11/09/2018

A terceira narina

"E não é ainda tudo: de fato, quanta gente tem a terceira narina e ainda não sabe?"


Giovannino Guareschi 
[Tradução: Gederson Falcometa]

Não: caro leitor, o Seu ressentimento é sem razão. O próprio fato de que o senhor, embora sendo comunista militante leia também os jornais que não são do Seu partido, o próprio fato de que o senhor embora considerando-se ofendido, me escreva assinando com nome, sobrenome e endereço, mas não somente isso, não me chame fascista, reacionário e traidor do povo, estão a demonstrar que o senhor não pode em nenhum modo ser compreendido na categoria dos homens com três narinas.

Esse negócio da terceira narina é – o reconhecemos – um achado gráfico notabilíssimo enquanto permite definir um tipo e uma mentalidade com o simples auxílio de um buraco, um pequeno buraco o qual, praticamente, se resolve em um circulozinho de rapidíssima atuação.

Polemicamente é um motivo válido e por isso eu lhe uso sem parcimônia de maneira que muitos já tem aceitado a terceira narina como um dado de fato, mas hoje precisamente por isto sinto o dever de fazer uma precisão.

Eu me explico sempre com exemplos e Lhe digo, caro leitor, que na categoria «intelectuais ou similares» considero ter direito a terceira narina aquele «Socialista nenniano» que há três números enviou a assinatura por Brera lire explicando que «A arte não precisa de academias». Três narinas tem os membros da comissão toponomástica que, em Veneza, tirou a uma rua o nome de Gabriele D’Annunzio para lhe dar outro nome. Três narinas tem a comissão que a Prumo substituiu o nome da Praça Humberto I com aquele de Praça Bresci (assassino de Humberto I). E assim vai.

No campo menos intelectual considero pertencente a categoria dos trinarinas os demonstrantes da Garfagnana que por protesto abriram as barragens dos “beijinhos” hidroelétricos.

E agora viremos a precisar junto ao conceito de «trinarina» aquele de «sem terra trinarina».

O fato é fresco e ainda flagrante de democracia progressiva, aconteceu na Emília Romagna, na fazenda Grizzaga de Collegarola. Esta fazenda foi adquirida pela busca de um mineiro imigrante que veio do exterior com suas economias. O antigo proprietário permaneceu na fazenda como lavrador ainda por 17 anos, depois veio a ter atritos com o minerador repatriado, e o novo proprietário obteve a sua sentença de despejo. Uma multidão de sem terras se opôs e o prefeito deixou para tempos melhores o despejo. Interveio o Ministério do Interior, mas os sem terras ainda se movimentaram e a coisa acabou em nada. O ex mineirador (promovido pelos progressistas emilianos a «negreiro») encontrou uma nova sistematização para o lavrador, o despejo teve lugar e chegou na fazenda um novo lavrador.

Mas a Câmara do Trabalho ordenou aos sem terras a permanecerem «mobilizados e em vigilante prontidão» e o novo lavrador recarregava armas e cargas, e aterrorizados os sem terras desapareciam. Foi encontrado um outro arrendatário e eis que uma semana faz ignorados os«mobilizados e em vigilante prontidão»se fartaram de esperar: entram na fazenda, derrubam seis oliveiras e cortam 190 (cento e noventa) cepas de videira fazendo encontrar afixado o seguinte cartaz:
«Este é o primeiro exemplo, camponês fascista! Assim também será de vós!».

A saber abatido como uma oliveira. E o camponês se torna «fascista»porque, para os sem terras trinarinas, qualquer obstáculo que seja a sua marcha é«fascista».
Eis, caro leitor: quando dissemos a Itália dos sem terras aludimos a Itália destes sem terras, e por sem terras de três narinas, entendemos exatamente estes que infelizmente são muitos.

No caso específico, também tem direito a terceira narina, os dirigentes daquelas Câmaras do Trabalho (esperamos que a República Italiana não se funde sobre este trabalho) que são, a meu parecer, os verdadeiros responsáveis por estes exemplos. Então, devem receber a singela homenagem, precisamente, por praticarem a terceira narina.

Admitido, contanto que, ainda não a tenham.

Caro leitor, eu poderia continuar a lhe elencar exemplos. Mas agora o conceito lhe deve ser bem claro. E por essa razão o senhor não deve se sentir tocado quando me vê a desenhar tipos com trinarinas.

Porque no meu conceito base, a terceira narina tem uma função completamente independente das outras duas: serve de descarga para expulsar do cérebro a massa cinzenta e permitir ao mesmo tempo o acesso a ele das diretivas do partido que a ele devem precisamente substituir. O qual, cérebro, se vê, pertence agora a um outro século. Não digo, como os meus inimigos pessoais desejariam, a uma outra era. Porque a terceira narina existia também na outra era, mas era proibido mostra-la, e todos deviam tê-la habilmente mascarada.

Não tenho mais nada a lhes dizer. Naturalmente a terceira narina não é uma estreítissima prerrogativa das esquerdas: eu creio que existam muitos outros, distribuídos um pouco em cada lugar. O problema é que ainda estão tampadas por motivos prudenciais ou outro e ainda não se podem ver. Desse modo, se vai adiante o negócio, temo que será rapidamente colocada em vígor a lei do talião: «Olho por olho, narina por narina» E não é ainda tudo: de fato, quanta gente tem a terceira narina e ainda não sabe? O confesso que eu também às vezes, relendo aquilo que escrevi e que, infelizmente já está publicado (por exemplo a história do campo minado do n.12), me olho perplexo no espelho.

Atentos então a terceira narina!!!

Giovannino Guareschi
 «Candido» 14, 5-04-1947


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