“Por maior, porém, que seja
a batalha, mais gloriosa e mais cara aos olhos de Deus, será a vitória.”
Você irá
precisar de quatro armas seguríssimas e muito necessárias para vencer nesta
batalha espiritual, que é a de uma continua e duríssima luta contra você mesmo.
São as
seguintes: a desconfiança de si mesmo, a confiança em Deus, o exercício e a
oração.
Com a
ajuda divina, algo diremos, sucintamente, sobre estes assuntos, nos capítulos
subsequentes.
Antes,
porém, falemos um pouco mais sobre o teu adestramento, procurando abrir os teus
olhos para alguns enganos que podem levar à perdição.
O engano
mais frequente é o da virtude. Muitos, sem pensar, julgam que ela consiste na
austeridade de vida, no castigo da carne, nas longas vigílias, nos jejuns, e em
outras penitências e fadigas corporais.
Outras pessoas,
mulheres, especialmente, pensam ter chegado à grande perfeição quando rezam
muito, ouvem muitas missas e longos ofícios, frequentam as igrejas e a Sagrada
Comunhão.
Outros
ainda, e entre eles, certamente, muitos religiosos de convento, chegaram à conclusão
de que a perfeição consiste na frequência ao coro, no silêncio, na solidão e na
disciplina.
A
verdade, porém, é muito outra.
Tais
ações são, às vezes, meios de se adquirir o espírito e, as vezes, frutos do
espírito. Não se pode, porém dizer que somente nestas coisas consista a
perfeição cristã e o verdadeiro espírito.
Estas
pessoas seguem com grande abnegação, e com sua cruz às costas, o Filho de Deus,
frequentam os santos sacramentos, para glória de sua divina Majestade, para
mais se unirem com Deus e para adquirirem novas forças contra o inimigo.
Se,
porém, põem todo o fundamento de sua virtude nas ações exteriores, estas ações,
não por serem defeituosas, pois são santíssimas, mas pelo defeito de quem as
usa, serão às vezes, mais do que os próprios pecados, a causa de sua ruína.
Pois estas almas que apenas prestam atenção às suas ações, largam o coração às
suas inclinações naturais e ao demônio oculto. Este, reparando que já está
aquela alma transviada, fora do caminho, deixa que ela continue deleitando-se
naquele comportamento enganoso, e até mesmo a estimula, embalando-a com o
pensamento das delícias do paraíso. A alma logo se persuade de estar no coro
dos anjos e de possuir Deus dentro de si.
Estes
estão em grave perigo de cair, porque têm o olhar interno obscurecido. É com
esse olhar que contemplam a si mesmos e suas obras externas boas, atribuindo-se
muitos graus de perfeição. E. com soberba, julgam os outros.
A não ser
um auxílio extraordinário de Deus, nada os converterá.
É
evidente que mais facilmente se converte e se entrega ao bem o pecador
declarado e manifesto do que o pecador oculto que, enganado e enganadoramente,
se apresenta coberto com o manto das virtudes aparentes.
A vida
espiritual não consiste nestas coisas.
A virtude
outra coisa não é senão o conhecimento da finita bondade e grandeza de Deus, e
da nossa Inclinarão para o erro e para o mal. A virtude está no ódio de nos
mesmos e de nossas faltas, tanto quanto no nosso amor a Deus e na nossa
confiança em Deus. A virtude está não só na sujeição, mas por seu amor, no amor
de todas as criaturas.
O ponto
mais alto da virtude consiste no desapropriamento da nossa própria vontade,
entregando-lhe o comando de nossa vida e das nossas ações, em acatamento total
as suas divinas disposições.
Por fim:
querer e fazer tudo isto para glória de Deus, para seu agrado, e porque ele
quer e merece ser amado e servido.
Esta é a
lei do amor, impressa pela mão de Deus nos corações de seus servos queridos e
fiéis.
Esta é a
negação de nós mesmos, que ele, como Pai e Criador amantíssimo, nos pede, para
o nosso bem. Este é o jugo suave de que falava Jesus, a obediência a que o
nosso divino Redentor e Mestre nos chama, com sua voz e seu exemplo.
Este é o
combate preliminar de adestramento para a grande batalha. Se você aspira a uma
vida em perfeita união com Deus, deverá começar pelo combate generoso contra as
suas próprias vontades, grandes e pequenas.
Com
grande prontidão de ânimo desde o primeiro instante, é necessário que você se
aparelhe para este combate, onde só é coroado o soldado valoroso.
Este
combate é difícil, mais que nenhum outro, pois combatemos contra nós mesmos.
Por maior, porém, que seja a batalha, mais gloriosa e mais cara aos olhos de
Deus, será a vitória.
Fonte:
Livro "Combate Espiritual" - Dom Lourenzo Scupoli
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