Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Leão XIII, em excertos da encíclica “Sapientiae Christianae”, promulgada em 10 de Janeiro de 1890:
«Restaurar os princípios da Sabedoria Cristã, e conformar sempre com eles a vida, os costumes e as instituições dos povos,é uma necessidade que cada dia se torna mais evidente. Da desestima deles, derivou tão caudalosa enchente de males, que nenhum homem de são juízo pode tolerar o estado presente sem ansioso cuidado, nem alargar os olhos sem receio para o futuro.
Tem-se feito, é verdade, não medíocre progresso nas comodidades corporais e exteriores; mas toda essa natureza sensível, a abundância de meios, as forças e as riquezas, se podem gerar comodidades, e aumentar a serenidade da vida, não poderão nunca satisfazer a nossa alma, CRIADA PARA COISAS MAIS ALTAS E COM MAIS GLORIOSOS DESTINOS. Olhar a Deus e encaminhar-se para Ele, tal é a Lei Suprema da vida do homem, o qual, criado como foi à Sua Imagem e Semelhança, é impulsionado com toda a força da sua mesma natureza a gozar do seu Criador. Todavia, esse caminhar para Deus não é obra de movimentos ou esforços corporais, mas de actos próprios da alma, que são: Conhecimento e amor. Deus é a primeira e suprema Verdade, E DA VERDADE NÃO VIVE SENÃO A INTELIGÊNCIA. Deus é a Santidade Perfeita e o Sumo Bem; e a Este só a vontade pode aspirar e chegar eficazmente por meio da virtude.
(…) Ora esses Bens da alma, que acima referimos, os quais não se encontram senão na verdadeira religião, e na prática perseverante dos preceitos cristãos, vemos que se escurecem cada vez mais entre os homens, ou de esquecidos, ou de enfastiados, e parece em certo modo que, quanto mais adianta o progresso no tocante ao corpo, maior se torna a decadência dos Bens da alma. E não são pequena prova da diminuição e enfraquecimento da Fé Cristã as injúrias, que com tanta frequência, à luz do dia e aos olhos do mundo inteiro, se estão fazendo à Religião; injúrias que uma época zelosa da Religião, DE FORMA ALGUMA TERIA TOLERADO.
Por isso mal se pode calcular quão grande multidão de homens se encontra em risco de perdição Eterna; e não só os homens, mas também as mesmas sociedades e estados não poderão conservar-se largo tempo incólumes, porque com a ruína das instituições e dos costumes cristãos, arruinados ficam sem remédio os mais sólidos fundamentos da sociedade humana. Resta só a força material para manter a ordem e a tranquilidade pública; mas essa força bem fraca é quando não se apoia na Religião, tornando-se mais apta a CRIAR ESCRAVIDÃO DO QUE OBEDIÊNCIA; traz em si mesma os germes de grandes perturbações. Bastantes catástrofes nos apresentou já o século em que vamos, E QUEM SABE AS QUE ESTÃO AINDA POR VIR!»
O Padre Reginaldo Garrigou Lagrange (1877-1964) quando contava 20 anos e estudava medicina num ambiente ateu, tendo procedido à leitura do livro L’Homme de Ernest Hello, meditando nas misérias da vida, tomou a decisão de levar uma vida acima da mediocridade geral. E na realidade uma decisão dessas só se pode tomar iluminado pela Graça de Deus; razão tinha pois Santo Agostinho quando afirmava que – ” Só por Deus se vai a Deus”. O Padre Garrigou foi um dos maiores teólogos e filósofos do século XX, ombreando – e até mesmo superando com a sua veia Mística- com um Thomas Pègues, um Guido Mattiussi, um Billot, um Eduard Hugon, um Étienne Gilson (este só filósofo), um Dalmau, ou um Teófilo Urdanoz; Garrigou Lagrange foi igualmente um grande combatente anti-modernista, que detectou melhor que nínguém o neo-modernismo daqueles mesmos que constituiriam o fermento envenenado do amaldiçoado Vaticano 2.
O fundamento absoluto da Fé Católica pode sintetizar-se, anunciando que: O NOSSO PRINCÍPIO É TAMBÉM O NOSSO FIM; consequentemente, a Causa Exemplar e Eficiente é igualmente a Causa Final. E isto é válido mesmo para os condenados, na exacta medida em que o seu castigo Eterno constitui, em negativo, o modo de afirmar a Glória de Deus, própria de quem teve uma vida operativamente dedicada a ultrajar o Criador.
Em virtude do pecado original, nós não podemos ir para Deus sem passar, essencialmente, por Nosso Senhor Jesus Cristo; mas nunca como um meio em sentido terreno, mas porque foi o Senhor Jesus que, com o Seu Divino Sangue, nos reabriu as Portas do Reino dos Céus. Sem pecado original o Verbo de Deus não teria encarnado. E porquê? Porque Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, só poderia vir à Terra, como um Mediador Infinito, como um Sacerdote de dignidade Infinita, de um Sacrifício igualmente de valor Infinito. Ora um tal Sacerdócio, de um tal Sacrifício, não teria qualquer sentido num mundo sem pecado.
