29/07/2015

A EVIDÊNCIA RACIONAL E O MISTÉRIO SOBRENATURAL

"Enquanto que os países protestantes procuravam solidificar as suas instituições, iam minando os países da antiga tradição Católica com o iluminismo dissolvente que conduziu à revolução de 1789". - Monsenhor Delassus

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa São Pio X, em excertos da Carta Encíclica “Communium Rerum”; promulgada para comemorar o oitavo centenário da morte de Santo Anselmo de Aosta – 21 de Abril de 1909:
«Anselmo obteve mais do que esperava, ou do que outros presumiam. Obteve tanto, que a glória dos doutores subsequentes e do próprio São Tomás de Aquino não obscureceu o seu predecessor; também quando Tomás não aceitou todas as conclusões, ou quando fez acréscimos e precisões. Anselmo teve o mérito de inaugurar o caminho da especulação, de afastar a suspeita dos tímidos, os perigos dos incautos, os danos dos briguentos e sofistas, ou dos hereges dialécticos do seu tempo, como ele os denomina, para os quais a razão era escrava da imaginação e da leviandade.
Portanto, ele também condena aqui e fora daqui a perversa opinião dos que tanto concediam à filosofia, atribuíndo-lhe o direito de invadir o terreno da Teologia. Opondo-se ele a tal estultícia, acena corretamente os limites de uma e outra, e insinua o indispensável para qual seja a função da razão no que se refere à Fé. Segundo ele, a nossa Fé deve defender-se contra os ímpios por meio da razão. Mas de que modo, e até que ponto? Esclarece-o, Anselmo, com as seguintes palavras: “Deve-se mostrar a esses, racionalmente, o que eles nos desprezam irracionalmente”.
A FUNÇÃO PRECÍPUA DA FILOSOFIA, É PORTANTO DEMONSTRAR A RACIONALIDADE DA NOSSA FÉ, E NO QUE LHE ESTIVER AO ALCANCE, O DEVER DE CRER NA AUTORIDADE DIVINA, QUE NOS PROPÕE MISTÉRIOS ALTÍSSIMOS, OS QUAIS, PELO TESTEMUNHO DE TANTOS SINAIS DE CREDIBILIDADE, SÃO POR DEMAIS DIGNOS DE FÉ.
Outra é a função própria da Teologia Cristã, que se funda sobre o facto da Revelação Divina, e torna mais sólidos na Fé, os que já professam a honra do Nome Cristão. Daí fica bem claro que nenhum cristão deve disputar a não ser aquilo que a Igreja Católica crê com o coração e confessa com a boca; mas mantendo sempre, sem duvidar, a mesma Fé,  AMANDO E VIVENDO SEGUNDO ESSA FÉ, DEVE PROCURAR, NO QUE LHE FOR POSSÍVEL, A RAZÃO DISSO. Se pode compreender, renda Graças a Deus, se não pode – na expressão de Santo Anselmo – não utilize os chifres para marrar, mas abaixe a cabeça para adorar.»   
Não há maior ignorância na Terra do que a das coisas de Deus. Hoje e sempre; com a diferença essencial de que, hodiernamente, institucionalmente, o próprio Mestre infalível se calou, no eclipse total do Magistério da Santa Madre Igreja.
Paralelamente, extinguiram-se as Fontes de Graça – o Santo Sacrifício da Missa e os Sacramentos; já ninguém sabe o que é a Ordem Sobrenatural, a vida imersa na Presença de Deus Nosso Senhor, à sombra da Sua Lei. Que diria São Pio X de tudo isto?
Evidentemente, necessàriamente, proclamaria que o grande castigo pré-escatológico tinha chegado, e que mais do que nunca, O CASTIGO DO PECADO SERIA AGORA O PECADO! A COMEÇAR PELO PECADO DE IGNORÂNCIA!
Na verdade a verdadeira ignorância situa-se no conculcar das realidades Sobrenaturais, no olvido das virtudes Teologais e Morais, da Graça Santificante, dos Dons do Espiríto Santo.
