Em memória de São Basso - Sou manso e humilde de coração
Ainda hoje Cristo é para nós um
Mestre cheio de doçura e de amor. [...] Vede como Ele age. Mostra-Se compassivo
para com o pecador que, no entanto, merece as Suas censuras. Aqueles que
provocam a Sua cólera deveriam ser aniquilados, mas Ele dirige aos homens
culpados palavras cheias de doçura: «Vinde a Mim, tornai-vos Meus discípulos,
porque sou manso e humilde de coração». Deus é humilde; o homem é orgulhoso. O
juiz mostra-se clemente; o malfeitor arrogante. O artesão profere palavras de
humildade; a argila discorre à maneira de um rei (cf Is 29,16; 45,9). «Vinde a
Mim, tornai-vos Meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração». Ele
não traz o chicote para castigar, mas o remédio para curar.
Pensai na Sua bondade
inexprimível. Recusareis o vosso amor ao Mestre que nunca castiga e a vossa
admiração ao juiz que defende o culpado? As Suas palavras tão simples não vos
podem deixar insensíveis: «Sou o Criador e amo a Minha obra; sou o artesão e cuido
daquele que formei» (cf Gn 2,7). Se me preocupasse somente com a Minha
dignidade, não levantaria o homem caído. Se não tratasse a sua doença incurável
com remédios adequados, ele nunca poderia recuperar a saúde. Se não o
confortasse, ele morreria. Se apenas o ameaçasse, ele pereceria. Ele jaz no
solo, mas vou aplicar nele o bálsamo da bondade (cf Lc 10,34). Compadecido,
baixo-Me para o ajudar a levantar-se. Aquele que se mantém de pé não poderá
levantar um homem caído no chão sem se inclinar para lhe estender a mão. «Vinde
a Mim, tornai-vos Meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração».
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Levantemo-nos, a exemplo dos
magos. Deixemos que o mundo se perturbe; nós, porém, corramos com alegria à
morada do Menino. Ainda que os reis ou os povos se esforcem por nos barrar o
caminho, não abrandemos o nosso fervor, afastemos todos os males que nos
ameaçam. Se não tivessem visto o Menino, os magos não teriam escapado ao perigo
que corriam por parte do rei Herodes. Antes de terem tido a felicidade de O
contemplar, eram assaltados pelo temor, estavam rodeados de perigos e
mergulhados em dificuldades; depois de O terem adorado, a calma e a segurança
instalaram-se-lhes no coração. [...]
Deixemos pois, também nós, uma
cidade em desordem, um déspota sedento de sangue, todas as riquezas deste
mundo, e vamos a Belém, a «casa do pão» espiritual. Se és pastor, vem ao
estábulo e aí verás o Menino. Se és rei, de nada te servirão as vestes faustosas
e todo o brilho da tua dignidade se não vieres. Se és um homem de ciência como
os magos, de nada te servirão os teus conhecimentos se não vieres apresentar os
teus respeitos. Se és um estrangeiro, ou um bárbaro, serás admitido na corte
deste rei. [...] Basta vires com temor e alegria, os dois sentimentos que
habitam um coração verdadeiramente cristão. [...]
Antes de vires adorar este
Menino, abandona tudo aquilo que te pesa. Se és rico, deposita o teu ouro a
Seus pés, ou seja, dá-o aos pobres. Estes estrangeiros vieram de muito longe
para contemplar este recém-nascido; como poderás [...] recusar-te a dar alguns
passos para visitar um doente ou um prisioneiro? [...] Os magos ofereceram os
seus tesouros a Jesus, e tu não tens sequer um pedaço de pão para Lhe dar? (Mt
25,35ss). Quando viram a estrela, o coração encheu-se-lhes de alegria; e tu vês
Cristo nos pobres, a quem tudo falta, e passas de lado, não te sentes
emocionado?
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Reparemos no abandono confiante
dos discípulos à providência de Deus nas maiores necessidades da vida, e o seu
desprezo por uma existência luxuosa: eram doze e só tinham cinco pães e dois
peixes. Não se importam com as coisas do corpo; consagram todo o seu zelo às
coisas da alma. E mais, não guardam as provisões para eles: deram-nas ao
Salvador assim que Ele lhas pediu. Aprendamos com este exemplo a partilhar o
que temos com aqueles que estão em necessidade, mesmo que tenhamos pouco.
Quando Jesus lhes pediu para Lhe darem os cinco pães eles não disseram: «E com
que ficaremos para mais tarde? Onde encontraremos aquilo de que precisamos para
as nossas necessidades pessoais?» Obedeceram de imediato. [...]
Tomando, pois os pães, o Senhor
partiu-os e confiou aos discípulos a honra de os distribuírem. Não queria
apenas honrá-los com esse santo serviço: queria que participassem no milagre
para serem testemunhas convictas e para não esquecerem o que se tinha passado
diante dos seus olhos. [...] Foi através deles que mandou sentar as pessoas e
distribuir o pão, para que cada um deles pudesse testemunhar o milagre que se
realizava nas suas mãos. [...]
Tudo neste acontecimento — o
lugar deserto, a terra nua, a escassez de pão e de peixe, a distribuição das
mesmas coisas a todos sem preferências, ficando cada um com tanto como o seu
vizinho —, tudo isso nos ensina a humildade, a frugalidade e a caridade
fraterna. Amar-nos uns aos outros igualmente, colocar tudo em comum entre
aqueles que servem o mesmo Deus, eis o que aqui nos ensina o Salvador.
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Sobre
o Evangelho segundo São Mateus -
O Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba
Consideremos o grande milagre que
se produziu a seguir, uma vez que ele constitui o prólogo daquilo que iria
passar-se em breve. Logo após o batismo do Salvador, não foi o antigo Paraíso
que se abriu, foi o próprio céu: «Uma vez batizado, [...] eis que se rasgaram
os céus» (Mt 3,16). Porque se terão aberto os céus quando do batismo de Jesus
Cristo? Para nos ensinar que o mesmo se passa no nosso: assim nos chama Deus à
nossa pátria celeste e nos convida a não ter mais nada em comum com a terra.
[...] E se agora não conseguimos ver os mesmos sinais, recebemos, no entanto,
as mesmas graças, das quais os sinais eram o símbolo.
Viu-se então uma pomba descer do
céu, indicando tanto a João como ao povo hebreu que Jesus era o Filho de Deus;
de resto, também a nós nos indica que no momento do nosso batismo o Espírito
Santo desce à nossa alma. E se não desce numa forma visível, é porque já não
precisamos que isso aconteça, uma vez que é suficiente a nossa fé. [...]
E porque desceu o Espírito Santo
na forma duma pomba? Porque a pomba é mansa e pura, e o Espírito é todo Ele
pureza e mansidão. Para além disso, a pomba relembra-nos um episódio do Antigo
Testamento (Gn 8,10ss.): depois de a terra ter sido submergida pelo dilúvio e
toda a humanidade ter perecido, regressou a pomba a comprovar o fim do
cataclismo, de ramo de oliva na boca, anunciando o restabelecimento da paz
sobre a terra. Ora, tudo isso constitui uma prefiguração dos tempos futuros.
[...] Depois de tudo estar perdido, surgiram a libertação e a renovação; e, assim
como tudo dantes aconteceu por um dilúvio de chuva, acontece agora por um
dilúvio de graça e misericórdia, e já não é só a um homem que a pomba convida a
sair da arca para repovoar a terra: agora ela atrai todos os homens para o céu,
e em lugar do ramo de oliva traz aos homens a dignidade de filhos de Deus.
Fonte: Evangelho Cotidiano
Fonte: Eclesia.com.br
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