14/11/2017

O ORÁCULO DOS DEUSES

“A perda da fé ao longo dos últimos 500 anos, somada ao subjetivismo liberal, produziu o retorno do paganismo, da bruxaria, das religiões satânicas no nosso mundo moderno.”


Os estudiosos dos mitos explicam que uma das características dessas criações é a crença na realidade do mito, por mais bizarro e absurdo que seja. Todos os mitos têm um fundamento religioso, e realizam-se como uma ação sagrada, o que explica a adesão intensa dos espíritos às coisas assim produzidas.
O que pensar, por exemplo, da origem das castas tibetanas? O que pensar do ovo nascido dos cinco elementos e que dará origem a 18 ovos, um dos quais desenvolve membros, depois os cinco sentidos, e transforma-se, enfim, num jovem de grande beleza? Há nessa estranha trama algo ainda mais radical: os homens vão dando crédito a essas bruxarias porque lhes foram transmitidas ao longo do tempo, por tradição oral. Não possuindo a verdadeira Revelação, apegam-se ao que lhes foi transmitido pelos ancestrais.
Todo esse mundo pagão é cheio de misturas, entre sabedorias naturais e bizarrices antinaturais. A perda da fé ao longo dos últimos 500 anos, somada ao subjetivismo liberal, produziu o retorno do paganismo, da bruxaria, das religiões satânicas no nosso mundo moderno. Também novos mitos foram criados e são transmitidos para as gerações futuras. Porém, hoje, essa transmissão não é restrita aos antepassados de um povo, globalizou-se, tornou-se universal pela ação da mídia internacional.
Os intelectuais que comandam esse mundo da informação conseguiram um feito grandioso: imprimiram nas consciências aquela mesma adesão, perenidade, constância próprias de uma religião. E o fizeram através dos jornais, televisões, dos escritores de sucesso e, claro, dos fantásticos fundadores da tecnologia da informática.
Quando eles tratam da questão do chamado “holocausto” dos judeus, por exemplo, adotam uma atitude típica de uma ação religiosa. Já não lhes interessa a verdade dos fatos, mas sim a imposição de um comportamento e de uma atitude. Como a grande maioria já não pensa de modo autônomo, os homens modernos sentem-se na obrigação de agir do modo a que foram induzidos, para agradar aos deuses. Basta um sinal e o mundo inteiro produz a unanimidade espalhafatosa que desdenha o fato histórico em favor do mito.
No caso do enterro de um ex-nazista, em Albano Laziale, próximo de Roma, em outubro passado, ficou patente esse descontrole fanático da mídia instigadora de mitologias. A realidade mostrava um homem que, sendo cidadão alemão e militar, comandou um massacre medonho há mais de 50 anos. Esse senhor foi merecidamente condenado pelo crime de guerra e viveu em prisão domiciliar. Converteu-se ao catolicismo, assim como sua mulher, batizou seus filhos e freqüentava a missa e os sacramentos regularmente, com a licença do tribunal que o condenou. Durante o seu julgamento manifestou publicamente o drama de consciência que viveu na época da guerra, e afirmou não apoiar as perseguições do regime ao qual pertenceu. E, sobretudo, apresentou-se ao santo Tribunal da Confissão, pedindo perdão a Deus pelos seus pecados.
Nada disso interessa à mídia. Dentro da concepção fatalista do mito, esse homem não pode nem mesmo ser enterrado. O próprio Vaticano proibiu a cerimônia religiosa de um homem católico que freqüentava os sacramentos. Abandonou-o aos abutres! E como a Fraternidade São Pio X, que não o conhecia até então e que não se mistura com as questões de ideologia, aceitou realizar uma cerimônia privada, discreta, e com poucos parentes e amigos, logo foi apedrejada e caluniada.
A verdade não muda. Não é a mídia quem detém autoridade para julgar se um católico pode ser enterrado ou não. Existe uma lei canônica na Igreja, e o sr. Erich Priebke, pelos seus atos de convertido, merecia a sepultura católica.
Esse é o único fato relevante nessa polêmica que, mais uma vez, lançou injusta lama na Fraternidade São Pio X. Ao aceitar fazer o ato religioso a Fraternidade não está apoiando seus crimes, ao contrário: faz o rito justamente porque o sujeito se arrependeu e foi à confissão.
Outro exemplo muito claro de mito moderno criado pela mídia é o nosso caso brasileiro do Movimento cívico militar de 1964. Ao longo de 50 anos a memória do povo brasileiro foi literalmente mudada, despojada da realidade histórica e lançada num turbilhão mitológico com todas as características de uma criação, cosmogonia religiosa e fanatizada.
De nada adianta os homens de bem levantarem dados históricos, trazerem testemunhos pessoais sobre tudo o que aconteceu, lembrarem a ação do Congresso Nacional, que votou, em sessão comum da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a moção conclamando o Exército Brasileiro a exercer seu papel histórico de salvaguarda da ordem e da paz; de nada adianta os documentos apresentados em livros, artigos, ou mesmo, hoje, em tribunais, pois a máquina estatal, qual rolo compressor, segue sua rota inexorável de achatar e trucidar qualquer lembrança da derrota do comunismo e do terrorismo no Brasil.
O mito da bondade dos terroristas e da maldade dos nossos soldados é algo tão generalizado e fanatizado que qualquer mendigo ou bêbado de botequim, após décadas de lavagem cerebral, sobe num banquinho para cuspir na tal “ditadura”. Se um técnico de futebol fala sobre a seleção campeã do mundo em 1970, cospe nos militares; se uma diretora de colégio dá uma entrevista sobre método de ensino, pisa de salto alto na jugular de algum militar.
E esse mesmo mito é capaz de criar seus semideuses. O que é um Che Guevara, senão um boneco desse Olimpo mitológico? Só assim poderia ser venerado religiosamente um homem incapaz, derrotado em todas as atividades de responsabilidade que lhe deram, cruel, movido pelo ódio, como ele mesmo declarou, e que se gloriava de ser apelidado “o sujo”. O que mais pode ser um Lula, senão outro semideus? Como tal, é levado ao topo do governo brasileiro com a única credencial de ser esperto no jogo político e blindado pelos adeptos da religião do PT.
O pior de todos os mitos modernos é aquele que instituiu religiosamente, como todo mito, a falsa religião dentro da Igreja Católica. O Concílio Vaticano II é o mais perigoso, o mais radical, o mais pernicioso mito, porque toda a sua religiosidade ataca, por sua mesma natureza, a verdadeira Religião. Não fez apenas outra coisa, criou a anti-Igreja.
