CONCÍLIO ECUMÊNICO DE TRENTO
Sessão IV
Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Paulo III, em 08 de abril do ano do Senhor
de 1546
AS SAGRADAS ESCRITURAS
Decreto sobre as Escrituras Canônicas
O Sacrossanto, Ecumênico e Geral concílio de Trento, congregado
legitimamente no
Espírito Santo e presidido pelos três legados da Sé
Apostólica, propondo-se sempre por objetivo que exterminados os erros se
conserve na Igreja a mesma pureza do Evangelho, que prometido antes na Divina
Escritura pelos Profetas, promulgou primeiramente por suas próprias palavras,
Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor, e depois mandou que seus apóstolos
a pregassem a
toda criatura, como fonte de toda verdade que conduz à nossa
salvação, e também é uma regra de costumes, considerando que esta verdade e
disciplina estão contidas nos livros escritos e nas traduções não escritas, que
recebidas na voz do mesmo Cristo pelos apóstolos ou ainda ensinadas pelos apóstolos,
inspirados pelo Espírito Santo, chegaram de mão em mão até nós.
Seguindo o exemplo dos Padres católicos, recebe e venera com igual afeto
de piedade e reverência, todos os livros do Velho e do Novo Testamento, pois
Deus é o único autor de ambos assim como as mencionadas traduções pertencentes
à fé e aos costumes, como as que foram ditadas verbalmente por Jesus Cristo ou
pelo Espírito Santo, e conservadas perpetuamente sem interrupção pela Igreja
Católica.
Resolveu também unir a este decreto o índice dos Livros Canônicos, para
que ninguém possa duvidar quais são aqueles que são reconhecidos por este
Sagrado Concílio. São então os seguintes:
Do antigo testamento: cinco de Moisés a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio. Ainda: Josué, Juízes, Rute, os quatro dos Reis, dois do
Paralipômenos, o primeiro de Esdras, e o segundo que chamam de Neemias, o de
Tobias, Judite, Ester, Jó, Salmos de Davi com 150 salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias
com Baruc, Ezequiel, Daniel, o dos Doze Profetas menores que são: Oseias, Joel,
Amós, Abdías, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonías, Ageu, Zacarias e
Malaquias, e os dois dos Macabeus, que são o primeiro e o segundo.
Do Novo Testamento: os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João,
os Atos dos Apóstolos escritos por São Lucas Evangelista, catorze epístolas
escritas por São Paulo Apóstolo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas,
aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a
Timóteo, a Tito, a Filemon, aos Hebreus. Duas de São Pedro Apóstolo, três de
São João Apóstolo, uma de São Tiago Apóstolo, uma de São Judas Apóstolo, e o
Apocalipse do Apóstolo São João.
Se alguém então não reconhecer como sagrados e canônicos estes livros
inteiros, com todas as suas partes, como é de costume desde antigamente na
Igreja católica, e se acham na antiga versão latina chamada Vulgata, e os
depreciar de pleno conhecimento, e com deliberada vontade as mencionadas
traduções, seja excomungado.
Fiquem então todos conhecedores da ordem e método com o qual, depois de
haver estabelecido a confissão de fé, há de proceder o Sagrado concílio e de
que testemunhos e auxílios servirão principalmente para comprovar os dogmas e
restabelecer os costumes da Igreja.
Decreto sobre a Edição e Uso da Sagrada Escritura
Considerando também que deste mesmo Sacrossanto Concílio, do qual se
poderá tirar muita utilidade à Igreja de Deus, se declara que a edição da
Sagrada Escritura deverá ser autêntica entre todas as edições latinas
existentes, estabelece e declara que se tenha como tal, as exposições públicas,
debates, sermões e declarações, esta mesma antiga edição da Vulgata, aprovada
na Igreja pelo grande uso de tantos séculos, e que ninguém, por nenhum pretexto
se atreva ou presuma desprezá-la.
Decreta também com a finalidade de conter os ingênuos insolentes, que
ninguém, confiando em sua própria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada
Escritura em coisas pertencentes à fé e aos costumes que visam a propagação da
doutrina Cristã, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opiniões, contra
o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Católica, à qual é de
exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas
Letras; nem tampouco contra o unânime consentimento dos santos Padres, ainda
que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretações.
Aos medíocres, sejam declarados contraventores e castigados com as penas
estabelecidas por direito. E querendo também, como é justo, colocar um freio
nesta parte aos impressores que sem moderação alguma, e persuadidos de que lhes
é permitido a quanto se lhes queira, imprimirem sem licença dos superiores
eclesiásticos, a Sagrada Escritura, notas sobre ela, e exposições
indiferentemente de qualquer autor, omitindo muitas vezes o lugar da impressão,
ou muitas vezes falsificando, e o que é de maior conseqüência, sem nome de
autor, e além disso tais livros impressos alhures, são vendidos sem
discernimento e temerariamente, este Concílio decreta e estabelece que de ora em
diante seja impressa, com a maior compreensão possível, a Sagrada Escritura
principalmente a antiga edição da Vulgata, e que a ninguém seja lícito imprimir
nem fazer com que seja impresso livro algum de coisas sagradas ou pertencentes
à religião, sem o nome do autor da impressão, nem vende-los, nem ao menos
tê-los em sua casa, sem que primeiro sejam examinados e aprovados pela Igreja,
sob pena de excomunhão e de multa estabelecida no Canon do último Concílio de
Latrão.
Se os autores forem [do clero] Regulares, deverão além do exame e
aprovação mencionados, obter a licença de seus superiores, depois que estes
tenham revisto seus livros segundo os estatutos prescritos em suas
constituições. Aqueles que comunicam ou publicam manuscritos, sem que antes
sejam examinados e aprovados, fiquem sujeitos às mesmas penas que os
impressores. E os que os tiverem ou lerem, sejam tidos como autores, se não
declararem quem o há sido. Seja dado também por escrito a aprovação desses
livros, e que apareça essa autorização nas páginas iniciais, sejam manuscritos
ou impressos, e tudo isto, a saber, o exame e a aprovação deverá ser feita
gratuitamente, para que assim se aprove apenas o que seja digno de aprovação e
se reprove o que não a mereça.
Além disso, querendo o Sagrado Concílio reprimir a temeridade com que se
aplicam e distorcem qualquer assunto profano, as palavras e sentenças da
Sagrada Escritura podem ser utilizadas para se escrever bobagens, fábulas,
futilidades, adulações, murmúrios, superstições, ímpios e diabólicos encantos,
adivinhações, sortes, libelos de infâmia, ordena e manda estripar esta
irreverência e menosprezo, que ninguém daqui para frente se atreva a valer-se
de modo algum de palavras da Sagrada Escritura para estes e nem outros
semelhantes abusos que todas as pessoas que profanem e violem deste modo a
Palavra Divina, sejam reprimidas pelos Bispos, com as penas de direito a sua
atribuição.
Determinação da Próxima Sessão
A seguir estabelece este sacrossanto Concílio, que a próxima e futura
Sessão seja feita e celebrada na Quinta-feira depois da próxima sacratíssima
solenidade de Pentecostes.
Fonte:
http://agnusdei.50webs.com
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