Fonte: Livro "Tratado
da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem"
Transmissão: Antonio Xisto Arruda
Transmissão: Antonio Xisto Arruda
Conheço
sete espécies de falsos devotos e falsas devoções à Santíssima
Virgem:
- os devotos críticos;
- os devotos escrupulosos;
- os devotos exteriores;
- os devotos presunçosos;
- os devotos inconstantes;
- os devotos hipócritas;
- os devotos interesseiros.
1.
OS DEVOTOS CRÍTICOS
Os
devotos críticos são, em geral, sábios orgulhosos, espíritos
fortes e presumidos, que têm no fundo uma certa devoção à
Santíssima Virgem, mas que vivem criticando as práticas de devoção
que a gente simples de boa - fé e santamente a esta boa Mãe, pelo
fato de estas devoções não agradarem à sua culta fantasia. Põem
em dúvida todos milagres e histórias narrados por autores dignos de
fé, ou inseridos em crônicas de ordem religiosas, atestando as
misericórdias e o poder da Santíssima Virgem. Repugna-lhes ver
pessoas simples e humildes ajoelhadas diante de um altar ou de uma
imagem da Virgem, às vezes no recanto de uma rua, rezando a Deus;
chegam a acusá-las de idolatria, como se estivessem adorando a pedra
ou a madeira. Dizem que, de sua parte, não apreciam essas devoções
exteriores e que seu espírito não é tão fraco que vá dar fé a
tantos contos e historietas que se atribuem à Santíssima Virgem.
Quando alguém lhes repete os louvores admiráveis que os Santos
Padres dão à Santíssima Virgem, respondem que são flores de
retórica, ou exagero, que aqueles escritores eram oradores; ou dão,
então, uma explicação má daquelas palavras.
Esta
espécie de falsos devotos e orgulhosos e mundanos é muito para
temer, e eles causam um mal infinito à devoção à Santíssima
Virgem, dela afastando eficazmente o povo, sob pretexto de
destruir-lhe os abusos.
2.
OS DEVOTOS ESCRUPULOSOS
Os
Devotos escrupulosos são aqueles que receiam desonrar o Filho,
honrando a Mãe, e rebaixá-lo se a exaltarem demais. Não podem
suportar que se repitam à Santíssima Virgem aqueles louvores
justíssimos que lhe teceram os Santos Padres; não suportam sem
desgosto que a multidão ajoelhada aos pés de Maria seja maior que
ante o altar do Santíssimo Sacramento, como se fossem antagônicos,
e como se os que rezam à Santíssima Virgem não rezassem a Jesus
por meio dela. Não querem que se fale tão freqüentemente da
Santíssima Virgem, nem que se recorra tantas vezes a ela.
Algumas
frases eles as repetem a cada momento: Para que tantos terços,
tantas confrarias e devoções exteriores à Santíssima Virgem? Vai
nisso muito de ignorância! É fazer da religião uma palhaçada.
Falai-me, sim, dos que são devotos de Jesus Cristo (e eles o
nomeiam, muitas vezes sem se descobrir, digo-o entre parêntesis):
cumpre recorrer a Jesus Cristo, pois é ele o nosso único
medianeiro; é preciso pregar Jesus Cristo, isto sim que é sólido!
Em
certo sentido é verdade o que eles dizem. Mas, pela aplicação que
lhe dão, é bem perigoso e constitui uma cilada sutil do maligno,
sob o pretexto de um bem muito maior, pois nunca se há de honrar
mais a Jesus Cristo, do que honrando a Santíssima Virgem, desde que
a honra que se presta a Maria não tem outro fim que honrar mais
perfeitamente a Jesus Cristo, e que só se vai a ela como ao caminho
para atingir o termo que Jesus Cristo.
