31/10/2012

1º DE NOVEMBRO, SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

O templo de Agripa fora consagrado no tempo de Augustus a todos os deuses do paganismo e por esse motivo denominado de Panteão. Bonifácio VIII mandou transladar para lá as relíquias de todos os mártires encontrado nas catacumbas e no dia 13 de Maio do ano 610 dedicou esta nova basílica a Todos os Mártires e a Mãe de Deus. A festa desta dedicação foi retomando com o tempo um caráter universal, sendo mais tarde consagrada a Virgem Santíssima e Todos os Santos, celebrada em dias diferentes nas diversas igrejas, e no ano de 835 fora fixada por Gregório IV no dia 1º de Novembro, Gregório VIII transferiu esta data a dedicação do Panteão. A festa de Hoje recorda pois e celebra a vitória do Deus Verdadeiro contra as falsas divindades do mundo pagão. Em razão de sua origem, a missa de hoje vai buscar numerosos textos da liturgia dos mártires. A Santa Igreja coloca-nos debaixo dos olhos a admirável visão do Céu, a visão dos doze mil inscritos (12 por ser um número perfeito e indica a plenitude) de cada tribo de Israel e da multidão sem conta, procedente de todos os povos, línguas e tribos, todos de pé diante do Cordeiro, vestidos de branco e palmas nas mãos. Jesus Cristo, Maria Santíssima, as falanges dos espíritos bem-aventurados distribuídos em nove coros, os apóstolos, os mártires envoltos na púrpura do sangue que verteram, os confessores vestidos de branco, o coro casto das virgens formam um majestoso cortejo.
Compõe-se dos que na terra andaram nos passos de Jesus, dos pobres de espírito, dos mansos, dos aflitos, dos que sofreram fome e sede de justiça, dos misericordiosos, dos puros, dos pacientes, dos que foram perseguidos pelo nome de Jesus. Alegrai-vos lhe dizia o Mestre, porque a vossa recompensa será grande nos Céus. Entre estes milhares de justos que foram discípulos fiéis de Jesus encontramos muitos de nossos parentes, amigos, filhos de nossa terra e de nossa aldeia, e que agora participam da glória de Cristo, Rei dos reis e coroa dos santos. Ao assistimos a missa de hoje lembremo-nos do sacerdócio de Cristo na terra, exercido invisivelmente nos nossos altares e que se identifica com o que é visivelmente no Céu. Os altares da terra onde reside o cordeiro de Deus e nos altares do Céu onde o cordeiro se ostenta de pé e em estado de vítima são um e o mesmo altar.

Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960


30/10/2012

Anima Christi - Alma de Cristo



Ánima Christi
  
Anima Christi, sanctífica me.
Corpus Christi, salva me.
Sanguis Christi, inebria me.
Aqua láteris Christi, lava me.
Pássio Christi, confórta me.
O bone Iesu, exáudi me.
Intra tua vulnera abscónde me.
Ne permíttas me sepári a te.
Ab hoste malígno defénde me.
In hora mortis meae voca me.
Et iube me veníre ad te, ut cum Sanctis tuis laudem te in sáecula saeculórum.
Ámen.



Alma de Cristo

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de Vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de Vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós, para que Vos louve com os vossos Santos, por todos os séculos dos séculos.
Amém.

29/10/2012

Carta do Santo Padre Leão XIII à Princesa Isabel


À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.

As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-Nos mereceriam sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.

Para te apresentarmos porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.
Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.

Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.

Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe rescendem todos os que cuidadosamente imitam as suas virtudes.

Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude. No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.

Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, IIº no Nosso Pontificado.



Cardeal Carlo Nocella

28/10/2012

A visão diabólica do Papa Leão XIII e a oração a São Miguel Arcanjo

Muitos de nós recordamos de que, antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, os celebrantes e os fiéis, no fim de cada Missa, ajoelhavam-se para rezar uma oração a Nossa Senhora e outra a S. Miguel Arcanjo.

Reportamo-nos ao texto desta última porque é uma oração bonita que pode ser rezada por toda a gente para seu próprio benefício:
        
“São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, sede nosso auxilio contra a malícia e ciladas do demônio. Exerça Deus sobre ele império, como instantemente vos pedimos, e Vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no Inferno a Satanás e os outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perder as almas”.
        
Como é que nasceu esta oração?

Transcrevo um artigo que foi publicado na revista: Ephemerides Liturgicae escrito pelo Pe. Domenico Pechenino em 1955, a págs. 58-59.

“Não me lembro exatamente do ano. Uma manhã, o grande Pontífice Leão XIII tinha celebrado a Stª Missa e estava a assistir a uma outra de ação de graças, como de costume. De repente, viu-se ele virar energicamente a cabeça, depois de fixar qualquer coisa intensamente, sobre a cabeça do celebrante. Mantinha-se imóvel, sem pestanejar, mas com uma expressão de terror e de admiração, tendo o seu rosto mudado de cor. Adivinhava-se nele qualquer coisa de estranho, de grande.

Finalmente voltando a si, bate ligeira, mas energicamente com a mão, levanta-se. Dirige-se ao seu escritório particular. Os mais próximos seguem-no com preocupação e ansiedade. E perguntam-lhe em voz baixa: Santo Padre, não se sente bem? Precisa se alguma coisa? Responde: “Nada, nada”.

Daí a uma meia hora manda chamar o Secretário da Congregação dos Ritos, e estendendo-lhe uma folha de papel, manda fazê-la imprimir e enviar a todos os Ordinários do mundo. Que assunto continha? A oração que rezávamos no fim da missa com o povo, com a súplica a Maria e a invocação ardente ao Príncipe das milícias celestes, implorando a Deus que precipite Satanás no inferno.

Naquele escrito ordenava-se igualmente que as orações fossem rezadas de joelhos. Também foi publicado no jornal La Settimana del Clero, em 30 de Março de 1947, não sendo citada a fonte que deu origem à notícia. Será contudo notada a maneira insólita como esta oração, enviadas aos Ordinários em 1886, foi mandada rezar.

Para confirmar aquilo que o Pe. Pechenino escreveu, dispomos do testemunho irrefutável do Cardeal Natalli Rocca, que na sua carta pastoral para a Quaresma, emanada de Bolonha em 1946, diz: “Foi mesmo Leão XIII quem redigiu esta oração. A fase (Satanás e os outros espíritos malignos) que vagueiam pelo mundo para perder das almas tem uma explicação histórica que o seu secretário particular Mons. Rinaldo Angeli, nos contou várias vezes; Leão XIII teve verdadeiramente a visão de espíritos infernais que se adensavam sobre a cidade eterna (Roma).

Foi desta experiência que nasceu a oração que ele quis toda a Igreja rezasse. Esta oração rezava-a ele com voz viva e vibrante: ouvimo-la muitas vezes na Basílica do Vaticano. Mas isto não é tudo: ele escreveu também por suas próprias mãos um exorcismo especial que figura no Ritual Romano (ed. 1954, tit. XII, c.III, pág.863 e seg.). Recomendava aos bispos e aos sacerdotes que rezassem muitas vezes estes exorcismos nas suas dioceses e paróquias. Ele próprio o fazia muitas vezes durante o dia.

