16/05/2013

Padre Daniel: A beleza

Caros Católicos, estamos hoje no último domingo do ano litúrgico, em que Nosso Senhor Jesus Cristo fala de sua vinda gloriosa no final dos tempos, a fim de julgar os vivos e os mortos. Em geral, a transição de períodos é propícia para refletir sobre nossas atitudes. Para terminar, então, com fruto esse ano litúrgico e começar o seguinte, gostaria que refletíssemos sobre a verdadeira beleza da liturgia tradicional e a compreendêssemos.
Com muita freqüência ouvimos que nós aderimos à liturgia tradicional porque ela á mais bonita, mais bela, como se nossa adesão a ela fosse simples e puramente subjetiva, quer dizer, uma questão de simples preferência pessoal, de sensibilidade pessoal: “acho essa Missa mais bonita, então quero assistir a essa Missa.” Ao contrário, caros católicos, nossa adesão à liturgia tradicional deve se dar por motivos objetivos,
que se encontram no próprio rito e não somente em nossas disposições pessoais e subjetivas, disposições que têm pouquíssima importância.
A beleza do rito tradicional nos faz, de fato, amá-lo. A beleza, no entanto, é algo objetivo, que se encontra na coisa que é bela, independentemente do sujeito. Assim, a Basílica de São Pedro, no Vaticano é bela, independentemente de nós. As catedrais góticas são belas independentemente de nossa sensibilidade. Também o contrário é verdade. Infelizmente, muitas Igrejas modernas são feias, independentemente de nossos gostos. Assim, se alguém acha feio o que é objetivamente bonito ou acha bonito o que é objetivamente feio essa pessoa tem um real problema de julgamento, como aquele que acha que o aborto é moralmente lícito tem um problema em seu juízo moral.  A beleza é algo objetivo, que está no objeto. E três são os elementos da beleza. Primeiro, a integridade. Segundo, a harmonia ou proporção. Terceiro, o esplendor da beleza, quer dizer, a clareza com que a integridade e a proporção ou ordem da coisa se manifestam. Quando algo possui esses três elementos – integridade, harmonia, e esplendor – ele é belo e, como belo, agrada aos sentidos, à inteligência. Se a beleza agrada aos sentidos, temos a beleza sensível. A beleza mais nobre, porém, é a espiritual, aquela que é percebida pela inteligência e que atrai a vontade: a beleza da verdade, a beleza de uma vida virtuosa, por exemplo. É por isso que a vida de um santo nos causa admiração: ela é bela porque a virtude é íntegra e ordenada.
A Missa tradicional é de uma beleza – objetiva, claro! – que não pode ser medida. Tal beleza é única na Santa Igreja. E mesmo aqueles que se opõem à liturgia tradicional reconhecem isso. Reconhecem a beleza do canto, dos paramentos, do ritual. Todavia, a verdadeira beleza da Missa Tradicional é muito mais profunda do que os cantos, os paramentos, pois a Missa Tradicional possui os três elementos da beleza – integridade, harmonia ou ordem, e esplendor – em grau eminente.
A Missa Tradicional é, antes de tudo, íntegra. Ela expressa de maneira perfeita a doutrina da santa Igreja, tal como ensinada por Cristo e transmitida pelos apóstolos e seus sucessores até os nossos dias. Entre esses pontos de doutrina, podemos citar três dogmas que na liturgia nova foram infelizmente bastante atenuados, embora não tenham sido negados formal e completamente. O primeiro é o dogma da presença real, verdadeira e substancial de Cristo sob as espécies de pão e de vinho, presença que é distinta e imensamente superior à presença de Cristo na Sagrada Escritura ou entre discípulos que rezam. Na missa tradicional, a presença real se manifesta claramente. Para citar, então, alguns exemplos: toda vez que o Pe. deve tocar nas espécies sagradas ele deve fazer uma genuflexão antes e uma depois. É também obrigatório guardar unidos os dedos que tocaram o Santíssimo Sacramento, soltando-os somente depois da purificação, feita com água e vinho que o sacerdote bebe depois. O sacerdote faz a genuflexão, no momento da consagração, antes e depois da elevação. O respeito e a reverência ao Santíssimo sacramento obrigam os fiéis a receberem a sagrada comunhão na boca e, salvo impedimento, de joelhos. A presença real de NSJC em corpo, alma, sangue e divindade é claramente afirmada na Missa Tradicional.