É o pecado original, com as suas consequências, que impede os homens, de todas as épocas e todos os lugares, de tenderem para Deus Nosso Senhor; de n’Ele contemplarem o seu Princípio e o seu Fim; de realizarem eficazmente a sua elevação ao estado Sobrenatural; de reconbecerem que os meios que conduzem a Deus – que consistem no cumprimento Sobrenatural da Santa Lei de Deus – são essencialmente homogéneos com o Fim; e finalmente, de se aperceberem que a Felicidade, mesmo neste mundo, reside sòmente em conhecer, amar e servir a Deus Nosso Senhor. Só lutanto activamente, com o auxílio de Deus, contra as consequências do pecado original, podemos, antes de tudo, rectificar o nosso conceito de Deus, mas rectificá-lo Sobrenaturalmente, Objectivamente; ora na nossa idade pós-Cristã, com uma seita conciliar a fazer descarada propaganda do ateísmo, tal é consideràvelmente difícil, do ponto de vista moral, e a tal ponto, que possuir a Graça Santificante, nos tempos que correm, chega a constituir um verdadeiro milagre moral. Porque o próprio conceito de Deus encontra-se tão vilipendiado, tão absolutamente corrompido, que logo aí se verifica, que mesmo aqueles que se dizem crentes, se encontram imensamente, de certo modo infinitamente, longe da Verdade.
A própria História da Salvação, nunca pode ser concebida como uma História Humana; que incorpore elementos humanos, evidentemente que sim, pois mesmo a Sagrada Escritura também permite conhecer o homem; todavia, o fundamento, a forma de Autoridade e a Finalidade, da História da Salvação, são essencialmente Sobrenaturais; os elementos humanos possuindo como que uma função instrumental. Mas a grande maioria das pessoas que se dizem crentes, na realidade, não possuem a menor ideia do que seja a Ordem Sobrenatural; das inefáveis maravilhas da nossa participação, na Natureza Divina, na Inteligência Divina, na Santidade Divina; da Luz Celeste que dimana de uma alma em estado de Graça; da felicidade que irradia desse mesmo estado de Graça, sem excluir todos os sofrimentos próprios da condição mortal.
A Fé Católica constitui um edifício Sobrenatural, o qual possui uma base, mas não tem pròpriamente limites, visto que se pode e deve progredir incessantemente no conhecimento e no amor de Deus Nosso Senhor; mas essa base é Sobrenatural, logo só por Deus pode ser derramada nas nossas almas. Todo o princípio, todo o desenvolvimento, bem como toda a consumação da vida Sobrenatural, PERTENCE A DEUS E SÓ A DEUS.
Nosso Senhor Jesus Cristo comparou o Reino dos Céus a um tesouro escondido num campo, e que quem o encontra imediatamente corre a adquirir esse campo. Aqui o campo pode identificar-se com a Santa Madre Igreja, que exerce por Direito Divino a Custódia da Revelação. Quem, por Graça de Deus, compreende onde está a Suprema Riqueza da Verdade, necessàriamente também entenderá, sobrenaturalmente, que tem que existir uma Instituição que detenha e explicite essa mesma Verdade como Património de Direito Divino. A Grande tragédia desta Idade pós-Cristã, é precisamente a dificuldade extrema que as almas, sobretudo mais jovens, padecem para encontrar a Casa de Deus, numa época em que, PARA CASTIGO DOS NOSSOS PECADOS, a visibilidade da mesma quase se reduziu a zero. Mas mesmo que a não encontrem de facto, as almas piedosas, sempre com o auxílio Sobrenatural de Deus, SABERÃO PELA FÉ TEOLOGAL QUE ESSA INSTITUIÇÃO, QUE É A SANTA MADRE IGREJA, EXISTE COMO PESSOA MORAL DE DIREITO DIVINO, EMBORA ANIQUILADA, DE FACTO, PELAS FORÇAS DO MAL, NA SUA FACE HUMANA.
Vai já na adolescência a terceira geração de ocidentais completamente privada do Santo Sacrifício da Missa, dos Sacramentos, bem como do Magistério da Santa Madre Igreja, como motivo de credibilidade em sentido eminente. O autor destes escritos já só possui, como experiência directa da Santa Madre Igreja, as memórias remotas da sua primeira infância.
O Apelo Sobrenatural de Nosso Senhor comporta, como sempre comportou, grandes custos sociais, na exacta medida em que esse mesmo Apelo de Nosso Senhor, em contraste profundo com os apelos humanos, JAMAIS PODE SER VIVIDO A MEIAS; Nosso Senhor não aceita corações divididos, que acendem uma vela a Deus, e outra ao diabo. NOSSO SENHOR EXIGE SER AMADO SOBRE TODAS AS COISAS; porque no Céu SÓ HÁ SANTOS, E NINGUÉM PODE ENTRAR NO CÉU SEM AMAR SOBRENATURALMENTE A DEUS NOSSO SENHOR SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO POR AMOR DE DEUS. Porque se é verdade que na Atrição ainda se não ama a Deus sobre todas as coisas, na expressão do Sagrado Concílio de Trento, já existe um começo efectivo de amor, objectivo e transcendente, a Deus, o qual, pela Absolvição Sacramental, se tornará Caridade Perfeita.
O Apelo Sobrenatural de Nosso Senhor CONSTITUI A RECOMPENSA DE SI MESMO, QUANTO MAIS A ELE SE CORRESPONDE, MAIS ÂNSIAS TEMOS DE O APROFUNDAR. E, ao contrário dos bens da Terra, Jesus nada promete senão a Si Mesmo, Princípio Imarcescível e Incriado dos Bens que ETERNAMENTE saciam, MAS NUNCA FARTAM; PRECISAMENTE PORQUE, COMO FOI DITO, O NOSSO FIM CONSTITUI, METAFÍSICA E TRANSCENDENTALMENTE, TAMBÉM O NOSSO PRINCÍPIO.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 16 de Fevereiro de 2016
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