o esbofeteiam, batem nele com varas, até colocar a nu as veias e os ossos: da cabeça aos pés seu corpo forma apenas uma ferida.
À crueldade se junta a insultante zombaria. Como o tigre que brinca com
sua presa antes de devorá-la, esse povo bárbaro ultraja sua vitima antes de
beber seu sangue. Eles o revestiram com uma túnica de escárnio; em sua mão eles
colocaram um caniço como um cetro, e sobre sua cabeça uma coroa de espinhos em
sinal de diadema; depois, vendando-lhe os olhos, eles dobram os joelhos, o
batem rudemente no rosto e lhe dizem: "Salve, Rei dos Judeus".
E este Justo era o benfeitor público da nação! Entre esse povo de
carrascos vocês não encontrariam um que não tivesse sentido em sua pessoa ou na
pessoa dos seus os efeitos salutares de sua poderosa bondade. Ele purificou os
leprosos, ele devolveu a visão aos cegos, a audição aos surdos; ele libertou os
possessos, ressuscitou os mortos: a todos ele fez o bem, a ninguém ele fez mal.
Enquanto que o pisoteiam como um verme, ele se mantém calmo e cheio de
dignidade. Semelhante ao terno cordeiro que levam mudo ao matadouro, ele se
deixa conduzir ao suplício sem abrir a boca. Em nome de Deus, o conjuram a
falar: ele responde com doçura e verdade. De sua palavra lhe fazem um crime:
uma bofetada a mais é o prêmio de sua obediência.
O Justo a recebe e se cala. Sua resignação exaspera seus perseguidores.
As vociferações redobram. Como uma torrente, elas ressoam os ecos da cidade
deicida: "Matem-no! matem-no! Que ele seja crucificado!" e eles o
empurram brutalmente perante o juiz que pode lhes dar sua cabeça. Esse juiz é
um estrangeiro, é um ambicioso, é um medroso. Não obstante, a inocência do
acusado o subjuga; ele a proclama: "Que mal ele fez? Se ele não fosse
culpado, nós não o teríamos te entregado!... Que mal então ele fez? Ele
pretende reinar, e nós não queremos que ele reine sobre nós[1]". O juiz
hesita... eis o último esforço de sua coragem se expirando. "Não quero ser
responsável pelo sangue do justo, disse ele lavando as mãos, isso é lá
convosco. - Que ele morra! Que ele morra! E que seu sangue caia sobre nós e
sobre nossos filhos!" A sentença iníqua é obtida.
A vítima caminha ao suplício. Tanto ódio por tanto amor, tanta injustiça
por tanta inocência, tanta ingratidão por tantos benefícios, fazem jorrar
algumas lágrimas. Um pequeno número de mulheres escondidas na multidão,
demonstram uma dor sincera. O Justo as viu; ele se voltou, e, como despedida,
ele fez ouvir essas palavras: "Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim,
mas sobre vós e sobre vossos filhos". A via dolorosa é cruzada. Despojado
de sua túnica ensanguentada, ele é pregado na cruz, condenado a morrer entre
dois celerados! Enquanto os carrascos saciam sua sede com fel e vinagre, seus
inimigos passam e repassam diante dele, acenando a cabeça, elevando os ombros e
lançando contra ele os traços afiados de suas injúrias e de suas blasfêmias.
Sua divindade, eles a negam; sua realeza, eles zombam dela; seu poder, eles o
enfrentam; sua ira, eles a desafiam. Em seu silêncio sublime, o Justo cumpre
sua missão e a ordem de seu Pai: ele expira!
A natureza inteira estremece, o céu se cobre com um
véu lúgubre, o terror está por toda parte. Logo um mensageiro de
desgraças, profeta como nunca se viu, rodeia dia e noite em torno de Jerusalém
gritando sem nunca parar: "Voz do Oriente, voz do Ocidente, voz dos quatro
ventos, voz contra Jerusalém e contra o templo, voz contra todo o povo. Aí de
nós! Aí de nós[2]!"
GAUME, J.. Où allons-nous? Paris, Gaume
Frères, 1844.
_____
[1] Jo XIX, 12-15, Lc XIX, 14.
[2] Joseph. Bell. lib. VII, c. 12.
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