"Enviai-me a vossa luz e a vossa verdade, para que me guiem ao vosso santo monte aos vossos tabernáculos"
3. Preparação
imediata: Tempo da Paixão
Expiação
do pecado por obra de Jesus
Constituído
de dois domingos que antecedem imediatamente a Páscoa, o Tempo da Paixão
delineou-se no século VII, quando se começou a dar maior relevância ao mistério
da Cruz. O segundo domingo da Paixão, ou domingo de Ramos, primeiro dia da
Semana Santa, revela o caráter quaresmal nas Orações e Leituras.
Comentário dogmático
– No
Tempo da Paixão, a Santa Igreja revive a cena do Calvário. Descrevem-se, às
vezes de maneira dramática, o ódio e as conjurações dos judeus, que procuram
matar a Jesus, o Justo e Inocente. Recorda-se a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio
Católico, efetuada na última Ceia do Senhor. Celebram-se os mistérios dolorosos
da Paixão e Morte de Jesus Cristo, que revelam o seu infinito amor por nós e o
quanto lhe custou a expiação de nossos pecados.
Ensinamento
ascético – A
Paixão de Cristo é exemplo e ensinamento. Exemplo de paciência e resignação;
ensinamento que nos leva a abraçar com amor os sofrimentos e provas da vida. As
almas generosas e fervorosas procuram, de fato, seguir a Jesus Cristo até o
sacrifício e á imolação de si mesmas. E porisso não medem esforços para
manter-se em estado de graça, observar os mandamentos de Deus e da Igreja,
cumprir os deveres do próprio estado, fugir das ocasiões perigosas, dominar a
si mesmas, mortificar as próprias as próprias inclinações desordenadas e
professar, com destemor, a própria fé, mesmo entre os incrédulos. O sacrifício
e a imolação levam à aceitação paciente e generosa das cruzes, adversidades,
contradições, preocupações, dores, angústias, transtornos, separações,
privações, calúnias, perseguições, doenças e lutos. O sacrifício e imolação
movem, além disso, a mortificações voluntárias que não impeçam o cumprimento
dos deveres e que não causem dano à saúde.
Jesus
aplica os frutos de sua imolação somente aos que a ela se associam, pois essa
divina imolação produz o seu pleno efeito quando unida à nossa oferta. Cristo,
na Cruz, sacrificou-se como Cabeça e Representante de seu Corpo Místico, que é
a sociedade dos homens que se unem a Cristo como pequenas vítimas a serem
imoladas juntamente com ele. Essa imolação conjunta constitui o sacrifício
geral oferecido por Cristo ao pai Eterno.
Nesse
Tempo da Paixão procuremos reviver, na meditação e na contemplação, todos os
momentos da vida do Salvador.
Caráter litúrgico –
A
liturgia do tempo da Paixão tem duas particularidades:
1º
- A obrigação de velar o Crucifixo e as imagens dos altares. Deriva
provavelmente do uso, comprovado já no século IX, de estender um véu diante do
presbitério, desde o início da Quaresma. Esse rito lembrava aos fiéis que ao
receber as cinzas na fronte tornavam-se penitentes e porisso não mereciam ver
as cerimônias do Santo Sacrifício. É simbolicamente um sinal de tristeza,
condigna do Tempo, e exprime o ocultamento da divindade de Cristo, que tolerou
assim ser maltratado, humilhado e perseguido pelas suas criaturas.
2º
- A supressão do salmo Iudica me, no
princípio da Missa, do Glória Patri
no fim do Lavabo e nos Responsórios de Ofício e, durante o Santo Sacrifício, no
final dos salmos. Omite-se o Iudica me
no começo da Missa, para evitar a repetição, pois é recitado várias vezes nas
Missas da primeira semana desse Tempo. A breve doxologia do Glória Patri foi prescrita para o fim
dos salmos na época em que os ofícios desse Tempo da Paixão já se achavam
compostos, e neles não foi introduzida. Segundo alguns liturgistas, porém, o
significado dessas duas supressões está no seguinte: “Diversamente do que se dá
noutras épocas do ano, no Tempo da Paixão a Santa Igreja aplica os salmos
diretamente a Cristo, pondo-os em seus lábios. É ele quem substitui a nós, pecadores,
para clamar ao Pai, com as palavras do salmista, em meio aos sofrimentos e perseguições,
expressando a própria dor e inocência, o abandono de si mesmo nas mãos do Pai.
É portanto natural que, reservando-se a Cristo salmo Iudica me, não o recite o celebrante aos pés dos altar, e que seja
suprimida a doxologia festiva do Gloria Patri,
aliás inoportuna em tempo de tristeza” (Righetti).
Justamente pelo seu caráter festivo é que essa doxologia faz sentir ainda seus ecos
na distribuição e solene procissão dos ramos, no II domingo da Paixão, em honra
a Cristo Rei.
Missal Romano Quotidiano – Latim/Português – Edições Paulinas
1959
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