S. Tomás de Villanueva - Cura de um coxo - Murillo |
Fonte: Lista
"Tradição Católica"
Transmissão: Maria Alice
Transmissão: Maria Alice
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PRIMEIRA REGRA
Convém,
perante todas as coisas, amar a Deus e ao próximo e guardar sua Lei
cumprindo seus Mandamentos, porque nisto está a vida; e cessar de
pecar, determinando-se não cometer um pecado mortal, procurando se
exercitar em toda virtude, guardando seu amor de tal maneira que a só
Deus ame e nele só se empregue continuamente.
»
SEGUNDA REGRA
Remediar
a vida passada, confessando-se geralmente e esquadrinhando com grande
diligência sua consciência, satisfazendo ao Senhor com muita dor e
lágrimas, e com muita vergonha e humilhação, pensando na cegueira
passada, e tratando em sua memória a história da sua vida perdida,
e chorando e doendo-se muito dela; e para mais satisfação, tomando
alguma aspereza de jejuns, ou vigílias, ou disciplinas, ou silício
que aflija a carne e façam vingança do deleite passado; e este
exercício durará algum tempo, porque se aquele for bem feito não
cairá em outro erro. Para deixar de pecar, ajudará ao princípio a
abstinência, a solidão e clausura, silêncio, oração, ocupação,
vigília, consideração da morte e do Juízo, do Céu e do Inferno.
»
TERCEIRA REGRA
Fugir
a conversações de mundanos, que afogam o espírito e o bom desejo
da alma devota. Procurar alguma conversação de alguma pessoa
verdadeiramente espiritual, em quem more Deus, porque, como um carvão
aceso acende a outro, assim um coração aceso e inflamado em
espírito inflama a outro.
»
QUARTA REGRA
Fugir
e menosprezar todos os prazeres passados e deleites mundanos e vãos,
e procurar descobrir outros deleites interiores, muito maiores e mais
perfeitos, do espírito e do entendimento, os quais dão maior
fartura à alma e fazem parecer criancices aquestos carnais (isto faz
a contemplação profunda com oração e lição); e o mesmo digo de
todas as riquezas, faustos, honras, favores deste mundo, e procurar
muito ter o coração limpo de toda afeição temporal e desocupado
de todo amor apaixonado de criatura, porque Nosso Senhor lhe enche de
seu sagrado Espírito; porque este preciosíssimo bálsamo não cabe
em vasos sujos, nem dará Nosso Bom Senhor suas pérolas aos porcos,
pois o vedou a seus discípulos. Pelo qual cumpre em grande maneira a
toda pessoa que pretende ser espiritual ter muito grande cuidado e
diligência sobre Seu Coração e apetites e desejos e pensamentos
desordenados; porque seria sem isto por demais trabalhar.
»
QUINTA REGRA
Limpar
muito a miúdo sua consciência, de oito em oito dias, ou ao menos de
quinze em quinze, confessando e comungando com muita devoção;
porque assim se alcança a graça para perseverar e ter grande
fortaleza e firmeza no bom princípio e começo.
»
SEXTA REGRA
Ter
em casa um oratório muito devoto, que convide a estar nele, para
conversar com Deus e desocupar-se para o seguir, porque aqui se há
de fundir como em crisol, para sair com o fogo do Espírito Santo.
Aqui se alcança todo o bem. O que há de fazer no oratório é
procurar dom de lágrimas, chorando seus pecados e recogitando sua
vida passada. Tomar-se conta como vive agora, ver-se e olhar-se como
em espelho, se aproveita ou não; ordenar sua vida para diante;
pensar devotamente na Paixão e nos outros mistérios de nossa
Redenção; dar graças a Deus pelos benefícios gerais, como é a
criação do mundo e a Redenção do gênero humano, e pelos
particulares. Contemplar o engano do mundo, a brevidade da vida, a
eternidade da Glória; baixar ao Inferno, contemplando as penas dos
danificados e maus que nesta vida mal viveram; e olhar os moradores
do Céu, saudar a sua cidade e desejá-la, e conversar com estes seus
cidadãos; olhar desde ali, como desde o alto, as coisas desta vida,
os trabalhos vãos e ânsias supérfluas dos homens e os erros dos
mundanos; contemplar como em espelho sua consciência; abrir a Deus
seu coração, demonstrando-lhe seus desejos, e falar com Ele com
toda reverência e amor, e dizer suas faltas, suas misérias, suas
enfermidades e trabalhos, suas enfermidades e necessidades, seu
perigo, sua sequidão, sua tibieza, sua maldade, sua inquietude; e
pedir perdão, socorro, remédio, luz, graça, firmeza, verdade,
pureza, agradecimento, amor, espírito, sentimento e tudo o resto,
rogando-lhe por si e por todos os que tem a encargo, e pelos
afligidos, e pelo estado da Igreja, e outros semelhantes exercícios
espirituais, que são lição, meditação, oração, contemplação.
