a Igreja abrir-se ao mundo para entrar em contato com todas as religiões e correntes ideológicas, sempre com o propósito de servir a humanidade e tornar a vida aqui na terra menos dura.
Dizem os adeptos do diálogo inter-religioso que entre os sérios problemas da atualidade que a Igreja poderia ajudar a resolver irmanada com as várias “religiões e filosofias da humanidade” estão o problema da paz, da “discriminação”, da “intolerância” e da “exclusão das minorias”.
Como se vê, é uma visão completamente humanista, antropocêntrica, utópica, que sonha com um paraíso na terra, que não vê a religião como uma virtude moral que tem por objeto o culto devido a Deus. É uma visão que, por princípio, desvirtua a religião, desligando-a do problema da salvação da alma.
Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, na primeira questão do tratado da virtude da religião, pergunta se a religião ordena o homem exclusivamente a Deus e é categórico, taxativo, na resposta afirmativa. E respondendo à objeção baseada na epístola de São Tiago (a religião pura e imaculada aos olhos de Deus Pai é visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se incorrupto neste século), diz que  a religião tem duas espécies de atos: uns são atos próprios e imediatos pelos quais o homem se ordena só a Deus, tais como sacrifícios, adoração etc; outros atos da religião são praticados mediante outras virtudes sobre os quais a virtude da religião impera ordenando-os ao serviço divino. (Cf. Suma Teológica, IIª IIªe. q.81, a. 1)
Para São Tomás, portanto, a verdadeira virtude da religião é incompatível com uma visão humanista em que o homem esteja no centro de tudo. Para ele, é inadmissível uma frase muito em voga “o homem é a estrada da Igreja”, como se a Igreja devesse ouvir sempre as aspirações e caprichos do homem que quer ser a sua própria lei ou transformar a religião numa espécie de terapia em que o culto divino se converteria em sessão de cura dos males da mente e do corpo, em que o pecado seria reduzido a mera doença que aflige apenas o homem mas não ofende a Deus. Enfim, uma religião que consola o homem mas se esquece de Deus. Para Santo Tomás, mediante a virtude da religião, todas as atividades humanas, por mais seculares que sejam, de alguma forma se ordenam à glória de Deus e à salvação das almas. É inconcebível uma ação filantrópica que faça abstração do fim último. É inconcebível que a Igreja trabalhe para o bem do mundo, como a ONU, relegando a segundo plano sua missão própria.
Aliás, na exposição da virtude da religião, São Tomás simplesmente desenvolve com argumentos filosóficos e teológicos aquilo que o simples bom senso diz e já tinha sido explanado pelos clássicos e pelos padres da Igreja. Por exemplo, Santo Agostinho diz: o homem bom usa das coisas da terra para gozar de Deus, o iníquo serve-se de Deus para gozar dos bens da terra.
Por isso, o propalado diálogo inter-religioso só pode ser legítimo e justificado se se subordinar à missão específica da Igreja, i. e., a salvação da alma. A Igreja tem de ser corajosa aos olhos de todo o mundo ao afirmar-se solenemente como único e exclusivo meio de salvação disposto por Deus para todos o homens. Tem de ser corajosa e formular um juízo negativo sobre todas as religiões falsas, que, como tais, são antes um obstáculo para a salvação do que um meio para chegar à verdade, não obstante a boa fé e a ignorância invencível de muitos dos seus sequazes. A verdade é intolerante. O bem é exclusivista. Bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu, diz Santo Tomás. Não basta dizer que, apesar de deficientes, as grandes religiões da humanidade contêm elementos de verdade, defendem valores da ordem moral natural ou que há pontos de união entre a Igreja e as religiões falsas. O mal não pede a exclusão do bem, pede um lugar ao seu lado, dizia o pe. Dulac. Hoje, o mundo relativista e maçônico da ONU pede à Igreja que aceite a seu lado todas as religiões para construir um novo mundo, um mundo em que o homem ocupe o lugar de Deus ou invente um deus a serviço do Homem.
Por essa razão, com clarividência, o grande papa Gregório XVI, na encíclica Mirari vos (1832), diz: “Nosso Senhor Jesus Cristo enviou seus apóstolos para pregar e ensinar a todas as nações, ou seja, derrubar todas as religiões existentes, a fim de então estabelecer em toda a terra a única religião cristã e assim substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma católico expresso na pregação Dele próprio. E prevendo, na sua presciência, os movimentos e divisões que sua doutrina iria incitar, Ele não se deteve e não permitiu concessões, mas declarou que tinha vindo ao mundo para trazer não a paz, mas a espada, a fim de separar o bem do mal e a verdade da mentira.”
A conclusão só pode ser uma: um suposto diálogo inter-religioso honesto, sério, franco, útil não pode esconder a verdade fundamental: a Igreja trabalha para a conversão de todos os homens à única religião verdadeira, que é ela mesma, pois que fundada pelo Verbo Encarnado. Outro diálogo inter-religioso só pode ser um sofisma ou artifício da maçonaria para implantar a religião do Homem-deus.

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