18/07/2014

São Luís Maria Grignion de Montfort, Um grande pregador, um grande perseguido

Em 1970, em Prólogo redigido para a edição argentina de seu livro “Revolução e Contra-Revolução”, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira mostrava a relação existente entre a devoção a Nossa Senhora e a temática de seu estudo. Em nossa edição de agosto/1989 (n" 464) reproduzimos o mencionado tema. O mesmo Prólogo, entretanto, contém alguns rasgos importantes da tenda e obra do grande apóstolo mariano do século XVIII, São Luís Maria Grignion de Montfort, cuja festa se comem
ora neste mês. Sendo a presente matéria ainda medita no Brasil, aproveitamos esta ocasião para levá-la ao conhecimento de nossos leitores. Os subtítulos são nossos.
Plinio Corrêa de Oliveira

MUITOS SÃO HOJE - fora dos meios progressistas, é claro - os católicos que conhecem e admiram a obra do grande e fogoso missionário popular do século XVIII, São Luís Maria Grignion de Montfort.
Nasceu ele em Montfort-La-Cane (Bretanha, França) no ano de 1673. Ordenado sacerdote em 1700, dedicou-se até sua morte, no ano de 1716, à pregação de missões para as populações rurais e urbanas da Bretanha, Normandia, Poitou, Vendéia, Aunis, Saintonge, Anjou, Maine. As cidades em que pregou, inclusive as mais importantes, viviam em grande medida da agricultura, e estavam profundamente marcadas pela vida rural. De maneira que São Luís Maria, se bem que não tenha pregado exclusivamente para camponeses, ainda pode ser considerado essencialmente um apóstolo das populações rurais.
Em suas pregações, que em termos modernos poderiam chamar-se sumamente aggiornate, ele não se limitava a ensinar a Doutrina Católica em termos que servissem para qualquer época e qualquer lugar, mas sabia dar realce aos pontos mais necessários para os fiéis que o ouviam.
O gênero de seu aggiornamento deixaria provavelmente desconcertados a muitos dos prosélitos do aggiornamento moderno. Os erros de seu tempo, ele não os via como meros frutos de equívocos intelectuais oriundos de homens de boa fé insuspeitável: erros que por isso mesmo um diálogo destro e ameno sempre dissiparia. Capaz do diálogo afável e atraente, ele não perdia de vista, entretanto, toda a influência do pecado original e dos pecados atuais, bem como a ação do príncipe das trevas, na gênese e no desenvolvimento da imensa luta movida pela impiedade contra a Igreja e a Civilização Cristã. A célebre trilogia demônio, mundo e carne, presente nas reflexões dos teólogos e missionários de boa lei em todos os tempos, tinha-as ele em vista como um dos elementos básicos para o diagnóstico dos problemas de seu século. E assim, conforme as circunstâncias o pediam, ele sabia ser ora suave e doce como um anjo mensageiro da dileção ou do perdão de Deus, ora batalhador invicto, como um anjo incumbido de anunciar as ameaças da Justiça Divina contra os pecadores rebeldes e endurecidos. Esse grande apóstolo soube, alternadamente, dialogar e polemizar, e nele o polemista não impedia a efusão das doçuras do Bom Pastor, nem a mansidão pastoral diluía os santos rigores do polemista.
Estamos, com este exemplo, bem longe de certos progressistas, para os quais todos os nossos irmãos separados, heréticos ou cismáticos, estão necessariamente de boa-fé, enganados por meros equívocos, de modo que polemizar com eles é sempre um erro e um pecado contra a caridade.
Mundanismo e jansenismo coligados
A sociedade francesa dos séculos XVII e XVIII (nosso Santo viveu, como dissemos, no ocaso de um e nas primeiras décadas do outro) estava gravemente enferma. Tudo a preparava para receber passivamente a inoculação dos germens do Enciclopedismo e em seguida desabar na catástrofe da Revolução Francesa.
Apresentando aqui um quadro circunscrito dessa época e portanto forçosamente muito simplificado -- indispensável, não obstante, para compreender a pregação de nosso Santo -- pode dizer-se que nas três classes sociais, clero, nobreza e povo, preponderavam dois tipos de alma: os laxos e os rigoristas. Os laxos, tendentes a uma vida de prazeres que conduzia à dissolução e ao ceticismo. Os rigoristas, propensos a um moralismo hirto, formal e sombrio, que conduzia ao desespero, quando não à revolta. Mundanismo e jansenismo eram os dois polos que exerciam uma nefasta atração, inclusive em meios reputados dos mais piedosos e moralizados da sociedade de então.
Um e outro -- como tantas vezes acontece com os extremos do erro --conduziam a um mesmo resultado. Com efeito, cada qual por seu caminho afastava as almas do são equilíbrio espiritual da Igreja. Esta, efetivamente, nos prega, em admirável harmonia, a doçura e o rigor, a justiça e a misericórdia. Ela nos afirma, por um lado, a grandeza natural autêntica do homem -- sublimada por sua elevação à ordem sobrenatural e sua inserção no Corpo Místico de Cristo -- e por outro lado nos faz ver a miséria em que nos lançou o pecado original, com toda a sua sequela de nefastas consequências.
