30/03/2013

CARTA ABERTA AOS PADRES DA FRATERNIDADE SACERDOTAL SÃO PIO X, de Dom Williamson

Reverendo e caros Padres,

A recente publicação da Declaração Doutrinal endereçada pelo Conselho Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X às autoridades de Roma em 15 de abril do ano passado confirma nossos piores medos. Nós esperamos por quase um ano para saber o que havia nela. Isso prova de uma vez por todas que a liderança da Fraternidade Sacerdotal São Pio X tem a intenção de se afastar da direção dada a ela pelo Arcebispo Lefebvre, e se voltar para as ideias do Concílio Vaticano II.

Entretanto, ocupados como vocês devem estar com o ministério diário, isso deve
preocupá-los, porque significa que as almas que estão sob os seus cuidados estão, através de vocês, vindo a ficar sob os dos Superiores que têm a intenção de levar a elas e a vocês na direção, até, da grande apostasia dos tempos modernos. Nós lembramos que são os Superiores que moldam seus subordinados e não o contrário – não temos observado uma boa quantidade de bons sacerdotes da Fraternidade, um após o outro, desistindo de lutar pela Fé do modo como sabemos que o Arcebispo Lefebvre lutou, e seguindo o fluxo, com uma corrente forte e muito diferente que já vem fluindo há alguns anos, agora, do topo da Fraternidade para baixo?

Uma análise detalhada confirmará o perigo de cada um dos dez parágrafos da Declaração, como destacado brevemente abaixo:

I. A fidelidade prometida à Igreja Católica e ao “Pontífice Romano” pode ser facilmente extraviada hoje em direção à Igreja Conciliar como tal, e ao Pontífice Conciliar. É necessário fazer distinções para evitar confusão.

II. A aceitação de ensinamentos do Magistério em concordância com o n. 25 da Lumen Gentium pode ser facilmente entendida, especialmente em conjunto com a Profissão de Fé de Roma em 1989, que é mencionada na nota de rodapé da Declaração, como exigindo aceitação das doutrinas do Vaticano II.

III,1. A aceitação do ensinamento do Vaticano II sobre o Colégio de Bispos, conforme consta no capítulo III da Lumen Gentium, é, a despeito da “Nota Praevia”, um passo significativo em direção à aceitação da colegialidade conciliar e à democratização da Igreja.

III,2. O reconhecimento do Magistério como único autêntico intérprete da Revelação corre um grave risco de submeter a Tradição ao Concílio, especialmente quando a interpretação de alguma ruptura entre eles deva automaticamente ser rejeitada (cf. III,5 abaixo).

III,3. A definição da Tradição como “a transmissão viva da Revelação” é altamente ambígua, e essa ambiguidade é apenas confirmada pelas vagas palavras sobre a Igreja, e pela citação do igualmente ambíguo n. 8 da Dei Verbum, a que segue.

III,4. A proposição de que o Vaticano II poderia “lançar luz” sobre a Tradição por “aprofundá-la” e “fazê-la mais explícita” é completamente hegeliana (desde quando as contradições explicam e não se excluem umas às outras?), e arrisca falsificar a Tradição ao torcê-la para ajustá-las às múltiplas falsidades do Concílio.

III,5. A declaração de que as novidades do Vaticano II precisam ser interpretadas à luz da Tradição, mas que nenhuma interpretação que implique qualquer ruptura entre as duas é aceitável, é loucura (todas as camisas devem ser azuis, mas alguma camisa não azul precisa ser levada a ser azul). Essa loucura não é nenhuma outra que a “Hermenêutica da Continuidade” de Bento XVI.

III,6. Dar crédito às novidades do Vaticano II como sendo matéria legítima de debate teológico é subestimar gravemente sua nocividade.

III,7. O juízo de que os novos Ritos sacramentais foram legitimamente promulgados é gravemente enganoso. A Nova Ordem da Missa especialmente é demasiado nociva ao bem comum da Igreja para ser uma lei verdadeira.

III,8. A “promessa de respeitar” como lei da Igreja o Novo Código Canônico é respeitar um número de supostas leis diretamente contrárias à doutrina da Igreja.

Reverendos Padres, quem quer que estude esses dez parágrafos no texto original pode apenas concluir que seu autor (ou autores) desistiu da luta do Arcebispo pela Tradição e reorientou sua mente para o Vaticano II.

E que ninguém diga que os dois primeiros e três últimos dos 10 parágrafos são claramente tirados do Protocolo de 5 de maio de 1988 do próprio Arcebispo, razão por que a Declaração seria fiel a ele. É bem sabido que em 6 de maio ele repudiou aquele Protocolo porque ele mesmo reconheceu que fez muitas concessões para que a Fraternidade fosse capaz de continuar a defender a Tradição.

Outro erro é dizer que o perigo já passou porque a Declaração teria sido “revogada” pelo Superior Geral. A Declaração é o fruto envenenado do que veio a ser a mentalidade liberal no topo da sociedade, e essa mentalidade não tem sido reconhecida, nem, muito menos, retraída.

Um terceiro equívoco é dizer que, uma vez que nenhum acordo foi assinado com os apóstatas de Roma, então já não há problema. O problema é menos o acordo do que o desejo de qualquer acordo que conceda à Fraternidade o reconhecimento oficial, que seguramente existe. Seguindo todo o mundo moderno e a Igreja Conciliar, a liderança da Fraternidade parece ter perdido o controle sobre a primazia da verdade, especialmente a Verdade Católica.

Reverendos padres, “O que não pode ser curado deve ser suportado”. Líderes cegos são uma punição de Deus. No entanto, o mínimo que vocês podem fazer sobre essa desastrosa Declaração é estudá-la por si mesmos com tudo o que levou a isso, caso contrário vocês perderão sua Fraternidade sem o perceber, assim como a massa de católicos perdeu sua Igreja com o Vaticano II e não o percebeu. Tendo então tornado o desastre claro em suas próprias mentes, vocês devem dizer a verdade ao seu rebanho na Fraternidade, isto é, o perigo em que os Superiores estão colocando sua fé e com isso sua salvação eterna.

Para todos nós daquela Fraternidade que o Arcebispo Lefebvre constituiu dentro de uma fortaleza da Fé, Nosso Senhor está agora colocando a questão de João, VI, 67: “Vocês também me deixarão?”

A qualquer pessoa e a todos vocês de bom grado concedo a bênção episcopal do seu servo em Cristo,
+Richard Williamson, Nova Friburgo, Quinta-feira Santa de 2013.

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