A verdade não muda:
Se perdermos o Dogma, perdemos a nossa alma
pelo Padre Nicholas Gruner, S.T.L., S.T.D.
(Cand.)
Como se pode ver pelo livro O derradeiro
combate do demónio, estamos hoje a viver no meio da Grande Apostasia que foi
profetizada nas Sagradas Escrituras. Esta apostasia, diz-nos o Cardeal Ciappi,
começa pelo topo da Igreja. O Cardeal Oddi diz-nos que, no Terceiro Segredo,
Nossa Senhora avisa-nos contra a apostasia.
Um dos primeiros e maiores baluartes e
defesas contra a apostasia é ter uma
compreensão e aceitação firmes das
definições dogmáticas da Fé Católica. É precisamente do dogma da Fé que Nossa
Senhora fala explicitamente no início do Terceiro Segredo, quando disse:
"Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc." Este
"etc.", que foi escrito pela própria Irmã Lúcia, indica claramente
que Nossa Senhora disse mais.
Todos os estudiosos de Fátima concordam
em como Nossa Senhora continuou a dizer que, noutras partes do mundo, o dogma
da Fé seria atacado e não conservado como devia ser, e até podia perder-se por
completo. Não devemos permitir que sejamos vítimas desta apostasia crescente
que nos rodeia. Devemos salvar as nossas almas e as nossas verdades dogmáticas.
Nos nossos tempos, muitos Católicos –
padres, Bispos e Cardeais, assim como leigos – estão a perder o sentido do
dogma. Estão a esquecer-se de que, se não salvaguardarem bem a sua Fé, se negarem
culposamente ou mesmo se duvidarem de um só dogma – uma doutrina da Fé Católica
que foi ensinada infalivelmente por Jesus Cristo através da Sua Igreja Católica
– estão a cometer um pecado mortal. E se não se arrependerem deste pecado e
fizerem uma confissão digna (ou um acto de Perfeita Contrição à hora da morte),
irão para o inferno por toda a eternidade. S. Tomás de Aquino ensina que os
pecados contra a Fé contam-se entre os maiores pecados.
Há pessoas que perdem o sentido do dogma
porque não acautelam suficientemente os seus espíritos contra as falsas ideias,
ensinamentos e doutrinas que procuram suplantar, suprimir ou minar a Fé
Católica. Outros, porque nunca tentam compreender, ou não procuram conhecer, os
verdadeiros ensinamentos de Jesus Cristo e da Sua Igreja Católica, nem sequer
reconhecem que se deixaram levar pelas mentiras do século, o que os exclui de
aceitar os ensinamentos do Evangelho num ou muitos pontos.
Estamos, de facto, a viver na era da
Apostasia: o período de tempo profetizado nas Sagradas Escrituras pelo próprio
Jesus Cristo, assim como por S. Paulo. O pecado de heresia constitui a negação
de um ou mais dogmas da Fé, o que é um pecado mortal que envia as almas para o
inferno. Ora a apostasia é muito pior. O pecado de apostasia é a rejeição de
todo o Evangelho, ou de grande parte dele. E a era da Apostasia está sobre nós.
Alguns caem na apostasia por ignorância,
porque nem sequer sabem os pontos fundamentais do Evangelho. Outros caem porque
aprenderam os pontos fundamentais mas só os aceitaram por algum tempo. Estes
são como a semente que não caem em bom solo; não tomam precauções para
salvaguardar a Fé contra as doutrinas falsas, e estas doutrinas falsas
estrangulam-lhes a Fé, de modo que se perdem. Outros perdem-se porque seguiram
o mau exemplo de padres, Bispos e Cardeais cegos, que ensinam doutrinas falsas.
Estes falsos mestres, que defendem doutrinas heréticas – e hoje em dia não há
falta deles na Igreja – escandalizam as almas a seu cargo, levando-as à heresia
e apostasia.
A Irmã Lúcia, no início da década de
1970, chamou-lhes "guias cegos". Não é para admirar que tenha sido
silenciada.