Também é interessante ter em conta um outro acontecimento que reforça ainda mais o valor desta oração que se rezava no fim de cada Missa. Pio XI quis que, ao serem rezadas estas orações, se pusesse uma intenção particular pela Rússia (alocução de 30 de Junho de 1930). Nesta alocução, depois de ter lembrado as orações pela Rússia que ele próprio tinha pedido a todos os fiéis a quando da festa do Patriarca S. José (19 de março de 1930) e, depois de ter lembrado a perseguição religiosa na Rússia, concluiu com estas palavras:

“E para que todos possam sem fadiga e sem obstáculos continuar esta santa cruzada, decidimos que as orações que o nosso bem amado predecessor Leão XIII ordenou aos sacerdotes e aos fiéis que rezassem depois da Missa, sejam ditas por esta intenção particular, isto é, pela Rússia. Que os bispos e o clero secular e regular tomem ao seu cuidado informar os fiéis e aqueles que assistem ao Santo Sacrifício, e que não se esqueçam de lhes lembrar estas orações (Civiltà Cattolica, 1930, vol.III).

Conforme se pode constatar a presença aterrorizadora de Satanás foi claramente tida em conta pelo Pontífice; e a intenção que Pio XI, tinha acrescentado, visava mesmo o fundamento das falsas doutrinas difundidas no nosso século, que envenenaram não só a vida dos povos mas também dos próprios teólogos.

Se a disposição tomada por Pio XI não foi respeitada, a falta deve-se àqueles a quem tinha sido confiada; inseria-se perfeitamente no âmbito dos avisos carismáticos que o Senhor havia dado à humanidade através das aparições de Fátima, embora mantendo-se independente desta: Fátima ainda era desconhecida do mundo.

Extraído do Livro "Um Exorcista Conta-nos" - Pe. Gabriele Amorth

26/10/2012

Os Santos sobre a Santa Missa




São João Maria Vianney, o Cura d’Ars:
“Se conhecêssemos o valor da Santa Missa nos morreríamos de alegria”.

Santo Anselmo:
“Uma só Missa oferecida e ouvida em vida com devoção, para o próprio bem, pode valer mais que mil Missas celebradas na mesma intenção, depois da morte.”

Santo Tomás de Aquino:
“A celebração da Santa Missa tem tanto valor como a morte de Jesus na Cruz”.

São Francisco de Assis:
“O homem deveria tremer, o mundo deveria vibrar, o Céu intero deveria comover-se profundamente quando o Filho de Deus aparece sobre o altar nas mãos do sacerdote”.

Santa Teresa de Jesus:
“Sem a Santa Missa, que seria de nós? Todos aqui embaixo pereceríamos, já que unicamente ela pode deter o braço de Deus. Sem ela, certamente que a Igreja não duraria e o mundo estaria perdido sem remédio”.

Em certa ocasião, Santa Teresa se sentia inundada da bondade de Deus. Então fez essa pergunta a Nosso Senhor: “Senhor meu, como poderei agradecer?” Nosso Senhor respondeu: “Assista uma Missa”.

Santo Afonso de Ligório
“O próprio Deus não pode fazer uma ação mais sagrada e maior que a celebração da uma Santa Missa”.

Padre Pio de Pieltrecina
“Seria mais fácil que o mundo sobreviva sem o sol do que sem a Santa Missa”.

Padre Pio de Pieltrecina
A Missa é infinita como Jesus… pergunte a um Anjo o que é a Missa e Ele responderá: “em verdade entendo o que é e porque se oferece, mas não posso entender quanto valor tem”. “Um Anjo, mil Anjos, todo o Céu, sabe isto e pensa assim”.

São Lorenzo Justino
“Nunca língua humana pode enumerar os favores que se correlacionam ao Sacrifício da Missa. O pecador se reconcilia com Deus; o homem justo se faz ainda mais reto; os pecados são perdoados; os vícios eliminados; a virtude e o mérito crescem, e os estratagemas do demônio são frustrados.

CARTAS DO BISPO SÃO PATRÍCIO


São Patricio 

São Patrício (386 — 17 de Março de 461) foi um missionário cristão e santo padroeiro da Irlanda, juntamente com Santa Brígida de Kildare e São Columba. 
Nascido na costa oeste da Grã-Bretanha, a pequena localidade galesa de Banwen é frequentemente referida como seu lugar de nascimento, embora haja muitas hipóteses sobre este facto. Quando tinha dezesseis anos foi capturado e vendido como escravo para a Irlanda, de onde escapou e retornou à casa de sua família seis anos mais tarde. Iniciou então sua vida religiosa e retornou para a ilha de onde tinha fugido para pregar o Evangelho. Converteu centenas de pessoas, muitas delas se tornaram monges. Para explicar como a Santíssima Trindade era três e um ao mesmo tempo utilizava o trevo de três folhas e por isso o mesmo tem papel importante na cultura Irlandesa. Foi incentivador do sacramento da confissão particular, tal como conhecemos hoje, visto que antes o mesmo era realizado de forma comunitária. Um século mais tarde essa prática se propagou para o restante da Europa. 
Muito reverenciado nos Estados Unidos devido ao grande número de imigrantes irlandeses. Em Manhattan, Nova Iorque, há uma catedral com o seu nome, sede da arquidiocese da metrópole. No dia 17 de março há diversas comemorações na Irlanda e nos Estados Unidos, conhecidas como paradas de São Patrício, onde ocorrem festejos e desfiles em memória do santo, sendo essa a principal forma de afirmação do orgulho dos imigrantes e descendentes de irlandeses na América. 


