Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

11/10/2012

Papa São Pio X - CARTA ENCÍCLICA "AD DIEM ILLUM"


CARTA ENCÍCLICA "AD DIEM ILLUM"
Papa São Pio X



Aos nossos Veneráveis Irmãos os Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e demais Ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica: Sobre o Cinqüentenário da Proclamação do Dogma da Imaculada Conceição.
Veneráveis Irmãos, Saúde e Benção Apostólica
1. O curso do tempo nos levará, dentro em poucos meses, a esse dia de inigualável alegria no qual, circundado duma coroa magnífica de cardeais e bispos, há cinqüenta anos, Nosso Predecessor Pio IX, pontífice de santa memória, por virtude da autoridade do magistério infalível declarou e proclamou ser de revelação divina que Maria foi totalmente isenta da mácula original, desde o primeiro instante de sua conceição. E não há quem ignore que todos os fiéis do universo acolheram esta proclamação com tal disposição de ânimo, com arroubos tais de júbilo e entusiasmo que jamais houve, na memória de todos os tempos, manifestação de piedade tão grandiosa e tão unânime, quer para com a augusta Mãe de Deus, quer para com o Vigário de Jesus Cristo — Hoje, Veneráveis Irmãos, muito embora à distância de meio século, não podemos nós esperar que a lembrança reavivada da Virgem Imaculada desperte em nossas almas como que um eco dessas santas alegrias e renove as demonstrações grandiosas de fé e de amor à augusta Mãe de Deus que se manifestaram nesse passado já longínquo? Um sentimento, que sempre nutrimos em Nosso coração, de piedade para com a Bem-aventurada Virgem e de profunda gratidão por seus benefícios, no-lo faz desejar ardentemente. O que, entretanto, Nos dá segurança disto é o zelo dos católicos, sempre alerta e pronto a dar novas provas de honra e de amor à Virgem excelsa. Não queremos, contudo, dissimular algo que em Nós aviva grandemente este desejo: é que se Nos afigura, segundo um pressentimento secreto de Nosso coração, que podemos esperar, em um futuro pouco distante, a realização das grandes esperanças, por certo não temerárias, que a definição solene do dogma da Imaculada Conceição de Maria despertou em Nosso predecessor Pio IX e em todo o Episcopado católico.

Benefícios dispensados por Maria à Igreja
2. Na verdade, não são poucos os que lastimam não ver realizadas essas esperanças até os nossos dias, fazendo suas essas palavras de Jeremias (8, 15): "Esperávamos a paz, e este bem não chegou; o remédio, e eis o terror!" Mas, não se devera acoimar de pouca fé homens que descuram assim de penetrar ou de considerar as obras de Deus sob o seu verdadeiro prisma? Com efeito, quem há que possa enumerar, quem há que possa computar os tesouros escondidos de graças que Deus, no decurso desse tempo, derramou em sua Igreja às preces de Maria? E, se quisermos preterir isto, que dizer do Concílio do Vaticano, de tão admirável oportunidade? que dizer da definição da infalibilidade do Pontífice, formulada tão cabalmente em oposição aos erros que em breve iriam surgir? que dizer, enfim, desse impulso de piedade, algo novo e deveras inaudito, que faz acorrerem, já desde longa data, os fiéis de todas as raças e de todos os continentes aos pés do Vigário de Cristo, para lhe render preito e veneração? E não é um admirável efeito da divina Providência o terem podido os Nossos dois predecessores, Pio IX e Leão XIII, governar santamente a Igreja, em tempos tão revoltos e em condições de duração quais não tinham sido concedidas a nenhum outro pontificado? Deve-se acrescentar que, mal Pio IX declarou de fé católica a Conceição Imaculada de Maria, na cidade de Lourdes começaram a se fazer manifestações portentosas da Virgem. Isto foi a origem, como se sabe, desses templos erguidos à honra da Imaculada Mãe de Deus, obra de grande magnificência e de trabalho ingente, onde, por intercessão da Virgem, prodígios diários subministram esplêndidos argumentos para a confusão da incredulidade dos tempos modernos. — Tantos e tão insignes benefícios concedidos por Deus, às piedosas solicitações de Maria, no espaço de cinqüenta anos que estão para terminar, não nos devem fazer acalentar a esperança "da salvação para um tempo menos distante que houvéramos crido"? Pois é como que uma lei de Providência Divina — como a experiência no-lo ensina — que das extremidades do mal à libertação não media demasiado espaço de tempo. "Este seu tempo está próximo a vir, e os seus dias não se prolongarão; porque o Senhor terá compaixão de Jacó, e reservará ainda para si alguns escolhidos de Israel" (Is. 14, 1). É, pois, com confiança ilimitada que nós esperamos poder exclamar, dentro em pouco: O Senhor despedaçou o bastão dos ímpios e a vara dos dominadores. Toda a terra está em descanso e em paz, ela se encheu de prazer e recozigo (Is; 14, 5 e 7).