Devemos recuperar o sentido da Verdade
dogmática. E se acontecer que um padre, Bispo, Cardeal ou mesmo um Papa diga ou
faça alguma coisa que ensineexplícita ou implicitamente alguma doutrina
herética, devemos repeli-la e resistir-lhe. Devemos defender a nossa alma e,
até onde pudermos, as almas dos outros, resistindo às declarações heréticas,
venham elas de onde vierem. Nem que seja o Papa a dizer tais coisas.
Muitos Católicos não sabem que houve
ocasiões na história da Igreja em que um Papa ensinou uma heresia, ou falhou no
seu dever de suprimir uma heresia. E se já aconteceu, pode voltar a acontecer.1
Por exemplo, o Papa Nicolau I disse
que o Baptismo era válido, quer fosse ministrado em nome das Três Pessoas da
Santíssima Trindade, quer apenas em nome de Cristo. Nisto, o Papa Nicolau I
enganou-se. O Baptismo apenas em nome de Cristo não é válido.2
O Papa Honório, para justificar um compromisso
com hereges, disse em 634:"Devemos
ter cuidado em não atiçar de novo questões antigas." Com este argumento, o Papa
permitiu que o erro se espalhasse livremente, com o resultado de que a verdade
e a ortodoxia desapareceram de facto. S. Sofrónio de Jerusalém foi praticamente
o único a opor-se a Honório e a acusá-lo de heresia. Eventualmente, o Papa
arrependeu-se, mas morreu sem reparar o mal incontável que fez à Igreja pelo
seu princípio de compromisso. Assim, o Terceiro Concílio de Constantinopla
lançou-lhe o anátema, o que foi confirmado pelo Papa S. Leão II. (Ver D.S. 561)
O Papa João XXII disse em Avinhão, na
Festividade de Todos os Santos de 1331, que a alma não entrava na Visão
Beatífica até à ressurreição do corpo, nos últimos dias. Depois disto, o Papa
foi repreendido pelos teólogos da Universidade de Paris. E repreenderam o Papa
porque sabiam que esta teoria eram uma heresia. João XXII só retractou o seu
erro pouco tempo antes de morrer em 1334.3
A Fé é o mais
importante
O Depósito da Fé é o fundamento da nossa
salvação. É o fundamento do papado. É o fundamento dos sacramentos. Se o
Depósito da Fé não for salvaguardado, não há nada na Igreja que esteja seguro
contra um ataque. Esta atitude de importância primordial, de salvaguardar todos
e cada um dos dogmas da Fé não é só a minha opinião. É o ensinamento solene da
Igreja Católica. Um dos Credos Católicos, em que temos obrigação de crer,
começa assim: "Quem quiser ser salvo, precisa, antes de mais, demanter
a Fé Católica; se cada um de nós não a conservar inteira e inviolada, sem
qualquer dúvida perecerá para a eternidade." (D.S. 75)
Esta obrigação está acima da lei da
caridade para com os pobres ou o próximo – está acima de todas as boas obras. A
obrigação para com a Fé é mais importante que o respeito ou deferência devida
ao Papa, Bispos, padres ou familiares e amigos. S. Paulo disse: "Mas se
nós, ou um anjo do Céu, vos pregar um Evangelho que não seja aquele que nós vos
pregámos, seja anátema." (Gál. 1:8) Não devemos prestar atenção a um
pregador que contradisser a doutrina católica tradicional.
O que nos acontecerá, especialmente
neste tempo de Apostasia Geral, se não amarmos a Verdade acima dos outros
homens, acima do amor que devemos aos nossos padres e Bispos, acima do amor que
devemos até aos Papas? O que acontecerá se não amarmos a Verdade acima da
riqueza, da posição social e dos respeitos humanos? Podemos então cair sob esta
maldição de Deus: "E em toda a sedução da iniquidade aos que perecem;
porque não recebem o amor da verdade, para que possam ser salvos. Portanto, Deus enviar-lhes-á a operação do erro, para que acreditem na
mentira: Para que todos os
que não acreditaram na verdade, mas antes consentiram na iniquidade, sejam
julgados." (2 Thess. 2:10-11)
Esta recuperação da certeza, da
importância vital e da necessidade absoluta da verdade dogmática como sendo
definida infalivelmente para todo o sempre é crucial, para que as pessoas não
se deixem enganar pela apostasia geral que nos rodeia.