OS LIVROS DAS CARTAS DO BISPO SÃO PATRÍCIO. 
PRIMEIRO LIVRO: CONFISSÃO 

1) Eu, Patrício, um pecador, o mais rústico e o menor entre todos os fiéis, 
profundamente desprezível para muitos, tive por pai o diácono Calpurnius, filho do falecido Potitus, um presbítero que foi morador de um vilarejo chamado Bannavem Taberniae; Ele tinha uma pequena casa de campo bem próxima, onde eu fui capturado. Naquela época eu tinha cerca de dezesseis anos de idade. Eu ignorava o verdadeiro Deus e junto com milhares 
de pessoas fui capturado e conduzido ao cativeiro na Irlanda segundo o nosso merecimento, por afastarmos-nos bastante de Deus, não guardamos os seus preceitos, nem sermos obedientes aos nossos sacerdotes, que nos exortavam a respeito da nossa salvação. E o Senhor lançou sobre nós a violência de sua cólera e nos dispersou entre vários povos até os confins da terra, onde agora na minha pequenez, me encontro entre estrangeiros. 
2) E lá o Senhor abriu o entendimento do meu coração de incredulidade, afim de que, mesmo muito tarde, me recordasse dos meus pecados e me convertesse de todo coração ao Senhor meu Deus, que considerou a minha insignificância e teve misericórdia da minha mocidade e ignorância. Ele me protegeu antes que eu o conhecesse e antes que eu soubesse distinguir entre o bem e o mal e me fortificou e consolou como um pai faz ao filho. 
3) Por esta razão não posso me calar, nem seria isto apropriado, diante de tantas dádivas e graças que o Senhor dignou-se a me conceder na terra do meu cativeiro; porquanto esta é nossa maneira de retribuir, afim de que depois da correção de Deus e de reconhecê-lo, 
exaltar e confessar suas maravilhas diante de todas as nações que estão debaixo do céu.
4) Porque não há outro Deus, nunca houve antes, nem haverá no futuro, além de Deus pai não gerado, sem princípio, do qual procede todo o princípio, quem tudo possui, bem como tem nos sido dito; e seu filho Jesus Cristo, que assim como o pai evidentemente sempre existiu, antes do começo dos tempos em espírito com o pai, inefável, criado antes da origem
do mundo, e por ele mesmo foram criadas todas as coisas visíveis e invisíveis. Ele foi feito homem, venceu a morte e foi recebido no céu junto do pai, e foi-lhe dado todo poder absoluto sobre todo nome no céu, na terra e no inferno para que assim toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor e Deus, em quem nós cremos e esperamos o advento de sua iminente volta,
como juiz dos vivos e dos mortos. Este que dará para cada um segundo os seus feitos, e derramou em nós abundantemente o seu Espírito Santo, o dom e a garantia da imortalidade, que tornou os crentes e obedientes em filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo: àquele que confessamos e adoramos, O único Deus na trindade do seu santo nome.
5) Pois ele mesmo disse por intermédio do profeta: “Invoque-me no dia das suas tribulações e eu te libertarei e tu me glorificarás” e novamente disse: “É honroso revelar e confessar as obras de Deus”.
6) Apesar de imperfeito em muitas coisas, desejo que meus irmãos e parentes conheçam a minha natureza, para que possam perceber os desejos de minha alma. 
7) Eu não ignoro o testemunho do meu Senhor, que no Salmo diz: “Tu destróis os que proferem mentira”; e novamente disse: A boca mentirosa traz a morte para a alma. E igualmente o Senhor disse no evangelho: No dia do Juízo os homens prestarão contas de cada palavra vã que disseram.
8) Deste modo é que vigorosamente devera eu recear, com temor e tremor, a sentença daquele dia em que ninguém poderá escapar e nem se esconder, mas todos, sem exceção alguma, prestarão contas até dos menores pecados diante o tribunal do Senhor Cristo.
9) Por esta razão tenho pensado em escrever, mas até agora tenho hesitado; na verdade temi me expor na língua dos homens, porque não me instrui da mesma maneira que os outros, que têm assimilado bem tanto a lei como as Sagradas Escrituras e nunca mudaram o idioma desde a infância, mas ao contrário, sempre o tem aperfeiçoado. Enquanto a nossa linguagem e idioma foram traduzidos para uma língua estrangeira, assim facilmente se pode provar a partir de uma amostra dos meus escritos a minha qualidade em retórica, a minha instrução e também erudição, porque, está escrito: “A sabedoria será reconhecida pelo modo de falar, no entendimento, e no conhecimento da doutrina da verdade”. 
10) Mas porque me desculpar perto da verdade, especialmente com presunção, de modo que somente agora me aproximando da minha velhice posso obter o que não consegui na minha juventude? Porque meus pecados impediram-me de confirmar o que anteriormente tinha lido uperficialmente. Mas quem acreditará em mim ainda que repita o que disse antes? Um jovenzinho, talvez longe disso, quase um garoto imberbe, capturado antes que soubesse o que deveria buscar ou evitar. Então, consequentemente, hoje me envergonho e ardentemente temo expor minha ignorância, porque eu não sou eloqüente, assim verdadeiramente, não consigo expressar como o espírito está ávido por fazer e tanto a alma quanto o entendimento se mostram dispostos. 
11) Mas se esta graça fosse me dada como foi aos outros, em gratidão eu 
verdadeiramente não me calaria, e se por acaso me expus aos outros e me coloquei perante eles com minha ignorância e meu modo lento de falar, verdadeiramente está escrito: “As línguas balbuciantes com velocidade aprendam a falar da paz”. Quanto mais devemos atingi-lo, nós que somos como é dito: Uma carta de Cristo em saudação até os confins da terra... [Et 