Maria, o caminho mais seguro e mais fácil para Cristo
3. Mas, se o cinqüentenário do ato pontifical que declarou sem mácula a Conceição de Maria deve estimular no seio do povo cristão vivos entusiasmos, a razão disso está na necessidade que expusemos em Nossa carta encíclica precedente (DP 87), qual é a restaurar tudo em Cristo. Pois, quem é que não tenha por certo que não há caminho mais seguro e mais fácil que Maria por onde os homens possam chegar a Jesus Cristo, e alcançar, por intermédio de Cristo, essa adoção perfeita de filhos que os faz santos e imaculados na presença de Deus? Por certo, se realmente foi dito à Virgem: "Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que pelo Senhor te foram ditas" (Lc 1, 45), isto é, que conceberia e daria à luz o Filho de Deus; se, por conseguinte, ela acolheu em seu seio aquele que por natureza é a Verdade, de forma que, engendrado numa nova ordem e por um novo testemunho..., invisível em si, se fizesse visível em nossa carne (S. Leo M., Serm. 2 de Nativitate Domini, c. 2); visto que o Filho de Deus é o autor e consumador de nossa fé, é de estrita necessidade que Maria seja participante dos divinos mistérios e de algum modo sua guardiã e que também sobre ela, como o mais nobre alicerce, após Jesus Cristo, repouse a fé de todos os séculos.

O Filho sempre associado com a Mãe
4. E como poderia ser de outra forma? Não nos poderia ter Deus concedido outro meio, que não Maria, o reparador da humanidade e o fundador da fé? Mas como aprouve à eterna Providência que o Homem-Deus nos fosse dado pela Virgem e visto que esta, tendo-o concebido por virtude do divino Espírito, na realidade o carregou em seu seio, que nos resta ainda, senão receber Jesus das mãos de Maria? Por isso, sempre que nas Sagradas Escrituras se "fala da graça que nos aguarda", sempre também, ou as mais das vezes, o Salvador dos homens aparece acompanhado da sua santa Mãe. O Cordeiro dominador da terra há de vir, mas da pedra do deserto; a flor brotará, mas da raiz de Jessé. Em vendo, no futuro, Maria esmagar a cabeça da serpente, Adão estancou as lágrimas que a maldição arrancava de seu coração. Maria ocupa a mente de Noé na arca libertadora; de Abraão, impedido de imolar seu filho; de Jacó, contemplando a escada por onde subiam e desciam os anjos; de Moisés, admirando a sarça que ardia sem se consumir; de David, cantando e dançando, ao conduzir a arca de Deus; de Elias, lobrigando a nuvenzinha erguer-se do mar. E, sem Nos alongarmos demais, em Maria temos, depois de Cristo, o fim da lei, a verdade das imagens e dos oráculos.
5. Na verdade, que seja por Maria, e sobretudo por ela, que encontramos o caminho para o conhecimento do Cristo, ninguém poderá duvidar, se considerarmos, entre outras coisas, que no mundo somente ela teve com ele, sob o mesmo teto e numa familiaridade íntima de 30 anos, essas relações estreitas que são próprias da mãe e filho. Os admiráveis mistérios do nascimento e da infância de Jesus, máxime os que respeitam à sua Encarnação, princípio e fundamento de nossa fé, a quem poderiam ter sido desvendados mais amplamente que à sua Mãe? Ela guardava e considerava em seu coração os acontecimentos que vira em Belém e presenciara no templo de Jerusalém; mas, participante de seus conselhos e dos desígnios secretos de sua vontade, viveu, deve-se dizer, a vida mesma de seu Filho. Sim, jamais alguém no mundo conheceu, como ela, Jesus em seu íntimo; não há mestre melhor, nem guia mais seguro para fazer conhecer a Jesus Cristo.
6. Segue-se, como conseqüência, que jamais alguém será mais poderoso que a Virgem para unir os homens a Cristo, como já o temos insinuado. Se, com efeito, segundo a doutrina do Mestre divino, "a vida eterna consiste em que eles te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que tu enviaste" (Jo 17, 3); como por Maria chegamos ao conhecimento de Jesus Cristo, por ela também nos é mais fácil adquirir a vida, da qual Ele é o princípio e a fonte.