O segundo dogma claramente manifestado no rito tradicional é o do sacerdócio ministerial, quer dizer, a diferença essencial que existe entre o sacerdócio do Padre e o sacerdócio dos fiéis. Quem realiza a renovação do sacrifício da Cruz é Cristo, sacerdote principal. Mas ele realiza a renovação do sacrifício do Calvário por meio do Padre. Padre que é o instrumento escolhido por Nosso Senhor e ao qual os fiéis devem se associar. No rito tradicional isso é bem claro: o sacerdote não é jamais definido como presidente da assembléia ou o primeiro entre iguais; o sacerdote reza o cânon, quer dizer, a oração eucarística e as palavras da consagração  em voz baixa, para indicar que seu poder sacerdotal independe do povo. O Pai Nosso, que na liturgia romana é uma oração sacerdotal é rezada unicamente pelo sacerdote. Todos os paramentos sacerdotais da Missa Tradicional – sempre obrigatórios – indicam a diferença entre o sacerdote e o fiel. Diferença que não significa, evidentemente, maior ou menor santidade, mas simplesmente uma participação mais profunda no sacerdócio de Cristo. Cristo fundou a Igreja como uma sociedade hierárquica: nós vemos isso claramente na Missa Solene do RITO tradicional na qual padre, diácono e sub-diácono estão sempre em posição hirárquica. E nessa sociedade hirárquica, o papel de oferecer o sacrifício cabe unicamente ao sacerdote. Os fiéis devem se associar ao sacerdote no culto litúrgico.
O terceiro dogma claramente expresso é o dogma de que a Missa é um sacrifício propiciatório, além de ser um sacrifício de adoração, de ação de graças e sacrifício pelo qual pedimos os bens necessários para nossa salvação. A Missa é um sacrifício propiciatório, quer dizer, pelo qual pedimos a Deus perdão pelos nossos pecados e pelo qual ele nos concede esse perdão se estamos bem dispostos. Já na subida ao altar o Pe. pede a Deus que afaste de nós as nossas iniqüidades. Nas inúmeras e sublimes orações do ofertório da Missa Antiga está expressa essa finalidade propiciatória: repetidas vezes o Padre perde perdão pelos seus pecados, por suas faltas. Também nas orações que pedem a aplicação dos frutos da Missa aos fiéis defuntos está expresso o caráter propiciatório da Missa. Eis então a integridade da Missa Tradicional: correspondência clara e perfeita ao dogma católico. Correspondência clara e perfeita que infelizmente está ausente na liturgia renovada.
A Missa é também ordenada, proporcional, bem disposta. Eis aqui o segundo elemento da beleza. Ela possui a preparação próxima, que são as orações ao pé do altar. Ela contém a Missa dos Catecúmenos, com o Intróito, o Kyrie e o Glória. Ela possui as leituras, que são antes de tudo um ato de culto a Deus e à Revelação Divina contida na Sagrada Escritura. Por isso as leituras em latim não são feitas voltadas para o povo. Ela possui a Missa dos fiéis, com um ofertório. Ofertório que nos mostra bem as finalidades da Missa: adoração, ação de graças, súplica para alcançar as graças necessárias e súplica para obter o perdão de nossos pecados. Ofertório que deixa claro que a Missa é a renovação não sangrenta do sacrifício da cruz e que trata desde já o pão e o vinho como se fossem o Corpo e o Sangue de Cristo para que nosso espírito humano, lento para compreender, possa compreender melhor a natureza da Santa Missa e participar mais perfeitamente do sacrifício de Cristo. Depois do ofertório vem o Cânon, o venerável Cânon Romano, rezado em voz baixa, obra-prima da Tradição da Igreja, e fixado desde o século VI, praticamente. Cânon Romano que expressa de maneira clara a doutrina da Igreja sobre a Missa. Não se trata de uma oração fabricada em escritórios por pretensos especialistas. Depois vem a consumação do Sacrifício feita pela comunhão do sacerdote, única comunhão necessária para a integralidade da Missa. Finalmente, vem a ação de graças por tão sublimes benefícios e o pedido para que possamos aproveitar verdadeiramente dos frutos da Missa e da comunhão que recebemos.
