"A Igreja não os julgará. O juiz não é ela. é Deus que no céu tem a balança onde se contrapesam o bem e o mal da cada vida humana. A Igreja não os excomunga, pois o plano deles não é renegá-la nem apostatar."
Pe. João Batista
de A. Prado Ferraz Costa
O papa Francisco tem sido acusado de ser infiel à
doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio e autorizar uma
profanação do sacramento da Eucaristia em sua exortação pós-sinodal Amoris
laetitia. Embora diga no referido documento manter íntegra a doutrina da Igreja
sobre o vínculo matrimonial indissolúvel, o papa procura encontrar uma solução
pastoral para os incontáveis filhos da Igreja que vivem a difícil situação de
uma segunda união civil irregular à luz da doutrina tradicional. Tentaria,
assim, superar uma dicotomia entre teoria e prática por meio de um
discernimento sapiencial examinando caso a caso, com o fim de não privar do
sacramento àqueles que já viveriam na graça de Deus não obstante a falta de um
casamento na devida forma canônica.
Como se vê, aos olhos do papa, não há doutrina, não há
ciência teológica ou canônica, capaz de explicar toda a realidade. Há casos
particulares, há problemas concretos, que não se ajustariam perfeitamente a uma
norma universal abstrata. Assim como há um direito natural, consubstanciado em
princípios de valor permanente e universal, que se realiza historicamente
adaptando-se à índole de cada povo e às suas circunstâncias especiais,
originando instituições sociais e políticas peculiares às diversas culturas,
assim também a lei moral interpreta-se e aplica-se conforme os dramas
existenciais de tantas vidas e famílias despedaçadas, conquanto permaneça
sempre válida e imutável como um ideal a ser alcançado, uma luz a guiar o
comportamento do homem que jamais será compreendido se se pretender seja
padronizado universalmente.
É claro que semelhante compreensão do bispo de Roma
para com os filhos da Igreja que deram um passo em falso não guardando o
sagrado vínculo do matrimônio e convolando segundas núpcias no âmbito civil soa
injuriosa aos ouvidos de uma considerável parcela de católicos que tiveram a
infelicidade de um casamento fracassado, que, entretanto, por coerência com a
fé e por amor do Reino de Deus, não contraíram uma segunda união ilegítima.
Esses católicos coerentes não se comportam como o irmão mais velho da parábola
do Filho Pródigo; não são invejosos e mesquinhos recusando compartilhar da
alegria do papa pela volta dos filhos à casa paterna. Afinal, os católicos que
vivem em adultério não excomungados pela Igreja, são apenas privados da
recepção de um sacramento que não só transmite a graça, mas encerra o Autor da
Graça.
O cardeal Charles Journet, em um precioso opúsculo,
explica assim a questão: “Existe – a Igreja bem o sabe – a multidão de seus
filhos que, diante de seu lar deserto, começam talvez a lutar, depois perdem o
controle da situação, confessam-se vencidos e acabam por atrelar-se à estrada
mais ampla que o mundo lhes abre. (…) A Igreja não os julgará. O juiz não é ela.
é Deus que no céu tem a balança onde se contrapesam o bem e o mal da cada vida
humana. A Igreja não os excomunga, pois o plano deles não é renegá-la nem
apostatar. Ela simplesmente os abandona à sua própria decisão. Decisão que não
está de acordo com Cristo, eles o sabem bem, mas de acordo com o mundo.
Enquanto durar essa decisão, não peçam à Igreja que os receba nos sacramentos
de Cristo. Ela tem a missão de os distribuir fielmente: “Os homens devem
considerar-nos – diz o apóstolo – como uns ministros de Cristo e como uns
dispenseiros dos mistérios de Deus; ora, o que se deseja nos dispenseiros é que eles se achem fiéis.” (I
Cor. 4, 1-2).
De fato, parece que as palavras inspiradas pelo
Espírito Santo na pena do apóstolo foram esquecidas ou não levadas em devida
consideração no estabelecimento da nova disciplina dos sacramentos do
matrimônio e da eucaristia. E uma das
consequências, além da profanação do sacramento será um desdouro e um
descrédito ainda maior do sacerdócio aos olhos dos próprios filhos da Igreja.
Todavia, nada do que foi dito até agora explica
cabalmente a licença concedida pela exortação Amoris laetitia.