Maria, Mãe do Corpo Místico de Cristo
7. E agora, por pouco que consideremos quantos e quão prementes motivos levam esta Mãe Santíssima a nos dar profusamente da abundância de seus tesouros, que de incrementos não tomará nossa esperança? Não é Maria a Mãe de Deus? Portanto é Mãe nossa também. Pois deve-se estabelecer o princípio de que Jesus, Verbo feito carne, é ao mesmo tempo o Salvador do gênero humano. Em conseqüência, como Deus Homem Ele tem um corpo qual os outros homens; como Redentor de nosso gênero, um corpo espiritual ou, como sói dizer-se, místico, que outra coisa não é que a comunidade dos cristãos unidos a Ele pela fé. Embora muitos, somos um só corpo em Cristo (Rom 12, 5). A Virgem, pois, não concebeu o Filho de Deus só para que, dela recebendo a natureza humana, se tornasse homem; mas a fim de que Ele se tornasse mediante esta natureza dela recebida, o Salvador dos homens. O que explica as palavras dos anjos aos pastores: "Hoje nasceu-vos o Salvador, que é o Cristo Senhor" (Lc 2, 11). Por isso, no seio virginal de Maria, onde Jesus assumiu a carne mortal, lá mesmo Ele se agregou um corpo espiritual formado de todos os que deviam crer n’Ele. E pode-se dizer que Maria, levando Jesus em suas entranhas, levava também todos aqueles cuja vida o Salvador trazia. Todos, portanto, que, unidos a Cristo, somos, consoante as palavras do Apóstolo, "membros do seu corpo, de sua carne e de seus ossos" (Ef 5, 30), devemos crer-nos nascidos do seio da Virgem, donde um dia saímos qual um corpo unido à sua cabeça. É por isso que somos chamados, num sentido espiritual e místico, filhos de Maria, e ela é, por sua vez, nossa Mãe comum. Mãe espiritual, contudo verdadeira mãe dos membros de Jesus Cristo, quais somos nós (S. Aug., L. de S. Virginitate, c. 6). Se, pois, a bem-aventurada Virgem é ao mesmo tempo Mãe de Deus e dos homens, quem pode duvidar de que ela se desvele com todas as forças junto de seu Filho, cabeça do corpo da Igreja (Cor 1, 18), a fim de que Ele derrame sobre nós, seus membros, os dons de sua graça, notadamente aquele que nos leva a conhece-lo e nos faz viver por Ele (1 Jo, 4, 9)?

Maria, a Co-redentora dos homens
8. Mas não foi apenas para seu próprio louvor que a Virgem ministrou a matéria de sua carne ao Filho unigênito de Deus, que haveria de nascer com membros humanos (S. Beda Ven. lib. IV in Luc. XI), e que ela preparou, desta forma, uma vítima para a salvação dos homens; sua missão foi também velar por esta vítima, nutri-la e apresenta-la ao altar, no tempo estabelecido. Por isto, entre Maria e Jesus reinou perpétua sociedade de vida e sofrimentos, que nos permite aplicar a ambos estas palavras do Profeta: A minha vida vai se consumindo com a dor e os meus anos com os gemidos (Sl 30, 11). E quando chegou a hora derradeira de Jesus, vemos a Virgem "aos pés da cruz", horrorizada certamente ante a visão do espetáculo, "mas feliz porque seu Filho se oferecia como vítima pela salvação dos homens e, ademais, de tal modo partícipe de suas dores que teria preferido padecer os tormentos que cruciavam o seu Filho, tal lhe fosse dado fazer" (S. Bonav., 1 Sent., d. 48, ad Litt., dub. 4). — Em conseqüência dessa comunhão de sentimentos e de dores entre Maria e Jesus, a Virgem fez jus ao mérito de se tornar legitimamente a reparadora da humanidade decaída (Eadmeri Mon., De Excellentia Virginis Mariæ,c. IX) e, portanto, dispensadora de todos os tesouros que Jesus nos adquiriu por sua morte e por seu sangue.

