11/02/2014

Declaração de Dom Marcel Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer

(como conseqüência dos acontecimentos da visita de João Paulo II à Sinagoga e ao Congresso das Religiões em Assis). 

 Roma mandou nos perguntar se tínhamos a intenção de proclamar nossa ruptura com o Vaticano por ocasião do Congresso de Assis. Parece-nos que a pergunta deveria, antes ser esta: o senhor acredita e tem a intenção de declarar que o Congresso de Assis consuma a ruptura das autoridades romanas com a Igreja Católica? Porque é precisamente isto que preocupa àqueles que ainda permanecem católicos. Com efeito, é bastante evidente que, desde o Concílio Vaticano II, o papa e os episcopados se afastam, de maneira cada vez mais nítida, de seus predecessores. Tudo aquilo que foi posto em prática pela Igreja para defender a Fé nos séculos passados, e tudo o que foi realizado pelos missionários para difundi-la, até o martírio inclusive, é considerado doravante como uma falta da qual a Igreja deveria se acusar e pedir perdão. A atitude dos onze papas que, desde 1789 até 1958, em documentos oficiais, condenaram a revolução liberal, é considerada hoje como “uma falta de compreensão do sopro cristão que inspirou a revolução.”
Donde a reviravolta completa de Roma, desde o Concílio Vaticano II, que nos faz repetir as palavras de Nosso Senhor àqueles que O vinham prender. “Haec est hora vestra et potestas tenebrarum.” Esta é a vossa hora e o poder das trevas. (Lc, 22:52-53)
Adotando a religião liberal do protestantismo e da revolução os princípios naturalistas de J.J. Rousseau, as liberdades atéias da Constituição dos Direitos do Homem, o princípio da dignidade humana já sem relação com a verdade e a dignidade moral,  as autoridades romanas voltam as costas a seus predecessores e rompem com a Igreja católica, e põem-se a serviço dos que destroem a cristandade e o Reinado Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os recentes atos de João Paulo II e dos episcopados nacionais ilustram, de ano para ano, esta mudança radical de concepção da fé, da Igreja, do sacerdócio, do mundo, da salvação pela graça. O cúmulo desta ruptura com o magistério anterior da Igreja, depois da visita à sinagoga, se realizou em Assis.
O pecado público contra a unicidade de Deus, contra o Verbo Encarnado e Sua Igreja faz-nos estremecer de horror: João Paulo II encorajando as falsas religiões a rezar a seus falsos deuses: escândalo sem medida e sem precedente. Poderíamos retomar aqui nossa declaração de 21 de novembro de 1974, que permanece mais atual que nunca.
Quanto a nós, permanecendo indefectivelmente na adesão à Igreja Católica e Romana de sempre, somos obrigados a verificar que esta religião modernista e liberal da Roma moderna e conciliar se afasta cada vez mais de nós, que professamos a Fé católica dos onze papas que condenaram esta falsa religião. A ruptura, portanto, não vem de nós, mas de Paulo VI e de João Paulo II, que rompem com seus predecessores.
Esta negação de todo o passado da Igreja por estes dois papas e pelos bispos que os imitam é uma impiedade inconcebível e uma humilhação insuportável para aqueles que continuam católicos na fidelidade a vinte séculos de profissão da mesma Fé.
Por isso, consideramos como nulo tudo o que foi inspirado por este espírito de negação: todas as Reformas pós-conciliares, e todos os atos de Roma realizados dentro desta impiedade.
Contamos com a graça de Deus e o sufrágio da Virgem Fiel, de todos os mártires, de todos os papas até o Concílio, de todos os santos e santas fundadores e fundadoras de ordens contemplativas e missionárias, para que venham em nosso auxílio na renovação da Igreja pela fidelidade integral à Tradição.
Buenos Aires, 2 de dezembro de 1986   Marcel Lefebvre, Arcebispo-Bispo emérito de Tulle;   Antônio de Castro Mayer, Bispo emérito de Campos, que concorda plenamente com a presente declaração e a faz sua.



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