Jornal do Brasil
Roberto Muñoz*
O Hades proposto pelas duas guerras mundiais
referendou a burrice laica, enquanto os assassinatos em massa levados a cabo
pela arquitetura comunista – Rússia, China, Cuba – promoveram o diabólico a
nobre cargo influente na diretriz intelectual no mundo pós-laico. O resumo do
horror no século 20 brota violentamente na frase “O Estado é a organização
especial de um poder: é a organização da violência”, de Lênin, que também
proferiu em seu Decálogo: “Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade
sexual”.
Eis o Estado dominado por um
só partido, com a juventude usada como escudo e capataz, após ser comprada por
elogios e paparicações. Pra quê mais? Todos os Estados violentos do século
passado angariaram a juventude para suas hostes. De modo que a natural
exuberância juvenil foi canalizada pra fins menores – ao invés de aprofundar a
própria alma no belo lirismo da descoberta deste intermezzo existencial. Mas não,
Hölderlin, Rilke, Cruz e Sousa, entre outros, foram inapelavelmente preteridos
pela retórica política. E o desastre adveio em tórridas distorções pessoais por
meio do embrutecimento da sensibilidade.
O patético de tal século
também perambulou por meio de sinuosas infiltrações no mundo espiritual, com
bobagens sincréticas fortemente atuantes como a dita Nova Era – repleta de
incensos, pedras energizadas, velas e gurus dissonantes da verdadeira tradição
ocidental consolidada na Patrística e revigorada no Medievo. Os adeptos de
Gramsci – invasão do partido na esfera da elite intelectual de uma nação –
lambuzaram-se efusivamente, tamanho o deleite advindo da terrível atuação
política esquerdista no Concílio Vaticano II, de modo que a Missa Tridentina de
São Pio V foi solenemente substituída por pseudomissas porque formatadas na
purpurina e no confete.
A derrocada da coerência
espiritual baseada na Unidade Transcendental dá espaço, no mundo pós-moderno,
não mais ao dualismo proveniente dos subterrâneos da Revolução Francesa mas à
inversão de valores, onde o assassinato do próprio filho dentro do ventre
materno obtém respaldo internacional a ponto de virar lei em diversas partes do
mundo. O homem que pretendia “varrer o cristianismo da face da terra” cooptou admiradores
em vários cantos do planeta, sendo que o lema da foice, do martelo e da estrela
vermelha inspirou-lhe a fomentação de uma das maiores catástrofes já
existentes na Humanidade. E quem recordará que outro discípulo da violência
comunista, o senhor Ernesto “Che” Guevara, usava uma boina onde cravada estava
a estrela invertida de cinco pontas?
De fato, a incursão comunista
do momento, sob o ponto de vista de atuação conjuntural no mundo, passa
forçosamente por um Estado com economia liberal para fortalecer a burocracia e
o controle estatal, principalmente como forma de interferir diretamente na vida
privada dos nativos — o que pode acontecer sutilmente através da voz da
“opinião pública”, também atuante através de redes sociais internéticas cheias
da razão no que concerne a boníssimos discursos opinativos. O problema surge
quando assuntos meramente opinativos são substituídos por questões referentes a
juízos de valor como pauta diária. É justamente a politização integral do ser
humano que impossibilita a sua ascensão espiritual.
* Roberto Muñoz é escritor
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