23/11/2017

São Clemente, Papa e Mártir

São Clemente, Giovanni Battista Tiepolo 
“Em terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que vira os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição”

23 de novembro - São Clemente, Papa e Mártir
Duplo – Param. vermelhos
São Clemente é o terceiro sucessor de São Pedro na cátedra de Roma, e talvez um dos colaboradores de São Pedro, como refere a Epístola aos Filipenses (4,3). Escreveu uma preciosa carta aos cristãos de Corinto. Morreu mártir e foi sepultado em Quersona.
No mesmo dia comemora-se Santa Felicidade, Mártir: foi decapitada após haver assistido à morte de seus sete filhos.
Missal Romano Quotidiano – Latim/Português – Edições Paulinas 1959
S. Clemente (89-98) – Mártir
O Liber Pontificicalis diz ter Clemente nascido em Roma, mas uma tradição, corroborada por seus escritos, assegura que ele, jovem ainda, fora convertido por S. Pedro em Cesaréia da Palestina. De grande erudição, escreveu muito e bem. Conhecida sua carta aos cristãos de Corinto, onde alguns neo-convertidos pretendiam introduzir inovações. A questão, é notável assinalar-se, foi levada espontaneamente à deliberação do pontífice de Roma, - ao sucessor de Pedro, e não às outras Sés apostólicas, nem mesmo à do apóstolo S. João Evangelista, ainda vivo e que chefiava as Igrejas da Ásia, vizinhas da Grécia! O Pontífice Romano fala com uma autoridade naturalmente reconhecida como emanada da sucessão legítima e ininterrupta de Pedro e de Cristo.
Neste pontificado ocorreu a 2ª perseguição, sendo imperador Domiciano. Os cristãos haviam recusado pagar um leve imposto ao templo de Júpiter (a que estavam sujeitos os Judeus). S. João Evangelista, já muito idoso, foi atirado a uma caldeira de óleo fervendo. Saiu ileso. Deportado para a ilhe de Patmos, lá escreveu o seu terrífico Apocalipse.
Atestado da pujança da nova fé: - Domiciano condenou até parentes seus, entre os quais seu primo Tito Flávio Clemente (martirizado em 96) com a esposa Flávia Domitila! S. Clemente escapou a essa perseguição, mas no princípio do reinado de Trajano foi desterrado para a Criméia, condenado ao trabalho das minas. Tendo convertido muitos daqueles escravos, contam, foi atirado ao mar com uma âncora amarrada ao pescoço; o mar, porém, afastou-se e apareceu o corpo num pequeno oratório. Suas relíquias teriam sido trazidas, no século X, por S. Metódio.
Biografia dos Papas – Editora das Américas – 1950
Santo Irineu de Lião, citou os primeiros Papas na sua obra Adversus Haereses (Contra as Heresias), onde podemos constatar a citação de sobre S. Clemente e a sua carta aos cristãos de Corinto. Santo Irineu, discípulo de S. Policarpo que foi ordenado por São João Evangelista, nasceu provavelmente por volta do ano 130 em Esmírna, morrendo em 202 em Lion na França, seu túmulo foi profanado e seus relíquias destruídas pelos protestantes em 1562.: “Portanto, a tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta em toda Igreja por todos que queiram a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas Igrejas pelos apóstolos e seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente vai delirando. Ora, se os apóstolos tivessem conhecido os mistérios escondidos e os tivessem ensinado exclusivamente e secretamente aos perfeitos, sem dúvida os teriam confiado antes de a mais ninguém àqueles aos quais confiavam as próprias Igrejas. Com efeito, queriam que os seus sucessores, aos quais transmitiam a missão de ensinar, fossem absolutamente perfeitos e irrepreensíveis em tudo, porque, agindo bem, seriam de grande utilidade, ao passo que se falhassem seria a maior calamidade.
Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitaremos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos.
Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta e Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que vira os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição. No pontificado de Clemente surgiram divergências graves entre os irmãos de Corinto. Então a Igreja de Roma enviou aos coríntios uma carta importantíssima para reuni-los na paz, reavivar-lhes a fé e reconfirmar a tradição que há pouco tempo tinham recebido dos apóstolos, isto é, a fé num único Deus todo-poderoso, que fez o céu e aterra, plasmou o povo do Egito, conversou com Moisés, deu a economia da Lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e os seus anjos. Todos os que quiseram podem aprender desta carta que este Deus é anunciado pelas Igrejas como o Pai de nosso Senhor Jesus cristo e conhecer a tradição apostólica da Igreja, porque mais antiga do que os que agora pregam erradamente outro Deus superior ao Verbo e Criador de tudo que existe.
A este Clemente sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em seguida, sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele Telésforo, que fechou a vida com gloriosíssimo martírio; em seguida Higino; depois Pio; depois dele, Aniceto. A Aniceto sucedeu Sóter e, presentemente, Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é uma e idêntica a fé vivificante que, fielmente, foi conservada e transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até agora.
Podemos ainda lembrar Policarpo, que não somente foi discípulo dos apóstolos e viveu familiarmente com muitos dos que tinham visto o Senhor, mas que, pelos próprios apóstolos, foi estabelecido bispo da Ásia, na Igreja de Esmirna. Nós o vimos na infância, porque teve vida longa e era muito velho quando morreu com glorioso e esplêndido martírio. Ora, ele sempre ensinou o que tinha aprendido dos apóstolos, que também a Igreja transmite e que é a única verdade. E disso que dão testemunho todas as Igrejas da Ásia e os que até hoje sucederam a Policarpo, que testemunha a verdade bem mais segura e digna de confiança do que Valentim e  Marcião e outros perversos doutores. É ele que no pontificado de Aniceto, quando esteve em Roma, conseguiu reconduzir muitos destes hereges, de que falamos, ao seio da Igreja de Deus, proclamando que não tinha recebido dos apóstolos senão uma só e única verdade, aquela mesma que era transmitida pela Igreja. E há os que ouviram dele que João, o discípulo do Senhor, tendo ido, um dia às termas de Éfeso e tendo notado Cerinto lá dentro, precipitou-se para a saída, sem tomar banho, dizendo ter medo que as termas desmoronassem, porque no interior se encontrava Cerinto, o inimigo da verdade. O próprio Policarpo, quando Marcião, um dia, se lhe avizinhou e lhe dizia: “Prazer em conhecê-lo”, respondeu: “Eu te conheço como primogênito de Satã"; tanta era a prudência dos apóstolos e dos seus discípulos, que recusavam comunicar, ainda que só com a palavra, com alguém que deturpasse a verdade, em conformidade com o que Paulo diz: “Hereticum hominem post unam et secundam correptionem devita sciens quia subversus est qui ejusmodi est et delinquit proprio judicio condemnatus”. Existe também uma carta importantíssima de Policarpo aos filipenses na qual os que desejam e se importam com a sua salvação podem conhecer as características da sua fé e a pregação da verdade. Também a igreja de Éfeso, que foi fundada por Paulo e onde João morou até os tempos de Trajano, é testemunha verídica da tradição dos apóstolos.” - A verdadeira tradição

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