si non deserta, sed † ratum et fortissimum†]...Escrito em vossos corações não com tinta, mas com o Espírito Santo do Deus vivo. E outra vez mais: O Espírito testifica que até mesmo a vida dos rústicos (rusticidade) é criada pelo Altíssimo.
12) Por isso eu, o maior dos camponeses, fugitivo, evidentemente ignorante, alguém que não é capaz de prever o futuro, mas sabe com certeza que, em todo o caso, antes de ter sido humilhado, eu era como uma pedra que jazia no lodo profundo. E aquele que tem todo o poder veio a mim e em sua misericórdia me levantou bem alto, colocou-me no topo do
muro; e de lá corajosamente devo exclamar em gratidão ao Senhor por tantos benefícios agora e por todo o sempre, benefícios tão grandes que a mente humana não pode estimar. 
13) Dessa maneira, espantem-se grandes e pequenos que temem a Deus e vós, senhores, oradores eloqüentes, ouvi, pois e examinai cuidadosamente. Quem me chamou, eu, um estúpido, do meio daqueles que são vistos como sábios e peritos na lei, poderosos na palavra e em todas as coisas? Eu, verdadeiramente miserável neste mundo, sendo inspirado mais que os outros- contanto que- com temor e reverência e sem querela, fielmente pudesse me mostrar ao povo para quem o amor de Cristo me trouxe e deu-me em minha vida, se eu fosse digno, para servi-los verdadeiramente com humildade e sinceridade.
14) Assim, pois, na medida da minha fé na trindade, me convém reconhecer e sem noção do perigo, proclamar o dom de Deus e a sua consolação eterna, confiantemente e sem temor difunndir o nome de Deus por toda parte, afim de que mesmo depois da minha morte, eu deixe uma herança para os meus irmãos e filhos e a tantos milhares de homens que
batizei no Senhor. 
15) E eu não era digno, nem de tal natureza que o senhor concedesse ao seu pequeno servo, após provações e tantas penas, depois do cativeiro e após muitos anos, tantas graças me desse naquele povo; uma coisa que no tempo da minha juventude eu jamais esperei, nem mesmo imaginei.
16) Mas, depois que alcancei a Irlanda e que eu passei a apascentar o rebanho cotidianamente e orava várias vezes ao dia, mais e mais o amor de Deus e o meu temor e fé por ele cresceram e o meu espírito tocado de tal maneira, que em dia cheguei a contar mais de cem orações e de noite quantidade semelhante, e ainda ficava nas florestas e nas montanhas,
acordava antes da luz do dia para orar na neve, no gelo e na chuva, e nenhum mal eu sentia e nenhuma preguiça estava em mim, como percebo agora, porque o espírito ardia dentro de mim.
17) E lá naturalmente uma noite no meu sono eu ouvi uma voz dizendo para mim: “Fazes bem em jejuar, pois brevemente partirás para a tua pátria” e novamente muito pouco tempo depois ouvi uma voz me dizendo: “Eis que teu navio está pronto” e não era em um lugar perto não, pelo contrário, estava a duzentas milhas de distância onde eu nunca havia
estado e não havia ninguém conhecido. Então pouco tempo depois eu me coloquei em fuga e abandonei o homem com quem estivera seis anos e avancei na virtude de Deus, que dirigiu meu caminho para o bem e eu nada temi até que alcancei aquele navio.
18) E naquele mesmo dia o navio estava de partida, e eu disse que tinha condições de navegar com eles. O capitão se desagradou e rispidamente irado respondeu: “de modo algum tente ir conosco” tendo ouvido isto me separei deles para uma pequena cabana onde estava ficando, e no caminho comecei a orar e antes que terminasse a oração escutei um deles gritando bem alto depois de mim: “venha rapidamente, porque os homens estão te chamando” e imediatamente voltei pra junto deles, e começaram a me dizer: “venha, porque de boa fé recebemos-te, faça conosco amizade do modo que desejar” e naquele dia então me recusei a lhes sugar as mamas
pelo temor de Deus, mas, entretanto esperava que eles viessem a ter
fé em Jesus Cristo, porque eram gentios. Por isso continuei com eles e sem demora nos colocamos ao mar.
19) E depois de três dias alcançamos a terra e caminhamos vinte e oito dias através de uma região desértil até que a comida acabou e a fome nos alcançou. Um dia o capitão começou a me dizer: “Por que acontece isso Cristão? Tu dizes que teu Deus é grande e onipotente, porque razão você não pode orar por nós? Pois podemos morrer de fome; é provável que jamais vejamos outro ser humano”. Eu então lhes disse confiantemente:
convertam-se pela fé de todo o coração ao Senhor Deus meu, pois nada é impossível para ele e hoje mesmo ele mandará alimento para vós em vosso caminho até que se fartem, pois em toda a parte ele traz abundância. E com a graça de Deus isto realmente aconteceu: eis que uma vara de porcos apareceu no caminho diante dos nossos olhos, e muitos dentre os porcos foram mortos. E neste lugar por duas noites permaneceram e fartaram-se daquelas carnes dos porcos e foram revigorados da fome, porque muitos deles desfaleciam e de outra forma teriam sido abandonados semimortos à beira do caminho. Depois disto renderam extremas graças a Deus e eu fui honrado aos seus olhos, e a partir daquele dia tiveram alimento bundantemente, descobriram mel silvestre e ofereceram parte a mim e um deles disse: é um sacrifício; Graças a Deus, deste nada provei.
20) Na mesma noite eu estava dormindo e Satanás violentamente tentou-me, da forma que eu me lembrarei enquanto neste corpo estiver, ele caiu sobre mim como um enorme rochedo e nenhum dos meus membros podia se mexer. Mas de onde me veio à idéia, ignorante espiritual que sou, de clamar por Elias? Neste meio tempo vi no céu o sol surgindo e durante o clamar “Elias, Elias, com toda a minha força” eis que o esplendor daquele sol caiu sobre mim imediatamente e me sacudiu livrando-me de todo o peso, creio que fui ajudado por Cristo, meu Senhor, e este espírito agora chamava por mim e espero que assim seja no dia da minha aflição, como diz no evangelho: Naquele dia, diz o Senhor, não sois vós que falais, mas o espírito de vosso pai que fala em vós.
21) E mais uma vez, anos nais tarde fui feito cativo pela segunda vez. Na primeira noite, eu permaneci com eles. Ouvi, então, uma voz divina me dizendo: “você permanecerá dois meses com eles” e assim aconteceu: na sexagésima noite o meu Senhor me libertou das mãos deles.
22) Além disso, Mesmo na viagem (Deus) nos proveu de alimento, fogo e tempo seco todos os dias, até que no décimo dia encontramos gente. Assim como sugeri mais acima, viajamos vinte e oito dias através de terras desabitadas e de fato na noite que encontramos gente nada tínhamos de alimento.
23) E depois de uns poucos anos eu estava de novo na Bretanha com meus pais, que me acolheram como um filho e rogaram-me intensamente que eu, após ter passado por tantas tribulações que nunca partisse para longe deles; e neste lugar naturalmente vi numa visão noturna um homem vindo como que da Irlanda, cujo nome era Victoricus, com inumeráveis cartas, e deu para mim uma delas e logo no princípio da carta estava escrito: “A voz dos irlandeses” e enquanto eu recitava o princípio da carta, pareceu-me naquele momento ouvir as vozes daqueles que estavam perto da floresta de Vocluti que fica perto do mar ocidental, e ainda exclamavam como se fosse uma só voz: “Nós te rogamos, santo jovem, venha e caminhe novamente entre nós” e eu estava tão profundamente tocado no meu coração que nem pude ler mais e assim despertei. Graças a Deus, porque depois de muitos anos, o
Senhor concedeu-lhes a sua súplica.
24) E outra noite –não sei, Deus o sabe, se dentro de mim ou próximo a mim- foram pronunciadas algumas palavras bem próximo, eu as ouvi, mas não pude compreendê-las, a não ser no final: “Aquele que deu a sua vida por ti, o próprio é que fala dentro de ti.” E deste modo acordei jubiloso.
25) E uma outra vez, o vi orando em mim, era como que dentro do meu corpo e o ouvia acima de mim, isto é, acima do homem interior, e lá orava fortemente com gemidos, e no meio disto eu estava pasmo e admirado e pensava quem seria esse que orava dentro de mim, mas após o final da oração foi-me revelado que era o Espírito, e assim fui desperto e
recordei-me das palavras do apóstolo: O Espírito nos auxilia na debilidade de nossas orações, pois não sabemos orar como convém. Mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis, que não podemos narrar, e mais uma vez: O Senhor, nosso advogado intercede por nós.
26) E quando fui posto a prova por alguns dos meus senhores, que vieram até mim e relembraram os meus pecados contra o meu árduo episcopado. Naquele dia especialmente, fui fortemente abalado e poderia ter caído de uma vez por todas; mas o Senhor me poupou um convertido e peregrino, pelo amor do seu próprio nome, de forma benévola veio em minha
assistência quando estava sendo esmagado. Eu oro a Deus que não lhes será imputado como um pecado que eu caísse em desgraça e desonra.
27) Noutra ocasião, trinta anos depois, eles trouxeram contra mim um fato que eu tinha confessado antes de ser diácono. Por causa da ansiedade e inquietude da minha alma, eu contei a um amicíssimo meu o que um dia na minha meninice tinha feito, mais precisamente em um momento, porque ainda não era resistente. Eu não sei, Deus o sabe, se eu tinha 15 anos, e não acreditava no Deus vivo, nem nunca tinha crido desde a minha infância, mas permanecia na morte e na incredulidade até que fui castigado e humilhado cotidianamente pela fome e pela nudez.
