26/09/2016

Conversões num dos países mais ateus do mundo


"A Religião Católica foi banida, os conventos fechados, as igrejas passaram para o culto luterano, e houve mártires, como o bispo D. Peter Jakobsson, e o reitor da catedral de Estocolmo, Knut de Vasteras que, acusados de traição, como ocorreu na Inglaterra, foram executados sem nenhum processo legal."


Plinio Maria Solimeo

A Suécia é, em nossos dias, um dos países com maior número de ateus. Numa pesquisa feita em 2010 pela Eurobarometer, somente 18% de sua população acreditavam na existência de algum ser superior. Embora 67% dos seus habitantes diziam pertencer à Igreja Luterana da Suécia, apenas 15% deles acreditavam em Jesus Cristo, 15% se diziam ateus, e outro tanto agnósticos. Essa igreja presume ser a maior denominação luterana do mundo, mas atualmente somente 2% dos seus membros participam regularmente de seu culto[i]. E veremos porque.       
Evangelizada na Idade Média, apesar de ter alguns santos de primeira grandeza como Santa Brígida e sua filha, Santa Margarida, a Religião Católica não penetrou muito profundamente no seu povo. De maneira que, quando começaram a pulular as revoltas dos vários heresiarcas protestantes no século XVI, Gustavo Eriksson Vasa, eleito rei em 1523, facilmente pôde romper com Roma, e seguir as novas idéias. Em 1593 a “Confissão de Augsburg inalterada”, ou seja, o luteranismo, tornou-se a religião oficial do Estado – o que vigorou até o ano 2000 — com severas punições a quem dela se afastasse. Ao mesmo tempo, o exercício de qualquer outra forma de culto foi estritamente proibido.
A Religião Católica foi banida, os conventos fechados, as igrejas passaram para o culto luterano, e houve mártires, como o bispo D. Peter Jakobsson, e o reitor da catedral de Estocolmo, Knut de Vasteras que, acusados de traição, como ocorreu na Inglaterra, foram executados sem nenhum processo legal. De modo que essa ruptura permanece até hoje[ii].
Por isso a maioria dos católicos no país — onde há um só bispo, 43 paróquias, e cerca de 140 mil fiéis — é de descendentes de imigrantes alemães, holandeses, poloneses e italianos.       

Sacerdotisas, “bispas” e casamento homossexual
No site Religión en Libertad, do qual emprestamos quase todos os dados para este artigo, há informações espantosas a respeito do culto luterano naquele país.
Embora tenham mantido na Escandinávia as vestes litúrgicas dos católicos, como mitras, cruz peitoral, báculos, etc., no entanto os luteranos mudaram toda a moral e a doutrina herdada do catolicismo.
Uma delas foi, por imposição do Parlamento em 1960, a ordenação de mulheres como sacerdotisas; essa igreja faz cerimônias para as uniões de casais do mesmo sexo desde 2007 e, desde 2009, celebra seus “casamentos” religiosos. Por sua vez, a “bispa” luterana de Estocolmo, capital do país, é uma lésbica militante e ativista, “casada” com outra pastora. A diocese de Upsala, uma das mais importantes do país, também é regida por uma “arcebispa”. Não sabemos sua orientação.
A Igreja Luterana da Suécia também não condena nem combate o aborto. Além disso, com a educação sexual obrigatória e sistemática nas escolas desde 1975, temos que as adolescentes suecas são as que mais abortam na Europa (22,5% de cada mil jovens entre 15 e 19 anos, segundo estimativa de 2009). O que fez com que ele, que era cerca de 30 mil em 2000, passasse para entre 30 a 38 mil em 2010[iii].
Entretanto, alguma coisa se move naquelas águas até há pouco estagnadas. Alegra nosso coração de católico saber que o Divino Espírito Santo tem suscitado nesse país tão ateu e tão refratário à verdadeira Religião, algumas conversões notáveis, como a de ministros luteranos e de comunidades inteiras de monges e freiras protestantes. É o que veremos.

Primeiro bispo católico após a pseudo-Reforma protestante
Para começar, há o exemplo do atual bispo de Estocolmo, D. Anders Arborelius [foto], luterano convertido que se tornou o primeiro cidadão sueco e o segundo escandinavo a se tornar bispo católico desde a época da pseudo-Reforma protestante no século XVI.
Nascido na Suíça, foi muito pequeno para a Suécia, e educado na religião luterana, como a maioria no país. Quando contava aproximadamente de 15 anos, conheceu as freiras Brigidinas (fundadas por Santa Brígida), que retornaram ao país no início do século XX. Estas religiosas, por sua profunda fé e espírito sobrenatural, lhe causaram profunda impressão. Desde então ele começou, como disse, “a sonhar com a Religião Católica”. Aos 18 anos chegou à conclusão de que, se existia a Verdade, esta estava na Igreja Católica.
Como conseqüência, aos 20 anos foi nela recebido, e decidiu tornar-se sacerdote. Lendo então a “História de uma Alma”, de Santa Teresinha, quis também ser carmelita. Entrou no único mosteiro de Carmelitas Descalços na Suécia, sendo enviado fazer seus estudos eclesiásticos em Bruges e em Roma. Ordenado sacerdote em 1979, dedicou-se ao múnus pastoral em seu país. Para sua alegria, sua mãe também converteu-se à fé católica.
Em novembro de 1998 foi sagrado bispo de Estocolmo. E continua até hoje dirigindo essa diocese[iv].
Dissemos que as águas começavam a se mover na Suécia. Nesse sentido, afirma D. Arborelius: “Graças a Deus, cada ano há uma centena de pessoas, entre elas alguns pastores luteranos, que se tornam partícipes da Igreja Católica. Existe um grande número de suecos que sentem-se próximos do catolicismo: lêem livros de espiritualidade católica, rezam, vão à igreja… mas não se atrevem a dar o salto” decisivo da conversão. Ele acrescenta que são sobretudo intelectuais e homens de negócios que se sentem atraídos pelo catolicismo[v].

