29/07/2013

VERDADE RELIGIOSA E VERDADE CIENTÍFICA DE FÁTIMA



Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Escutemos O Papa Leão XIII na sua encíclica “Providentissimus Deus”, de 18 de Novembro de 1893:
«Assim é que os autores sagrados, sem dedicar-se a investigações profundas da natureza, descrevem algumas vezes os objectos, e falam deles por uma espécie de metáfora, e como o exigia a linguagem vulgar daquela época, e assim se procede também hoje, mesmo entre os homens mais sábios. Mas como na linguagem vulgar se designam primeiro e pela palavra própria os objectos que caem debaixo dos sentidos, de maneira semelhante o escritor sagrado (e o doutor angélico no-lo adverte) seguiu aquelas coisas que aparecem sensivelmente, quer dizer, aquelas que o próprio Deus, falando aos homens, indicou, seguindo o costume dos homens, para ser entendido por eles.»
Escutemos o Papa Bento XV, na sua encíclica “Spiritus Paraclitus”, de 15 de Setembro de 1920:
«A aparência exterior das coisas, sàbiamente declarou o Papa Leão XIII, na sequência de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino, deve tomar-se em consideração, mas este princípio não pode conduzir à mais leve suspeita de erro contra as Sagradas Letras. Efectivamente a sã filosofia tem por certo que na percepção imediata das realidades que constituem o seu próprio objecto de conhecimento os sentidos não se equivocam.»
Escutemos agora o Papa Pio XII, na sua encíclica “Divino afflante Spiritu”, de 20 de Setembro de 1943:
«Leão XIII, com graves palavras, declarou que não há absolutamente nenhum erro quando o hagiógrafo, falando de coisas físicas, se cingiu (na linguagem) às aparências sensíveis, como diz o doutor angélico, expressando-se ou com determinada forma metafórica, ou como era costume naqueles tempos na linguagem comum, e ainda hoje se utiliza em muitas realidades da vida quotidiana, mesmo entre pessoas de cultura. Acrescentando que eles, os escritores Sagrados, ou para melhor dizer – são palavras de Santo Agostinho – o Espírito de Deus que por eles falava, não quis ensinar aos homens estas coisas, ou seja: a constituição íntima das coisas visíveis – que de nada serviria para a sua salvação.»
A Revelação é uma intervenção positiva, essencial, de Deus na História humana, ilustrando-a sobrenaturalmente com o Lume da Sua Verdade Providencial.
Tal Revelação está consignada na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição.
Não é indiferente que uma verdade se integre na Sagrada Escritura ou na Sagrada Tradição; efectivamente, a Escritura consubstancia uma transmissão através das gerações num registo substancialmente imutável, fixista; a Tradição, consubstanciando uma transmissão formalmente oral, e permanecendo sempre objectivamente imutável, proporciona mais fàcilmente a explicitação intelectual de toda a infinita riqueza do conteúdo da Revelação. Por isso se pode dizer que na Substância da Revelação a Sagrada Escritura constitui a Matéria, e a Sagrada Tradição constitui a forma.
Nunca olvidemos que é pela Tradição que nós conhecemos quais os Livros que compõem a Sagrada Escritura.
A Revelação foi PEDAGÒGICAMENTE progressiva, desde Adão e Eva até à morte do último apóstolo, MAS SEMPRE SEGUNDO O MESMO E ÚNICO PRINCÍPIO, QUE É CONSTITUTIVO DA FÉ TEOLOGAL, SOBRENATURAL, VERDADEIRA PARTICIPAÇÃO NA INTELIGÊNCIA DIVINA.
Neste quadro conceptual discernimos que a VERDADE RELIGIOSA NÃO NEGA A VERDADE CIENTÍFICA – SUPERA-A SIM, INFINITAMENTE.
E em que consiste a verdade científica?
A verdade científica consiste na progressiva iluminação e unificação da opacidade diversificante da realidade fenomenológica. Ora a iluminação e a unificação integram a compreensão. Quem compreende irradia luz intelectual, desbravando a opacidade do real, mas do real em sentido exclusivamente fenomenológico; por sua vez uma tal unificação é constitutiva do progresso técnico. Porque se tal unificação compreensiva se processar em sentido ontológico, ou metafísico já não é ciência – é filosofia.
Por isso mesmo a ciência é constitutivamente evolutiva:
Em meados do século XIX, em Inglaterra, antes das decobertas de Lister e Pasteur, conspícuos cirurgiões, obedecendo às noções científicas da época, não duvidavam assistir às parturientes nos intervalos das autópsias, sem sequer lavarem as mãos!!!
NENHUMA INTELIGÊNCIA FINITA (ANJO OU HOMEM), NEM INDIVIDUAL, NEM COLECTIVAMENTE, PODERÁ ALGUM DIA ESGOTAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO, QUER DIZER: DESCOBRIR TUDO. E mesmo que o fizesse o resultado seria contingente, finito, insubsistente, precário – teria de se recomeçar tudo outra vez. E isto porque a Criação sem Deus – não é nada.
O objectivo da Revelação, formalmente, é a VERDADE RELIGIOSA, não a verdade científica; todavia TUDO O QUE DEUS REVELOU É INFALÌVELMENTE E DIVINAMENTE VERDADEIRO, NA EXACTA MEDIDA EM QUE A REVELAÇÃO ENCARNOU NUMA HISTÓRIA VERDADEIRA, TAL COMO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO É VERDADEIRAMENTE DEUS E VERDADEIRAMENTE HOMEM. Tudo, inclusivamente, os chamados “obiter dicta”, ou ditos acidentais, como a capa que São Paulo deixou em Trôade, em casa de Carpo ( 2ª Tim 4, 13).