28) Por outro lado, não fui para a Irlanda espontaneamente, estava a ponto de desistir, mas isso, no entanto foi para mim um bem, pois por isso fui repreendido pelo Senhor, e ele preparou-me para que hoje fosse o que eu ainda estava longe de ser, a fim de que eu tivesse o cuidado ou me preocupasse pela salvação dos outros, quando ao contrário, naquela
época não pensava em nada além de mim mesmo.
29) Então naquele dia em que fui reprovado como mencionei acima, eu tive uma visão à noite de um texto diante de minha face sem honra, e enquanto isso, ouvi uma voz divina dizendo para mim: com desgosto vimos a face do escolhido, despido de seu nome, e ele não disse: você viu com desgosto, mas: nós vimos com desgosto. Como se ele mesmo se juntasse a mim, ele então disse: Aquele que te tocar é como se tocasse a menina dos meus
olhos.
30) Por este motivo eu dou graças a ele que em tudo me confortou, para que eu não fosse impedido do caminho que decidi seguir e também da minha obra que para a qual fui chamado por Cristo meu Senhor, porém a partir daí eu senti em mim uma virtude não pouca e a minha fé foi provada na presença de Deus e dos homens.
31) Por isso então eu digo corajosamente, que minha consciência não me reprova. Nem agora e nem no futuro: Deus é minha testemunha que não tenho mentido nessas palavras que eu vos tenho dito.
32) Porém eu lamento que por causa de meu amigo íntimo mereçamos ouvir tal palavra. Aquele em que confiei à alma! E descobri por um bom número de irmãos, que diante daquela defesa (que eu não estava presente, nem estava eu na Bretanha, nem foi eu que a provoquei) ele em minha ausência lutou por mim, assim disse-me de sua própria boca: eis que
tu serás elevado ao grau do episcopado, ao qual eu não era digno. [mas daí veio ele pouco depois publicamente desonrar-me na presença de todos, bons e maus, e porque anteriormente de forma espontânea e alegre perdoara-me, e o Senhor, que é o maior de todos?].
33) já disse o suficiente. Mas ainda assim, não posso esconder o presente de Deus que foi dado a nós na terra do meu cativeiro, porque eu o busquei fortemente e lá o encontrei e ele me preservou de todas as iniquidades (assim creio) por meio da habitação do seu espírito, que opera em mim até os dias de hoje. Corajosamente de novo, mas Deus sabe, se isso foi concedido a mim por homem, eu podia ter mantido silêncio pelo próprio amor de Cristo.
34) Assim eu dou incansáveis graças ao meu Deus, que me conservou fiel no dia da minha tentação, de sorte que hoje confiantemente ofereço a ele a minha alma como sacrifício vivo ao Cristo Senhor meu, que me protegeu de todas as minhas angústias, por isso digo: quem sou eu, oh Senhor, qual é minha vocação? Que a mim de uma maneira tão divina aparecestes, para que hoje entre os gentios constantemente eu exaltasse e glorificasse teu
nome em qualquer lugar que fosse, não só na bonança, mas também na tribulação, de modo que qualquer coisa que aconteça a mim, seja de bem seja de mal, devo aceitar igualmente e a Deus devo sempre dar graças, que me mostrou que devo indubitavelmente para sempre nele confiar e que me encoraja para que, ignorante, nos últimos dias, ouse encarregar-me de uma
obra tão maravilhosa, para que eu possa imitar um daqueles que, há muito tempo, o Senhor pré-ordenou como mensageiros do seu evangelho em testemunho a todos os povos até o fim do mundo, assim vemos e assim está acontecendo: Eis que nós somos testemunhas, porque o evangelho tem sido pregado até lugares mais distantes onde não há ninguém.
35) Levaria muito tempo narrar meus labores, em detalhes, um por um. Vou dizer brevemente como o piedoso Deus frequentemente tem me livrado da servidão, e de doze perigos pelos quais minha alma foi ameaçada, além de muitas ciladas que não sou capaz de descrever. Nem quero injuriar os leitores; mas tenho Deus criador, que conhece todas as
coisas antes mesmo que elas venham a existir, como testemunha de que embora eu fosse um pobrezinho desamparado e ignorante, todavia por meio de profecias divinas frequentemente me aconselha.
36) De onde me veio esta sabedoria, que para mim não existia, eu que nem o número de dias conhecia e nem a Deus conhecia? De onde me veio em seguida dom tão grande e tão saudável de conhecer a Deus e amá-lo, mesmo tendo deixado à pátria e os pais?
37) E muitas dádivas me foram oferecidas com choro e lágrimas e eu os ofendi, contrariamente ao desejo de um bom número dos meus senhores; mas sendo governado por Deus, não entrei em consenso e nem me delonguei com eles, não por minha graça, mas Deus que venceu em mim e resistiu contra todos eles, afim de que eu viesse aos povos da Irlanda
pregar o evangelho e suportar as injúrias dos incrédulos, para que possa se ouvir o infortúnio das minhas peregrinações e muitas perseguições e até prisões; de maneira que possa dar minha liberdade pelo bem de outros, e se digno for, estou pronto para dar até mesmo minha vida sem hesitação e de boa vontade, pelo nome do Senhor e nesse lugar escolho devotar minha vida até a morte, se assim o Senhor me permitir.
38) Porque sou grande devedor de Deus, que tamanha graça me concedeu, que muitos povos através de mim renasceriam em Deus, e como seria confirmado depois, os clérigos seriam ordenados por eles em toda parte em favor das pessoas que recentemente viriam a acreditar, esses que o Senhor atraiu dos confins da terra, assim como já foi prometido pelos seus profetas: “para ti virão povos dos confins da terra” e dirão: porque nossos pais nos deixaram apenas ídolos falsos e não há mais neles proveito; e mais: ponho-te como luz para os gentios para que tu possas levar salvação até os confins da terra.
39) Eu desejo então esperar por sua promessa, que jamais falha, assim como no evangelho está escrito: virão do oriente e do ocidente e sentar-se-ão a mesa com Abraão, Isac e Jacó. Assim como acreditamos que os crentes virão do mundo inteiro.
40) Por este motivo então, é necessário verdadeiramente pescar bem e
diligentemente, assim como o Senhor prediz e ensina dizendo: “Sigam-me e farei de vós pescadores de homens”; e ainda pelos profetas: “Eis que eu envio muitos pescadores e caçadores”, diz Deus, etc. Portanto é muito importante lançar nossa rede, para que uma imensa multidão seja apanhada para Deus e em toda parte haja clero para batizar e exortar o povo necessitado e ansioso. Assim como o Senhor disse no evangelho, admoestando e instruindo: “Ide, pois agora por todas as nações ensinando e batizando-os em nome do pai, do filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar em todas as ocasiões tudo o que vos ensinei, e eis que eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”; e ainda diz: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura, quem crer e for batizado será salvo; quem não crer verdadeiramente será condenado”. E ainda: Este evangelho do reino será pregado por todo o mundo como testemunha para todos os povos e então virá o fim; e igualmente o Senhor anunciou por meio do profeta: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que eu derramarei do meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos farão profecias e as vossas filhas também, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão sonhos e na verdade sobre os meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão; como em Oséias diz: Eu chamarei aqueles que não são meu povo de meu povo e aqueles que não alcançaram misericórdia eu os chamarei de
misericordiosos e no lugar em que foi dito a eles, vocês não são meu povo, serão chamados “filhos do Deus vivo”.
41) Assim, tal como acontece na Irlanda onde nunca tiveram conhecimento de Deus, mas que até o presente momento, só conheciam ídolos e coisas impuras, como que recentemente estão se tornando um povo do Senhor e sendo chamados de filhos de Deus, os filhos dos Scotos e as filhas dos reis, são vistas como monjas e virgens de Cristo?
42) E ainda uma abençoada irlandesa [Scota], nobre, linda e de idade adulta, que eu batizei; poucos dias depois veio a nós e nos informou que tinha recebido uma profecia de um mensageiro de Deus e sido convidada a ser uma virgem de Cristo e aproximar-se de Deus. Graças a Deus, que seis dias depois, excelentemente e avidamente ela tomou o caminho que todas as virgens de Deus tomam, mas não com o consentimento dos pais dela, mas suportando perseguições e as reprovações imerecidas de seus parentes. Apesar disso o número delas aumenta (a respeito das que são de nossa raça nascidas lá desconhecemos o número) além das viúvas, e aquelas que mantêm a continência. Mas entre elas as que mais trabalham são as que são mantidas na escravidão. Além de terrores, elas suportam ameaças constantes; mas o Senhor concede muitas graças as suas servas, pois mesmo apesar da prisão (sendo proibidas) elas resolutamente seguem o seu exemplo.
43) Por isso, mesmo que desejasse me separar deles a fim de ir para Bretanha, e de boa vontade estaria preparado para ir para minha pátria e meus pais, e não somente lá, mas mesmo até a Gália para visitar meus irmãos e para contemplar a face dos santos de meu Senhor: Deus sabe o quanto eu desejei isso, mas atado ao Espírito que me atestou que se