Maria, a Medianeira poderosíssima
9. Não se pode dizer, sem dúvida, que a dispensação destes tesouros não seja de alçada própria e particular de Jesus Cristo, porque fruto exclusivo de sua morte e por Ele mesmo, em virtude de sua natureza, o mediador entre Deus e os homens. Contudo, em vista dessa comunhão de dores e de angústia, já mencionada, entre a Mãe e o Filho, foi concedido à Virgem o ser, junto do Filho unigênito, a medianeira poderosíssima e advogada de todo o mundo (Pio IX, Bula Ineffabilis). O manancial, pois, é Jesus Cristo: E todos nós recebemos de sua plenitude (Jo 1, 16), do qual todo o corpo coligado e unido por todas as juntas que mutuamente se auxiliam, segundo a operação da medida de cada membro, efetua o aumento do corpo de si mesmo em caridade (Ef. 4, 16). Como nota com acerto S. Bernardo, Maria é, na verdade, o aqueduto (Serm. De Temp., in Nativ. B. V., De Aquæductu, n. 4); ou então, essa parte média que tem por missão unir o corpo à cabeça e transmitir àquele os influxos e eficácias desta, o que vale dizer: o pescoço. Sim, diz S. Bernadino de Sena, ela é o pescoço de nossa Cabeça, pelo qual comunica todos os dons espirituais a seu corpo místico(S. Bern. Sen., Quadrag. de Evangelio æterno serm. X, a. III, c. 3). Torna-se, por conseguinte, evidente que não atribuímos à Mãe de Deus uma virtude geradora da graça, virtude esta que é só de Deus. Contudo, porque Maria excede a todos em santidade e em união com Cristo, e por ter sido associada por Ele à obra redentora, ela nos merece de congruo, segundo a expressão dos teólogos, o que Jesus Cristo nos mereceu de condigno, sendo ela ministra suprema da dispensação das graças. Ele (Jesus) está sentado à direita da Majestade nas alturas (Heb 1, 3). Ela, Maria, está à direita de seu Filho: O refúgio mais seguro, o mais valioso amparo de quantos se acham em perigo; nada, pois, temos a temer sob sua conduta, seus auspícios, seu patrocínio, sua égide (Pio IX, Bula Ineffabilis).
10. Estabelecidos estes princípios, e para tornarmos ao Nosso propósito, quem não reconhecerá termos afirmado com justa razão ser Maria, companheira inseparável de Jesus desde a casa de Nazaré até ao Calvário, conhecedora mais que ninguém dos segredos do seu coração, dispensadora, como de direito materno, dos tesouros de seus méritos, tornando-se, por todos esses motivos, um auxílio certíssimo e muito eficaz para se chegar ao conhecimento e ao amor de Jesus Cristo? Ah! Esses homens que, seduzidos pelos artifícios do demônio ou enganados por falsas doutrinas, julgam poder prescindir do auxílio da Virgem, nos fornecem disto em sua prova assaz peremptória. Pobres infelizes, desconhecem Maria, sob pretexto de tributar honra a Cristo! Como se pudéssemos achar o menino de outro modo que não pela Mãe!

A nossa devoção a Maria Santíssima deve ser sincera
11. Sendo assim, Veneráveis Irmãos, este é o fim que devem visar sobretudo todas as solenidades que se estão preparando por toda parte em honra à Santa e Imaculada Conceição de Maria. Em verdade, nenhuma homenagem lhe é mais grata, nenhuma mais doce que o conhecermos e amarmos verdadeiramente Jesus Cristo. Encham, portanto, as multidões os templos, celebrem-se festividades pomposas, reine júbilo público: fatores estes eminentemente próprios para reacender a fé. Mas, se a isso não se ajuntarem os sentimentos do coração, outra coisa não teremos que puro formalismo, simples aparências de piedade. À vista deste espetáculo, nos lançará em rosto esta justa recriminação: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15, 8).

A nossa devoção a Maria Santíssima deve ser eficaz
12. Enfim, para que o culto da Mãe de Deus seja de bom quilate deve ele promanar do coração; os atos exteriores não têm, aqui, nenhuma utilidade nem valor algum, se isolados dos atos da alma. Ora, esses atos têm um só escopo: que observemos plenamente o que o Filho divino de Maria nos ordena. Pois, se o amor verdadeiro é aquele que tem a virtude de unir as vontades, é de suma necessidade que possuamos com Maria esta mesma vontade de servir a Jesus Cristo Senhor Nosso. A recomendação que esta Virgem prudentíssima fez aos serventes de Caná, no-la dirige a nós:Fazei tudo o que Ele vos mandar (Jo 2, 5). Com efeito, eis a palavra de Cristo: Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mt 19, 17). — Por isso, convençam-se todos que, se sua piedade para com a bem-aventurada Virgem não os preserva de pecar ou não lhes inspira o propósito de emendar uma vida culpável, essa piedade é falsa e mentirosa, porquanto desprovida de seu efeito próprio e de seu fruto natural.
13. E, se alguém desejar uma confirmação destes fatos, ser-lhes-á fácil busca-la no dogma mesmo da Conceição Imaculada de Maria. — Pois, abstraindo da Tradição, fonte de verdade tanto quanto a Sagrada Escritura, como é que esta convicção da Conceição Imaculada da Virgem foi, em todos os tempos, tão conforme ao senso católico, que pode ser tida como incorporada e inata à alma dos fiéis? Horroriza-nos dizer desta mulher — é a sublime resposta de Dionísio Cartusiano — que, devendo um dia esmagar a cabeça da serpente, tenha sido esmagada por ela e que, sendo Mãe de Deus, haja sido filha do demônio (III Sent., d. 1). Não, a inteligência do povo cristão não podia conceber que a carne de Cristo, santa, imaculada e inocente, tivesse seu princípio nas entranhas de Maria, duma carne que um dia tivesse contraído qualquer mácula, por um instante que fosse. E qual a razão disto, senão que uma oposição infinita separa Deus do pecado? Eis aqui, na verdade, a origem desta convicção comum a todos os cristãos: Jesus Cristo, mesmo antes que, revestido da natureza humana, lavasse nossos pecados com seu sangue, teve de conceder a Maria a graça e o privilégio especial de ser preservada e isenta, desde o primeiro instante de sua conceição, de todo o contágio da mancha original. Se Deus, pois, tanto detesta o pecado, que quis fosse a futura Mãe de Seu Filho isenta não só desses labéus que se contraem pela vontade, mas, por um privilégio especial, antevendo os méritos de Jesus Cristo, também desse outro, que assinala todos os filhos de Adão, como triste sinete de sua funesta herança, quem pode duvidar seja obrigação, de todos quantos desejam conquistar, por suas homenagens, o coração de Maria, corrigir os hábitos viciosos e depravados e vencer as paixões que os incitem ao mal?
14. Todos quantos querem, além disto — e quem não deve querer? — que sua devoção para com a Virgem seja digna dela e perfeita, deve ir mais avante, isto é, tender, com todas as suas forças, à imitação de seus exemplos. — Com efeito, é uma lei divina que alcançam a beatitude eterna somente os que reproduziram em si, por uma fiel imitação, a forma da paciência e da santidade de Cristo: "Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". (Rom 8, 29). Mas geralmente tal é nossa enfermidade, que a sublimidade deste protótipo facilmente nos desencoraja. Além disso, foi uma atenção toda providencial de Deus propor-nos outro modelo tão próximo de Jesus Cristo, quanto é permitido à natureza humana e mesmo assim maravilhosamente adaptado à nossa fraqueza. Tal outro só pode ser a Mãe de Deus. Tal foi Maria, diz-nos S. Ambrósio, que sua vida só serve de lição a todos; donde ele tira a ilação mui acertada: Por isso tende presente, como pintadas em uma imagem, a virgindade e a vida da bem-aventurada Virgem, que reflete, qual espelho, o brilho da pureza e a própria forma da virtude (De Virginib., lib. II, c. II).