Na realidade, Francisco I quebrou um taboo. Em Depois
da virtude, Alasdair MacIntyre conta que quando os ingleses no século XIX
chegaram à Polinésia ficaram estupefatos com um contraste enorme no
comportamento sexual dos nativos: de um lado havia a mais desenfreada crápula,
de outro lado, na hora das refeições homens e mulheres não podiam comer juntos;
indagados por que tal proibição responderam que era um taboo sem saber explicar
o significado do termo, de modo que resultou fácil abolir a proibição
arbitrária.
Mutatis mutandis, hoje, realmente, dada a ignorância
teológica, dada a confusão de ideias reinante, sacramento é um taboo em muitos
ambientes. Sem nenhum exagero digo isto. Como explicar que o Vaticano, ainda
sob o pontificado de João Paulo II, tenha aprovado a anáfora de “Addai e Mari”,
à qual falta a forma consecratória senão porque hoje se considera que os
elementos matéria e forma são apenas um resquício de uma influência da
filosofia aristotélica sobre a reflexão teológica da Igreja que já caducou?
Como explicar que Francisco I tenha oferecido a um herético pastor luterano um
cálice de missa senão porque entende que o valor da eucaristia é subjetivo?
Como explicar que na mesma ocasião tenha dito a uma senhora luterana alemã
casada com um católico italiano (que lhe perguntou se podia receber a comunhão
na Igreja Católica) que poderia fazê-lo contanto que se julgasse em comunhão
com a Igreja?
Acresce que um dos autores mais festejados e citados
pelos últimos papas é o famigerado jesuíta e pseudo-cientista Pierre Teilhard
Chardin, censurado pelo Santo Ofício à época em que o cardeal Alfredo Ottaviani
na Sagrada Congregação da Santa Inquisição defendia com energia e zelo a pureza
da fé. O citado herege, indigno filho de Santo Inácio de Loiola, chegou a
comparar o mundo com as espécies sacramentais. Disse que a Encarnação
sacramentalizou o mundo inteiro. Disse Teilhard de Chardin: “Para que eu não
sucumba à tentação de maldizer o Universo, fazei com que o adore vendo-vos
escondido nele.”
Com efeito, que significa sacramento no mundo de hoje?
Que resta da teologia católica tradicional? Nihil!
Contudo, faço justiça ao papa Francisco I Não o acuso
de ser um devastador. Não é um niilista. É vitima do niilismo. Tem consciência
dos taboos da Igreja pós-conciliar. Vai derrubá-los um por um. Não ficará pedra
sobre pedra. Porquanto os cardeais que se dizem descontentes com suas atitudes
são todos adeptos das inovações do Vaticano II, não estão à altura para
refutá-lo. Francisco I sabe que são irracionais e inconsistentes suas objeções.
Disse, com razão, que o Vaticano II não produziu todos os frutos que dele se
esperavam para um aggiornamento completo da Igreja.
Sabe que não se pode conciliar a metafísica do ser (em
que se fundava toda a teologia tradicional) com o método da imanência, com a
filosofia do elan vital, com a filosofia da evolução criadora de Blondel, de
Bergson, de Teilhard de Chardin, os novos padres fundadores da nova igreja. E
por isso, com razão, Francisco I não se julga obrigado a ouvir “non possumus”
de nenhum bispo que queira ficar no meio do seu caminho.
Quem tem consciência de todos estes problemas que
tentei explanar nesta crônica, rogue a Nossa Senhora por mim, por si, e por
todas nossas famílias para que guardemos a fé sem a qual é impossível agradar a
Deus.
Anápolis, 14 de
abril de 2016.
São Justino
Martir.
PRECISAMENTE POR ISSO A SEITA CONCILIAR NÃO É A SANTA MADRE IGREJA. PORQUE O EXERCÍCIO CONCRETO DE UMA FUNÇÃO NÃO PODE SER CONTRADITÓRIO COM A DEFINIÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUTIVO DESSA MESMA FUNÇÃO. O ACTO APÓSTATA E DEICIDA NÃO FOI BERGOGLIO QUE O COMETEU - FOI O MALDITO CONCÍLIO VATICANO 2.
ResponderExcluirALBERTO CARLOS ROSA FERREIRA DAS NEVES CABRAL - LISBOA