fizesse isso, seria designado como culpado. E eu temo perder o trabalho que comecei, e não eu, mas Cristo o Senhor, que me ordenou que viesse estar com eles o resto dos meus dias, se o Senhor desejou isso e me protegeu de todo mau caminho, não devo pecar contra ele;
44) Espero que eu faça como devo, mas não confio em mim, enquanto estiver neste corpo mortal, porque forte é e cotidianamente esforça-se para desviar-me da fé e da verdadeira santidade de uma religião não fingida a qual aspiro guardar até o fim da vida minha por Cristo meu Senhor, mas a carne inimiga sempre arrasta para a morte, isto é para suas seduções, para as coisas ilícitas. E eu sei em parte que não levo uma vida perfeita assim
como outros crentes, mas reconheço diante do meu Senhor, e não me envergonho em sua presença, porque não minto, desde que o vim a conhecê-lo em minha juventude cresceu em mim o amor de Deus e o temor a ele, e até agora pela graça de Deus, tenho mantido a fé.
45) Que ria e me insulte quem assim o desejar, eu não me calarei e nem esconderei os sinais e maravilhas que foram mostrados a mim pelo Senhor de muitos anos antes que acontecessem, ele que sabe todas as coisas antes mesmo do começo dos tempos.
46) Deste modo, devo incessantemente dar graças a Deus, que frequentemente perdoou minha insensatez e negligência, em mais de uma ocasião para não se irar violentamente comigo, que fui colocado como ministro, e não concordei prontamente com o que foi revelado a mim, segundo o que o Espírito me sugeria, e o Senhor misericordioso foi
em milhares de vezes, porque viu que eu estava preparado, mas que eu não sabia o que fazer nessas circunstâncias, só poderia fazer algo relativo ao meu gênero de vida, porque muitos tentavam impedir a minha missão, eles estavam falando entre si nas minhas costas dizendo: Porque razão este homem se atira ao perigo no meio de estrangeiros que não conhecem a
Deus? Não por malícia, porque eles não sabiam isso, mas eu mesmo posso testificar que eles perceberam a minha rusticidade, e eu não estava pronto para reconhecer a graça que então estava em mim; agora eu sei que deveria tê-lo feito bem antes.
47) Agora, pois tenho simplesmente colocado para meus irmãos e companheiros de serviço, que acreditaram em mim por causa do que proferi e ainda profiro para fortificar e reforçar vossa fé. Queira Deus que façam maiores e melhores obras! Isto será minha glória, porque o filho sábio é a glória do pai.
48) Vós sabeis, assim como Deus, como me empenhei no meio de vós desde a minha juventude na fé, na verdade e na sinceridade de coração. Assim para os povos entre os quais vivo eu mostrei e ainda mostro a fé. Deus sabe que não defraudei a nenhum deles, nem considero isso, pelo próprio Deus e sua Igreja, para que não despertasse perseguição contra
eles e contra nós todos e para que o nome do Senhor não seja blasfemado por minha causa. Porque está escrito: Ai do homem pelo qual o nome do Senhor for blasfemado.
49) Pois embora eu seja ignorante em todas as coisas, ainda assim me esforcei para guardar alguns e a mim também. Ainda também aos meus irmãos cristãos, as virgens de Cristo e as mulheres religiosas, que para mim davam espontaneamente alguns pequenos presentes e costumavam jogar ao altar e seus adornos. Eu devolvia a elas e se escandalizavam comigo por causa disso e me perguntavam por que eu agia assim; mas eu, na esperança da eternidade, me protegi de todas as coisas, de forma que não pudessem lesar-me no meu ministério alegando qualquer desonestidade e que nem mesmo esse mínimo detalhe desse qualquer margem para difamação ou depreciação por parte dos incrédulos.
50) Por acaso quando batizei milhares de pessoas esperava mesmo que fosse a metade de qualquer coisa deles? Se assim foi, digam-me e eu vos restituirei. E quando o Senhor ordenou clérigos em todas as partes por intermédio da minha humilde pessoa e o ministério gratuitamente eu conferi a eles, se pedi em qualquer lugar qualquer recompensa deles, que seja o valor de um par de sapatos, digam-me na minha frente e os restituirei.
51) Mais eu fiz todos os esforços por vós para que me recebessem e no meio de vós em todo lugar, me empenhei pela vossa causa, em muitos perigos mesmo nas regiões mais remotas onde não havia ninguém e ninguém havia vindo antes para batizar, ordenar clérigos ou confirmar pessoas. Diligentemente e com alegria, pela graça de Deus, para vossa salvação.
52) De vez em quando, dei presentes aos reis e também dei recompensas aos seus filhos que viajavam comigo, todavia me prenderam com meus companheiros e naquele dia desejaram com muita avidez matar-me, mas minha hora ainda não havia chegado, e tudo que puderam encontrar conosco eles saquearam e me prenderam a ferros; e no décimo quarto dia o
Senhor me libertou do poder deles e tudo o que era nosso nos foi devolvido por amor a Deus e por conta dos amigos imprescindíveis que antes fizemos.
53) Vós sabeis por experiência própria o quanto eu os pagava para que aqueles que julgavam por todas as regiões que eu frequentemente visitava. Penso que verdadeiramente distribui a eles nada menos que o preço de quinze homens, afim de que pudessem desfrutar da minha companhia e eu da vossa sempre, em Deus. Não me arrependo e nem considero o bastante: ainda pago e pagarei ainda mais; poderoso é o Senhor para conceder que logo eu possa gastar o meu próprio ser pelas vossas almas.
54) Eis que invoco o testemunho divino sobre minha alma como prova de que não estou mentindo: nem escreveria a vós para dar ocasião de lisonja ou avareza, nem esperaria pela honra de qualquer de vós; suficiente na verdade é a honra que não é vista, mas na qual o coração confia; fiel é o que promete; ele nunca mente.
55) Mas vejo que aqui mesmo tenho sido exaltado sobremodo pelo Senhor, eu não era digno de que ele me concedesse isso, porquanto eu sei com certeza que a pobreza e a calamidade se adequariam melhor a mim do que a riqueza e o deleite (mas Cristo o Senhor se fez pobre por nós) eu realmente miserável e infeliz sou e mesmo que quisesse a riqueza não posso, nem é este meu próprio juízo; porque cotidianamente espero ser morto, traído ou
reduzido à servidão se a ocasião surgir, mas nada temo por causa das promessas celestiais, porque me lancei nas mãos de Deus onipotente, que reina para todo o sempre, assim como diz o profeta: “lançai a sua carga sobre Deus e ele vos sustentará”.
56) Eis que agora recomendo minha alma ao meu fidelíssimo Deus, por quem cumpro a minha missão apesar da minha insignificância, mas porque ele não faz acepção de pessoas e me escolheu para esta obra para que eu fosse um dos menores de seus ministros.
57) Por esta razão eu devo retribuí-los por tudo que ele me tem retribuído. Mas o que deveria dizer ou prometer ao meu Senhor, só tenho aquilo que ele próprio me concedeu? Mas deixe que ele sonde meu coração e minhas entranhas porque almejo muito por isso, demasiadamente até, e estou pronto para que ele me conceda beber do seu cálice, assim como concedeu a outros que o amaram.
58) Pela vontade do meu Deus, que eu jamais seja separado do seu povo que ele ganhou nos lugares mais remotos da terra. Eu oro a Deus para que ele me dê perseverança e que ele me conceda ser uma fiel testemunha por amor a ele desde agora até o tempo da minha passagem ao meu Deus.
59) E se em qualquer momento fiz algo bom por amor ao meu Deus, a quem amo, imploro que ele me conceda, derramar meu sangue pelo seu nome, junto com os convertidos e cativos, seja mesmo eu insepulto ou meu cadáver miserável seja partido membro a membro pelos cães ou pelas feras selvagens, ou ainda devorado pelos pássaros do céu. Certamente penso que se isso ocorresse a mim, eu ganharia como recompensa minha alma e meu corpo, porque além de qualquer dúvida naquele dia ressuscitaremos na claridade do sol, isto é, na glória de Cristo nosso redentor, como filhos do Deus vivo e co-herdeiros de Cristo, destinados a ser conforme a sua imagem, porque através dele, por ele e nele, reinaremos.
60) Pois o sol que vemos nasce todos os dias para nós sob seu comando, mas nunca governará e nem irá durar o seu esplendor, mas antes todos os que o adoram irão desgraçadamente a punição; mas nós que acreditamos e adoramos o verdadeiro sol, Cristo, que nunca morrerá, nem aquele que fizer a sua vontade, mas permanecerá para sempre exatamente como Cristo permanece para eternamente, e que reina com Deus pai todo poderoso e com o Espírito Santo antes do começo dos tempos e agora e para sempre. Amém.
61) Eis que reiteradamente tenho relatado as palavras da minha confissão. Eu testifico na verdade e na exultação do meu coração perante Deus e seus santos anjos que tive apenas um motivo, o evangelho e suas promessas, para voltar àquela nação, da qual havia previamente escapado com dificuldade.
62) Mas eu imploro aos que crêem e temem a Deus, que se dignem a examinar, bem como receber este texto composto pelo pecador Patrício, indouto, escrito na Irlanda, que ninguém jamais atribua a minha ignorância, qualquer coisa insignificante que eu possa ter exposto segundo agrado de Deus, mas aceite e verdadeiramente acredite que isso foi um dom de Deus. Esta é a minha confissão antes de morrer.