Devemos imitar todas as virtudes, especialmente a fé, a esperança e a caridade
15. Ora, se convém a filhos desta Mãe Santíssima não deixar de imitar nenhuma destas virtudes, desejamos, porém, que os fiéis se apliquem com preferência às principais, que são como que os nervos e as juntas da vida cristã, queremos dizer: a fé, a esperança e a caridade para com Deus e o próximo. Virtudes estas que assinalam a vida de Maria, em todas as suas circunstâncias, com um caráter fulgurante, mas que alcançaram o mais elevado grau de esplendor quando ela assistia seu Filho agonizante. — Jesus está cravado na cruz e por entre impropérios se lhe lança em rosto o ter-se feito Filho de Deus (Jo 19, 7); Maria, porém, lhe reconhece e adora a divindade, com uma constância inabalável. Morto, sepulta-O, mas não duvida um instante sequer de sua ressurreição. Quanto à virtude da caridade, que a inflama de amor a Deus, torna-a partícipe dos tormentos de Jesus Cristo, consociando-a à Paixão de seu Filho; com Ele, além disto, e como que empolgada pelo sentimento de sua própria dor, implora perdão para os carrascos, embora o ódio que os invade lance este grito: "que o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27, 25).

O dogma da Imaculada Conceição é a condenação do Naturalismo
16. Mas, para que não se afigure termo-Nos afastado do mistério da Conceição Imaculada da Virgem, móvel desta Nossa carta apostólica, que de auxílios eficazes não se nos deparam aí, em sua própria fonte, para conservar estas mesmas virtudes e traduzi-las na prática, como convém! — Na verdade, donde partem os inimigos da religião para espalhar tantos e tão graves erros que solapam a fé de um número tão elevado? Começam por negar o primeiro pecado do homem e sua subseqüente decadência. Portanto, afirmam: o pecado original e todos os males que dele decorem são meras fábulas: as origens viciadas da humanidade, inquinando, por seu turno, todo o gênero humano; em conseqüência, o mal que se introduziu entre os homens, trazendo consigo a necessidade de um redentor. Uma vez rejeitados estes fatos, facilmente se compreende que não há mais lugar nem para Cristo, nem para a Igreja, nem para a graça e nem para o quer que transcenda a natureza. Em uma palavra, solapa o divino edifício da fé em seus fundamentos. — Ora creiam os povos e professem que a Virgem Maria foi preservada de toda mancha de pecado desde o primeiro instante de sua conceição: desde logo torna-se-lhes mister admitir o pecado original, a redenção da humanidade por Jesus Cristo, o Evangelho e a Igreja, enfim a lei do sofrimento. Em virtude disto, todo racionalismoe materialismo que campeia pelo mundo é arrancado e destruído em suas raízes, cabendo à sabedoria cristã a glória de ter guardado e defendido a verdade. — Além disto, é vezo perverso e comum a todos os inimigos da fé, sobretudo em nossa época, repudiar e proclamar que se devem repudiar todo respeito e toda obediência à autoridade da Igreja, mesmo de todo poder humano, na crença de que logo lhes será mais fácil banir a fé dos corações. Aqui está a origem do anarquismo, a mais nociva e perniciosa doutrina que possa existir, tanto na ordem natural quanto sobrenatural. Ora, tal peste, fatal tanto à sociedade como ao nome cristão, baqueia ante o dogma da Imaculada Conceição de Maria, pela obrigação que lhe impõe de atribuir à Igreja um poder em face do qual tem que se curvar não só a vontade, mas também a inteligência. Pois é em virtude de uma tal submissão que o povo cristão canta este louvor da Virgem: Toda bela és, Maria, e não há em ti a mancha original(Grad. Miss. in festo Imm. Concept.). — Daí se justifica uma vez mais o que a Igreja afirma da Virgem, dizendo que "só ela extirpou todas as heresias do mundo inteiro".