A Missa Tradicional é, então, íntegra, ela expressa perfeitamente toda a doutrina católica, sem omissões, sem ambigüidades. Ela é ordenada, proporcional: nela não falta nada e cada oração, cada parte, desde a oração ao pé do altar ao último Evangelho, passando pelo ofertório e consagração, cada uma dessas partes está perfeitamente disposta. E essa integralidade e essa ordem são claras e evidentes para quem assiste à Missa Tradicional. Quem assiste à Missa tradicional percebe rapidamente a integralidade de sua doutrina e a harmonia de suas partes. A beleza da Missa tradicional se manifesta com clareza. A Missa tradicional é, então, verdadeiramente bela, mas de uma beleza objetiva, que se encontra no próprio rito, tal como a Igreja, sobretudo por meio de Papas Santos, a formou ao longo dos séculos.
Nosso amor pela liturgia tradicional não deve ser fundado em sobre razões sentimentais, mas, ao contrário, deve ser fundado nessa beleza que decorre da integridade doutrinal e da ordem perfeita de suas partes, e da manifestação desses dois elementos. Como dissemos, a beleza, fundada nesses três elementos – integridade, ordem e esplendor – agrada à inteligência. Como Deus é o ser inteligente por excelência, podemos dizer que a Missa Tradicional lhe agrada de maneira particular por sua beleza eminente. Mais uma vez repito: essa beleza é objetiva: porque há a integridade da doutrina, há uma harmonia perfeita de suas partes e porque há, finalmente, a manifestação clara dessa integridade e dessa harmonia. Quando dizem, então, que preferimos essa liturgia por simples gosto pessoal ou sentimental porque ela é mais bonita, devemos responder que ela é sim mais bonita e que a preferimos por causa disso. Mas devemos afirmar que a beleza está fundamentada em aspectos doutrinais, teológicos, espirituais. Preferimos essa Missa porque sendo íntegra e ordenada agrada a Deus de uma maneira que não pode ser medida e porque, agradando a Deus, faz um bem imenso e maior às almas.
Devemos, então, lutar pela beleza da liturgia, que não é simplesmente a beleza dos paramentos, do canto litúrgico, embora tudo isso seja também necessário e indispensável. Devemos lutar por essa beleza profunda e espiritual, quer dizer, pela beleza que está intimamente ligada à doutrina católica. Uma liturgia bela é agradável a Deus e faz bem às nossas almas. É por esse motivo que nós, no IBP, nos obrigamos a celebrar exclusivamente a Missa Tradicional. Unamo-nos, então, caros católicos, a essa bela liturgia que ocorre agora sobre o altar. Unamo-nos por meio de uma verdadeira participação, que não consiste em fazer barulho ou gestos, mas que consiste a oferecer nossa vida em união ao sacrifício de NSJC. Somente por Ele, com Ele e nEle podemos fazer algo que tenha valor diante de Deus. Unindo-nos a essa bela liturgia, tão agradável a Deus, possamos também nós sermos agradáveis a Deus, confessando a integridade da fé católica e a guardando íntegra, ordenando toda a nossa vida a Deus e manifestando isso em todas as nossas ações. Peçamos, então, a Deus que nos conceda, por essa bela liturgia, a graça de levarmos uma bela vida, quer dizer, uma vida de virtude, uma vida santa. Peçamos a Deus a propagação dessa bela liturgia que gera a beleza de uma vida santa.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

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