SEGUNDO LIVRO: CARTA AOS SOLDADOS DE COROTICUS

1. Eu Patrício, um pecador verdadeiramente ignorante, residente na Irlanda, me declaro um bispo. Eu estou Certíssimo de que recebi de Deus isto que sou. E assim vivo entre bárbaros, um estrangeiro e fugitivo pelo amor de Deus. Ele mesmo é testemunha de que assim o é. Não que eu desejasse pronunciar de minha boca palavras tão duras e tão ásperas; mas sou
constrangido pelo zelo de Deus, e sou levado a fazê-lo pela verdade em Cristo, por causa do amor dos meus próximos e também dos meus filhos, pelos quais abandonei minha pátria, minha família e minha própria vida até o ponto da morte. Se sou digno, eu vivo por meu Deus, para ensinar aos gentis, ainda que seja desprezado por alguns.
2. Com minha mão eu escrevi e também formulei estas palavras para serem dadas, transmitidas e enviadas aos soldados de Coroticus. Eu não falo aos meus concidadãos, nem aos cidadãos dos santos romanos, mas aos cidadãos dos demônios, por causa de suas próprias obras más. Assim como os inimigos, eles vivem na morte, associados aos Scotos e aos apóstatas Pictos ensangüentados com o sangue que despojam de cristãos inocentes, aos quais em grande número gerei para Deus e os confirmei em Cristo.
3. No dia seguinte ao que os neófitos receberam a unção em vestes brancas, – o perfume ainda podia ser sentido em suas testas quando foram assassinados e massacrados à espada pelas pessoas supracitadas – Eu enviei uma carta ao santo presbítero a quem eu institui desde a infância, com clérigos, pedindo que nos deixasse ter um pouco de suas prezas bem como
dos batizados que tinham capturado: eles apenas escarneceram deles.
4. Por este motivo, eu não sei o que lamentar mais: aqueles que foram assassinados, os que foram capturados, ou aqueles que violentamente o demônio enlaçou. Assim como eles, serão escravizados no inferno numa pena eterna, porque todo aquele que comete pecado é um escravo e será chamado filho do diabo.
5. Portanto, que todo homem temente a Deus saiba que eles são estranhos para mim e para o Cristo meu Deus, de quem sou embaixador. Parricidas! Fratricidas! Lobos vorazes que devoram o povo do Senhor como se fosse pão, como é dito: os iníquos destroem a tua lei, oh Senhor, a qual nos últimos tempos ele plantou na Irlanda bondosamente e com excelência e
que foi organizada pela graça de Deus.
6. Não sou um usurpador. Eu compartilho com aqueles que foram chamados e predestinados para pregar o evangelho em meio a graves perseguições até os confins da terra, ainda que o inimigo manifeste sua inveja através da tirania de Coroticus, que não teme a Deus e nem os seus sacerdotes, aos quais ele delegou, dando-lhes o mais alto, divino e sublime
poder, para que o que ligarem na terra seja ligado no céu.
7. Por este motivo, então, eu procuro veementemente, santos e humildes de coração, não é lícito adular tais pessoas, nem comer, nem beber com eles, nem receber suas esmolas até que tenham oferecido rigorosa penitência. Derramado bastante lágrimas a Deus, colocando em liberdade os servos de Deus e os criados batizados de Cristo, por quem ele morreu e foi crucificado.
8. O Altíssimo reprova as ofertas dos iníquos. Aquele que oferece um sacrifício dos bens dos pobres é como aquele que imola um filho na presença de seu pai. Está escrito: As riquezas acumuladas injustamente serão vomitadas do seu ventre, o anjo da morte o afasta, será atormentado pela ira dos dragões, a língua da serpente o matará, será consumido pelo fogo inextinguível. Por este motivo : Aí daqueles que ficarem repletos de coisas que não são suas, bem como: De que adianta ao homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma?
9. Seria demasiado longo discutir tudo e apresentar em detalhes, recolhendo da lei testemunha contra tal cobiça. A avareza é um pecado mortal. Não cobices os bens do teu próximo. Não matarás. Um homicida não pode estar com Cristo. Aquele que odeia seu irmão é taxado como homicida. Bem: aquele que não ama seu irmão prevalece na morte. Quão
maior culpado é aquele que maculou suas mãos com o sangue dos filos de Deus, os quais recentemente adquiriu dos confins da terra graças a exortação de nossa pequenez?
10. Acaso eu vim para Irlanda sem Deus ou segundo a Carne? Quem me compeliu? Eu estou ligado ao espírito para não ver nenhum dos meus parentes. Acaso procede de mim ter misericórdia por um povo que outrora me fez cativo e me lançou fora, junto com os servos e criador da casa de meu pai? Eu nasci livre segundo a carne, sou nascido de pai decurião. Mas
vendi minha nobre posição - Não tenho vergonha e nem me arrependo - por causa dos bens alheios, porque sou servo em Cristo a uma nação estrangeira, para a glória inefável da vida eterna que está em Jesus cristo nosso Senhor.
11. E se os meus não me conhecem, um profeta não tem honra em sua pátria. Talvez não sejamos oriundos do mesmo aprisco e nem tenhamos o mesmo Deus como pai, assim como está escrito: quem não é por mim é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha. Não convém que um edifique e o outro destrua. Não busco meus próprios interesses, não por mim, mas por Deus que tem dado esta tranquilidade ao meu coração, para que seja um de seus caçadores e pescadores, os quais Deus outrora anunciou que viriam nos últimos dias.
12. Sou odiado. Que devo fazer, oh Senhor? Sou muito desprezado. Eis as suas ovelhas ao meu redor, elas são dizimadas e afugentadas por ladrões, estes que citei mais acima, enviados por ordem do Hostil Coroticus. Longe do amor de Deus, ele entrega os cristãos nas mãos dos Scotos e dos Pictos. Lobos vorazes que tem devorado o rebanho do Senhor, o qual na Irlanda
estava crescendo excelentemente com o maior cuidado; e os filhos dos Scotos e filhas dos pequenos reis que eram monges e virgens de Cristo, que não posso enumerar. Não se alegre, pois, com a injúria cometida aos justos; pois até mesmo o inferno não se alegra.
13. Qual dos santos não sentiria horror em alegrar-se ou desfrutar de uma convivência desta natureza? Eles têm enchido suas casas com os despojos de cristãos mortos, eles vivem da rapina. Os miseráveis não sabem que o alimento que oferecem aos amigos e filhos seus é um veneno mortal, assim como Eva compreendeu que era morte o que ela deu ao seu marido.
Assim são todos os que fazem o mal: recebem a morte eterna como pena.
14. Este é o costume dos cristãos Galo-Romanos: Enviam homens santos e idôneos aos Francos e outros povos com milhares de Solidus para resgatar os batizados cativos. Você prefere matar e vendê-los a povos estrangeiros que não conhecem a Deus. Engana os membros de Cristo como se estivessem em um lupanar. Que esperança tens em Deus, ou quem pensa como você ou conversa com você com palavras de bajulação? Deus julgará. Pois as escrituras dizem: Serão condenados não somente aqueles que fazem o mal, mas também aqueles que consentem com ele.
15. Eu não sei o que dizer e nem o que falar mais dos filhos de Deus que foram mortos, os quais a espada tão severamente atingiu. Pois está escrito: chorai com os que choram e ainda: se um membro sofre, que todos os membros sofram com ele. Por isso, a Igreja chora e lamenta os seus filhos e filhas que ainda a espada não assassinou, mas que foram removidos e
levados a terras distantes, onde o pecado abunda gravemente, manifestadamente e dascaradamente. Lá homens inocentes são vendidos, cristãos são reduzidos à escravidão, principalmente aos mais indignos e abomináveis: os apóstatas pictos.
16. Por isso, levanto a minha voz com tristeza e aflição: oh! Amados e belos irmãos e filhos que em Cristo gerei, tantos que não posso enumerar, o que posso fazer por vós? Não sou digno de obter ajuda nem de Deus e nem dos homens. A iniquidade dos inimigos prevaleceu sobre nós. Fomos feitos como que estrangeiros. Talvez eles não acreditem que recebemos um e o mesmo batismo e que temos um e o mesmo pai. Para eles é indigno que
sejamos irlandeses. Assim como é dito: Não tendes vós nenhum Deus? Por que cada um de vocês desampara seu próximo?
17. Por esta razão me aflijo por vós, eu sofro, meus amados, mas por outro lado, lá no fundo eu me alegro: eu não trabalhei em vão e minha peregrinação não foi inútil. E se este crime tão horrendo, indescritível, aconteceu, graças sejam dadas a Deus, crentes batizados, pois foram retirados do mundo para o paraíso. Vejo-vos assim: peregrinaram para onde não haverá mais noite, nem choro e nem morte, mas se exultarão como bezerros que se libertaram de seus entraves e esmagarão os iníquos e eles serão como cinzas debaixo de vossos pés.
18. Vocês então reinarão junto com os apóstolos e profetas e também os mártires. Vocês tomarão posse de um reino eterno, assim como ele mesmo disse: virão do oriente e do ocidente e sentar-se-ão a mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. De fora ficarão os cães, os feiticeiros e os homicidas e: Aos mentirosos e aos que dão falso testemunho estarão reservadas suas partes no lago de fogo eterno. Não é sem razão que o apóstolo disse: se o justo foi salvo penosamente, onde se encontrarão os pecador e o ímpio transgressor da lei?
19. Onde então Coroticus com seus infames criminosos, rebeldes contra Cristo, onde se verão? Aqueles que distribuíram jovens mulheres batizadas como prêmios por um reino temporal miserável que em um momento passa? Como nuvens e fumaça que o vento espalha, assim os pecadores fraudulentos perecerão ante a face do Senhor; os justos, porém,
participarão de um grande banquete em grande perseverança com Cristo, eles julgarão as nações e dominarão sobre os reis iníquos pelos séculos dos séculos. Amém.
20. Eu testifico perante Deus e seus anjos que assim será, como ele me fez compreender minha ignorância. Não são as minhas palavras, mas as de Deus, dos apóstolos e a dos profetas, que nunca mentem, que eu tenho colocado em latim. Aquele que crer será salvo, mas aquele que não crer será condenado. Disse Deus.
21. Eu peço veementemente a qualquer um que seja um servo de Deus disposto a ser um portador desta carta que nada dela seja suprimido ou escondido por ninguém, mas ao contrário, seja lida na presença de todo mundo e na presença do próprio Coroticus. Que Deus possa inspirá-los para que, em algum momento, possam recuperar a razão perante Deus, bem como, mesmo tarde, arrepender-se de seus ímpios atos – homicidas dos irmãos do Senhor – e liberar as batizadas cativas que outrora foram feitas prisioneiras, para que possam merecer viver para Deus e sejam feitos íntegros aqui e na eternidade! A paz do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. 

