O interesse de quem segue este sito, espero, é de seguir uma visão
católica dos eventos atuais, que é radicalmente contracorrente. Visão
esclarecida pelo conceito pelo qual quem não orienta a vida segundo o reto
pensar que deriva do íntegro crer, acaba por crer como pensa e pensar como
vive. Será o modo de vida casual a reger o seu pensar e crer; uma opção cômoda,
subjetiva, mas falsa de sua realidade e fim como ser humano.
Isto se aplica para todos e para todas as atividades do homem, hoje,
ontem e sempre, e pode-se dizer que é essencialmente a visão religiosa da vida
do ser humano criado com um corpo material e uma alma espiritual imortal, cujo
fim, não podemos deduzir por
nós mesmos. Dai a necessidade de crer no que nos
foi revelado por Deus. Por mais que o homem indague sobre as verdades relativas
à sua vida: quem è, sua origem e fim, as respostas só podem ter a direção do
Criador para a criatura, da Causa para o efeito. Dai que o senso da verdadeira
ciência, Filosofia e Teologia tem uma só direção, que é a da Pistis, a
fé, cujo inverso é a gnose espúria: «conhecimento» segundo opções humanas e
pessoais, do subjetivismo que, embaralhando o pensamento, desnorteia o agir
humano.
Lembrada esta visão da qual parte o catolicismo autêntico, ABC da
história humana para entender os eventos históricos de sempre, venhamos aos
nossos autores, ligados à vida política que se desenrola nos nossos dias, da
guerra na Síria e os tumultos da Ucrânia, aos múltiplos conflitos mundiais de
origem ideológica como religiosa.
Para isto ouçamos o genial escritor católico Donoso Cortés, que inicia
seu ensaio sobre o “Catolicismo, o Liberalismo e o Socialismo” dizendo: “M.
Proudhon há escrito en sus “Confessiones de un revolucionario”estas notables
palabras: «Es cosa qué admira el ver de qué manera en todas nuestras cuestiones
políticas tropezamos siempre con la teología»! Nada hay aqui que puede
causar sorpresa, sino la sorpresa de M. Proudhon. La teologia, por lo mismo que
es la ciencia de Dios es el océano que contiene y abarca todas las cosas. Todas
ellas estuvieran antes de que fueran y están después de creadas en el
entendimiento divino; porque, si Dios las hizo de la nada, las ajustó a un
molde que está en El eternamente.” Como estamos hoje longe deste reto
pensar!
A revolução anticristã, no meio tempo, devorou multidões de almas, até
católicas, as quais, aderindo à síndrome do progressismo modernista,
descartaram até mesmo o semi-revolucionário Proudhomme, como já o tinha feito
Marx e companheiros. Até Voltaire e o seu deísmo era demais para o relativismo
absoluto hegeliano que ocupou a Cidadela da Fé com o modernismo conciliar de
Roncalli a Ratzinger, Se para este a verdade era relativa, para o atual
post-post-modernismo – versão Bergoglio – a verdade é irrelevante.
Sim, porque não seria mais necessário a conversão à Verdade única, vinda
da autoridade de Deus, o importante seria a união dos homens segundo a
religiosidade ecumenista de cada um… segundo sua preferência! Para quem não
percebe o salto da visão religiosa geral para a cegueira religiosa de nossos
tempos, pergunto se pode ser outro o salto que obscurece a política do mundo,
privando-a das referências universais, demolidas pelo relativismo modernista.
Por esta razão assinalei que nos debates de Olavo de Carvalho com Orlando
Fedeli ou com Alexander Dugin sem pôr a crise religiosa da consciência humana
em primeiro lugar, o discurso erudito e até interessante torna-se evanescente.
Ao deixar a Teologia e a Religião na poeira das sacristias, até a mesma
Filosofia e senso da História vai para o obituário das autópsias intelectuais,
onde a história é dissecada para elucubrar a necessidade de uma cultura para
aquela nova ordem mundial que, emancipada da verdade
sobre o homem, é apenas desordem. Seu leit motiv é
a evolução da «realidade laicista» em relação à tradicional Ordem cristã; só
serve ao curso do pensamento nefasto que despontou nos tempos do iluminismo de
Voltaire. Assim é que este, hoje em dia, pasmem, está no programa prioritário
até de Bento 16. Veja-se seu discurso obsceno aos muçulmanos, por exemplo no
dia 26 de dezembro de 2006, cujo «aggiornamento» consiste em aconselhá-los a
aderirem à «filosofia das luzes» como fez o Vaticano 2º, que “incorporou as
conquistas de 200 anos de iluminismo”!
Eis a liquidação de princípios do Direito natural por via religiosa; o
exato contrário do que ensinava a Igreja Católica e expõe Donoso Cortés para
uma reta política européia. Mas isto também inverte o pensamento moral cristão
ortodoxo que parece ser o de Dugin e de Putin, inimigos do indecente
liberalismo ocidental atual. Assim, devemos dizer que o «pensamento conciliar»
também se contrapõe ao senso do que o Olavo de Carvalho explica no seu
ilustrativo «A Filosofia e seu inverso», onde se pode apreciar justamente a
«direção» do autêntico pensamento filosófico desde Platão.
