06/07/2015

Explicação do Símbolo dos Apóstolos - Santo Ambrósio de Milão (Séc. IV)


"Nada devemos tirar e nada acrescentar. Este é o símbolo conservado pela Igreja romana, onde Pedro, o primeiro dos apóstolos, sentou-se e onde lhe conferiu a sentença comum".
Explicação do símbolo
Santo Ambrósio de Milão (337-397)
Sobre a obra
Por Alessandro Lima
Durante o Concílio de Nicéia (325 DC) o Símbolo dos Apóstolos foi confirmado tornando-se então a base fundamental de toda doutrina Cristã.
Santo Ambrósio assim como outro Padres da Igreja, escreve uma obra dedicando-se à reflexão do Símbolo dos Apóstolos (conhecido entre os católicos como Credo).
Santo Ambrósio ensina que “Os santos apóstolos reunidos juntos fizeram um resumo da fé, a fim de que pudéssemos compreender brevemente o elenco de toda a nossa fé”.
Assim O Símbolos dos apóstolos é o Kerigma cristão, usado pelos apóstolos para evangelizar a terra.
Santo Ambrósio comenta o Símbolo dos Apóstolos para defender a fé Católica e a verdadeira ortodoxia frente os hereges arianos, sabelianos. Santo Ambrósio reflete muito bem a fé da Igreja primitiva de que todo aquele que não confessa o Símbolo dos Apóstolos, não confessa a verdadeira fé. Ele também afirma: “devemos nos precaver muito mais para evitar que alguma coisa seja tirada do Símbolo dos anciãos”.
No capítulo 7 Santo Ambrósio condena todos aqueles que querem usurpar a Verdade na fé Católica, fé que está confirmada no Símbolo dos Apóstolos, que é fielmente guardado pela Igreja Católica Romana. De fato ele afirma:
“Se nada pode ser tirado ou acrescentado aos escritos de um só apóstolo, como poderíamos mutilar o símbolo que recebemos como tendo sido composto e transmitido pelos apóstolos? Nada devemos .! tirar e nada acrescentar. Este é o símbolo conservado pela Igreja romana, onde Pedro, o primeiro dos apóstolos, sentou-se e onde lhe conferiu a sentença comum.”
Neste trecho temos mais um testemunho antigo de que São Pedro foi Bispo de Roma e de que a Igreja Romana é fiel depositária da Verdade Cristã.
A confissão de fé na Santíssima Trindade é muito forte, bem como é forte a fé na Igreja. Para Santo Ambrósio é inútil crer no Pai se esta fé não gerar a fé na Igreja (”Pelo fato de que aquele que acredita no Criador, acredita também na obra do Criador”). Argumento semelhante ao de São Cipriano (”não se pode ter Deus por Pai se não tiver a Igreja por Mãe” (cf. A Unidade da Igreja Católica).
Também se confessa a fé na Remissão dos Pecados e na Ressurreição da Carte.

Explicação do símbolo
Santo Ambrósio de Milão (Séc. IV)


