“Deus
está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós
assassinos entre os assassinos?”
Marcos Delson da Silveira*
Por que a insistência dos Centros
Acadêmicos de retirar a ideia de Deus do campo de discussões? Onde há Deus não
há gênero, há natureza, essência, verdades inabaláveis e absolutas. Retirar a
ideia de Deus das discussões é uma das formas de desconstruir sistemas. Como
facilmente e sem diálogos foi aceita a percepção, hoje vários Centros Acadêmicos
são laicistas¹, céticos², cientificistas³ ou ateus4. Vive-se dentro
de um mundo de imposições, o que levanta questionamentos, como: Por que os
Centros Universitários falam do diálogo, mas se fecham ao diálogo? Que mal
causa a ideia de Deus? Que engenharia social está por detrás da ideia de um
mundo sem verdades absolutas? Falar que não existem verdades absolutas não é o
mesmo que afirmar a sua existência? Estando dentro de um momento histórico,
cultural, político e representando um povo e sua trajetória, uma citação
bíblica não é fonte de conhecimento? De forma sucinta serão expostas duas
teorias que levantam a suspeita/necessidade da “morte de Deus,” uma em
Nietzsche e a outra em Jean-Paul Sartre.
[…] Não ouvimos o
barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação
divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E
nós o matamos! Como nos consolar, a nós assassinos entre os assassinos? O mais
forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os
nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água poderíamos nos
lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A
grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos
nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve um ato maior
– e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história
mais elevada que toda a história até então (NIETZSCHE, 2010; p. 116).
Em virtude do imperativo “Deus está
morto,” Nietzsche sofre/sofreu várias críticas. Ao falar “Deus,” a que
Nietzsche se referiu? Perceba que fomos nós que o matamos. O filósofo, com essa
expressão forte, proclama o fim da influência religiosa, dos valores
metafísicos, das verdades absolutas, de tudo o que é platônico, cristão, na
vida e na moral que cerca os homens. O Bom, o Belo, o Verdadeiro, o Justo, as
leis universais e imutáveis são criações de um povo sofredor e ressentido. A
verdade eterna não existe mais, não existe um mundo suprassensível de verdades
inquestionáveis como almejara Platão. No livro Genealogia da Moral, Nietzsche (2009; p. 17-21) fez uma forte
crítica aos valores morais. Não existe o bem ou o mal para além do mundo. A
ideia moral perdeu, para ele, sua identidade transcendente, o que ele chama de
“preconceito teológico”, e, portanto, propôs a criação de novos valores onde se
exprime a vontade de potência.
Dentro de um mundo sem verdades absolutas,
também não existe uma natureza absoluta. Se não existe uma essência dada ao
nascer é preciso construí-la durante a vida. Sem essência, sem natureza, sem
verdades absolutas, infere-se a ausência de valores absolutos. No
“Existencialismo é um humanismo", Sartre (1970; p. 05), em concordância
com Nietzsche, afirma a não existência de valores dados, a inexistência de uma
essência, de uma natureza. Primeiro o homem existe para depois ser tudo aquilo
que fizer de si mesmo. Sartre, assim como Nietzsche, descreve com a morte de
Deus a inexistência de valores absolutos. Sem Deus tudo é permitido, o homem
está desamparado e não há nele e nem fora dele onde se agarrar. Sem Deus “o
homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e
como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado ao mundo, é responsável por
tudo o que faz” (SARTRE, 1970, p. 07).
Perceba que, se não existem verdades
absolutas e perenes o homem pode se reconstruir, se fazer e refazer. Se não há
essência, se não há natureza existe simplesmente um ser amorfo, sem forma, a
procura de valores que o modele. Sem verdades eternas tem-se uma sociedade
frívola, líquida (para usar a expressão de Zygmunt Bauman). Sem essência não há
forma, sem natureza não há objetivos, sem verdades não há conhecimentos. O que
resta então? Resta a argila pronta para ser moldada pelas ideologias.