Negar a existência histórica de Adão e Eva é herético; aliás a Comissão Bíblica, em carta ao Cardeal Suhard, em 1948, declarava que os onze primeiros capítulos do Génesis pertencem ao género histórico, em sentido verdadeiro.
É igualmente, profundamente, contra a Santa Fé dizer que o mundo foi criado há quatro ou cinco biliões de anos, e depois fazer evoluir espécies sobre espécies (incluindo muitos dinossauros) até chegar ao homem, cujo corpo seria proveniente da evolução qualificada dum tipo de primata. E isto PORQUE A SAGRADA ESCRITURA NOS FACULTA UMA UNIDADE PLENA, FÍSICA E MORAL, ENTRE A CRIAÇÃO DO MUNDO E A CRIAÇÃO DO HOMEM. Ora os dados Bíblicos colocam Adão e Eva, aproximadamente, a sete milénios antes de nós; logo não se pode fazer recuar dessa maneira a Criação do mundo físico, bem como dos Anjos. Portanto o criacionismo anti-evolucionista é parte integrante da sacrossanta Fé Católica.
Também é profundamente contra a Santa Fé professar que o corpo do homem evoluiu desde uma outra espécie; a Sagrada Escritura integrou fundamentalmente no seu Magistério QUE O CORPO DO HOMEM FOI CRIADO, DO PÓ DA TERRA, EXPRESSAMENTE, PARA CONSTITUIR O CORPO DO HOMEM, ANIMAL RACIONAL.
Uma prova de que a Verdade, objectivamente, permanece imutável e idêntica a si mesma, podendo contudo ser explicitada por uma intensificação da luz intelectual sobre ela projectada é a interpretação da passagem Bíblica em que Deus ordena que o Sol e a Lua se detenham até que Israel triunfe sobre os seus inimigos (Jos 10, 12).
No tempo de Galileu os teólogos julgaram bem interpretar essa passagem Bíblica como ensinando especulativamente e sob autoridade Divina o movimento do Sol e a imobilidade da Terra no centro do Universo, precisamente em homenagem à ciência da época; tratou-se dum erro do Santo Ofício, O QUAL NÃO COMPROMETEU A AUTORIDADE DA IGREJA, NEM DO PAPA REINANTE; além disso Galileu teria de ser condenado de qualquer forma, pois desprezava a autoridade da Santa Madre Igreja em si mesma. O erro do Santo ofício (Tribunal em si mesmo não infalível) foi não ter compreendido em profundidade o conceito de inerrância: ausência absoluta de erro formal no Magistério das Sagradas Escrituras. É por demais evidente que possuindo a Escritura dois autores: Deus, como causa principal, e o hagiógrafo como causa instrumental, a mesma Escritura depende imediatamente toda de Deus e toda do homem; neste enquadramento, a causa instrumental é assumida como um todo na consignação, INFALÍVEL, da Verdade Revelada. Ainda hoje os cientistas referindo-se aos movimentos celestes, falam do movimento do Sol e da Lua, POIS OS SENTIDOS NÃO SE ENGANAM NAQUILO QUE CONSTITUI O SEU OBJECTO PRÓPRIO, e a causa instrumental (o hagiógrafo) é assumida pela causa principal (Deus) com todas as suas limitações ontológicas, sociais e culturais, E ESTAS LIMITAÇÕES SÃO CONSIGNADAS COMO VERDADE DE REVELAÇÃO.
Em Malaquias 1,11 o profeta antevê o Sacrifício futuro, perpétuo e Universal, de valor infinito. No entanto apresenta-o como uma oblação odorífera; evidentemente que neste caso a ilustração Divina da inteligência e da vontade do Profeta, ordenou-lhe que consignasse como verdade de Revelação a ideia dum Sacrifício infinitamente perfeito e único (o Santo Sacrifício da Missa); todavia a ilustração Divina assumiu no Profeta o conhecimento que este possuía dos sacrifícios mosaicos, bem como toda a sua cultura vetero-testamentária, e ASSUMIU-A INFALÌVELMENTE COMO VERDADE DE REVELAÇÃO. Deste modo se compreende que a inerrância recai não apenas sobre a verdade objectiva duma  determinada realidade Histórico-Natural, mas igualmente sobre a verdade, TAMBÉM OBJECTIVA, dos condicionamentos ontológicos, sociais e culturais do hagiógrafo, enquanto causa instrumental deficiente dos Livros Sagrados.
Todas estas conceptualizações são auferidas a partir da globalidade da Revelação, bem como da sã Filosofia.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 18 de Julho de 2013


Comentário  de PRM sobre o Milagre do Sol em Fátima
A mesma Sagrada Escritura submete as ciências, também relativas aos números, ao serviço da Revelação. Assim, lemos que mil anos são para Deus como um instante, e de números que são como semanas de anos.
Quanto aos milagres divinos que implicam o movimento dos astros, a linguagem da Revelação é endereçada aos seus efeitos nas mentes dos que testemunham o milagre e portanto este já é milagre. Nem todos as pessoas presentes na Cova da Iria viram o Sol rodopiar nos céus, mas outros, longe de Fátima o viram. Carolina a irmã mais velha de Lúcia me disse que não viu, mas sei de quem o viu em Alburitel.
Este milagre não foi visto só no dia 13 de outubro de 1917, pois foi visto muitos anos mais tarde, em 1950 em Roma pelo Papa Pio XII.
A ciência não pode explicar nada que Deus suscita nas consciências, que nem pelo fato de serem invisíveis deixam de ser milagres. Aliás, estes são os verdadeiros milagres, pois como ensina a Igreja são ordenados ao fim da salvação das almas. O erro de Galileu foi de pretender antepor a verdade científica à religiosa.


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