Se nos países da velha Tradição Católica, saíssemos pelas ruas, perguntando aos transeuntes, O QUE É A GRAÇA SANTIFICANTE; duvido em absoluto que encontrássemos alguém que soubesse responder: É um Hábito Sobrenatural infundido por Deus, pelos méritos de Nosso Senhor, na nossa alma, e que nos eleva infinita e acidentalmente, acima da nossa natureza, e nos torna participantes da Natureza Divina, e a Ela semelhantes.
Nesta definição há elementos teológicos e elementos filosóficos; MAS PARA A SALVAÇÃO ETERNA SÓ É NECESSÁRIO SABER OS ELEMENTOS TEOLÓGICOS, O QUE SE CONSEGUE PELA FÉ TEOLOGAL, SOBRETUDO QUANDO FORMADA PELA CARIDADE. Não é necessário conhecer filosòficamente o que é a substância e o que é o acidente. Quem possui as Virtudes Teologais e a Graça Santificante, CONHECE COM A INTELIGÊNCIA DO PRÓPRIO DEUS, A SUA ELEVAÇÃO AO ESTADO SOBRENATURAL, SABE QUE, DE ALGUMA MANEIRA, VIVE A VIDA DO PRÓPRIO DEUS, SENDO FAMILIAR DOS SEUS MISTÉRIOS. Aliás, isto acontece mesmo às criancinhas baptizadas, pois Deus Nosso Senhor reside Sobrenaturalmente nelas, nos Hábitos Teologais da Fé, Esperança e Caridade, bem como na Graça Santificante, ainda que as faculdades da criança não possam actualizar em concreto os actos das mesmas Virtudes.
Mas então, questionar-se-á, se a Ordem Sobrenatural tudo encerra, tudo contém, e só ela salva, para quê tantos estudos filosóficos e teológicos?
Os estudos teológicos, e até o próprio Catecismo, permitem conhecer actualmente, pormenorizadamente, mas sempre com compreensão muito parcial, todos os Tesouros contidos nas Virtudes Teologais, constituindo assim CONDIÇÃO INTRÍNSECA PROVIDENCIAL ESTRITA, PARA O DESENVOLVIMENTO E APROFUNDAMENTO DOS REFERIDOS HÁBITOS, BEM COMO DA GRAÇA SANTIFICANTE.  É evidente que a criancinha baptizada, ao começar a estimular e desenvolver as suas faculdades naturais, através da experiência; seria absurdo que concomitantemente se não processasse análogo crescimento das faculdades Sobrenaturais, pelo incremento dos conhecimentos que lhes são absolutamente intrínsecos. É sempre menos difícil a salvação para quem fez um bom Catecismo, ou até mesmo estudos teológicos, COM RECTA INTENÇÃO SOBRENATURAL – do que para quem não fez.
Os estudos filosóficos são necessários, porque a sã filosofia CONSTITUI UMA EXPRESSÃO EXTRÌNSECA DOS BENS SOBRENATURAIS, VISTO QUE TODO O BEM NATURAL, QUALQUER QUE ELE SEJA, QUE DEVEMOS OBTER NESTE MUNDO, SÓ PODE PROMANAR, EXTRÌNSECAMENTE, DA ORDEM SOBRENATURAL, A QUAL ENRIQUECE A INTELIGÊNCIA NATURAL. Os Mistérios Sobrenaturais, que são infinitamente superiores, mas não contrários, à razão, podem ser, extrìnsecamente, traduzidos, refractados, em conceitos filosóficos, e nessa base apurar determinadas evidências ALTAMENTE GRATIFICANTES, as quais, NÃO DISSOLVEM OS MISTÉRIOS SOBRENATURAIS, NEM OS ACRESCENTAM; MAS QUE CONSTITUEM, FREQUENTEMENTE, CONDIÇÃO EXTRÍNSECA PROVIDENCIAL PARA A INFUSÃO DA GRAÇA E CONSEQUENTE APROFUNDAMENTO DOS HÁBITOS TEOLOGAIS.
Os Mistérios Sobrenaturais permanecem sempre Mistérios – mesmo na Eternidade; é evidente que quanto mais uma alma está perto de Deus, mais compreende; mas é sempre mais o que não compreende, ou compreende parcialmente; e isto é válido mesmo para o Anjo. E a razão profunda reside na Asseidade de Deus, na Infinitude de Deus; por mais que se compreendam Sobrenaturalmente, as coisas de Deus, a Sua Infinitude permanece sempre como um absoluto metafìsicamente inalcançável. Mesmo das coisas deste mundo podemos extrair uma analogia; Quanto mais uma pessoa sabe, quanto mais estudou, se por um lado