Para ensinar, governar e santificar os membros de Sua Igreja, Nosso Senhor não cessa de convocar jovens rapazes a se juntar às fileiras do sacerdócio. Esse chamado de Cristo, Que disse: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi” (S. João; 15, 16), recebeu o nome de ‘vocação’, do verbo latino “vocare“, chamar. E, de fato, nenhum homem deve ousar apresentar-se para esse ofício sagrado a não ser que Deus o tenha chamado… a não ser que ele “tenha uma vocação”.
“Ninguém se apropria desta honra (do sacerdócio),” diz São Paulo, “senão somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão”. (Hebreus 5: 4)
Infelizmente, certas tendências teológicas errôneas, como o quietismo, levaram no último século a distorções enganosas da noção de vocação para o sacerdócio. Alguns autores bem-intencionados, mas equivocados, erigiram certos elementos meramente acidentais, raramente encontrados, como critério principal para o discernimento das vocações, sendo que o resultado de suas conclusões e da atitude prática resultante, sem dúvida, desencorajaram muitos jovens rapazes aptos a iniciar ou prosseguir seus estudos eclesiásticos.
Para evitar esses equívocos e as suas consequências lamentáveis, vamos examinar a verdadeira noção da vocação ao sacerdócio.
O Concílio de Trento declara: “Vocari a Deo dicuntur qui a legitimis Ecdesiae ministris vocantur“. “Diz-se que os homens chamados por Deus são aqueles chamados pelos ministros legítimos da Igreja.”
A única verdadeira vocação para o sacerdócio, a vocação, no sentido estrito, é a convocação pelo Bispo ou por seu representante para receber o sacramento da Ordem, em outras palavras, é a aceitação de um candidato ao sacerdócio pelo Bispo ou seu representante, agindo em nome de Deus. Essa verdade importante tem implicações igualmente importantes.
As repetidas proclamações solenes de papas e concílios exortam todos os Bispos a um esforço meticuloso para escolher os candidatos mais adequados para o Santo Sacerdócio. Na expectativa dessa convocação do Bispo às Ordens Sacras (a verdadeira “vocação”) o papel do candidato é preparar-se conscientemente, prosseguindo o programa de vários anos de formação intelectual e espiritual dos futuros sacerdotes que a Igreja aperfeiçoou gradualmente, especialmente após o Concílio de Trento.
Esse longo trabalho de formação para tornar um rapaz apto (idoneus) para o chamado ao sacerdócio, deve ser em todos os seus elementos a obra da graça divina, e ter como sua alma a intenção perseverante por parte do candidato para se tornar um padre, e um bom padre.
Mas como é que eu vou saber se eu deveria realizar esse extenso programa de formação, se eu deveria tentar me preparar para a convocação do Bispo que constitui a verdadeira vocação?
É nesse domínio que uma ênfase desequilibrada em elementos acidentais causou muita confusão. O desejo e a intenção do jovem rapaz de se tornar um sacerdote podem resultar de uma das seguintes causas:
1. Uma revelação privada;
2. A atração sensível do Espírito Santo, ou,
3. Uma escolha prudente feita com o auxílio da graça divina.
O erro de muitos autores de certa época, cuja influência ainda persiste, consistiu em procurar, para justificar todas as vocações, uma atração sensível do Espírito Santo, algo somente experimentado por poucos rapazes, e que, de fato, nem é levado em conta pelo Bispo ao examinar a adequação dos candidatos ao sacerdócio. A vocação não requer nenhum “sentimento” avassalador pelo qual se sinta “chamado”. Infelizmente, por várias décadas esse equívoco provavelmente afastou muitos rapazes qualificados (que não “sentiam” nada de extraordinário) do seminário e do sacerdócio.
Na verdade, a intenção de se tornar padre, na maioria das vezes, se transforma em uma decisão, tomada pelo próprio candidato, com serendidade e prudência, geralmente após uma oração, leitura, reflexão, diálogo com os pais e com um sacerdote, etc. Esta é a maneira com que o jovem costuma formular o desejo crescente dentro de si mesmo: “Acho que quero ser padre.” E finalmente: “Eu realmente quero ser padre”.
