17/04/2013

Afraates (?-c. 345), monge e bispo: Escritos

Afraates (?-c. 345), monge e bispo

Afraates ou Afrates (do Grego: Aφραάτης: Aphraates; Persa: فرهاد: Aphrahat, Aphrahas, Arhadh ou Pharhad e siríaco:ܐܦܪܗܛ), anacoreta persa que ficou conhecido pelos seus escritos e se tornou santo da Igreja Católica.
Poucos dados biográficos desse que ficou conhecido como hakkimis artaya, "o Sábio Persa", chegaram até nós. Sabe-se que nasceu de pais pagãos, muito provavelmente na fronteira do Império Persa, na segunda metade do século III. Após sua conversão ao Cristianismo ele abraçou a vida religiosa e asceta sendo posteriormente elevado ao episcopado quando assumiu o nome cristão de Jacó.
A adoção desse nome veio criar uma confusão de identidade e, por séculos, os escritos de Afraates foram atribuídos ao famoso Jacó, Bispo de Nisibis (* ???, + 333 d.C.). Não foi antes do século X que o "Sábio Persa" foi corretamente identificado como sendo Afraates e, de acordo com manuscritos do Museu britânico, ele era "Bispo do monastério de Mar Mattai" na costa oriental de Tigris na Mesopotâmia, próximo à moderna Mossul. As ruínas desse monastério ainda existem, sendo conhecidas atualmente por "Sheikh Matta", e tudo indica que foi lá onde passou a maior parte de sua vida. - Fonte: Wikipedia 

O jejum que me agrada

«O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente,
[...] quebrar toda a espécie de opressão»
 (Is 58,6)

Os Ninivitas jejuaram com rigor, um jejum puro e verdadeiro, quando Jonas lhes pregou a conversão [...]. Eis o que está escrito: «Deus viu as suas obras, como se convertiam do seu mau caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha resolvido fazer-lhes, não lho fez» (Jon 3,10). Não é dito: «Vive em abstinência de pão e de água, vestido de saco e coberto de cinzas», mas «Que eles regressem dos maus caminhos e da malvadez das suas obras». Pois o rei de Nínive tinha dito: «Converta-se cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos» (v.8). Foi um jejum puro, e foi aceite. [...]
Porque, meu amigo, quando se jejua, a melhor abstinência é sempre a da maldade. É melhor do que a abstinência de pão e de água, melhor que «curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza», como diz Isaías (58,5). De facto, quando o homem se abstém de pão, de água ou de qualquer alimento que seja, quando se cobre de saco e de cinzas e se atormenta, é amado, é belo aos olhos de Deus e aprovado. Mas o que mais agrada a Deus é «[...] libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão» (v.6). Para o homem que se abstém da maldade, «a luz surgirá como a aurora [...]. A sua justiça irá à sua frente. Será como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis» (v.8-11). Não se assemelhará aos hipócritas que mostram «um ar sombrio [...], que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam» (Mt 6,16).

Santo Afrates ( ? – c. 345), monge e bispo perto de Mossul
Demonstrações, n.º 3, Do jejum (a partir da trad. SC 349, p.277 rev.)
Fonte: Evangelho Cotidiano

Velai, pois, orando continuamente

Mau amigo, para agradar a Deus, temos a oração. [...] Acima de tudo, sê assíduo à oração sem a abandonares, como está escrito, porque Nosso Senhor disse: «Orai sempre sem cessar». Sê assíduo às veladas, afasta de ti a sonolência, permanece vigilante dia e noite, sem te desencorajares.
Vou mostrar-te os modos da oração; com efeito, temos a petição, a acção de graças e o louvor; a petição, quando se pede misericórdia pelos próprios pecados; a acção de graças, quando se dá graças ao Pai que está nos céus; e o louvor, quando se O louva pelas Suas obras. Quando estiveres em perigo, apresenta a petição; quando fores provido de bens, dá graças Àquele que tos dá; e, quando estiveres de humor alegre, apresenta o louvor.
Deves apresentar as tuas orações a Deus de acordo com as circunstâncias. Ouve o que dizia o próprio David a todo o momento: «No meio da noite levanto-me para Vos louvar, por causa dos Vossos justos decretos» (Sl 118, 62). E, noutro salmo, diz: «Louvai o Senhor do alto dos céus, louvai-O nas alturas» (Sl 148, 1). E diz ainda: «Bendirei o Senhor em todo o tempo; o Seu louvor estará sempre nos meus lábios» (Sl 33, 2). Porque não deves rezar de uma só maneira, mas de acordo com as circunstâncias.
E eu, meu amigo, tenho a firme convicção de que tudo o que os homens pedem com assiduidade, Deus lho concede. Mas aquele que oferece com hipocrisia não é atendido, segundo aquilo que está escrito: aquele que oferece a oração, vire e revire a sua oferenda, para se certificar de que não encontra nela algum defeito, e ofereça-a em seguida, pois de outra maneira a sua oferenda ficará em terra (cf Mt 5, 23-24; Mc 11, 25). E que oferenda é esta, senão a oração? [...] Com efeito, de entre todas as oferendas, a oração pura é a melhor..