Para salvarmos a alma, não basta seguir
este ou aquele padre, este ou aquele Cardeal ou Bispo – nem mesmo este ou
aquele Papa – por mais geralmente aclamados que sejam, se contradisserem um
dogma definido infalivelmente que seja.
Alguns padres e mestres ignorantes
dizem: "Não ligamos a definições dogmáticas de tempos antigos; nós
seguimos o 'Magistério vivo'." (Não estou a exagerar; ouvi isto com os
meus próprios ouvidos. Ao princípio, quase não pude acreditar que estavam a
dizer isto – e eram padres que dizem ser fiéis, ferventes e tradicionais.)
Por outras palavras, o que estes
"mestres" loucos e ignorantes estão a dizer é:Seguimos o Cardeal Ratzinger, ou um outro
qualquer Cardeal do Vaticano, ou até o Papa, seja em que circunstâncias for –
mesmo se um deles contradiz explicitamente a definição solene e infalível de um
Papa anterior, ou de um Concílio Ecuménico anterior, confirmado infalivelmente
por um Papa anterior.4
Estes guias cegos raciocinam assim:
Agradamos a Deus porque somos humildes, porque somos obedientes, e foi Deus
quem escolheu aqueles homens para nos dirigir como Papa e Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé. Estas pessoas continuam a dizer que quem não se submeter está no erro, e será
castigado por Deus por não crer no "Magistério vivo".
Pensar assim é, de facto, "a
operação do erro" para "os que perecem" (ver 2 Tess. 2:10-11)
que "Deus enviar-lhes-á" porque "não acreditaram na
verdade" e "consentiram na iniquidade".
Deus permitiria que uma pessoa fosse
enganada assim? Como é que podia ser, perguntam? Em resposta, temos os
ensinamentos de S. João Eudes e das Sagradas Escrituras.
S. João Eudes explica que o castigo mais
terrível que Deus pode enviar ao Seu povo são os maus sacerdotes (isto inclui
obviamente os maus Bispos e os maus Cardeais, e pode mesmo incluir um Papa).
Eis as palavras de S. João Eudes:
"A marca mais evidente da cólera de
Deus e o castigo mais terrível que Ele pode dar ao mundo manifestam-se quando
Ele permite que o Seu povo caia nas mãos de clérigos que são padres mais em
nome do que em actos, padres que praticam a crueldade de lobos predadores em
vez da caridade e do afecto de pastores dedicados...
"Quando Deus permite tais coisas, é
prova muito positiva de que Ele está muito irado com o Seu povo, e está a
fazer-lhes conhecer a Sua temível cólera. É por isso que Ele clama sem cessar
aos Cristãos, ‘Regressai, filhos revoltados ... e Eu dar-vos-ei pastores
segundo a Minha vontade’ (Jer.
3:14,15). Assim, as irregularidades nas vidas dos sacerdotes constituem um
flagelo sobre o povo, em consequência do pecado."5
Como está documentado em O derradeiro combate do demónio6
e noutras obras,7 vemos a infiltração de todo o género de pessoas corruptas no
sacerdócio. É evidente que Deus está muito irado com o Seu povo, como se vê por
todos os maus sacerdotes dentro da Igreja, e muito especialmente pelos
escândalos do clero.