Passemos à leitura do reto sentido da vida como exposto acima e que se
explica nesse livro que cita Eric Voegelin (p. 37): “Platão criou seus
pares de conceitos no curso da sua resistência à sociedade corrupta que o rodeava…
O lado positivo dos seus pares tornou-se a «linguagem filosófica» da
civilização ocidental, enquanto o lado negativo perdeu seu status de
vocabulário técnico… por ex. no par philosophos e philodoxos… e como o termo
platônico que os designava se perdeu, referimo-nos a eles como filósofos.
No uso moderno, portanto, chamamos de filósofos precisamente as pessoas contra
as quais, como filósofo, Platão se opunha. E uma compreensão da metade positiva
do par se tornou hoje praticamente impossível, exceto para uns poucos eruditos,
porque, quando falamos em ‘filósofos’, pensamos em filodoxos. (Op. cit.,
pp. 119-120).
Olavo de Carvalho continua: “Mas o filodoxo não se define só por sua
oposição à pessoa do filósofo, e sim, ainda que sem percebê-lo, ao próprio fundamento
último da filosofia platônica (e, por extensão, de toda a filosofia cristã):
“Platão, explica Voegelin, fala do filodoxo como o homem que não pode suportar
a idéia de que ‘o belo, ou o justo, ou o que quer que seja, sejam um e o
mesmo.” (Id., ibid.) Voegelin lembra a sentença de Xenófanes: “O Um
é o Deus”. Podemos também evocar os “transcendentais” de Duns Scot, Unum,
Verum, Bonum, que se convertem uns nos outros. Tanto em Platão quanto
em Aristóteles ou em toda a filosofia escolástica, o Supremo Bem não é um
“valor”, muito menos uma “criação cultural”, mas a realidade suprema, o ens
realissimum, fundamento primeiro e objeto último de todo conhecimento.
“A repulsa que isso desperta na sensibilidade moderna é notória. Desde
Kant, a separação abissal e intransponível entre “realidade” e “valor”
consagrou-se como um dogma incontestável da mitologia universitária, sem que
ninguém perceba que ela se auto-anula no momento em que, professando expressar
um dado incontornável da realidade, se consagra como um valor cultural.
“Max Weber, hipnotizado pela visão do abismo intransponível, mas
ansiando por encontrar um fundamento moral que justificasse sua busca da
verdade científica, chegou a cair numa crise de paralisia nervosa, ficando
cinco anos inutilizado num sofá, por não conseguir escapar do engano trágico
que fazia de uma situação histórica passageira um princípio fundante de todo
conhecimento científico. A “independência entre as esferas de valores”, como
ele a chamava, é o dogma central da filodoxia. Ela não resulta da natureza das
coisas, mas do fato de que, apegados a suas identidades sociais de professores,
de cientistas, de artistas ou de pregadores, muitos indivíduos, em certas
épocas, se vêem incapacitados de descer à profundidade interior em que se
revela a unidade da experiência humana: confundindo a incompatibilidade entre
suas linguagens profissionais respectivas com uma separação ontológica objetiva
entre os domínios da realidade, não têm sequer a hombridade weberiana de
reconhecer que estão doentes. Realizam, assim, a profecia de Heráclito, segundo
a qual os homens despertos vivem num mesmo mundo, ao passo que os adormecidos
refluem para seus respectivos mundos mutuamente incomunicáveis. Vários sintomas
assinalam essa patologia. Um deles é o que denomino “moral arbitrária”: o
sujeito proclama que os valores morais não têm nenhuma base científica nem
defesa racional possível, mas continua agindo exteriormente como se acreditasse
no bem e na virtude, ou naquilo que ele assim denomina. Sugere, assim, que sua
conduta ética, ou aparentemente ética, não deriva do Supremo Bem, mas da sua
própria, misteriosa, arbitrária e inexplicável bondade pessoal. É a forma de
autobeatificação mais querida dos intelectuais céticos e materialistas.”
Tudo isto é indiscutivelmente real, falta só aplicá-lo ao plano dos
políticos da democracia liberal americana e ocidental, que Dugin detesta, mas
sem apontar a sua causa religiosa.
O sentido cristão da História
Para o Cristão o curso da história da humanidade segue o curso bíblico
da luta entre o bem e o mal; entre a verdade e a impostura da luta espiritual
entre a Cidade de Deus e a Cidade de Satã, como o interpretou Santo Agostinho
sistematicamente no De Civitate Dei.
O sentido da História e, portanto, da vida humana, só ficou claro com a
vinda de Jesus Cristo. Neste sentido é importante citar o sociólogo judeu
Rosenstock-Huessy citado por Olavo que coloca “toda a história da raça
humana sob o simples tema de como o amor se torna mais forte que a morte… e a
história sublime canção… rima, ligação, que é a função dos homens na terra. Mas
que esta seja a nossa função, apenas o conhecemos desde o nascimento de Cristo”.