Texto
Tradução de Célia Mariana F. F. da Silva

1. Foram celebrados até hoje os mistérios dos escrutínios. Foi pesquisa do para que alguma impureza não fique ligada ao corpo de alguém. Pelo exorcismo, procurou-se e aplicou-se uma santificação não só do corpo, mas também da alma. Agora chegou o tempo e o dia de apresentar a tradição do símbolo, este símbolo que é um sinal espiritual, este símbolo que é objeto da meditação de nosso coração e como que salvaguarda sempre presente. De fato, é tesouro do nosso íntimo.
2. De início, precisamos receber a razão do próprio nome. Símbolo é termo grego que significa “contribuição”. Principalmente os comerciantes se acostumam a falar de contribuição quando ajuntam seu dinheiro e a soma assim reunida pela contribuição de cada um é conservada inteira e inviolável, se bem que ninguém ouse cometer fraude em relação à contribuição. Esse é o costume entre os próprios comerciantes para que, se alguém cometer fraude, seja rejeitado como fraudulento. Os santos apóstolos reunidos juntos fizeram um resumo da fé, a fim de que pudéssemos compreender brevemente o elenco de toda a nossa fé. A brevidade é necessária, para que ela seja sempre mantida na memória e na lembrança. Sei que principalmente em regiões do Oriente (acrescentaram coisas) àquelas que foram por primeiro transmitidas pelos nossos anciãos, uns por fraude, outros por zelo - os heréticos por fraude, os católicos por zelo. Aqueles, tentando esquivar-se fraudulentamente, acrescentaram o que não era devido, enquanto estes, esforçando-se para evitar a fraude, por certa piedade e imprudência, ultrapassaram os limites colocados pelos anciãos.
3. Os apóstolos, portanto, se reuniram e fizeram brevemente um símbolo. Persignai-vos. (Feito isso e tendo recitado o símbolo): Neste símbolo, está compreendida de maneira evidentíssima, a divindade da Trindade eterna: a operação única do Pai, do Filho e do Espírito Santo, da venerável Trindade, de modo que tal seja a nossa fé, que creiamos do mesmo modo no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Com efeito, onde não existe nenhuma distinção de majestade, também não deve haver distinção de fé. Por ou- tro lado, freqüentemente vos adverti que o nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, foi o único que tomou esta carne com alma humana racional e perfeita, e assumiu a forma do corpo. Ele se tornou como um homem na verda- de deste corpo, mas tem um privilégio singular de sua geração. De fato, não nasceu do sêmen de homem, mas, como se diz, foi gerado da virgem Maria pelo Espírito Santo. Reconheces (nisso) o privilégio do autor celeste? Tornado, portanto, como homem para assumir nossas enfermidades em sua carne, mas veio com o privilégio da majestade eterna. Recitemos, portanto, o símbolo. (Depois de recitado, assim continuou): Eis o conteúdo da Escritura divina. Deveríamos audaciosamente ultrapassar os limites (postos) pelos apóstolos? Acaso somos mais prudentes do que os apóstolos?
4. Tu me dirás: Em seguida surgiram as heresias. De fato, também o Apóstolo diz: “É necessário que haja heresias, para que os bons sejam provados” (1Cor 11,19). O que dizer, portanto? Vede a simplicidade, vede-a pureza. Quando surgiram os patripassianos, também os católicos desta região julgaram que se devia acrescentar invisível e impassível, como se o Filho de Deus fosse visível e passível. Se ele foi visível na carne, essa carne é que foi visível, não a divindade, a carne é que foi passível, não a divindade. Além disso, escuta o que ele diz: “Deus, meu Deus, olha para mim; por que me abandonaste?” (SI 21,2; cf. Mt 27,46). Nosso Senhor Jesus Cristo disse isso na paixão. Disse isso enquanto homem, enquanto carne, como se a carne dissesse à divindade: “Por que me abandonas-te?” Suponhamos que os nossos anciãos tenham sido médicos, que eles quiseram trazer saúde à doença mediante o remédio. Não se pergunta se o remédio não foi necessário naquele tempo em que as almas de certos hereges estavam com doença grave; se naquele tempo foi necessário, agora não o é. Por qual razão? Tendo sido conservada íntegra a fé contra os sabelianos, os sabelianos foram expulsos, principalmente das regiões do Ocidente. Os arianos encontraram para si nesse remédio uma espécie de calúnia, de modo que, enquanto conservamos o símbolo da Igreja romana, eles consideraram o Pai todo-poderoso invisível e impassível e disseram: “Vês que o símbolo é isso”, e assim demonstraram que o Filho é visível e passível. O que quer dizer isso? Onde a fé se mantém íntegra são suficientes os mandamentos dos apóstolos; não se têm necessidade de garantias, mesmo dos sacerdotes. Por quê? Porque o joio está misturado ao trigo.