Devemos lembrar-nos de que Deus
envia-nos castigos e avisos nesta vida, como Santo Afonso aponta, para que
demos atenção aos Seus avisos enquanto é tempo, antes que seja tarde demais
para nós. Os escândalos do clero são sinais claros de que Deus chegou ao termo
dos Seus avisos. Já é tarde; devemos pelo menos acordar, fazendo penitência
pelos nossos pecados e rezando com grande fervor para alcanças a graça e
misericórdia de Deus nestes tempos, tanto para nós como para todos os que Deus
confiou ao nosso cuidado. Mas estes escândalos não se limitam aos padres e
Bispos pervertidos e corruptos. Pior ainda é a corrupção da nossa Fé Católica
pelos chamados "defensores da Fé". Os que dizem que o
"Magistério vivo" tem precedência sobre as definições dogmáticas,
infalíveis e imutáveis, estão a enganar almas sem conta e desviá-las para o
inferno.
A perversão de padres, Bispos e Cardeais
que nos dizedm que não é preciso que os não-crentes se convertam à Fé Católica8
é uma perversão maior do que a pedofilia – por mais horrível que a pedofilia
seja. Esta heresia – mesmo que seja promovida por Cardeais do Vaticano, mesmo
que tenha o apoio, implícito ou explícito, do Papa – não altera no mínimo a
perversidade de tal ensinamento. Quem defender este ensinamento do chamado
"Magistério vivo" ou perdeu a Fé, ou esteve toda a vida na ignorância
completa do que é a Fé. Mas a sua ignorância não os desculpa necessariamente de
pecar gravemente nesta matéria.
A Fé Católica – o Depósito da Fé que nos
vem de Jesus Cristo e em que todos os Católicos devem crer para salvarem as suas
almas – ensina-nos, entre outras coisas:
1) Deus é o autor da nossa Fé.
2) Devemos crer em Deus, porque o que Ele nos diz é a Verdade.
– Como Deus é omnisciente, não pode
enganar-Se nem ter só parte da Verdade;
– Como Ele é a Santidade total, não nos
pode mentir. Pode permitir que sejamos enganados porque não amamos a verdade,
mas nunca nos pode mentir.
3) Como Deus nos diz a Verdade, e como todos e cada um dos artigos
da Fé são verdadeiros, porque foi Deus quem os revelou, segue-se que:
1) O que era verdade em 33 D.C. também é
verdade em 2003 D.C.;
2) O que foi definido como verdadeiro
pela Igreja
em 325 AD em Niceia
em 1438-45 AD em Florença
em 1545-65 AD em Trento
em 1870 AD no Vaticano I
ainda hoje é verdadeiro.
Isto
é, Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre. Portanto, quando o
Concílio de Florença define que nem os judeus, nem os hereges, nem os
cismáticos entrarão no Reino de Deus a não ser que se arrependam do seu erro
antes de morrerem, então é essa a verdade para todo o sempre.
O
Padre Gruner no estúdio de FÁTIMA: "Chegou o momento", o único
programa de televisão que propaga a Mensagem de Fátima na sua totalidade e os
ensinamentos da Igreja Católica.
O que os Santos e os Concílios nos dizem
Mas levanta-se a objecção: E se um Papa
diz mais tarde algo de diferente, ou o contrário? Não é também o Papa? Não tem
o mesmo poder de um Papa anterior? Então, como podemos errar se seguirmos um
Papa mais recente que contradiz um Papa anterior?
