22/10/2017

O preço de uma vida

“Tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira!” - Santo Agostinho

Mais uma noite de plantão para médicos e enfermeiras de um importante hospital em Goiânia, Goiás.
Chegando a ser considerado como um dos mais importantes de Goiás e do Brasil, foi referencia durante muitos anos, hoje está praticamente fechado.
Mas em uma noite na década de noventa, uma noite chuvosa, o plantão transcorre tranquilo, sem nenhuma ocorrência grave.
Logo após o jantar da primeira turma de enfermeiras, um veículo em velocidade considerável entra da área do hospital.  Acesso ao plantão se dá livre, não há barreiras, muros, portões apenas uma área com espaço para estacionamento com uma via direta a grande porta de vidros.
O veículo logo identificado como táxi, para próximo a porta o motorista desce apressado, a camisa branca possui mancha vermelhas semelhantes a sangue, desajustada no corpo.
Bate com a palma de uma das mãos no vidro da porta, um segurança e uma enfermeira chegam e lhe pergunta, “o que houve?”
Com ar preocupado e semblante sério o taxista informa que está com uma pessoa ferida dentro do carro, vítima de acidente de trânsito próximo ao hospital.
De imediato a enfermeira pega uma maca, enquanto o segurança aciona outros socorristas, retiram o ferido do veículo e verificam que o seu estado é grave, ferimentos por partes do corpo, suspeita de traumatismo craneano pelo estado de sua cabeça, fraturas pelos membros, tanto inferiores quanto superiores.
Uma enfermeira corre até o médico plantonista e o alerta da chegada do ferido, o “doutor” pergunta: Tem plano de saúde ou dinheiro?
Não sei doutor, é um taxista que deu socorro e está com ele na portaria, responde a enfermeira.
O médico, sem nem mesmo levantar os olhos reponde: “Sem dinheiro não tem como atender, mande para o hospital de urgência, para um posto de saúde ou qualquer lugar, aqui não é lugar de caridade.”
A enfermeira ainda tentou argumentar, mas o médico respondeu mais ríspido ainda: “Sem dinheiro não tem atendimento e mande esse taxista levar o rapaz para outro lugar, tira logo ele daqui”.
Sem poder fazer nada a enfermeira fala ao taxista que não pode atender o rapaz. Todos o recolocam dentro do veículo e o condutor arranca em direção ao único hospital de urgência de Goiânia, situado a 10 longos quilômetros.
Por mais rápido que o taxista tenta, ao chegar no nosocômio é constatado o óbito do jovem.
Procuram os documentos, naquela época não haviam muitos celulares e as agendas eram escritas a mão, alguns as carregavam dentro das carteiras. Tinham algumas pequenas próprias para carteiras, outras um pouco maiores para carregar em bolsos e umas grandes de mão.
Localizaram o telefone da casa do garoto, ligaram, logo uma mãe desesperada chega, aflita angustiada. Ao receber a notícia quase não acredita, o taxista que o socorreu ainda está lá. Se apresenta, a mãe pergunta onde o senhor o socorreu.
Ao contar o local a mãe indaga, por que não o levou para o hospital ali próximo. O taxista responde que levou mais não quiseram atende-lo por não ter dinheiro. A mãe insiste, mas como não o pai dele é médico e está lá hoje de plantão.
O próprio motorista que socorreu o rapaz prontifica a levar a mãe até ao hospital em que o pai trabalha e negaram o atendimento.
Chegam, a mãe em prantos e gritando onde está o meu marido, ele aparece, saindo da sala do médico plantonista, surpreso, vai perguntando o que houve.
Mãe, entre soluções e quase inaudível pergunta, “por que não atenderam o nosso filho, onde você estava que não o viu na recepção e agora ele está morto?
Sem entender o médico chama a enfermeira que foi acioná-lo e topa com ela conversando com o taxista e pergunta “meu filho veio aqui e não me chamaram.”
“Chamei sim”, disse a enfermeira. “É o rapaz que senhor não quis atender por não ter dinheiro, esse aqui é o taxista que o trouxe e o senhor não fez questão de nem de ver”.
A mãe ouvindo tudo não acredita, ataca o marido, gritando tentando arranhá-lo. O pai, que negou o atendimento fica sem chão, se desespera, sai em correria, perde o controle.
A mãe separou do marido, o pai entrou em desiquilíbrio mental e largou a medicina, foi internado em clínicas e passou a viver sob remédios para transtornos mentais, não se sabe de seu paradeiro nem da mãe.
Roosevelt Maria de Castro

Um comentário:

  1. É o resultado da extinção da Fé Católica; e com ela eclipsou também a simples bondade natural que até os pagãos por vezes possuem. Mas a apostasia civilizacional tem colocado este mundo miserável, este mundo hediondo, bem abaixo dos pagãos que nunca conheceram a Fé Católica.
    Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa

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