Santo Afraate (? – cerca 345),
monge e bispo em Ninive, perto de Mossoul, atual Iraque
Exposições, n°4 (a partir da trad. SC 349, p. 316)
Fonte: 
Evangelho Cotidiano

Assentar os alicerces sobre a rocha

Escuta-me: falo-te da fé que foi edificada sobre a rocha e do edifício que é erguido sobre a rocha. Com efeito, o homem começa por acreditar e, quando crê, ama; quando ama, espera; quando espera, é justificado; quando é justificado, atinge a completude; quando atinge a completude, atinge o seu máximo. Quando todo o seu edifício está construído, atinge a completude e a plenitude e torna-se morada e templo onde Cristo habita. [...] Eis o que diz o bem-aventurado apóstolo Paulo: «Sois templo de Deus e o Espírito de Deus habita em vós» (1Cor 3, 16; 6, 19). E Nosso Senhor diz aos Seus discípulos: «Vós estais em Mim e Eu em vós» (Jo 14, 20). [...]
Quando o edifício se torna casa de habitação, o homem começa e preocupar-se com aquilo que Aquele que nela habita lhe pede. É como numa casa onde morasse um rei ou um homem de família nobre com nome real. Nessa altura, o rei exige todas as insígnias da realeza e todo o serviço devido à sua dignidade real. Um rei não habita numa casa vazia. [...] Assim se passa também com o homem que se tornou casa de habitação para o Cristo/Messias: que ele providencie tudo o que é conveniente ter ao serviço do Messias que em si habita, tudo aquilo que Lhe agrada.
Com efeito, este homem começou por construir o seu edifício sobre a rocha, quer dizer, sobre o próprio Cristo. Sobre essa pedra se baseia a sua fé. [...] O bem-aventurado Paulo faz duas afirmações sobre isso: «Como sábio arquitecto, assentei o alicerce [...]. Mas [...] ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo» (1Cor 3, 10.11) [...] E também: «O espírito de Deus habita em vós», porque Nosso Senhor diz: «Eu e o Pai somos Um» (Jo 10, 30). Desde então, cumpre-se a palavra segundo a qual o Messias permanece nos homens que n’Ele crêem e é Ele o alicerce sobre o qual se ergue todo o edifício.

Santo Afrate (? – c. 345), monge e bispo próximo de Mossul
Exposições, n°1 «De la foi» (a partir da trad. SC 349, pp. 209ss. rev.)
Fonte: Evangelho Cotidiano

O Senhor do sábado

Por intermédio de Moisés, Seu servo, o Senhor pediu aos filhos de Israel que observassem o sábado. Disse-lhes: «Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado consagrado ao Senhor, teu Deus» (Ex 20, 9-10). [...] E avisou-os : «Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais». E até acrescentou: «O mercenário e o estrangeiro repousarão igualmente, assim como todos os animais que penam ao teu serviço» (cf. Ex 23, 12). [...] O sábado não foi imposto como uma prova, uma escolha entre a vida e a morte, entre a justiça e o pecado, como os outros preceitos pelos quais o homem pode viver ou morrer. Não: o sábado, nessa altura, foi dado ao povo tendo em vista o descanso – não apenas dos homens, como também dos animais. [...]

Agora escuta qual é o sábado que agrada a Deus. Isaías disse: «Deixem descansar os fatigados» (28, 12). E também: «Os [...] que guardaram os Meus sábados [sem os profanar] são os que escolheram o que Me
é agradável e se afeiçoaram à Minha aliança» (56, 4). [...] O sábado não traz qualquer benefício aos maus, aos assassinos, aos ladrões. Mas àqueles que optam por aquilo que agrada a Deus e guardam as suas mãos do mal, nesses, habita Deus; Ele faz deles Sua morada, segundo a Sua palavra: «Habitarei e andarei no meio deles» (Lv 26, 11-12; 2Cor 6, 16). [...] Portanto, guardemos fielmente o sábado do Senhor, quer dizer, aquilo que agrada ao Seu coração. Assim entraremos no sábado do grande repouso, no sábado do céu e da terra em que toda a criatura repousará.

Afraate (?- c. 345), monge e bispo perto de Mossul
Exposições, n°13, 1-2.13 (a partir da trad. SC 359, pp. 589ss.)
Fonte: Evangelho Cotidiano

Cria em mim, ó Deus, um coração puro (Sl 50, 12)

A pureza do coração é uma oração mais excelente do que todas as orações recitadas em voz alta, e o silêncio, conjugado com uma consciência sincera, ultrapassa a voz alta do homem que grita. Portanto agora, meu amigo, dá-me o teu coração e a tua inteligência: ouve-me falar-te da força da oração pura e vê como os nossos pais, os justos de antigamente, ganharam prestígio pela sua oração diante de Deus, e como esta se tornou para eles numa oferenda pura. 
Com efeito, foi pela oração que as oferendas foram aceites. Foi ela que fez parar o dilúvio, curou a esterilidade, fez retirar exércitos, desvendou mistérios, fendeu o mar e abriu um caminho no Jordão, reteve o sol e imobilizou a lua, exterminou os impuros e fez cair fogo, conteve o céu, permitiu sair da fossa, libertou do fogo e salvou do mar. A sua força é muitíssimo considerável, como era considerável o poder do jejum puro. [...] 
Efetivamente, foi, antes de mais, devido à pureza do coração Abel que a sua oferenda foi aceite diante de Deus, enquanto a de Caim foi rejeitada (Gn 4, 4ss.). [...] Foram os frutos do coração deste que demonstraram e testemunharam que ele estava cheio de malícia, visto que tinha matado o seu irmão. Com efeito, o que o seu pensamento tinha concebido, as suas mãos o tornaram realidade; mas a pureza do coração de Abel estava na sua oração. 

Afrates (?-c. 345), monge e bispo perto de Mossul
Demonstrações (Epístolas), n°4 (a partir da trad. SC 349, p. 292 rev.)
Fonte: 
Evangelho Cotidiano

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