23/09/2016

Um cristianismo “desviado”


“Deixai toda esperança, ó vós que entrais!”

A espiritualidade do Vaticano II é uma desviação da espiritualidade cristã. Com efeito,  é completamente orientada para o homem e não, como a espiritualidade tradicional, para Deus.
A espiritualidade do Vaticano II é um “pentecostes” pelo avesso: enquanto no primeiro pentecostes o céu e o Espírito Santo se derramaram sobre a terra e sobre os apóstolos, durante o Vaticano II o céu retirou-se da terra, abandonou-a, porque o homem moderno e o clérigo modernista já tinham abandonado o Deus transcendente pelo homem “onipotente”. De fato, “Deus não abandona se primeiro não é abandonado” (Santo Agostinho, citado pelo Concílio de Trento).
Assistimos no pós-concílio a uma desviação ou desmoronamento do cristianismo, que de teocêntrico passa a ser antropocêntrico. O fim último do neo-cristianismo conciliar é a paz entre as nações, a união entre as religiões, o diálogo entre os homens, o bem-estar, a harmonia ecológica, não mais a paz entre o homem e Deus, o culto de Deus, a pregação do Evangelho a todas as nações.
As promessas do Vaticano II revelaram-se falsas e ilusórias, como as que faz Satã ou o mundo. Realmente, a partir de 1962: 1) no mundo reina a guerra; 2) o homem é explorado, não há trabalho nem aposentadoria, perdeu todo ideal, é transviado, desorientado e desesperado; 3) o Evangelho é ignorado e desprezado, os pastores envergonham-se dele ou o camuflam filantropicamente.
Hoje os pastores não sabem e não querem falar em nome de Deus, negligentes quanto às opiniões e aos falsos dogmas da modernidade. E não só isso: hoje, quem ensina a verdade corre o risco do martírio midiático, do linchamento cultural e clerical.
Quando os cristãos se deixam atrair pela moda do mundo e se curvam ante ela e as fábulas (“ad fabulas autem convertentur” 2ª Tim. 4,4) para não serem perseguidos, abandonaram a via régia da Santa Cruz, que é a única a conduzir ao céu. Entretanto, também a maior parte dos tradicionalistas o fez. Nossa época é, verdadeiramente, uma época apocalíptica e anticristã, mas há quem queira iludir-nos dizendo que tudo vai bem e que os compromissos fortalecem a Igreja….o ambiente eclesial  não compreende mais qual seja a estrada a percorrer para ir ao céu: a larga ou a estreita. E contudo, Nosso Senhor no-lo ensinou (Mt. 26, 14) e deu-nos o exemplo.
Paulo VI proclamou ao 7 de dezembro de 1965 (Discurso de encerramento do Concílio Vaticano II): “A Igreja do Concílio ocupou-se suficientemente do homem como se apresenta em nossa época. O homem todo ocupado de si mesmo, que se faz o centro de tudo e ousa ser o princípio e o fim último de todas as realidades”. Não obstante, todo o discurso é um hino e este homem que desejaria ocupar o lugar de Deus, assinala o primado da antropologia sobre a teologia, é blasfemo e luciferino. O Vaticano II não é explicável sem o influxo nele da ação preternatural de Satã e dos seus acólitos (judaísmo talmúdico, maçonaria, marxismo, freudismo, panteísmo..). Como pensar poder conciliar Deus e Lúcifer? É impossível.
Parece que à terceira tentação de Satã dirigida a Cristo: “Dar-te-ei todo o mundo se prostrado por terra me adorares” (Lc. 4, 6), o Vaticano II não respondeu como Cristo “Aparta-te, Satanás. Está escrito: Adorarás somente a Deus” (Lc. 4, 8), mas “Eis me a teus pés e aos pés do homem que despreza a Deus para ser admirado e acolhido por ti”.
O ensinamento do Vaticano II não é mais o Evangelho de Deus ao homem mas a mensagem do “homem ao homem” (assim disse Paulo VI, discurso em Belém, aos 6 de janeiro de 1964).
Mas que coisa é o homem? Para São Bernardo de Claraval o homem reduzido a sua dimensão terrena “é um sêmen fedorento, é um saco de esterco e será alimento dos vermes”, ao passo que para Paulo VI é tudo, é a nova divindade do mundo moderno que – com Cartésio, Kant e Hegel – põe o  Eu no lugar de Deus. Disse, outrossim, Paulo VI: “Honra ao homem, honra à ciência (…) honra ao homem rei da terra e hoje príncipe do céu” (Discurso por ocasião do Angelus de 7 de fevereiro de 1971). O Evangelho, ao contrário, nos diz que o “Príncipe (não do céu mas) deste mundo é Satanás” ( Jo. 12. 31; 14, 30; 31, 11).
Este é o resultado ruinoso do diálogo do Vaticano II com o mundo moderno, como o resultado do diálogo de Eva e Adão com a serpente infernal foi o pecado original. O velho axioma sobre o qual se baseia toda a espiritualidade cristã (patrística, escolástica e neo-escolástica) “Não se discute com Satã” está fora de moda: cumpre, ao contrário “aggiornarsi” e converter-se ao mundo que “está entregue ao poder do Maligno” (1 Jo. 5, 19); esquecendo-se de que “Amar o mundo significa odiar a Deus” (Tg. 4, 4).
Para o cristianismo a última esperança não morre jamais porque se funda em Deus onipotente e próvido, enquanto para Paulo VI “os povos olham para as Nações Unidas como para a última esperança de concórdia e paz” (Discurso por ocasião do Angelus de 7 de fevereiro de 1971) e por isso que em todo o mundo reina a discórdia e a guerra que ameaça tornar-se atômica e mundial (cf. Síria 2016). O Pe. Dossetti, que participou do Vaticano II como teólogo do cardeal Giacomo Lercaro, disse: “Se fracassa o Evangelho, temos a Constituição!” (Ritorno a Monte Sole. Attualitá e autenticitá di don Giuseppe Dossetti, in Conquiste del lavoro, 27 de outubro de 2012, a cura de F. Lauria). Assim, a esperança de teologal  e sobrenaturalmente cristã torna-se naturalmente e materialmente demo-cristã.
Por que Deus se incarnou? Não para estabelecer a paz entre as nações, que é uma utopia. Não para eliminar a pobreza e a doença do mundo, outra utopia. Não para dar a saúde, o bem-estar, ao homem neste mundo, mas no céu.
A crise do ambiente eclesial hoje é gravíssima, mas Jesus vencerá também esta como venceu sempre. Nós devemos fazer nossa pequena parte: oração e penitência.

Theophilus.
Si Si No No, 30 de junho de 2016. 


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