A
Santa Igreja, como o Espírito Santo, bendiz primeiro a Santíssima
Virgem e depois Jesus Cristo: "benedicta tu in mulieribus et
benedictus fructus ventris tui Iesus". Não porque a Santíssima
Virgem seja mais ou igual a Jesus Cristo: seria uma heresia
intolerável, mas porque, para mais perfeitamente bendizer Jesus
Cristo, cumpre bendizer antes a Maria. Digamos, portanto, com todos
os verdadeiros devotos de Maria, contra seus falsos e escrupulosos
devotos: Ó Maria, bendita sois vós entre todas as mulheres e
bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus!
3.
OS DEVOTOS EXTERIORES
Devotos
exteriores são as pessoas que fazem consistir toda a devoção à
Santíssima Virgem em práticas exteriores; que só tomam interesse
pela exterioridade da devoção à Santíssima Virgem, por não terem
espírito interior; recitarão às pressas uma enfiada de terços,
ouvirão, sem atenção, uma infinidade de missas, acompanharão as
procissões sem devoção, farão parte de todas as confrarias sem
emendar de vida, sem violentar suas paixões, sem imitar as virtudes
desta Virgem Santíssima. Amam apenas o que há de sensível na
devoção, sem interesse pela parte sólida. Se suas práticas não
lhes afetam a sensibilidade, acham que não há nada mais a fazer,
ficam desorientados, ou fazem tudo desordenadamente. O mundo está
cheio dessa espécie de devotos exteriores e não há gente que mais
critique as pessoas de oração que se dedicam à devoção interior
sem desprezar o exterior de modéstia, que acompanha sempre a
verdadeira devoção.
4.
OS DEVOTOS PRESUNÇOSOS
Os
devotos presunçosos são pecadores abandonados a suas paixões, ou
amantes do mundo, que sob, o belo nome de cristãos e devotos da
Santíssima Virgem, escondem ou o orgulho, ou a avareza, ou a
impureza, ou a blasfêmia, ou a maledicência, ou a injustiça, etc.;
que dormem placidamente em seus maus hábitos, sem violentar-se muito
para se corrigir, alegando que são devotos da Virgem; que prometem a
si mesmos que Deus lhes perdoará, que não serão condenados porque
recitam seu terço, jejuam aos sábados, pertencem à confraria do
santo Rosário ou do Escapulário, ou a alguma congregação; porque
trazem consigo o pequeno hábito ou a cadeiazinha da Santíssima
Virgem, etc.
Quando
alguém lhes diz que sua devoção não é mais que ilusão e uma
presunção perniciosa capaz de perdê-los, recusam-se a crer; dizem
que Deus é bom e misericordioso e que não nos criou para nos
condenar; que não há homem que não peque; que eles não hão de
morrer sem confissão; que um bom peccavi à hora da morte basta; de
mais a mais que eles são devotos da santíssima Virgem, cujo
escapulário usam; e em cuja honra dizem, todos os dias,
irrepreensivelmente e sem vaidade (isto é, com fidelidade e
humildade) sete Pai-Nosso e sete Ave-Maria; que recitam mesmo, uma
vez ou outra, o terço e o ofício da santíssima Virgem; que jejuam,
etc. Para confirmar o que dizem e mais aumentar a própria cegueira,
relembram umas histórias que leram ou ouviram, verdadeiras ou falsas
não importa, em que se afirma que pessoas mortas em pecado mortal,
sem confissão, só pelo fato de que em vida tinham feito algumas
orações ou práticas de devoção à Santíssima Virgem,
ressuscitaram para se confessar, ou sua alma permaneceu
milagrosamente no corpo até se confessarem, ou ainda, que pela
misericórdia da Santíssima Virgem, obtiveram de Deus, na hora da
morte, a contrição e perdão de seus pecados, e se salvaram. Eles
esperam, portanto, a mesma coisa.
Não
há, no cristianismo, coisa tão condenável como essa presunção
diabólica; pois será possível dizer de verdade que se ama e honra
a Santíssima Virgem, quando, pelos pecados, se fere, se traspassa,
se crucifica e ultraja impiedosamente a Jesus Cristo, seu Filho? Se
Maria considerasse uma lei salvar essa espécie de gente, ela
autorizaria um crime, ajudaria a crucificar e injuriar seu próprio
Filho. Quem o ousaria pensar?
