05/12/2016

O olhar, o pensamento e o pecado


“Pelo olhar entra o pecado. Por isso, o olhar deve ser puro, casto, modesto, deve evitar o excessivamente agradável aos sentidos, deve desconfiar dos sentidos corporais e dos prazeres associados. A guarda dos sentidos será a guarda da ocasião de pecar. Peca-se com o pensamento porque primeiro se pecou com os olhos”


Não terás pensamentos ou desejos impuros.
(Nono Mandamento)
“Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia”. (Tg 1,14)

Tudo começa com o olhar
Tradução Sensus fidei
Queridos irmãos, muitos não são conscientes da importância do olhar para se evitar a pecar, pois peca-se com o olhar. Olha-se de cima para baixo, de baixo para cima. Não se vigia o olhar. Não se olha para a alma das pessoas com os olhos, olha-se com desejo para o corpo. Atraído pela aparência, há quem se enfraqueça até cair em pecado. Olha-se com desejo, com o pensamento dissoluto, deleita-se e a alma peca. É necessário aprender a vigiar o olhar.
Tudo começa com o olhar. Quando alguém vê algo desagradável, rapidamente afasta o olhar, esforça-se para não olhar. Mas se, depois, vê algo ou alguém agradável, delicia-se com o prazer dos sentidos. O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt. 26, 41). Abre-se a brecha para o pecado. Entra o desejo daquele que é olhado, o desejo da pessoa para a qual se olha. Muitos não entendem que por trás de algo, dizem, que é superficial, justificável e normal, na verdade, está a tentação do demônio. Lembremos as palavras do Apóstolo: “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares”. (Ef 6,12). Nas lutas interiores da alma acrescentam-se as acometidas e tentações exteriores, que algumas vezes combatem abertamente, e outras por caminhos ocultos que introduzem a alma em tal estado de paixão cega que não pode ver-se livre por si mesma.
Quando na alma entra o espírito maligno, a malícia espiritual, ouve-se: Eu quero teu corpo. É o desejo pela pessoa para a qual o olhar se deleitou com atenção e prazer. Aquele corpo que se olhou com aparente normalidade, porque era belo, agora deseja-se cegamente, apaixonadamente.
Pode acontecer, em muitas ocasiões, que pessoas que desejam a Deus com grande fervor, que desejam viver santamente, pecam, inconscientemente, com o desejo carnal, pois o confundem. Dizem: Se eu pudesse abraçar essa pessoa, abraçaria o próprio Deus, de tão perfeito, agradável, amável que até mesmo parece divina. Pensam, convictamente, que conheceram a pessoa perfeita, mas o desejo as abrasa. O desejo apoderou-se delas. São presas do maligno, que, constantemente está em guerra contra a alma. Por esta razão, não podemos estar em paz, mas em constante vigília contra as investidas do demônio, que, no caso em questão, age através do olhar.
Pelo olhar entra o pecado. Por isso, o olhar deve ser puro, casto, modesto, deve evitar o excessivamente agradável aos sentidos, deve desconfiar dos sentidos corporais e dos prazeres associados. A guarda dos sentidos será a guarda da ocasião de pecar. Peca-se com o pensamento porque primeiro se pecou com os olhos.

Não terás pensamentos nem desejos impuros
Muitos não pensam, não levam em conta, não dão importância. Um olhar complacente de hoje, outro amanhã; uma maior atenção ao corpo, mais tarde, e sem perceber, a alma peca pelo pensamento, em primeiro lugar. Já entrou aí o espírito maligno do desejo, da paixão dominadora da razão. O demônio já entrou, conseguiu capturar a alma na tentação do desejo carnal.
É a alma o que agrada ao Senhor. Mas o demônio arrasta a pessoa ao desejo do corpo. Tenta-a fazê-la pecar em pensamento através do olhar.
Vivemos a dolorosa e triste circunstância em nossa Mãe Igreja, em que os próprios locais de culto, onde tudo deveria estar cercado pelo pudor, pelo respeito, pelo recolhimento, no entanto, como o mundo, tornam-se lugares onde se pode pecar com o olhar. O atrevimento do mundo entrou na Santa Igreja, com o consentimento e o apoio dos Pastores. E já nem mesmo a própria igreja é um lugar onde se possa descansar o olhar de tanta imoralidade. Não se respeita nem sequer a puríssima santidade de Nosso Senhor, e ofende-se o sacerdote que quer e deve manter limpos os seus sentidos.
Nem pensamentos nem desejos impuros. Ou seja, nem mesmo um. Não devemos tê-los, nem os consentir. Isto supõe uma vigilância constante dos nossos sentidos, uma desconfiança quando querem fixar-se com deleite naquilo que pode levar a pensamentos impuros e ao pecado.
Ajudar-nos-á muito as palavras do profeta Isaías falando sobre o demônio e sua derrota, lembre-se deste provérbio: Eu subirei ao Céu — In Coelum conscendam (Is 14, 13). Não podia subir ao céu, mas ele tenta. A tentação da alma é constante. Escalarei os Céus, e não deixará de tentar um só instante. O que é mais fácil e aparentemente inocente do que um olhar? A brecha se abriu, e o maligno começa a escalar.

O pecado gera a morte
Como reconhecer este pecado? Quando a concupiscência da carne deseja ardentemente, como diz São Paulo: “Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis”. (Gl 5,16-17).
Tudo começou com um simples olhar. Continuou com uma atenção minuciosa do corpo que se contempla. O pensamento recreia-se aquiescendo, sem rechaçar o pensamento. O desejo cresce e toma conta da pessoa. O pecado entra na alma. “A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. (Tg 1,15).

A confissão detalhada dos pecados
Como libertar a alma deste pecado e de todos os outros? Somente com a confissão detalhada do pecado. Unicamente detalhando o pecado minuciosamente se poderá expulsar o espírito maligno que domina a alma. Não estamos falando aqui de curiosidade mórbida, de indiscrição, mas de tato, delicadeza, de firmeza diante do pecado a ser detalhado para fazê-lo desaparecer da alma pecadora. Isto não é compreendido nem pelos confessores nem pelos penitentes.
É um grande erro pensar que é suficiente a indicação geral e superficial do pecado. O confessor deve ajudar o penitente a chegar até o fundo de sua alma e encontrar o pecado oculto, esse que, por si só, as almas não podem descobrir. Deve-se conduzir a alma sem perturbá-la, mas reta e firmemente, sem falsos preconceitos. Há também muitos preconceitos entre confessor e penitente; o penitente espera que o confessor lhe dê razão. Os confessores não se atrevem a perguntar e os fiéis não gostam que o façam. Desgraçadamente, hoje nos encontramos no tempo em que o confessor se torna cúmplice do penitente.
A confissão detalhada do pecado, a ajuda do confessor, a dor da ofensa a Deus, o propósito de não voltar a pecar novamente, a vigilância firme do olhar, a rejeição instantânea do mau pensamento, ajudar-nos-ão a não voltar a pecar, a libertar a alma das garras do tentador e a descobri-lo para combatê-lo.
Não consentirás pensamentos nem desejos impuros.
Ave Maria Puríssima.
Pe. Juan Manuel Rodriguez de la Rosa.


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