O amor se torna mais forte que a morte… quando conhecemos Cristo e a elevação
na verdade como função primordial da vida. Que será do mundo sob o poder que
opera para obstar ou banalizar a Verdade conhecida? Quem o impede é declarado
inimigo de Cristo, seja judeu ou conciliar
A “presença” dessa Verdade na História é a um tempo certeza religiosa e
realidade vital. Pouco ou nada restaria do sentido de uma história amputada da
Revelação e da presença de Jesus Cristo, que foi e é determinante para a vida
dos homens. Ao contrário, toda compreensão dos eventos de cada época depende do
reconhecimento se estes são a favor ou contra a Fé no Filho de Deus encarnado.
Recuperar o sentido católico da História para
entender o presente
Bastaria considerar os termos para o entendimento filosófico do
«sentido» da História como curso dos eventos humanos no complexo curso das
civilizações, para reconhecer que a História tem caráter sobrenatural. De fato,
a filosofia considera a História para chegar à compreensão última do ser humano
e do seu fim, que vai além da natureza material. Assim sempre entenderam os
povos de todas as épocas e lugares, na espera de uma revelação divina.
Vejamos o que diz o historiador Arnold Toynbee diante desta revelação: “Pode-se
realmente falar de uma «historia universal» (Weltgeschichte) que abrace o devir
de todo o gênero humano segundo um plano de estrutura temporal, como reconhece
Goethe afirmando que o único tema, aquele próprio e mais profundo, da Historia
do mundo e da humanidade à qual todos os outros restam subordinados, é o
conflito entre a fé e a incredulidade. A única historia então que importa para
o homem é a «História sagrada» que reivindica para si o cumprimento definitivo
da salvação do ser homem: o Cristianismo em quanto se apresenta como o único
herdeiro legítimo das promessas divinas feitas a Israel, levantou as barreiras
nacionais e raciais do judaísmo e abraça a história de toda a humanidade nos
séculos cujo eixo é portanto representado pela Pessoa e obra de Cristo
Salvador, como Filho de Deus feito Homem. […] Disto se compreende que somente
no Cristianismo o tempo se estrutura no «desenvolvimento» das suas dimensões de
presente, passado e futuro. Enquanto na concepção clássica o tempo é submetido
à «necessidade» do fato e é disperso pela intangibilidade do «caso» na
concepção revelada o presente constitui o ponto de consistência da historia em
quanto o que ocorre, isto é o evento é sempre uma síntese de tempo e de
eternidade, isto é, seu ponto de seu «encontro». […] O Cristianismo portanto
reivindica para si a única interpretação válida da Historia porque é a única
religião que promete e garante a definitiva libertação do mal, livre assim do
processo de «desagregação» inerente às teorias dos ciclos: «O Reino de Deus, do
qual Cristo é Rei, é incomensurável, com respeito a qualquer outro reino… Até
onde esta Civitas Dei entra na dimensão-tempo, não é como um sonho para o
futuro, mas como uma realidade espiritual que penetra o presente” [1].
Cristo Rei do Universo
Ora, O cristão sabe que: “Se a História não tivesse um sentido,
a inteira humanidade, a presença do homem no mundo, seria reduzida a uma
absurda e vã agitação de larvas; mas se a história, come cremos, tem um
sentido, então essa mesma é linguagem, palavra; e o seu sentido não se pode
identificar com o simples acontecer e continuar dos eventos”[2] Essa
«Teologia da História» demonstra-se assim como o esclarecimento único da
existência temporal do homem e daí da verdadeira “História” com os seus graves
problemas atuais.
Vivemos tempos de enganosas teologias iluministas e de libertação que
são, na verdade, libertações da Teologia e, portanto do sentido da História e
de tudo que concerne a Fé e as almas.
À esta luz, vemos que nos nossos tempos não há só a perversão da
filosofia pela «filodoxia», mas da Teologia por uma «teodoxia» que, invertendo
a visão do fim da vida humana, inverte todas as retas visões políticas e
morais.
Foi o Vaticano 2º a oficializar esse desvario, cuja maldita operação
ecumenista obscurece todo o horizonte humano ao negar a oposição fundamental
entre o Cristianismo da Igreja Católica com todos os erros humanos coligados
para abatê-lo. Eis o desastre presente! Ao diluir ou negar esta verdade,
avançam no horizonte da história os grandes males revolucionários que parecem
insuperáveis.
Enquanto o Cristianismo é demolido por um nefasto ecumenismo, o Islão,
que no lugar santo de suas orações não admite nenhuma outra religião, cresce
continuamente e hoje, um quinto dos habitantes da terra segue as palavras de
Maomé, seja quando estas invocam a paz como a guerra. Mas este mal está do lado
de uma fé, justamente quando o Ocidente desmorona a sua para cair na mais
abjecta incredulidade anticristã! Que Deus nos ajude nesta hora de trevas.
[1] – Arnold Toynbee, A Study of History, v. EC. p.
1380.
[2] – «Il Tempio del Cristianesimo», Attilio Mordini,
Settecolori, 1979, p. 9.
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