04/11/2017

POR QUE “MATAR DEUS” É NECESSÁRIO PARA IMPOR A IDEOLOGIA?

Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós assassinos entre os assassinos?


Marcos Delson da Silveira*
Por que a insistência dos Centros Acadêmicos de retirar a ideia de Deus do campo de discussões? Onde há Deus não há gênero, há natureza, essência, verdades inabaláveis e absolutas. Retirar a ideia de Deus das discussões é uma das formas de desconstruir sistemas. Como facilmente e sem diálogos foi aceita a percepção, hoje vários Centros Acadêmicos são laicistas¹, céticos², cientificistas³ ou ateus4. Vive-se dentro de um mundo de imposições, o que levanta questionamentos, como: Por que os Centros Universitários falam do diálogo, mas se fecham ao diálogo? Que mal causa a ideia de Deus? Que engenharia social está por detrás da ideia de um mundo sem verdades absolutas? Falar que não existem verdades absolutas não é o mesmo que afirmar a sua existência? Estando dentro de um momento histórico, cultural, político e representando um povo e sua trajetória, uma citação bíblica não é fonte de conhecimento? De forma sucinta serão expostas duas teorias que levantam a suspeita/necessidade da “morte de Deus,” uma em Nietzsche e a outra em Jean-Paul Sartre.
[…] Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então (NIETZSCHE, 2010; p. 116).
Em virtude do imperativo “Deus está morto,” Nietzsche sofre/sofreu várias críticas. Ao falar “Deus,” a que Nietzsche se referiu? Perceba que fomos nós que o matamos. O filósofo, com essa expressão forte, proclama o fim da influência religiosa, dos valores metafísicos, das verdades absolutas, de tudo o que é platônico, cristão, na vida e na moral que cerca os homens. O Bom, o Belo, o Verdadeiro, o Justo, as leis universais e imutáveis são criações de um povo sofredor e ressentido. A verdade eterna não existe mais, não existe um mundo suprassensível de verdades inquestionáveis como almejara Platão. No livro Genealogia da Moral, Nietzsche (2009; p. 17-21) fez uma forte crítica aos valores morais. Não existe o bem ou o mal para além do mundo. A ideia moral perdeu, para ele, sua identidade transcendente, o que ele chama de “preconceito teológico”, e, portanto, propôs a criação de novos valores onde se exprime a vontade de potência.
Dentro de um mundo sem verdades absolutas, também não existe uma natureza absoluta. Se não existe uma essência dada ao nascer é preciso construí-la durante a vida. Sem essência, sem natureza, sem verdades absolutas, infere-se a ausência de valores absolutos. No “Existencialismo é um humanismo", Sartre (1970; p. 05), em concordância com Nietzsche, afirma a não existência de valores dados, a inexistência de uma essência, de uma natureza. Primeiro o homem existe para depois ser tudo aquilo que fizer de si mesmo. Sartre, assim como Nietzsche, descreve com a morte de Deus a inexistência de valores absolutos. Sem Deus tudo é permitido, o homem está desamparado e não há nele e nem fora dele onde se agarrar. Sem Deus “o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado ao mundo, é responsável por tudo o que faz” (SARTRE, 1970, p. 07).
Perceba que, se não existem verdades absolutas e perenes o homem pode se reconstruir, se fazer e refazer. Se não há essência, se não há natureza existe simplesmente um ser amorfo, sem forma, a procura de valores que o modele. Sem verdades eternas tem-se uma sociedade frívola, líquida (para usar a expressão de Zygmunt Bauman). Sem essência não há forma, sem natureza não há objetivos, sem verdades não há conhecimentos. O que resta então? Resta a argila pronta para ser moldada pelas ideologias.
Assim, essa ideia da “morte de Deus” pressupõe uma nova ordem de valores, uma nova construção antropológica do ser humano ou para usar a expressão de Nietzsche: uma “Transvaloração dos valores”. Os valores transcendentes esvaecem e abrem espaço para a construção de novos valores, para a reinvenção ou reinterpretação da humanidade com todas as consequências oriundas desse ato. Os valores tornam-se construções históricas servindo para determinado momento histórico e suscetível de mudanças. Se não há uma natureza e nem valores universais, por conclusão não há uma essência, e se não há uma essência não existe necessariamente o homem e a mulher. Se Deus ou os valores absolutos não regulam a liberdade humana, ela torna-se fim e não um meio. A mulher está condenada à liberdade e, numa sociedade sem valores absolutos, despreza o título de mãe e de educadora dos filhos, por isso ela “deve ser libertada de ambas as tarefas, através da promoção de contracepção e do aborto e da transferência da responsabilidade da educação dos filhos para o Estado” (SCALA, 2011, p. 21). A mulher torna-se livre de ter filhos e, se por eventual surpresa ficar grávida, poderá abortar, pois não é uma pessoa que está dentro dela, é só um pedaço de carne e sangue, algo sem essência, disforme. E se escolhe ter o filho (poderá escolher sendo livre) será função do Estado educá-lo. Sem precisar educar o filho e tendo o controle da reprodução continuará livre para questionar a cultura, a natureza ou a falta dela e se reinventar a todo instante segundo o momento histórico ou o gênero.
Isso tudo foi meticulosamente pensado. Tirou-se do homem aquilo que lhe proporciona algum sentido (Deus) e, como não se tem nada melhor a oferecer, ofereceram-lhe a plena liberdade ou o mito da plena liberdade. A ausência divina condiciona o homem à construção de si mesmo como bem lhe aprouver. Gera a ilusão da busca de uma felicidade hedonista, cientificistas e ideológica. Não há Deus, não existem verdades, não há nada onde se agarrar, então segure em si mesmo, no momento, no prazer, nas circunstâncias. Se construa! Se faça! Se reinvente! Viva a angustia das escolhas e sirva a lógica de mercado.
* Licenciado em Filosofia; pós-graduado em Docência Universitária (Católica); Filosofia do Direito (Moderna); Direitos Humanos da Criança e do Adolescente (UFG); Filosofia Clínica (Católica) e pós-graduando em Arte-Educação Intermidiática Digital (UFG). Possui Curso Complementar Superior em Gestão de Segurança. e colaborador do blog Salve Regina!.
Bibliografia
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A Genealogia da Moral. Tradução de Antônio Carlos Braga. 3ª ed. São Paulo: Ed. Escala, 2009.
______A Gaia Ciência. São Paulo: Martin Claret, 2012
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo e um Humanismo - Traduzido por Rita Correia Guedes. Paris: Nagel, 1970
Notas
1 Refere-se aqui a Intolerância religiosa; diferente do laico que tolera todas as religiões. Os Centros Acadêmicos são intolerantes.
2 Sem verdades sejam absolutas ou não. Os Centros Acadêmicos formam, por vezes, pessoas desacreditadas na possibilidade da mente humana alcançar a verdade.
3 Só são aceitáveis explicações pautadas exclusivamente no método científico. A própria ética deveria ser cientifica.

4 Sem Deus. Deus simplesmente não existe.

2 comentários:

  1. A morte de Deus decretada com a aparência da autoridade do próprio Deus FOI O OBJETIVO DA MAÇONARIA INTERNACIONAL AO CONVOCAR O AMALDIÇOADO VATICANO 2.Que pena que Monsenhor Lefebvre não tenha realizado plenamente esta monstruosidade, e consequentemente separado definitivamente as águas da Bendita Fé Católica da peçonha modernista em 30 de Junho de 1988.

    Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa

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