Aqui se alcança graça, pureza, grosura, devoção, dom de lágrimas,
luz, conhecimento da verdade, espírito e todas as virtudes e
riquezas espirituais; aqui faz o homem seu trabalho para que foi
criado. Esta é verdadeira vida, porque o demais que se empregue em
negócios e curiosidades do mundo, tudo o perdeu. Muito o cristão
tem de se empregar bem nisto e viver consigo e não andar desterrado
fora de si e desterrado em ocupações vãs e sem fruto, que perecem
e são danosas para a alma. Neste oratório gaste o mais tempo que
puder furtar ao mundo e à governação de sua pessoa e casa.
»
SÉTIMA REGRA
Guardar
a língua e o coração, e ter muito grande conta com seus
pensamentos e desejos e palavras, sacudindo logo do seu coração
todos os pensamentos vãos e nocivos. Ouvir muito e falar pouco e
sobre pensado. Fugir de toda murmuração e mau juízo de outro. Não
se ocupar em ler, nem contar, nem ouvir atos de outros, nem ser
curioso de saber vidas alheias.
»
OITAVA REGRA
Ter
cuidado de não perder o tempo, recordando-se sempre que deste
momento de vida depende a eternidade futura de Glória; e ter por
grande perda perder uma hora, na qual se pode ganhar tanto bem
perpétuo.
»
NONA REGRA
Procurar
de crescer em toda virtude, olhando como em espelho as virtudes dos
outros e procurando os imitar; porque nas virtudes está o alicerce
de todo bem. Ser piedoso, manso e sofrido, amoroso e caritativo com
os pobres, de boa conversação, sem prejuízo de ninguém; fazer bem
a todos e mal a ninguém, nem em juízo, nem por palavra, nem por
obra. Sofrer fraquezas alheias, não criminar os pecados, senão com
piedade rogar a Deus pelos que erram.
»
DÉCIMA REGRA
Tomar
conta de todo o dito, exortando-se e repreendendo algo, animando-se
de cada dia ser melhor e ir adiante, não esquecendo-se jamais;
porque no fazer assegura a Glória que por ela espera, e que semeia
nesta vida para colher na outra fruto sempiterno. E porque todo nosso
aproveitamento depende da graça do Senhor, sempre cumpre pedir com
instância saúde, socorro e luz para conhecer o bem, e graça para
lhe amar, e forças para lhe seguir e perseverar; porque pouco
aproveitará esta escritura se não favorece a graça do Senhor para
pôr por obra o que a letra ou escritura nos ensina.
»
SOMA
[Primeira
regra,] guardar a Lei de Deus e deixar de pecar.
Segunda,
satisfazer pelos pecados passados com dor e penitência.
Terceira,
fugir da amizade de mundanos.
Quarta,
menosprezar ao mundo e seus deleites.
Quinta,
limpar a miúdo suas consciências, confessando e comungando.
Sexta,
ter oratório do servir a Deus, conversando com ele.
Sétima,
guardar a língua e o coração.
Oitava,
não perder o tempo.
Nona,
crescer em virtude.
Décima,
tomar-se conta do que aproveita.
E
a alguns doutores, como foi Dionisio Cartujano, lhes pareceu dar este
meio e modo quotidiano aos novos, para que se guiassem ao princípio,
até que o Senhor lhes provesse de seu espírito:
- No domingo, contemplar na Ressurreição do Senhor e do gênero humano;
- Na segunda-feira, do dia do Juízo universal;
- Na terça-feira, da criação de todas as coisas e do governo e concerto delas;
- Na quarta-feira, do gozo dos bem-aventurados do Céu, o qual todos esperamos ter;
- Na quinta-feira, da brevidade desta vida;
- Na sexta-feira, da Paixão do Senhor;
- No sábado, tomar-se conta de suas boas obras ou más que fez na semana e das obras de misericórdia em que se ocupou e por sua negligência não fez.