Nestas condições, nada é mais normal do que a coligação dos erros extremos e contrários contra o apóstolo que pregava a Doutrina Católica autêntica: o verdadeiro contrário de um desequilíbrio não é o desequilíbrio oposto, mas o próprio equilíbrio. E assim, o ódio que anima os sequazes nos erros opostos não os lança uns contra os outros, mas lança-os contra os apóstolos da Verdade. Isto máxime quando essa Verdade é proclamada com uma vigorosa franqueza e põe em realce os pontos que discrepam mais agudamente dos erros em voga.
Austeridade e ternura na pregação de um santo
Exatamente assim foi a pregação de São Luís Maria Grignion de Montfort. Seus sermões, pronunciados em geral ante grandes auditórios populares, culminavam não raras vezes com verdadeiras apoteoses de contrição, de penitência e de entusiasmo. Sua palavra clara, flamejante, profunda, coerente, sacudia as almas amolecidas pelos mil graus de frouxidão e sensualidade que naquela época se difundiam a partir das classes mais altas para as demais camadas da população. No fim de seus sermões, os ouvintes frequentemente reuniam na praça pública pirâmides de objetos frívolos ou sensuais e de livros ímpios, aos quais punham fogo. Enquanto ardiam as chamas, nosso infatigável missionário fazia novamente uso da palavra, incitando o povo à austeridade.
Esta obra de regeneração moral tinha um sentido fundamentalmente sobrenatural e piedoso. Jesus Cristo crucificado, seu Sangue precioso, suas Chagas sacratíssimas, as Dores de Maria, eram o ponto de partida e o término de sua pregação. Por isto mesmo promoveu em Pontchâteau a construção de um grande Calvário, o qual deveria ser o centro de convergência de todo o movimento espiritual por ele suscitado.
Na Cruz via nosso Santo a fonte de uma superior sabedoria, a Sabedoria cristã, que ensina o homem a ver e a amar nas coisas criadas manifestações e símbolos de Deus; a sobrepor a Fé à razão orgulhosa, a Fé e a reta razão aos sentidos rebelados, a Moral à vontade desregrada, o espiritual ao material, o eterno ao contingente e transitório.
Porém, este ardoroso pregador da austeridade cristã genuína nada tinha da austeridade taciturna, biliosa e estreita de um Savonarola ou de um Calvino. Ela era suavizada por uma terníssima devoção a Nossa Senhora.
Pode-se dizer que ninguém levou mais alto do que ele a devoção à Mãe de Misericórdia. Nossa Senhora, enquanto Mediadora necessária - por eleição divina - entre Jesus Cristo e os homens, foi o objeto de seu contínuo enlevo, o tema que suscitou suas meditações mais profundas, mais originais. Nenhum crítico sério pode negarlhes a qualificação de inesperadamente geniais. Em torno da Mediação Universal de Maria - hoje verdade de Fé - São Luís Maria Grignion de Montfort construiu toda uma mariologia que é o maior monumento de todos os séculos à Virgem Mãe de Deus.
São estes os principais rasgos de sua admirável pregação.
Toda esta pregação está condensada nos três trabalhos principais escritos pelo Santo: "O Amor da Sabedoria Eterna", o "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", a "Carta Circular aos Amigos da Cruz", uma espécie de trilogia admirável, toda de ouro e de fogo, da qual se destaca, como obra prima entre as obras primas, o "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem".
Por estas obras, podemos dar-nos conta do que foi a substância da pregação de São Luís Maria Grignion de Montfort.
Preparou a reação contra a Revolução Francesa
Nosso Santo foi um grande perseguidor. Este traço de sua existência é assinalado por todos os seus biógrafos.
Um vendaval furioso se ergueu contra sua pregação, movido pelos monda-nos, pelos céticos enfurecidos ante tanta Fé e tanta austeridade, e pelos jansenistas, indignados ante uma devoção insigne a Nossa Senhora, da qual dimanava uma suavidade inexprimível. Daí o torvelinho que levantou contra ele, por assim dizer, toda a França.
Não raras vezes, como sucedeu um 1705, na cidade de Poitiers, seus magníficos "autos-de-fé" contra a imoralidade foram interrompidos por ordem de autoridades eclesiásticas, que evitavam assim a destruição desses objetos de perdição. Em quase todas as dioceses da França foi-lhe negado o uso de ordens. Depois de 1711, só os Bispos de La RocheIle e de Luçon permitiram-lhe a atividade missionária. E, em 1710, Luís XIV ordenou a destruição do Calvário de Pontchâteau.
Ante esse imenso poder do mal, nosso Santo revelou-se profeta. Com palavras de fogo, denunciou os germens que minavam a França de então, e vaticinou uma catastrófica subversão que deles haveria de derivar. O século em que são Luís Maria morreu não terminou sem que a Revolução Francesa confirmasse, de modo sinistro, suas previsões.
Fato ao mesmo tempo sintomático e que entusiasma: as regiões em que nosso Santo teve liberdade de pregar sua doutrina e em que as massas humildes o seguiram, foram aquelas em que os "chouans" se levantaram, com armas na mão, contra a impiedade e a subversão. Eram os descendentes dos camponeses que haviam sido missionados pelo grande Santo, e preservados assim dos germens da Revolução.


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