Cabe aqui, pois, lembrarmos que a realidade, a verdade, as coisas como elas são, vão muitas vezes manifestar o aspecto bizarro e falso dos mitos. Com mais forte razão, a verdade Revelada por Deus na única Religião verdadeira é a prova da caduquice de ritos e crenças pagãs que, por mais antigas que sejam, por mais ligadas à cultura de algum povo, e mesmo apesar de aspectos naturais muitas vezes interessantes e verdadeiros, como aparecem em alguns folclores, apoiam-se em esquisitices e em atos de falsas religiões pagãs.
No caso do Concílio, o mito atinge em cheio a própria Revelação. Após tomarem o poder dentro da Igreja com seus elementos modernistas, com seus documentos contrários à Tradição católica, com sua reforma dos Sacramentos, que rebaixou todos os ritos católicos a atos banalizados e humanos, os criadores do mito farão a mesma lavagem cerebral que vimos em outros casos, levando a massa dos fiéis a uma nova crença, a uma nova religião, ao culto de um novo deus.
Cinqüenta anos após o Concílio, o povo das ruas já não tem laços com a prática da vida católica de outrora. O trabalho foi tão bem feito que os homens perderam a noção das coisas mínimas, das coisas simples, que antigamente se aprendiam no simples convívio de casa ou da escola.
A obra de Vaticano II provocou uma devastação. Com uma precisão digna da moderna tecnologia, por meio de métodos longamente elaborados nos laboratórios da moderna psicologia, da neurolingüística e da manipulação das consciências, criou-se um novo tipo de homem religioso, que se diz ainda católico, mas não tem ideia do que é, de fato, ser católico.
O fenômeno é conhecido e já foi descrito por grandes pensadores. É conhecido o caso dos anglicanos, por exemplo, que um dia, sem grandes solavancos ou rupturas, acordaram protestantes. Aconteceu com os católicos algo de paralelo ao massacre dos ucranianos por Stálin. O famoso pogrom estabelecido pelo fanatismo comunista ensinava que era preciso criar o terror para subjugar a população. Para isso, mataram de fome, em um ano, 10% da população da Ucrânia, ou seja, sete milhões de pessoas. Um terror semelhante foi produzido dentro da Igreja, pela ameaça de punições severas a qualquer ideia de alguém se levantar contra o movimento histórico que implantou dentro da Igreja uma nova religião. Eliminaram todo e qualquer resquício de Tradição, de modo rápido e completo.
Ainda hoje, se um padre da Igreja oficial, celebrando a missa tradicional graças ao Motu Proprio de 2007, ousar emitir alguma crítica ao Concílio Vaticano II, é logo reconduzido à sua insignificância, mudado para paróquias afastadas, privado de qualquer cargo de confiança, execrado como mau exemplo. São poucos os que ousam enfrentar o sistema mitológico de Roma. O Concílio é o Oráculo dos deuses. Ai daquele que agir contra a voz do Olimpo.
Dentro dessa realidade, assistimos, hoje, às ações do Papa Francisco à frente da Igreja. Não nos interessa, aqui, relatar mais exemplos de escândalos, de palavras contrárias à doutrina e à prática da Igreja. Não é nosso interesse analisar os meses já transcorridos desde sua eleição. O que nos move a escrever sobre o papa é a evidência de que estamos em uma situação cada dia mais clara para o católico da Tradição.
Estamos assistindo a um fenômeno curioso nos ambientes “conservadores”. Os mesmos homens que aplaudiam Bento XVI, acreditando ser ele o papa da restauração, da Reforma da reforma, e que não se esqueciam de nos dirigir críticas violentas e amargas, chamando-nos de cismáticos e excomungados, hoje não sabem para onde correr. Perderam o rumo. É muito claro que não aceitam os desmandos do atual papa, lamentam e choram super flumina babylonis os tempos conservadores do outro papa ainda vivo. Muitos se levantam como paladinos da ortodoxia, e fazem críticas em seus blogs mais virulentas do que as equilibradas e constantes críticas dos fiéis ligados à Fraternidade São Pio X. Cabe, então, a pergunta: por que perderam o rumo?
A resposta mais óbvia seria a mudança de atitude de um papa para o outro. Mas é preciso compreender de modo mais profundo o que isso significa. Se esses senhores perderam o rumo ao se aposentar um papa mais conservador, então a bússola que os guiava não apontava para o verdadeiro Norte. O que eles nunca tiveram acertado é o critério de avaliação da sua ortodoxia. Apoiaram-se em Bento XVI sem perceber que não havia diferenças essenciais entre este e os que o precederam no governo da igreja de Vaticano II; como também não há diferenças fundamentais entre Bento XVI e Francisco I.
Muda o estilo, muda a capa exterior que mostrava, ontem, um homem requintado, intelectual, amante do belo e do nobre, de um lado; e hoje, o homem do povo, prático, mais banal do que simples. Mas os dois agem segundo o espírito do mesmo Concílio Vaticano II; os dois têm suas almas enraizadas no espírito do ecumenismo, do liberalismo, do democratismo.
Os dois são adeptos do mito Vaticano II, do mito do espírito de Assis, seguidores submissos dos semideuses João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, em vias de serem admitidos no Olimpo pelas falsas canonizações anunciadas.
O único critério que temos é a Fé católica. Pouco importa se um papa, em Roma, ou um bispo em sua diocese, é conservador ou liberal. Enquanto estiverem pregando a nova religião de Vaticano II, serão seguidores dos mitos dessa babilônia moderna. Pela Fé sabemos que nossa adesão incondicional ao ensinamento de um papa futuro só poderá ser aplicada no dia em que o papa voltar a falar a linguagem dos santos, a ensinar a doutrina de sempre, a castigar e coibir os erros e as práticas contrárias ao que a Igreja sempre ensinou e sempre praticou.
Não existe espaço para escrúpulos diante dessa situação de combate. Alguns se envergonharam de combater durante tanto tempo, e decretaram que Vaticano II era certo porque não poderíamos ficar tanto tempo nas catacumbas.
Outros se juntaram ao mito da falsa Roma na presunção de que poderiam converter aos modernistas, ou acreditando que haveria um movimento de retorno à Tradição. Como nos ensina Nosso Senhor nos Evangelhos: não lhes demos crédito, são cegos conduzindo a cegos.
Mons. Lefebvre dizia que, no dia em que o papa voltar a ser católico, totalmente católico, no dia em que o mito de Vaticano II, causador do maior escândalo já produzido na vida dos homens, for lançado no fundo do mar com a mó que o asno faz girar, então não haverá necessidade de acordos, de entendimentos, pois seremos reconhecidos como aqueles que, no meio da tormenta, fugiram para os montes a guerrear os inimigos da Santa Igreja. E voltaremos, como novos Macabeus, para reconstruir o Templo destruído.