A Esperança
17. Se a fé, pois, segundo as palavras do Apóstolo, outra coisa não é senão o fundamento das coisas esperadas (Heb. 11, 1), convir-se-á sem dificuldade em que da mesma forma como a Imaculada Conceição da Virgem Maria confirma nossa fé, reanima-nos também a esperança. Tanto mais que, se a Virgem este isenta do pecado original, foi porque devia ser a Mãe de Cristo. Ela foi, pois, a Mãe de Cristo a fim de que nossas almas pudessem renascer para a esperança dos bens terrenos.

A Caridade
18. E agora, para não falar aqui da caridade de Deus, quem não encontraria na contemplação da Virgem Imaculada um incitamento a guardar religiosamente aquele preceito que Jesus Cristo fez seu por excelência, a saber: que nos amemos mutuamente como Ele nos amou? — E apareceu no céu um grande sinal — é nestes termos que o apóstolo S. João nos pinta uma visão divina — uma mulher vestida do sol, que tinha a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça (Apoc. 12, 1). Ora, ninguém ignora que essa mulher prefigura a Virgem Maria, que, sem violentar sua integridade, engendrou nossa Cabeça. E o Apóstolo continua: E, estando grávida, clamava com dores de parto e sofria tormentos para dar à luz (Apo. 12, 2). Por conseguinte, S. João vislumbra a Santíssima Mãe de Deus no seio da eterna beatitude e não obstante sofrendo as dores de um misterioso parto. Qual era, porém, este parto? Por certo o nosso, pois que, retidos ainda neste degredo, carecemos de nascer para o perfeito amor de Deus e a felicidade eterna. As dores do parto nos estão a demonstrar o amor ardente com que Maria zela e trabalha, lá do céu, por suas preces incessantes, a fim de levar o número dos eleitos à sua plenitude.
19. É Nosso desejo que todos os fiéis se esforcem por adquirir esta virtude da caridade, valendo-se sobretudo para tal fim das festas que vão celebrar em honra da Conceição Imaculada de Maria. Com que furor, com que assanhamento se ataca, em nossos dias, Jesus Cristo e a religião por Ele fundada! Que perigo, pois, atual e ameaçador, de muitos se deixarem levar pelas correntes invasoras do erro e perderem a fé! Logo, quem pensar estar de pé, veja que não caia! (I Cor 10, 12). Que todos, portanto, com o patrocínio de Maria, dirijam a Deus humildes e ferventes preces, a fim de que Ele reconduza ao caminho da verdade os que tiveram a desdita de se transviarem das suas veredas. Sabemos por experiência jamais ter sido vã a prece que brotasse da caridade e que se apoiasse na intercessão de Maria. Não resta dúvida, os ataques desferidos contra a Igreja jamais se darão tréguas, pois é necessário que haja heresias, para que os aprovados entre vós sejam manifestos (I Cor 11, 19). Mas a Virgem não deixará, por sua vez, de nos dar alento em nossas provações, por mais duras que forem, e de levar avante a luta que começou desde sua conceição, de maneira que diariamente podemos repetir estas palavras: Hoje ela esmagou a cabeça da antiga serpente (Off. Imm. Conc. in II Vesp., ad Magnificat).