Digo
que abusar assim da devoção a Santíssima Virgem, a mais santa e a
mais sólida depois da devoção a Nosso Senhor e ao Santíssimo
Sacramento, é cometer um horrível sacrilégio, o maior e o menos
perdoável, depois do sacrilégio duma comunhão indigna.
Confesso
que, para ser alguém verdadeiramente devoto da Santíssima Virgem,
não é absolutamente necessário ser santo ao ponto de evitar todo
pecado, conquanto seja este o ideal; mas é preciso ao menos (
note-se bem o que vou dizer):
- Em primeiro lugar, estar com a resolução sincera de evitar ao menos todo pecado mortal, que ofende tanto a Mãe como o Filho.
- Segundo, fazer violência a si mesmo para evitar o pecado.
- Terceiro, filiar-se a confrarias, rezar o terço, o santo rosário ou outras orações, jejuar aos sábados, etc.
Isto
é maravilhosamente útil à conversão de um pecador, mesmo
empedernido; e se meu leitor estiver nestas condições, como que
tenha já um pé no abismo, eu lho aconselho, contanto, porém, que
só pratique estas boas obras na intenção de, pela intercessão da
Santíssima Virgem, obter de Deus a graça da contrição e do perdão
dos pecados, e de vencer seus maus hábitos, e não para continuar
calmamente no estado de pecado, a despeito dos remorsos de
consciência, do exemplo de Jesus Cristo e dos santos, e das máximas
do Santo Evangelho.
5.
OS DEVOTOS INCONSTANTES
Devotos
inconstantes são aqueles que são devotos da Santíssima Virgem
periodicamente, por intervalos e por capricho: hoje são fervorosos,
amanhã, tíbios; agora mostram-se prontos a tudo empreender em
serviço de Maria e logo após já não parecem os mesmos. Abraçam
logo todas as devoções à Santíssima Virgem, ingressam em todas as
suas confrarias, e em pouco tempo já nem observam as regras com
fidelidade; mudam como a lua, e Maria os esmaga sob seus pés como
faz ao crescente, pois eles são volúveis e indignos de ser contados
entre os servidores desta Virgem fiel, que têm a fidelidade e a
constância por herança. Vale mais não sobrecarregar de tantas
orações e práticas de devoção, e fazer poucas com amor e
fidelidade, a despeito do mundo, do demônio e da carne.
6.
OS DEVOTOS HIPÓCRITAS
Há
também falsos devotos da Santíssima Virgem, os devotos hipócritas,
que cobrem seus pecados e maus hábitos com o manto desta Virgem
fiel, a fim de passarem aos olhos do mundo por aquilo que não são.
7.
OS DEVOTOS INTERESSEIROS
Há
ainda os devotos interesseiros, que só recorrem à Santíssima
Virgem para ganhar algum processo, para evitar algum perigo, para se
curar de alguma doença, ou em qualquer necessidade desse gênero,
sem o que a esqueceriam; uns e outros são falsos devotos que não
têm aceitação diante de Deus e de sua Mãe Santíssima.
Cuidemos,
portanto, de não pertencer ao número dos devotos críticos que em
coisa alguma crêem e de tudo criticam; dos devotos escrupulosos que
receiam ser demasiadamente devotos a Jesus Cristo; dos devotos
exteriores que fazem consistir toda a sua devoção em práticas
exteriores; dos devotos presunçosos, que, sob o pretexto de sua
falsa devoção continuam marasmados em seus pecados; dos devotos
inconstantes que, por leviandade, variam suas práticas de devoção,
ou as abandonam completamente à menor tentação; dos devotos
hipócritas que se metem em confrarias e ostentam as insígnias da
Santíssima Virgem a fim de passar por bons; e enfim, dos devotos
interesseiros, que só recorrem à Santíssima Virgem para se
livrarem dos males do corpo ou obter bens temporais.
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DA POSTAGEM: http://agnusdei.50webs.com/div330.htm
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