2 comentários:

  1. "no dia em que o papa voltar a ser católico, totalmente católico, no dia em que o mito de Vaticano II, causador do maior escândalo já produzido na vida dos homens, for lançado no fundo do mar com a mó que o asno faz girar, então não haverá necessidade de acordos, de entendimentos, pois seremos reconhecidos como aqueles que, no meio da tormenta, fugiram para os montes a guerrear os inimigos da Santa Igreja."

    Será que Mons. Lefebvre e o autor do texto (Dom Lourenço Fleichman?) conseguem imaginar a Sede da Verdade reconhecendo seus erros, reconhecendo a superidade de um outro grupo na promoção da Fé, e pedindo desculpas por ter se equivocado durante tanto tempo? E, pior: ainda por cima condenando aqueles que resolveram cortar os laços com ela, como se dissesse: "nós estávamos errados, sim, mas vocês tinham que se manter unidos a nós, reconhecendo nossa autoridade". Essa é a Sede Infalível da Verdade? Se for, então eu não sei o que significa Infalível, nem o que significa Verdade.

    Numa coisa concordo com o autor: "O trabalho [da seita conciliar] foi tão bem feito que os homens perderam a noção das coisas mínimas". Os católicos, incluindo Mons. Lefebvre e o autor do texto, perderam a noção do que singifica ser infalível, do que significa verdade, do que significa autoridade, do que significa papa católico - será o papa católico o infalível sucessor de Pedro, ou nada mais que um simples cargo honorífico, um mero figurante, sem qualquer prerrogativa, que pode ser habitualmente questionado, desobedecido, e até insultado?

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  2. Porque é que este artigo não está assinado? Com medo das represálias dos apóstatas que comandam a FSSPX?
    Assim não vamos lá.
    Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa

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