Claro que a primeira coisa que devemos
fazer é determinar se o Papa mais recente, ou mesmo o Papa actual – disse
realmente alguma coisa que contradiz explicitamente os ensinamentos solenes e
infalíveis de um Papa anterior. Mas se, de facto, assim aconteceu, então o Papa
mais recente está errado. A razão é que o papel do Papa não é inventar novas
doutrinas, ou ensinar novas doutrinas, mas manter o Depósito da Fé revelado por
Deus, e defender e explicar o Depósito da Fé. O Concílio Vaticano I ensina:
"E os Pontífices Romanos, segundo
as exigências dos tempos e circunstâncias, por vezes reunindo concílios
ecuménicos ou pedido a opinião da Igreja espalhada portodo o mundo, por vezes
através de sínodos particulares, por vezes ainda usando outras ajudas
disponibilizadas pela Providência Divina, definiram para ser aceites as coisas
que, com a ajuda de Deus, reconheceram estar conformes com as Sagradas
Escrituras e as tradições apostólicas. Porque o Espírito Santo não foi
prometido aos sucessores de Pedro para que, por Sua revelação, dessem a
conhecer novas doutrinas, mas para que, por Sua assistência, mantivessem
inviolável e fielmente explicada a revelação ou Depósito da Fé que lhes foi
entregue através dos Apóstolos."9 (D.S. 3069-3070)
Portanto, quando um Papa ensina que alguma
coisa faz parte do Depósito da Fé, sabemos que essa é realmente a verdade que o
próprio Deus revelou.
E como a primeira qualidade da Verdade é
que não se pode contradizer a si própria, sabemos, portanto, que não pode vir
um Papa mais recente a ensinar uma doutrina nova. Se tal acontecer, a doutrina
nova não pode ser verdadeira, porque é contrária ao que Deus ensinou e
confirmou pela definição anterior.
Assim, não pode haver um
"Magistério vivo" que venha ensinar uma doutrina nova em nome de
Deus. Porque Deus é o autor da Verdade, e não da falsidade. E Deus não pode
ensinar uma mentira como se fosse a verdade, nem o faria, como não pode ordenar
que alguém creia numa mentira. Nem Deus alguma vez autorizaria, ou até fingiria
que autorizava alguém a ensinar uma mentira como se fosse a verdade.
Assim, o tal "Magistério vivo"
é uma tentativa de roubar a Deus a autoridade docente, e de usurpar o
verdadeiro Magisterium.
Ora bem, o autêntico escândalo é que
hoje há clérigos em altos cargos, até mesmo no Vaticano, que ensinam heresias e
que afirmam falsamente que elas são a verdade, e são o que a Igreja Católica
ensina oficialmente, magisterialmente. Mas o que ensinam continua a ser uma
heresia. Sabemos isto, porque sabemos pela Fé Católica, de origem divina, que nem
um Papa pode alterar o Dogma Católico. Sabemos isto porque temos uma definição
solene e infalível do Concílio Vaticano I, a saber:
"Portanto, aceitando fielmente a
tradição recebida desde o início da Fé Cristã, para glória de Deus, nosso
Salvador, para a exaltação da religião católica e para a salvação do povo
cristão, com a aprovação do santo Concílio, ensinamos e definimos que é um
dogma divinamente revelado: que o Pontífice Romano, quando fala ex cathedra, isto é, quando,
nas atribuições do seu cargo de pastor e mestre de todos os Cristãos, por
virtude da sua autoridade apostólica suprema, define uma doutrina referente à
Fé ou à moral, para ser aceite pela Igreja universal, está, pela assistência
divina que lhe foi prometida pelo Bem-aventurado Pedro, na posse daquela
infalibilidade que o Divino Redentor quis que a Sua Igreja tivesse ao definir
doutrina sobre a Fé ou a moral; e que, portanto, tais definições do Pontífice
Romano são ipso facto irreformáveis, e não pelo
consentimento da Igreja. Mas se alguém – o que Deus não permita! – ousar
contradizer esta nossa definição, seja anátema."10 (D.S. 3073-3075)
Como as definições dogmáticas são
infalíveis – isto é, não podem deixar de enumerar explicitamente qual é a
verdade precisa que o próprio Deus está a endossar, a garantir – então estas
definições não podem ser alteradas, não podem ser reformadas. São
irreformáveis. Não podem ser reformadas por um padre, um Bispo, um Cardeal, um
Concílio ou mesmo pelo próprio Papa – ou o Papa actual, ou qualquer Papa futuro.
Isto é o que a Igreja ensina. Se uma pessoa não crê nisto, já não é um Católico
– foi separado, excomungado, expulso da Igreja pela sua heresia.