E
exercitar em contemplar e meditar a vida de nosso Senhor Jesus
Cristo, conforme três motivos, que chamam os santos doutores via
purgativa, iluminativa e unitiva. Ponho por exemplo num passo, para
que assim se entenda de todos:
- Considera nossa alma a Nosso Redentor atado na coluna ou cravado na Cruz, e entende que por nossos pecados padece o Cordeiro inocente. Desta consideração se entristece, geme e chora, por haver ofendido a Deus, sendo causa de sua morte. Chama-se esta via purgativa, porque nela se purga de seus pecados.
- E considera o mesmo passo já dito, e conhece que por aquelas benditas chagas, açoites e cravos, é livre a alma dos açoites e tormentos do Inferno e feita hábil da Glória do Céu; dilata e ensancha seu afeto, alegrando-se e dizendo como S. Paulo: "Louvado seja Deus, que nos deu vitória por Jesus Cristo nosso Senhor". Chama-se esta via iluminativa, na qual a alma, com a luz da graça ilustrada, se emprega em dar graças a Deus por tão grandes mercês e benefícios como recebe.
- Finalmente, contemplando na Cruz do Senhor, entende um amor caritativo e grande, e, vista esta grandeza de amor com que padeceu para redimir e dar glória, é inflamada de tão grande desejo e fervor de já ver-se com seu Esposo, que nem já se recorda de pecados passados nem se detém em considerar benefícios recebidos, senão com um doce voo e suave arrebatamento diz como o profeta Davi: "Quem me dará pernas como de pomba, e voarei a meu amado Deus e descansarei?", procurando de se ajuntar e unir com Deus. Chama-se esta via unitiva, porque nela a alma faz-se uma por amor com seu esposo amado Jesus Cristo, de maneira que devemos purgar e limpar os pecados; devemos dar graças com alegria ao Senhor por tantos benefícios, de onde resulte um amor e afecto tão íntimo, que nos faça uma mesma coisa com nosso amado Jesus Cristo.
E,
resumindo-me, digo ser necessário a todo fiel cristão que nenhum
dia se lhe passe sem ter algum momento de lição e meditação e
oração; e se for possível fazer três vezes no dia será melhor;
porque a lição santa mostra o caminho do Céu, a meditação põe
em andamento, a oração o consegue. A qual se fará de manhã; e
antes que se leia, rogar a Deus de coração que nos dê seu favor
para realizar o que pedimos atenta e devotamente, e suplicar o mesmo
ao fim da lição. E lido o capítulo ou passagem que quisermos,
fazer nisso grande fundamento, pondo por obra o que na lição se nos
diz; e à uma da tarde ou ao meio-dia, outra vez, e à noite outra. E
atrás da lição será boa a meditação profunda, pensando
intimamente nas mercês recebidas de Deus na manhã; e ao meio dia,
dos males e danos de que nos há livrado; e à noite, o muito que nos
há de dar.
Os
recebidos são em três maneiras: naturais, e temporais, e gratuitos
(nos primeiros nos dá Deus nossa vida natural; nos segundos, esta
abundância temporal; nos terceiros, sua vida Divina com sua temporal
morte), que se contêm nos benefícios da criação e conservação e
regeneração. E é de saber que os bens ou dons gratuitos que de
Deus recebemos, são em duas maneiras:
- A primeira é redimindo-nos com sua morte e Paixão.
- A segunda é justificando-nos e fazendo-nos por sua graça, de servos e escravos do demónio, filhos de Deus por graça, e admitindo-nos à herança e liberdade da Glória, e fazendo-nos semelhantes a Ele por sua graça, assim como se fez Ele semelhante a nós, tomando nossa natureza, para comunicar-nos visível e familiarmente como irmão.