Pastores luteranos que buscaram a verdade
Entre os pastores luteranos que ingressaram no seio da Igreja, está o Pe. Morgan Elworth, de 63 anos. Ele afirma: “Eu me tornei católico em 1999. Entendi que Jesus havia fundado só uma Igreja, queria que fôssemos um, e eu queria estar nessa Igreja que Jesus fundou. Somos cinco os ministros luteranos que passamos para o catolicismo e agora somos sacerdotes. E creio que não haverá mais. Pois a Suécia e a Dinamarca são os países mais secularizados do mundo. Os que ainda vão à Igreja luterana oficial já não crêem na moral e na doutrina básica do cristianismo. São muitos liberais”[vi],
Não é dessa opinião Lars Ekblad, recentemente convertido ao Catolicismo depois de ter sido por quase 40 anos pastor luterano: “Eu conheço muitos ministros da Igreja da Suécia que se tornaram católicos, e virão ainda muitos mais. Cada um tem seu próprio caminho”. Pois, segundo ele, “penso que qualquer um que escute a voz do Senhor e está disposto a segui-Lo, se fará católico”.
E não há compulsão para isso: “Ao largo de minha vida falei com muitos sacerdotes católicos, tanto na Suécia, como no estrangeiro. Nenhum me disse ‘deves vir conosco’; o que me diziam era: ‘escute tua consciência, e a siga’. Não houve nenhum intento de converter-me. [Pelo contrário] alguém me disse: ‘não posso prometer-te nada senão a Cruz de Cristo e o último lugar na fila’”.
À pergunta sobre a ordenação de mulheres sacerdotisas, e a presença de “bispas” na igreja luterana, ele afirma: “Assim é como se faz na Igreja da Suécia, e é um sinal de que esta igreja e outras igrejas não católicas estão dispostas a afastar-se da ordem apostólica”.
O que Lars fará no futuro? “Dei meu passo em obediência à vontade de Cristo como cheguei a entendê-la. Não tenho planos para o futuro. Espero e rezo para que use minha experiência e conhecimento à sua vontade na Igreja Católica”[vii].