Conclusão
Ao terminar, Veneráveis Irmãos, esta Nossa carta, queremos testemunhar de novo a grande esperança que aninhamos em Nosso coração, de que muitos, desgraçadamente separados de Jesus Cristo, retornarão a Ele, mediante as graças extraordinárias deste jubileu, por Nós concedido sob os auspícios da Virgem Imaculada, e que no povo cristão reflorirá o amor às virtudes e o ardor à piedade. Há cinqüenta anos, quando Nosso Predecessor Pio IX declarou de fé católica a Conceição Imaculada da Bem-aventurada Mãe de Jesus Cristo, viu-se, como relembramos, uma abundância inacreditável de graças a se esparzirem sobre a terra e um incremento de esperança a levantar por toda parte um progresso notável na religião antiga dos povos. Que há, pois, que nos impeça de esperar algo ainda melhor para o porvir? Atravessamos, certamente, uma época funesta, e assiste-Nos o direito de lançar esta queixa do Profeta: Não há verdade, não há misericórdia, nem há conhecimento de Deus nesta terra. A maldição, e a mentira, e o homicídio, e o adultério inundaram tudo (Os 4, 12). Entretanto, do meio desta como que aluvião de males, as vistas contemplam, qual arco-íris celeste, a Virgem clementíssima, árbitro de paz entre Deus e os homens. Porei o meu arco nas nuvens, e ele será o sinal de aliança entre mim e a terra (Gn 9, 13). Desencadeie-se embora a tempestade, e uma noite trevosa amortalhe o céu: ninguém vacile, pois com a vista de Maria se aplacará Deus e dará o perdão. E o arco estará nas nuvens, e eu me lembrarei da aliança eterna (Gn 9, 16). "E não voltarão as águas do dilúvio a exterminar toda a carne" (Gn 9, 15). Ninguém duvida que, se pomos Nossa confiança, como convém, em Maria, máxime quando celebrarmos com piedade mais ardente sua Imaculada Conceição, ninguém duvida, dizemos Nós, que sentimos ser sempre ela essa Virgem potentíssima a "esmagar com seu pé virginal a cabeça da serpente" (Off. Imm. Conc. B. M. V.).
Como penhor dessas graças, Veneráveis Irmãos, concedemo-vos no Senhor, com toda a efusão de Nosso coração, a vós e a vossos fiéis a Benção Apostólica.

Dado em Roma, junto de S. Pedro, aos dois de fevereiro de 1904, primeiro ano de Nosso Pontificado.

09/10/2012

SEGUNDA CARTA DE SÃO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS


Autor: Atribuída a São Clemente de Roma
Tradução: Carlos Martins Nabeto
Eusébio (Hist.Eccl. III,38,4) afirma a existência de mais outra carta de São Clemente; declara, não obstante, que nenhum dos antigos padres - enquanto saiba - dela se serviu. Na tradição manuscrita, a autêntica carta clementina (1Clemente) é seguida de um texto endereçado aos coríntios. Esta (2Clemente), na verdade, não é uma carta, nem Clemente é seu autor, como o demonstram as diferenças estilísticas; constitui, ao contrário, a mais antiga homilia cristã que se conhece.
Esta valiosíssima relíquia da liturgia das comunidades eclesiais primitivas foi produzida, evidentemente, antes de 150 dC, talvez em Corinto. O pesquisador Harnack atribui a autoria a Sótero, bispo romano, pelo ano 170; já R. Harris e Streeter optam por Alexandria, como lugar de proveniência.
A homilia descreve a exímia grandeza dos benefícios de Cristo, o qual atraiu mesmo os pagãos. Em sinal de reconhecimento devemos confessar a Cristo por nossas obras, temer a Deus mais do que aos homens, desprezar o mundo, não recear sequer o martírio. A graça do batismo obriga à penitência e à pureza corporal; embora o neguem os gnósticos, ressuscitará a carne. Diversas outras exortações à penitência e à expectativa da futura glória concluem o singelo sermão. [Fonte: "Patrologia", B.Altaner/A.Stuiber, ed. Paulinas, pp. 97/98].

a. GRANDEZA DOS BENEFÍCIOS DE CRISTO
I. Devemos ter boa consideração por Cristo
Irmãos: deveríamos pensar em Jesus Cristo como Deus e Juiz dos vivos e dos mortos. Não deveríamos, ao contrário, pensar em coisas medíocres sobre a salvação pois, quando pensamos em coisas medíocres, esperamos também receber coisas medíocres. Os que escutam que estas coisas são medíocres fazem mal; e nós também fazemos mal não sabendo de onde e por quem e para onde somos chamados, e quantas coisas tem sofrido Jesus Cristo por nossa causa. Que recompensa, pois, Lhe daremos? Ou qual fruto de Seu dom poderá nos ser dado? E quanta misericórdia Lhe devemos! Eis que Ele nos concedeu a luz; nos chamou como um pai chama seus filhos; nos salvou quando estávamos morrendo... Que louvor Lhe rendemos? Ou o que foi pago de recompensa pelas coisas que temos recebido, já que éramos cegos em nosso entendimento; rendíamos culto a paus e pedras, a ouro, prata e bronze, obras humanas; e toda a nossa vida não era outra coisa que a própria morte? Assim, pois, quando estávamos envolvidos nas trevas e oprimidos em nossa visão por esse espesso nevoeiro, recobramos a vista e pusemos de lado, por Sua vontade, a nuvem que nos encobria. Ele teve misericórdia de nós! Em sua compaixão nos salvou, pois nos vira mergulhados no erro e na perdição, quando não tínhamos esperança de salvação, exceto a que vinha d'Ele! Ele nos chamou quando ainda não éramos; e do nosso não ser, quis Ele que fôssemos.

