22/07/2015

Nobreza da graça e nobreza de sangue


"Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus a todos os que O receberam, esses que creem em seu nome e não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade do homem, mas nasceram de Deus."

Pe. David Francisquini


           No Calváriobem junto à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, achava-se reunida não apenas a nobreza da graça, mas também a mais requintada nobreza de sangue. Maria Cleofas e São João, o discípulo amado, eram primos de Nosso Senhor. Maria Santíssima, pertencente à estirpe de David, era a mãe do Homem-Deus, o Redentor do mundo, até então escravizado pelo pecado e jazendo na mais completa pobreza espiritual.
Dentre os muitos atributos dos demagogos e populistas de nossos dias, talvez um dos mais salientes seja a pretensa ajuda às classes pobres em nome de princípios igualitários e revolucionários. A respeito desses demagogos, podemos repetir o dito segundo o qual “eles amam tanto os pobres, que os multiplicam quando chegam ao poder”. Na verdade, só se ama o próximo quando se ama a Deus! Demagogia e amor de Deus se excluem. Afinal, que gesto pode ser comparado ao do Homem-Deus e de todas as almas nobres que se aglutinavam naquela hora trágica da redenção do gênero humano?
Não há nada que engrandeça e eleve mais nesta terra de exílio do que a nobreza hereditária quando ela ama e teme a Deus. Jesus Cristo nasce de uma virgem da linhagem de reis e é chamado de filho de David, para ensinar a importância e a grandeza das elites junto aos desamparados e aos pobres de espírito. Maria Cleofas era prima de Nossa Senhora, grau muito próximo de parentesco que a distingue com a mais qualificada nobreza que jamais houve no mundo, não propriamente pelo fato de descender de David e de reis de Israel, mas por afinidade com o sangue do Redentor divino.
Cumpre ressaltar que a nobreza desse parentesco com o Homem-Deus era dobrada segundo o Pe. Antônio Vieira, pois Jesus Cristo não tendo pai na terra, sua linhagem provinha de sua Mãe. A nobreza de Maria Cleofas está acima de qualquer nobreza por parentesco com a Mãe de Jesus e com o Homem-Deus. Se o Evangelho ressalta a presença dela junto à Cruz, é para distinguir a sua nobreza de sangue e espiritual.
Quando um nobre é inteiramente católico e consciente de seus altos e grandiosos deveres, seus feitos – contrariamente a qualquer demagogo – enobrecem toda uma nação. O calvário foi por excelência um ato de heroísmo de valor incomparável para todas as classes sociais. Não entende o papel do nobre, a não ser contemplando o Homem-Deus, a sua Santa Mãe, Maria Cleofas, e São João Evangelista aos pés da Cruz.
Se houvesse reino em Israel, Maria teria sido a sua rainha e Jesus Cristo o seu rei. Nessa cena todos contemplam um rei e uma rainha conquistando a Terra para Deus. A redenção possibilitou aos homens trilhar as vias do bem, atingir um apogeu de civilização que foi a Idade Média, sobre a qual Leão XIII proclamou que naquele tempo a filosofia do Evangelho governava os povos. O requinte, as boas maneiras, a elevação, a distinção, o respeito, a dedicação, o zelo, o heroísmo foram os resultados dessa epopeia do Homem-Deus. Da cruz germina o espírito de cruzado e a militância. Desabrocham e desenvolvem a epopeia, o heroísmo e o desvelo  dos cruzados na defesa da Terra Santa.  
São João fala de Maria Cleofas como prima de Nossa Senhora, mas não menciona o parentesco dela com Nosso Senhor, para nos dar a entender quanto o Homem-Deus preza a graça, seja nobre ou plebeu, pois ela nos torna participantes da vida divina. 
Também aos pés da Cruz se encontrava Maria Madalena, a penitente. Ela se elevou da escravidão do pecado, da pobreza de alma, à vida divina pela penitência, pois sendo Nosso Senhor a luz verdadeira, ilumina todos os homens que vêm a este mundo.  "Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam. Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus a todos os que O receberam, esses que creem em seu nome e não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade do homem, mas nasceram de Deus."
Deus, eterno e de natureza puramente espiritual, criou todos os seres e coisas para a sua glória e reverência. Na sua infinita sabedoria e ciência, criou primeiro os anjos e o reino material, e depois o homem com alma e corpo. Os anjos são puros espíritos dotados de inteligência e vontade, elevados à glória e à contemplação divina pela graça. Contrariamente aos homens, eles são incapazes de hesitar. Por isso a punição dos que se revoltaram foi irreversível.  Os homens, contudo, não tiveram pela infinita bondade de Deus a mesma sorte, tendo o Criador lhes enviado seu Filho para restaurar a honra divina ultrajada pelo pecado de nossos primeiros pais e abrir-lhes as portas do céu, dando a todos os meios de salvação.
Ao morrer na Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo tornou-se instrumento de salvação. Sendo Deus, quis nascer somente de uma virgem por obra do Espírito Santo. Como veio por meio d’Ela, quis tê-La bem perto de Si junto à Cruz, para partilhar com Ele a sua Paixão e Morte, e torná-La, assim, nossa Mãe a partir do momento em que A recomendou a São João Evangelista. A Nossa Senhora é atribuído o privilégio de corredentora do gênero humano.
É por isso que o melhor caminho para se chegar a Jesus Cristo é através da devoção a Maria, cuja intercessão nos alcança todas as graças de Deus. Confiantes, fixemos os nossos olhos no Coração Imaculado de Maria, pois é nele que se encontram a esperança e a certeza do triunfo do bem neste mundo tão conturbado pela pobreza de espírito.

Fonte: Página Católica - http://www.padredavidfrancisquini.com/

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