30/08/2012

O século da ignorância


Jornal do Brasil

Roberto Muñoz*

O Hades proposto pelas duas guerras mundiais referendou a burrice laica, enquanto os assassinatos em massa levados a cabo pela arquitetura comunista – Rússia, China, Cuba – promoveram o diabólico a nobre cargo influente na diretriz intelectual no mundo pós-laico. O resumo do horror no século 20 brota violentamente na frase “O Estado é a organização especial de um poder: é a organização da violência”, de Lênin, que também proferiu em seu Decálogo: “Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual”. 
Eis o Estado dominado por um só partido, com a juventude usada como escudo e capataz, após ser comprada por elogios e paparicações. Pra quê mais? Todos os Estados violentos do século passado angariaram a juventude para suas hostes. De modo que a natural exuberância juvenil foi canalizada pra fins menores – ao invés de aprofundar a própria alma no belo lirismo da descoberta deste intermezzo existencial. Mas não, Hölderlin, Rilke, Cruz e Sousa, entre outros, foram inapelavelmente preteridos pela retórica política. E o desastre adveio em tórridas distorções pessoais por meio do embrutecimento da sensibilidade. 
O patético de tal século também perambulou por meio de sinuosas infiltrações no mundo espiritual, com bobagens sincréticas fortemente atuantes como a dita Nova Era – repleta de incensos, pedras energizadas, velas e gurus dissonantes da verdadeira tradição ocidental consolidada na Patrística e revigorada no Medievo. Os adeptos de Gramsci – invasão do partido na esfera da elite intelectual de uma nação – lambuzaram-se efusivamente, tamanho o deleite advindo da terrível atuação política esquerdista no Concílio Vaticano II, de modo que a Missa Tridentina de São Pio V foi solenemente substituída por pseudomissas porque formatadas na purpurina e no confete. 
A derrocada da coerência espiritual baseada na Unidade Transcendental dá espaço, no mundo pós-moderno, não mais ao dualismo proveniente dos subterrâneos da Revolução Francesa mas à inversão de valores, onde o assassinato do próprio filho dentro do ventre materno obtém respaldo internacional a ponto de virar lei em diversas partes do mundo. O homem que pretendia “varrer o cristianismo da face da terra” cooptou admiradores em vários cantos do planeta, sendo que o lema da foice, do martelo e da estrela vermelha inspirou-lhe a fomentação de  uma das maiores catástrofes já existentes na Humanidade. E quem recordará que outro discípulo da violência comunista, o senhor Ernesto “Che” Guevara, usava uma boina onde cravada estava a estrela invertida de cinco pontas? 
De fato, a incursão comunista do momento, sob o ponto de vista de atuação conjuntural no mundo, passa forçosamente por um Estado com economia liberal para fortalecer a burocracia e o controle estatal, principalmente como forma de interferir diretamente na vida privada dos nativos — o que pode acontecer sutilmente através da voz da “opinião pública”, também atuante através de redes sociais internéticas cheias da razão no que concerne a boníssimos discursos opinativos. O problema surge quando assuntos meramente opinativos são substituídos por questões referentes a juízos de valor como pauta diária. É justamente a politização integral do ser humano que impossibilita a sua ascensão espiritual. 

* Roberto Muñoz é escritor

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