Ao
meio dia se medite na liberdade que de sua mão temos recebido, assim
como do mal de culpa (no que por nossos pecados temos caído e
incorrido) como da pena e tormentos que por eles merecíamos; e à
tarde, dá glorificação pelos bens que Ele nos tem prometido, os
quais serão (conforme S. Anselmo) para o corpo sete, e outros sete
para a alma. Os do corpo são formosura, ligeireza, liberdade e
fortaleza, deleites, eternidade, sanidade. Os do espirito são
sabedoria, amizade, concórdia, poderio, honra, segurança e gozo.
Item, serão os homens glorificados e melhorados em cinco lugares
mais que os anjos, que serão os cinco sentidos corporais, o qual
figurou bem Jacó na melhoria daquelas cinco coisas que melhorou a
seu filho José mais que a todos os outros seus filhos.
Junto
com a meditação se acompanha a oração, com grande humildade e
conhecimento de si e de sua ingratidão e com confiança de alcançar
o que pedes, e pedindo coisa lícita e necessária ao espirito e ao
corpo, perseverando com grande afinco, e confessando e comungando
muito a miúdo. E os que não souberem ler, procurem que lhes leia
alguém; e se isto não tiverem, considerem na divina sabedoria (que
se mostrou na criação do mundo e dos céus) e seu poder, e bondade,
e amor que lhes tem, pois tantos bens nos envia continuamente; e
considerem que mais puros e mais excelentes terão no Céu os bens
desta vida, e os males serão mais fortes e maiores aos condenados no
Inferno, tratando sempre em sua memória aquele verso do Salmo que
diz: "'converte-te, ó alma minha!, a teu descanso, pois
te fez Deus bem'; e livrou minha alma da morte e meus pés de cair,
como se dissesse: 'Torna, ó homem, teus olhos e coração a Deus,
pois nele só poderás falar teu descanso'; e não te faltará coisa
alguma criada por teu Criador". Assim que se converta a alma
a Deus, que é seu descanso, voltar-se-á o homem a Deus por
consideração e dileção; e pôr nele seus olhos é olhar,
conversar, e o abraçar com a oração, meditação e lição,
unindo-se e ajuntando-se a Deus por desejo.
LINK
DA POSTAGEM: http://agnusdei.50webs.com/div170.htm
*S. Tomás de Vilanova, bispo, +1555
Nascido
em Fuenllana em 1486, é uma das pessoas mais expressivas do século.
Ainda muito novo, foi levado à cidade de Vilanova de los Infantes,
na Espanha, onde adquiriu uma formação cultural fortíssima e
demonstrou sua bondade e caridade para com os pobres. Em 1516,
ingressou na vida religiosa adotando a ordem dos agostinhos, sendo
ordenado sacerdote dois anos depois.
Proposto pelo imperador Carlos V, tornou-se Bispo de Valência em 10 de Janeiro de 1545, seguindo os princípios e ensinamento de S. Paulo e dos bispos antigos como Agostinho, Gregório Magno e Ambrósio. Adotou também a visita pastoral às comunidades, nas quais procurava amparar principalmente recém-nascidos e crianças. Fundou no palácio episcopal um orfanato para abrigar meninas e meninos desamparados.
São Tomás realizou um belo milagre: curou um coxo, como são Pedro, e essa cena está retratada em quadro do famoso pintor Murillo. Este milagroso santo morreu em 8 de setembro de 1555. Alexandre VII o incluiu no álbum dos santos em 1º de novembro de 1658 e em sua memória lhe foi concedida a paróquia de Castel Gandolfo, que fica próximo da casa de descanso dos papas.
Proposto pelo imperador Carlos V, tornou-se Bispo de Valência em 10 de Janeiro de 1545, seguindo os princípios e ensinamento de S. Paulo e dos bispos antigos como Agostinho, Gregório Magno e Ambrósio. Adotou também a visita pastoral às comunidades, nas quais procurava amparar principalmente recém-nascidos e crianças. Fundou no palácio episcopal um orfanato para abrigar meninas e meninos desamparados.
São Tomás realizou um belo milagre: curou um coxo, como são Pedro, e essa cena está retratada em quadro do famoso pintor Murillo. Este milagroso santo morreu em 8 de setembro de 1555. Alexandre VII o incluiu no álbum dos santos em 1º de novembro de 1658 e em sua memória lhe foi concedida a paróquia de Castel Gandolfo, que fica próximo da casa de descanso dos papas.
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