15/01/2014

São Gregório Magno - Regula Pastoralis XIX

Que o pastor não proponha a agradar aos homens com seu zelo, mas empenhe naquilo que a eles pode agradar.

Em tudo isso, faz necessário ser possuído pelo enorme desejo de agradar aos homens: quando se dedica em aprofundar as realidades interiores, quando provê com sabedoria às necessidades exteriores, ele não buscará mais o amor dos fiéis do que a verdade; quando ele aparece estranho ao mundo, sustentado por suas boas obras, que o amor próprio não o torne estranho ao seu Criador. É inimigo do Salvador aquele que, por causa de suas boas obras, busca ser amado pela Igreja no Seu lugar. Ele é culpado de adultério, como aquele servo que, a mando ir pelo esposo a esposa para levar-lhe
presente, arde de paixão ao tê-la com ela. Quando esse amor próprio apodera da alma do pastor, ele o arrasta ora a uma branda desorientada, ora a um rigor áspero.  É por amor-próprio que aquele que deveria cuidar dos fiéis ao vê-los fazendo o mal, permite a não reprimi-los, com sua brandura desorientada, para evitar que a sua simpatia diminua junto a eles; chegando a algum momento a afagar com adulações culpas que deveria repreender. A esse sujeito é dito, com razão, pelo profeta Ezequiel: Ai daquelas que cosem almofadinhas para todos os cotovelos, e que fazem travesseiros para as cabeças de pessoas de toda a idade, a fim de lhes apanharem as almas! (Ez 13,18). Coser almofadinhas para todos os cotovelos é acariciar com adulações as almas que abandonam a retidão da vida entregando-se aos prazeres mundanos. De fato, como acolher sobre uma almofada o cotovelo ou sobre o travesseiro a cabeça de quem se poupa a repreensão e o ensinamento quando este se volta ao erro, oferecendo a ele atenções e favores, poupando a aquele que peca da severidade da repreensão,  permanecem tranquilamente a prosseguir no erro.

Os pastores, que amam apenas a si próprios, demonstram essas complacências, é claro, a aqueles que podem lhes ofuscar a busca de glória terrena. Aplicam, ao contrário, com severa violência, aqueles que não dispõem de nada que possuam ofuscar ou abrilhantar a busca da glória terrena, não fazendo nenhuma admoestação benévola, mas aplicam o terror com a força que possuem, se esquecendo da mansidão que um pastor deve ter. Pelo profeta Ezequiel a voz divina os repreendem com razão: Não fortalecestes as ovelhas débeis, e não curastes as enfermas, não ligastes os membros ás que tinham algum quebrado, e não fizestes voltar as desgarradas, nem buscastes as que tinham perdido; mas domináveis sobre elas com aspereza e prepotência (Ez 34,4). Amando mais a si que ao seu Criador, eles levantam com arrogância contra os fiéis e consideram não o que devem fazer, e sim o poder do qual dispõem; sem temer os julgamentos que há por vir, glorificam de seu poder temporal insolentemente; são prazerosos por se permitirem o pecado, sem que nenhum fiel os contradiga. Mas aquele que busca fazer o mal e quer que todos se calem, são testemunhas contra si mesmo que deseja ser amado mais que a verdade, ao não querer que seja defendida contra ele.

Não há ninguém que viva sem que caia em alguma culpa. Deseja, sim, ser mais amado que a verdade aquele que pretende que ninguém perdoe algo. Por isso, São Pedro acolheu de boa vontade a reprimenda de São Paulo (Cf. Gl 2, 11ss), e Davi acolheu com humildade a correção de um súdito (Cf. 2Sm 11, 7ss). Assim, os verdadeiros pastores não cultivam sentimentos de amor próprio e consideram de bom grado, com humildade e gentileza uma palavra livre e clara dos fiéis. Portanto é indispensável que o poder seja exercido com moderação de tal modo que sábia que, quando os fiéis tem opiniões justas, possam livremente expressá-las sem degenerar arrogância; por outro lado, a liberdade de expressão concedida não devem ser sem limites, com o perigo de fazer desvanecer o reto comportamento. É primordial também, saber que bons pastores devem buscar serem agradáveis para atrair, com amabilidade da estima de que gozam, ao amor da verdade, e não pelo prazer de ser amados, mas para tornar a sua amabilidade uma estrada pela qual conduzam os corações dos fiéis ao amor de seu Criador. É difícil que um pastor não amado seja ouvido de boa vontade, mesmo que diga verdades sacrossantas. O pastor deve procurar que os fiéis o amem para conseguir que o escutem, mas não deve procurar um afeto direcionado a si mesmo, para não descobrir em luta, na sua cobiça interior do poder de seu pensamento, contra aquele que, pela dever assumido, parece servir. São Paulo faz compreender bem tudo isso quando revela a sua secreta preocupação: Como também eu em tudo procuro agradara todos (1Cor 10,33), acrescentando na carta aos Gálatas: Se agradasse ainda aos homens, não seria servo de Cristo (Gl 1,10).  São Paulo, portanto, quer agradar e não o quer; no desejo de ser aceito, não mira a si mesmo, mas somente, através dele, tornar a verdade agradável aos homens.

Gregório.

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