5. Eis o símbolo: “Creio… único, nosso Senhor.” Dizei assim: seu Filho único. “Não único Senhor”. Deus é um, único e Senhor. Mas não caluniem dizendo que afirma-mos que o Filho é uma única pessoa: “E em… único, nosso Senhor”. Tendo falado da divindade do Pai e do Filho, chega-se à encarnação deste: “Que nasceu… e foi sepultado”. Tens aqui a paixão e a sepultura dele. “No terceiro dia… dos mortos”. Tens aqui também a ressurreição dele. “Subiu… está sentado à direita do Pai”. Vês, portanto, que a carne em nada pode diminuir a divindade; ao contrário, pela encarnação Cristo conseguiu um grande triunfo. Com efeito, por que motivo, depois que se levantou da morte, ele está sentado à direita do Pai? Ele como que devolveu ao Pai o fruto da boa vontade. Tens duas coisas: ele ressuscitou da morte e está sentado à direita do Pai. Portanto, em nada a carne pode causar detrimento à glória da divindade. Tens duas coisas: ou nosso Senhor Jesus Cristo está sentado à direita e ressuscitou da morte graças à prerrogativa da divindade e da substância de sua geração, ou certamente como triunfador eterno, que adquiriu um bom reino para Deus Pai, ele reivindicou para si mesmo a prerrogativa de sua vitória. “Está sentado à direita do Pai… e os mortos”. Escuta, homem. Deves, portanto, crer nisso logo. A própria fé brota da caridade. Quem ama nada retira. O amigo que ama seu amigo nada tira dele. Quem ama o Senhor, com maior razão nada deve tirar dele. Por que digo: “está sentado”? Aquele que ama também tem algo a temer: “De onde… e os mortos”. É ele que nos julgará. Toma cuidado, portanto, em não tirar nada daquele que será nosso juiz. Por que esse mistério? Não haverá um só julgamento do Pai, do Filho e do Espírito Santo? Não haverá uma só vontade, não haverá uma só majestade? Por que te dizem que o Filho julgará, senão para que entendas que nada deve ser tirado do Filho? Vê, portanto: crês no Pai, crês também no Filho. E o que em terceiro lugar? “E no Espírito Santo”. Todos os ” sacramentos que recebes, tu os recebes nessa Trindade. Que ninguém te engane. Vês, portanto, que existe uma única operação, uma única santificação, uma só majestade da venerável Trindade.
6. Recebe sadiamente o motivo pelo qual cremos Criador, para não dizeres: Mas há também a Igreja, há também a remissão dos pecados, e há também a ressurreição. Que dizer disso? O motivo é o mesmo: cremos no Pai, cremos no Filho da mesma forma que cremos na Igreja, na remissão dos pecados e na ressurreição da carne. Por qual motivo? Pelo fato de que aquele que acredita no Criador, acredita também na obra do Criador. Por outro lado, para que não julgueis que se trata de invenção nossa, recebei o testemunho: “Se não credes em mim, crede ao menos nas obras” (Jo 10,38). Sabes disso. Agora a tua fé brilhará mais se julgares que a fé verdadeira e íntegra deve se estender à obra do Criador, à santa Igreja e à remissão dos pecados. Crê, portanto, que em virtude da fé todos os teus pecados serão perdoados. De fato, leste no Evangelho que o Senhor diz: “A tua fé te salvou” (Mt 9,22; Mc 10,52; Lc 17,19). “Na remissão… e na ressurreição.” Crê que também a carne ressuscitará. Com efeito, por que foi necessário que Cristo assumisse a carne? Por que foi necessário que Cristo experimentasse a morte, recebesse a sepultura e ressurgisse, senão em vista da tua ressurreição? “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé” (lCor 15,14). Todavia, porque ele ressuscitou, a nossa fé é firme.
7. Eu disse que os apóstolos compuseram o Símbolo. Portanto, se os comerciantes que fazem tais negócios e os contribuintes de dinheiro têm a lei que considera desonesto e indigno de crédito aquele que violou a sua contribuição, devemos nos precaver muito mais para evitar que alguma coisa seja tirada do Símbolo dos anciãos. Com efeito, tens no livro do Apocalipse de João -livro que está no Cânon e que provê um grande fundamento para a fé, pois relembra aí com clareza que nosso Senhor Jesus Cristo é onipotente, embora também isso se encontre em outros lugares -tens nesse livro: “Se alguém acrescentar ou tirar alguma coisa, sofrerá o julgamento e o castigo” (cfAp. 22,18-19). Se nada pode ser tirado ou acrescentado aos escritos de um só apóstolo, como poderíamos mutilar o símbolo que recebemos como tendo sido composto e transmitido pelos apóstolos? Nada devemos tirar e nada acrescentar. Este é o símbolo conservado pela Igreja romana, onde Pedro, o primeiro dos apóstolos, sentou-se e onde lhe conferiu a sentença comum.
Santo Ambrósio.
8. Assim, como há doze apóstolos, há também doze artigos. Persignai-vos (Feito isso): “Creio… da virgem”. Tens a divindade do Pai, a divindade do Filho, tens a encarnação do Filho, conforme eu disse. “Sob… sepultado”. Tens a paixão, a morte e o sepultamento. Esses são quatro artigos. Vejamos os outros. “No terceiro dia… e os mortos”. Esses são os outros quatro artigos, perfazendo assim oito artigos. Vejamos ainda os outros quatro artigos: “E no Espírito Santo… na ressurreição”. Portanto, conforme os doze apóstolos, foram compostos doze artigos.
9. Quero avisá-los bem do seguinte: o símbolo não deve ser escrito. Deveis repeti-lo, mas ninguém o escreva. Por que motivo? Foi-nos transmitido que não deveria ser escrito. O que fazer então? Retê-lo de cor. Tu, porém, me dizes: “Como é possível retê-lo sem escrevê-lo?” Pode-se retê-lo melhor se não se escreve. Por que razão? É o seguinte. O que escreves, seguro de que o relerás, não te aplicarás em examiná-lo pela meditação diária. O que, porém, não escreves, terás medo de esquecê-lo e daí o repassarás todo dia. Isso é uma grande segurança. Se sobrevierem entorpecimentos da alma e do corpo, tentação do adversário, que nunca descansa, algum tremor do corpo, doença do estômago, repete o símbolo, e ficarás curado. Repete principalmente no teu íntimo, dentro de ti. Por quê? Para que não adquiras o hábito de repeti-lo muito alto sozinho onde estão os fiéis, comeces a repeti-lo entre os catecúmenos ou hereges.


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