Assim, essa ideia da “morte de Deus”
pressupõe uma nova ordem de valores, uma nova construção antropológica do ser
humano ou para usar a expressão de Nietzsche: uma “Transvaloração dos valores”.
Os valores transcendentes esvaecem e abrem espaço para a construção de novos
valores, para a reinvenção ou reinterpretação da humanidade com todas as
consequências oriundas desse ato. Os valores tornam-se construções históricas
servindo para determinado momento histórico e suscetível de mudanças. Se não há
uma natureza e nem valores universais, por conclusão não há uma essência, e se
não há uma essência não existe necessariamente o homem e a mulher. Se Deus ou
os valores absolutos não regulam a liberdade humana, ela torna-se fim e não um
meio. A mulher está condenada à liberdade e, numa sociedade sem valores
absolutos, despreza o título de mãe e de educadora dos filhos, por isso ela
“deve ser libertada de ambas as tarefas, através da promoção de contracepção e
do aborto e da transferência da responsabilidade da educação dos filhos para o
Estado” (SCALA, 2011, p. 21). A mulher torna-se livre de ter filhos e, se por
eventual surpresa ficar grávida, poderá abortar, pois não é uma pessoa que está
dentro dela, é só um pedaço de carne e sangue, algo sem essência, disforme. E
se escolhe ter o filho (poderá escolher sendo livre) será função do Estado
educá-lo. Sem precisar educar o filho e tendo o controle da reprodução
continuará livre para questionar a cultura, a natureza ou a falta dela e se
reinventar a todo instante segundo o momento histórico ou o gênero.
Isso tudo foi meticulosamente pensado.
Tirou-se do homem aquilo que lhe proporciona algum sentido (Deus) e, como não
se tem nada melhor a oferecer, ofereceram-lhe a plena liberdade ou o mito da
plena liberdade. A ausência divina condiciona o homem à construção de si mesmo
como bem lhe aprouver. Gera a ilusão da busca de uma felicidade hedonista,
cientificistas e ideológica. Não há Deus, não existem verdades, não há nada
onde se agarrar, então segure em si mesmo, no momento, no prazer, nas
circunstâncias. Se construa! Se faça! Se reinvente! Viva a angustia das
escolhas e sirva a lógica de mercado.
* Licenciado em Filosofia; pós-graduado em Docência
Universitária (Católica); Filosofia do Direito (Moderna); Direitos Humanos da
Criança e do Adolescente (UFG); Filosofia Clínica (Católica) e pós-graduando em
Arte-Educação Intermidiática Digital (UFG). Possui Curso Complementar Superior
em Gestão de Segurança. e colaborador do blog Salve Regina!.
Bibliografia
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A Genealogia
da Moral. Tradução de Antônio Carlos Braga. 3ª ed. São Paulo: Ed. Escala, 2009.
______A Gaia Ciência. São Paulo: Martin
Claret, 2012
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo e um
Humanismo - Traduzido por Rita Correia Guedes. Paris: Nagel, 1970
Notas
1 Refere-se
aqui a Intolerância religiosa; diferente do laico que tolera todas as
religiões. Os Centros Acadêmicos são intolerantes.
2
Sem verdades sejam absolutas ou não. Os Centros Acadêmicos formam, por vezes,
pessoas desacreditadas na possibilidade da mente humana alcançar a verdade.
3 Só
são aceitáveis explicações pautadas exclusivamente no método científico. A
própria ética deveria ser cientifica.
4
Sem Deus. Deus simplesmente não existe.
A morte de Deus decretada com a aparência da autoridade do próprio Deus FOI O OBJETIVO DA MAÇONARIA INTERNACIONAL AO CONVOCAR O AMALDIÇOADO VATICANO 2.Que pena que Monsenhor Lefebvre não tenha realizado plenamente esta monstruosidade, e consequentemente separado definitivamente as águas da Bendita Fé Católica da peçonha modernista em 30 de Junho de 1988.
ResponderExcluirAlberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa
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