Como podemos ver, precisamos de
recuperar as definições dogmáticas da Igreja Católica. Precisamos de as recuperar
nos nossos espíritos e nos nossos corações e no nosso pensar, falar e agir
quotidiano. Precisamos de manter a nossa Fé imutável e inteira. Não podemos
deixar que percamos a nossa Fé Católica dogmática, mesmo que padres, Bispos e
Cardeais afirmem que o Papa concorda com eles. Mesmo que um Papa contradiga a
Fé, devemos manter a atitude que nos foi ensinada pela Igreja Católica de todos
os tempos. Devemos seguir o que os Doutores da Igreja ensinaram. Estes Doutores
foram elevados a Doutores porque a Igreja nos diz que a sua doutrina é certa;
que estamos seguros quando seguimos os seus ensinamentos.
S. Roberto Belarmino, Doutor da Igreja,
ensinou no seu trabalho sobre o Pontífice Romano que até o Papa pode ser censurado e resistido se
ameaçar que prejudica a Igreja:
"Assim como é lícito resistir ao
Pontífice que agride o corpo, é também lícito resistir ao que agride as almas
ou que perturba a ordem civil, ou, acima de tudo, que tenta destruir a Igreja.
Digo que é lícito resistir-lhe,
não fazendo o que ele ordena e impedindo que as suas ordens sejam executadas; não é lícito, porém, julgá-lo,
castigá-lo ou depô-lo, porque estes actos competem a um superior."11
Da mesma maneira, o eminente teólogo do
Século XVI Francisco Suárez (a quem o Papa Paulo V chamou Doutor Eximius et
Pius, isto é, "Doutor Exceptional e Piedoso") ensinou o seguinte:
"E desta segunda maneira o Papa
poderia ser cismático, se não quisesse estar em união normal com todo o corpo
da Igreja, como ocorreria se tentasse excomungar toda a Igreja, ou, como
Cajetan e Torquemada observam, se quisesse derrubar os ritos da Igreja, que se
baseiam na Tradição Apostólica. ... Se [o Papa] dá uma ordem contrária aos
rectos costumes (moral), não deve ser obedecido; se tentar fazer alguma coisa
que seja manifestamente oposta à justiça e ao bem comum, será lícito
resistir-lhe; se atacar pela força, pode ser repelido pela força, com uma
moderação apropriada a uma justa defesa."12
Pode-se mesmo resistir legitimamente ao
Papa, quando este faz actos que prejudiquem a Igreja. Simplesmente, como o Papa
S. Félix III declarou: "Não se opor ao erro é aprová-lo; e não defender a
verdade é suprimi-la." Os leigos e os clérigos de grau mais baixo não
estão isentos desta admoestação. Todos os membros da Igreja estão sujeitos a
ela. Temos, pois, o dever de nos pronunciarmos.
S. Tomás disse que se a Fé está em
perigo por alguma coisa que um Bispo, ou mesmo um Papa, diz, esse prelado deve
ser repreendido publicamente, para se salvaguardar a Fé. Baseando-se nas
Sagradas Escrituras (Gálatas 2:11), S. Tomás de Aquino, o maior Doutor da
Igreja, diz:
"Deve observar-se, porém, que se a
Fé estiver em perigo, um subordinado deve repreender o seu prelado, mesmo
publicamente. Por isso, Paulo, que estava sujeito a Pedro, o repreendeu em
público, devido ao perigo iminente de escândalo com respeito à Fé, e, como diz
a glosa de Agostinho a Gálatas 2:11, 'Pedro deu um exemplo aos superiores, no
sentido de que, se alguma vez aconteça que se desviem do recto caminho, não
devem desdenhar ser repreendidos pelos seus subordinados.'"13
Devemos conservar o dogma da Fé. Na
Grande Apostasia, um número elevado de pessoas desviam-se do seu caminho porque
não conservam sacrossanto o dogma da Fé nas suas mentes, corações e almas.