desenvolve o seu conhecimento, maior ainda será o terreno intelectual vislumbrado e inexplorado. Porque o conhecimento constitui uma forma, procedente de abstracção de ordem superior, a qual se aplica a uma matéria menos abstrata, ou mais concreta. Ignorar é verificar que se possui uma matéria privada da forma que lhe convém. Quem rigorosamente nada sabe, nada pode ignorar, porque não possui nenhum território intelectual onde surpreenda ausência de conhecimento. Os Anjos podem ignorar, embora na Ordem Natural não possam errar, porque a sua inteligência, por mais privilegida que seja, não pode iluminar toda a realidade.  Na Eternidade, e mesmo neste mundo, por mais perto que Anjos e homens estejam, Sobrenaturalmente, de Deus Nosso Senhor, o atributo Divino da Infinitude sempre os superará inexaurìvelmente.
Cumpre assinalar que 
A ORDEM SOBRENATURAL É ABSOLUTAMENTE INCOMENSURÁVEL COM A ORDEM NATURAL; logo o conhecimento e a evidência filosófica só são intrìnsecamente válidos nesta ordem. Neste quadro conceptual se compreende como a Fé Teologal é “ex voluntate” e “cum ratione”; porque embora o conteúdo da Fé seja racional – NÃO É, CONTUDO, EVIDENTE; compete ao imperativo da vontade – auxiliada pela Graça, e fundamentada no objecto formal, que é o próprio Deus – determinar a adesão formal da inteligência.
A evidência racional que temos referido é POSTERIOR À FÉ, E FUNDAMENTADA EXTRÌNSECAMENTE NA FÉ TEOLOGAL; TODOS OS GRANDES DOUTORES DA IGREJA ESTÃO DE ACORDO EM QUE SE CRÊ PARA COMPREENDER, E NÃO O OPOSTO. Os motivos de credibilidade, que demonstram a racionalidade intrínseca da Revelação, não constituem uma evidência, nem racional, nem teológica. Na realidade, A EVIDÊNCIA TEOLÓGICA DA FÉ É HAURIDA NÃO APENAS DA VONTADE, MAS DE UMA VONTADE SUSTENTADA PELA GRAÇA SOBRENATURAL, APOIADA NA INTELIGÊNCIA, TAMBÉM BENEFICIADA PELA GRAÇA, E OBJECTIVA E TRANSCENDENTALMENTE REFERIDA AO OBJECTO FORMAL ABSOLUTO – DEUS NOSSO SENHOR.
Mas todas estas riquezas foram não sòmente olvidadas, mas espezinhadas, pela seita conciliar, possessa do mais feroz ódio à Verdade que a História Universal regista. Toda a filosofia dos últimos cinco séculos foi directamente inspirada pelo protestantismo, que logo com Descartes (1596-1646) fez de Deus um aberrante fantasma que não convence ninguém. Como diz Monsenhor Delassus: Enquanto que os países protestantes procuravam solidificar as suas instituições, IAM MINANDO OS PAÍSES DA ANTIGA TRADIÇÃO CATÓLICA COM O ILUMINISMO DISSOLVENTE QUE CONDUZIU À REVOLUÇÃO DE 1789.
Pode-se ser um grande santo sem base filosófica, sem dúvida alguma, as Virtudes Teologais e Morais Sobrenaturais e a Graça Santificante, os Dons do Espírito Santo, são constitutivos da Santidade. MAS A PROFISSÃO DE UMA FALSA FILOSOFIA DESTRÓI POSITIVAMENTE A FÉ. Neste enquadramento, e como já explanámos, TODAS AS NOSSAS RIQUEZAS NATURAIS, INCLUINDO A FILOSOFIA, NOS DEVEM SER FACULTADAS PELA SUPERABUNDÂNCIA EXTRÍNSECA DOS TESOUROS SOBRENATURAIS. Como afirmam os autores sapienciais:”Todos os Bens me vieram com a Sabedoria.”- Sab 10,10»
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 22 de Julho de 2015

Um comentário:

  1. ONDE SE LÊ: A ORDEM NATURAL É ABSOLUTAMENTE INCOMENSURÁVEL COM A ORDEM NATURAL - DEVE LER-SE: A ORDEM SOBRENATURAL É ABSOLUTAMENTE INCOMENSURÁVEL COM A ORDEM NATURAL. MUITO OBRIGADO. O AUTOR - ALBERTO CARLOS ROSA FERREIRA DAS NEVES CABRAL- LISBOA

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