Tradução: Dominique Vieira Coelho dos Santos 

24/10/2012

São Nilo - Profecia


São Nilo, Eremita do século V, amigo e discípulo de São João Crisóstomo, Superior de um Mosteiro de Ancira, na Galácia, morreu no ano 430. Sua Profecia foi inserida na importante obra de Hagiografia: "Bibliotheca Sanctorum", vol. IX, p. 1008.


Depois do ano 1900, por meados do século XX, as pessoas desse tempo tornar-se-ão irreconhecíveis ...
Quando se aproximar o tempo da vinda do Anticristo, a inteligência dos homens será obscurecida pelas paixões carnais: a degradação e o desregramento acentuar-se-ão.
O mundo, então, tornar-se-á irreconhecível.
As pessoas mudarão de aparência, e será impossível distinguir os homens das mulheres, por causa do atrevimento na maneira de se vestir e na moda de seus cabelos.
Essas pessoas serão desumanas e como autênticos animais selvagens, por causa das tentações do anticristo.
Não se respeitará mais os pais e os mais idosos. O amor desaparecerá.
E os pastores cristãos, bispos e sacerdotes, serão homens frívolos, completamente incapazes de distinguir o caminho à direita, ou à esquerda.
Nesse tempo as leis morais e as tradições dos cristãos e da Igreja mudarão.
As pessoas não praticarão mais a modéstia e reinará a dissipação! A mentira e a cobiça atingirão grandes proporções, e infelizes daqueles que acumularão riquezas!
A luxúria, o adultério, a homossexualidade, as ações secretas e a morte serão a regra da sociedade. Nesse tempo futuro, devido o poder de tão grandes crimes e de uma tal devassidão, as pessoas serão privadas da graça do Espírito Santo, recebida no seu batismo, e nem sequer sentirão remorsos.
As Igrejas serão privadas de pastores piedosos e tementes a Deus, e infelizes dos cristãos que restarem sobre a terra, nesse momento!
Eles perderão completamente a sua Fé, porque não haverá quem lhes mostre a luz da verdade.
Eles se afastarão do mundo, refugiando-se em lugares santos, na intenção de aliviar os seus sofrimentos espirituais, mas, em toda a parte, só encontrarão obstáculos e contrariedades.
Tudo isto resultará do fato de que o Anticristo deseja ser o senhor de todas as coisas, e se tornar o mestre de todo o Universo.
Ele realizará milagres e sinais inexplicáveis. Dará também a um homem sem valor uma sabedoria depravada, a fim de descobrir um modo pelo qual um homem possa ter uma conversa com outro, de um canto ao outro da terra.
Nesse tempo, os homens também voarão pelos ares como os pássaros, e descerão ao seio do oceano como os peixes.
E quando isso acontecer, infelizmente, essas pessoas verão as suas vidas rodeadas de conforto, sem saber, pobres almas, que tudo isso é uma fraude de Satanás.
E ele, o ímpio, inflará a ciência da vaidade, a tal ponto que ela se afastará do caminho certo e conduzirá as pessoas à perda da Fé na existência de Deus, de um Deus em Três Pessoas...
Então, Deus, infinitamente Bom, verá a decadência da raça humana, e abreviará os dias, por amor do pequeno número daqueles que deverão ser salvos, porque o Inimigo desejaria arrastar mesmo os eleitos à tentação, se isso fosse possível.
Então a espada do castigo aparecerá de repente e derrubará o corruptor e seus servidores.