Após essa decisão, o candidato normalmente entra no seminário para iniciar a sua formação para o sacerdócio. Esses anos de formação visam prepará-lo intelectualmente e espiritualmente para o cargo exigente de sacerdote, e lhe permitirão um dia, se ele aproveitá-los e adquirir o aprendizado e a santidade necessária, humildemente solicitar do Bispo a convocação às Ordens Sacras.
“Se a decisão de entrar para o sacerdócio não é uma questão de atração sensível, mas uma decisão que eu devo tomar de forma prudente, que qualificações básicas eu deveria começar a procurar em mim?”
A Igreja exige principalmente do futuro sacerdote a aprendizagem suficiente para realizar adequadamente sua missão como pregador, professor, confessor, etc (debita scientia) e uma vida moral tão elevada quanto a sublime dignidade que ele deseja (mores congruentes). Dado que o seminário existe especificamente para desenvolver essas qualidades essenciais no candidato, vamos discuti-las mais tarde, quando tratarmos mais detalhadamente da educação do futuro sacerdote.
Em geral, o candidato deve ter ou desenvolver a força para suportar as responsabilidades múltiplas e exigentes de um padre, “responsabilidades”, acrescenta o Papa Pio XI, “que puseram medo até mesmo nos mais bravos soldados do sacerdócio cristão”.
Vamos considerar momentaneamente as qualidades fundamentais exigidas do futuro sacerdote:
1. Ele não deve ter qualquer deficiência física ou doença como a epilepsia, que tornariam difícil a celebração da Missa, a realização de outros ritos da Igreja ou deveres sacerdotais; ele também não deve ter qualquer deformidade física que o submeteriam, e seu sacerdócio, ao escárnio.
2. Além disso, pelo menos antes de receber qualquer Ordem, o candidato deve ter recebido os sacramentos do Batismo e da Confirmação.
“Eu acho que quero ser padre, e eu acho que eu seria capaz de adquirir as qualidades intelectuais e morais necessárias. O que devo fazer por enquanto?”
LEIA. Não podemos razoavelmente desejar algo que não conhecemos de verdade, e a decisão de entrar no sacerdócio deve, obviamente, ser feita com toda a seriedade possível. Primeiro, estude todos os ensinamentos básicos da Igreja sobre o sacramento da Ordem. Releia aquela parte do nosso Catecismo, leia o decreto do Concílio de Trento, e a seção relevante do Catecismo daquele Concílio. Então, faça algumas leituras sobre a vida de um sacerdote.
Você ainda pode comprar vários novos livros católicos tradicionais sobre o sacerdócio, como os de Dom Columba Marmion (Cristo, o Ideal do Padre), São José Cafasso (O Sacerdote, homem de Deus), e Santo Afonso de Ligório (Selva ou a Dignidade e os Deveres do Sacerdote), e você ainda pode obter as encíclicas papais de valor inestimável sobre o sacerdócio sem grandes dificuldades. Outros excelentes livros, como o do cardeal Manning (O Sacerdócio Eterno), podem ser descobertos em bibliotecas Católica ou sebos. Você também pode se beneficiar muito com uma leitura da vida de um santo sacerdote, como o Cura d’Ars, São João Maria Vianney.
ORE. É desnecessário dizer que ninguém deveria tomar a decisão solene de entrar no serviço de Deus, sem a orientação do próprio Deus. Seja regular em suas orações diárias e em seus esforços para vencer as tendências pecaminosas da nossa natureza decaída, e ofereça preces especiais para implorar a orientação do Espírito Santo e da intercessão da Santíssima Virgem Maria, Rainha do Clero, e do Santo Cura de Ars, e de todos os sacerdotes santos que rodeiam o trono de Deus.
CONSULTE. Fale com um fiel sacerdote católico sobre o sacerdócio. Quem poderia estar mais familiarizado com ele? Ele também será capaz de ajudá-lo a determinar se você tem as aptidões necessárias para esse alto
Retirado e traduzido de catholicapologetics.info para fsspx.com.br
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