Monges luteranos se convertem à fé católica
O escritor espanhol José Miguel Cejas escreveu um livro “Cálido vento do norte”, no qual traz relatos de conversões à fé católica na Escandinávia, Finlândia e Islândia. Entre elas narra duas ocorridas na Suécia, que transcrevemos aqui[viii].
Estêvão (não temos seu sobrenome) era um jovem esportista cheio de vida. Educado na religião luterana, não a levava muito a sério como quase todo mundo no país. Consequentemente, pouco pensava em Deus. Afirma ele: “Durante 18 anos não pensei demasiadamente n’Ele, pois preocupava-me sobretudo com minhas coisas. À partir da adolescência sonhava, com meus amigos e amigas, no que me apetecia: primeiro uma moto, logo um carro esporte e, mais tarde, voar…”.
Assim, um dia de 1976, aos dezoito anos, decidiu entregar-se a uma aventura diferente: voar numa asa delta enganchada em um carro, para que este, ao arrancar e correr pela pista, a elevasse ao ar. E isso seria sobre Gotemburgo, sua cidade natal, a segunda da Suécia em importância, apesar de tal iniciativa ser proibida.
Tudo ia bem, e ele se deliciava vendo Gotemburgo do alto, a 50 metros de altura. Porém, em determinado momento, percebeu que, por um defeito qualquer, a asa delta começava gradualmente a perder altura. Desesperadamente conseguiu segurar um dos cabos da asa, para fazê-la descer naturalmente. “Se tivesse demorado alguns segundos mais em reagir, confessa ele, possivelmente estaria morto”.
Com isso ele atenuou a queda, mas não a evitou de todo. O aparelho caiu pesadamente ao solo. Como conseqüência ele teve uma perna quebrada, seqüelas na coluna vertebral que duram o resto de sua vida, e vários meses de hospital.
Os parentes e amigos que o visitavam comentavam sua “boa sorte”, pois podia ter sido pior. Sua irmã Gabriela, luterana como ele, entretanto aconselhou-o a agradecer a Deus por continuar vivo.
Isso o impressionou, e o levou, durante as longas e lentas noites que permaneceu no hospital, a pensar em Deus e no sentido da vida. “Pensei então na morte que passou roçando em mim a poucos milímetros… Sem dar-me conta, comecei a falar com o Senhor, algo que não havia feito desde menino, quando então cria n’Ele, mas logo fui afastando-me d’Ele”.
Isso foi calando tão profundamente na alma de Estêvão, que numa noite, ele gritou com todas as forças: “Se existis, ó Deus, não quero voltar a viver afastado de Vós”.
“Nesse momento, conta ele, notei que Ele estava ao meu lado, comigo. Renuncio a explicar o que se passou. Não foi uma imaginação, nem uma sensação, nem certeza intelectual. Ouvi algo? Não. Vi algo? Não. Disse-me algo? Não. Simplesmente Ele estava ali. Sua presença não me inquietou: pelo contrário, proporcionou-me uma paz interior que tem guiado minha vida até então”.
Saindo do hospital, Estêvão decidiu “viver junto, e para Jesus”. Pensou então em fazer-se pastor luterano. Mas depois decidiu entrar, em 1981, numa comunidade protestante, em Jonsered. Por incrível que pareça, esta se inspirava em São Francisco de Assis. “À medida que fui conhecendo os ensinamentos de São Francisco e falando com o Pe. Rafael Sarachaga, pároco católico de Gotemburgo, me sentia cada vez mais atraído pelo catolicismo”. E de tal modo que resolveu entrar para o seio da Igreja. Seu exemplo foi contagiando os outros membros de sua comunidade que, em 1983, entraram em peso para a Igreja Católica.
Solicitaram então à Santa Sé transformar sua comunidade, agora católica, numa Ordem Terceira Regular de São Francisco. Foi o que sucedeu.
À partir de então começaram a chegar novas vocações para o convento do Irmão Estêvão. Ele lá vive até os dias de hoje[ix].

Comunidade de freiras luteranas segue o exemplo
Mas a história não pára aí. O citado autor conta em seu livro outra conversão, exatamente a da irmã de Estêvão, Gabriela, a que lhe dera o conselho de agradecer a Deus por não ter morrido no desastre.
Ela era uma moça comum, vivia com a família bastante acomodada, e só pensava nos passatempos das jovens de sua idade e condição. Isso até o acidente do irmão e sua subseqüente conversão à fé católica. Esse fato provocou em Gabriela um profundo impacto, de modo que também ela começou a perguntar-se sobre o sentido da vida.
Suas amigas não entendiam como seu irmão pudera fazer-se católico, pois na escola apresentavam essa religião como algo triste e sombrio.
Isso despertou o interesse de Gabriela em conhecer mais essa Religião que atraíra seu irmão. Começou então a ir à missa na igreja do já citado Pe. Rafael, para ver o que nela diziam. E viu que era bem diferente do que supunha. “Isso não quer dizer que o catolicismo me atraísse, diz ela, se bem que lia as obras de alguns místicos católicos que me ajudavam a estar perto de Deus”.
Depois resolveu frequentar as aulas que o já citado pároco ministrava, e começou a sentir grande admiração pelo seu esforço para ser coerente com o que dizia. Assim, isso foi “até que um dia, dei-me conta de que era católica”.
Conta ela que isso sucedeu rápida, mas não precipitada, nem aloucadamente: “Eu não decidi fazer-me católica; simplesmente me dei conta de que meu modo de pensar e de viver já era o de uma católica”. Foi então recebida na Igreja.
Como sucedeu com irmão, Gabriela sentiu que não era suficiente ser meramente católica. Precisava dar um passo a mais. O Pe. Rafael sugeriu-lhe então que fosse visitar um convento recente de monjas, em Vadstena. Ela ficou encantada. E nele entrou. E nele persevera até hoje.
A história desse convento é bastante curiosa. Ele havia sido fundado por uma jovem protestante, que desejava estimular a participação das luteranas na Igreja da Suécia. Viviam em comunidade. Por volta dos anos 50, entraram em contacto com os beneditinos de Tréveris, e perceberam que buscavam a mesma coisa. Por isso, nos anos 60 a fundadora pensou em transformar a comunidade em interconfessional. E não acharam nada melhor para isso do que estudar a regra de São Bento.
Pela mão da Providência, conheceram então o frade carmelita Anders Arborelius, de quem falamos acima, que as animou e ajudou a incorporar-se à Igreja Católica. Desse modo, em 1988, as antigas freiras luteranas se transformaram numa comunidade beneditina católica, com o convento do Sagrado Coração, em Borghamn[x].
Assim, o Divino Espírito Santo atrai para a Santa Igreja Católica as almas retas e de boa vontade em todos os quadrantes da Terra.
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Vivía sin Dios, pero una caída de 50 metros desde un ala delta le hizo pensar… hoy es franciscano


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