E não nos esqueçamos de ter presentes as
palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo à Irmã Lúcia de Fátima: "Rezem muito
pelo Santo Padre".
Notas:
1.
À objecção, "O Papa nunca pode ensinar ou promover uma heresia, porque é
infalível", devemos responder: O Papa não é infalível em tudo, mas apenas
em certas condições que são estritamente definidas e ensinadas solenemente pela
Igreja Católica, em especial no Concílio Vaticano I. Para mais dados sobre este
assunto, ver "Mission Infallible", por Jonathan Tuttle, em The Fatima
Crusader, Nº 66, p. 23ff. Ver também na Internet em http://www.fatimacrusader.com/cr66/cr66pg23.asp
2. 2. Ver
John Henry Newman, Certain Difficulties (Londres, 1876), citado em
Michael Davies, Lead Kindly Light: The
Life of John Henry Newman (Long
Prairie, Minnesota: Neumann Press, 2001), pp. 181-182. Ver
também Dz. 229, Dz. 297A, Dz. 430, Dz. 482.
3. 3. Catholic Counter-Reformation, Junho de 1973. Para mais, ver The
Popes, a Concise Biographical History, editado
por Eric John e publicado em 1964. Reimpresso recentemente por Roman Catholic
Books, Harrison, Nova York. Ver também Dz. 530; D.S. 1000.
4. 4. Nota do Editor:
Ver o exemplodado pelo Padre Paul Kramer no seu artigo "O Grande Castigo
iminente revelado no Terceiro Segredo de Fátima" neste número.
5. 5. S.
João Eudes, The Priest: His Dignity and Obligations,
(Nova York: P.J. Kennedy & Sons, 1947) pp. 9-10.
6. 6. O derradeiro combate do demónio,
editado e compilado pelo Padre Paul Kramer, (The Missionary Association,
Terryville, Connecticut, 2002; ed. em português, 2003)) pp. 39, 47-48, 51, 53,
58, 61, 124, e ainda Nota Nº 24 na p. 299. Ver também na Internet em
http://www.devilsfinalbattle.com/port/ch5.htm
7. 7. Para documentação
sobre a infiltração homossexual da Igreja Católica, ver "Clerical Scandals
and the ‘Negligence of the Pastors’" por John Vennari, The
Fatima Crusader,Outono de 2002, Nº 71, pg. 15 ff. Ver também na Internet
em http://www.fatimacrusader.com/cr71/cr71pg15.asp
8. 8. O Cardeal Walter
Kasper, do Vaticano, desafiou o dogma definido de que "fora da Igreja não
há salvação", quando disse: "...hoje já não compreendemos o
ecumenismo no sentido de um regresso, pelo qual os outros seriam ‘convertidos’
e se tornariam ‘Católicos’. Isto foi expressamente abandonado no Vaticano
II." Adisti, 26 de Fevereiro de 2001. Citado da tradução para inglês
em "Where Have They Hidden the Body?" por Christopher Ferrara, The
Remnant, 30 de Junho de
2001. Ver também O derradeiro combate do demónio, p.
68.
9. 9. Concílio Vaticano
I, Primeira Constituição Dogmática sobre a Igreja de Cristo, 18 de Julho de
1870. Do livro Dogmatic
Canons and Decrees, (TAN Books and Publishers) p. 254.
10. 10. Concílio
Vaticano I, Primeira Constituição Dogmática sobre a Igreja de Cristo, 18 de
Julho de 1870. Do livro Dogmatic Canons and Decrees, pp.
256-257.
11. 11. De Romano Pontifice, lib. II, Cap. 29, in Opera
omnia, Neapoli/Panormi/Paris: Pedone Lauriel, 1871, vol. I,
p. 418.
12. 12. Francisco
Suárez, De Fide, Disp. X, Sec. VI, N. 16.
13. 13. S. Tomás de
Aquino, Summa Theologica, Pt. II-II, Q33, Art. 4, Ad. 2.
http://www.fatima.org/port/crusader/cr74/cr74pg10.pdf
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