II. A Igreja: anteriormente estéril, é agora fértil
"Regozija-te, ó estéril. Prorrompe em cânticos e gritos de júbilo aquela que nunca pôde parir; porque superiores são os filhos da desamparada do que os daquela que tem marido". Aqui Ele diz: "Regozija-te, ó estéril, a que não dava à luz"; fala de nós, pois nossa Igreja era estéril antes de que lhe fossem dados filhos. Então Ele diz: "Prorrompe em cânticos e gritos de júbilo aquela que nunca pôde parir", significando que, assim como a mulher que está de parto, não devemos nos cansar de oferecer as nossas orações com simplicidade a Deus. Depois, quando diz: "Porque superiores são os filhos da desamparada do que os daquela que tem marido", diz isto porque o nosso povo parecia desamparado e abandonado por Deus, mas agora, tendo crido, passamos a ser mais do que aqueles que pareciam ter Deus. Também outro texto diz: "Não vim para chamar os justos, mas os pecadores". Isto significa que é justo salvar os que perecem, pois é verdadeiramente uma grande e maravilhosa obra confirmar e corroborar não os que estão de pé, mas aqueles que caem. Assim também Cristo quer salvar os que perecem; e salvou a muitos, vindo e chamando-nos quando ja estávamos perecendo.

b. CONFESSAR A CRISTO E TEMER A DEUS
III. A obrigação de confessar a Cristo
Vemos, pois, que Ele nos dedicou uma grande misericórdia; primeiramente, porque nós que aqui vivemos não sacrificamos aos deuses mortos, nem lhes rendemos culto, mas por meio d'Ele, chegamos a conhecer o Pai da Verdade. Que outra coisa é este conhecimento que Ele nos deu, senão o de não negar Aquele por meio de quem O reconhecemos? Sim, Ele mesmo disse: "Aquele que me confessar, Eu também o confessarei diante de meu Pai". Esta é, portanto, a nossa recompensa, se verdadeiramente confessarmos Aquele por meio de quem alcançamos a salvação. Porém, quando O confessamos? Quando fazemos o que Ele disse e não desobedecemos aos seus mandamentos, e não apenas O honramos com os nossos lábios, mas também com todo o nosso coração e toda a nossa mente. Pois bem, Ele também diz em Isaías: "Esse povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de Mim".

IV. A verdadeira confissão de Cristo
Portanto, não adianta chamá-Lo apenas de "Senhor", pois isso não nos salvará; eis que Ele disse: "Nem todo que me chama 'Senhor, Senhor' será salvo, mas aquele que opera a justiça". Assim pois, irmãs, devemos confessá-Lo em nossas obras, amando-nos uns aos outros, não cometendo adultério, não falando mal dos outros, não tendo ciúmes, mas sendo moderados, misericordiosos e bondosos. Com estas obras, e não com outras, podemos confessá-Lo. Não precisamos temer aos homens, mas a Deus. Por isso, se fizerdes estas coisas, o Senhor dirá: "Ainda que estejais junto de meu próprio seio, se não cumprirdes os meus mandamentos, Eu os arremessarei para longe e direi: 'Apartai-vos de mim, operários da iniquidade, estejam onde estiverem'."

c. DESPREZO TOTAL AO MUNDO
V. Este mundo deve ser desprezado
Portanto, irmãos, renunciemos nossa estadia neste mundo e façamos a vontade d'Aquele que nos chamou; não tenhamos medo de nos apartar deste mundo, pois o Senhor disse: "Sereis como cordeiros no meio de lobos". Porém, Pedro O contestou e disse: "O que ocorre, então, se os lobos devorarem os cordeiros?" E Jesus respondeu a Pedro: "Os cordeiros não precisam ter medo dos lobos depois de mortos. Vós também não deveis temer os que vos matam e nada mais podem fazer. Temei antes Aquele que, depois de tiverdes morrido, tem poder sobre a vossa alma e vosso corpo, para atirá-los na geena de fogo". Vós sabeis, irmãos, que a estadia desta carne neste mundo é depreciável e dura pouco; porém, a promessa de Cristo é grande e maravilhosa, a saber: o repouso do reino que vem e a vida eterna. O que podemos fazer, então, para obtê-los, senão andar em santidade e justiça, e considerar que estas coisas do mundo são estranhas para nós e não desejá-las? Pois quando desejamos estas coisas, nos desviamos do reto caminho.

VI. O mundo presente e o mundo futuro são inimigos um do outro
Porém o Senhor disse: "Ninguém pode servir a dois senhores". Se desejamos servir ao mesmo tempo a Deus e a Mamon, não teremos qualquer benefício, pois "o que ganhará um homem se obtém para si o mundo e perde a sua alma?". Pois bem: esta época e a futura são inimigas. Uma fala de adultério, contaminação, avareza e mentira; a outra se afasta destas coisas. Portanto, não podemos ser amigos das duas; temos que dizer adeus a uma e ter amizade com a outra. Consideremos que é melhor aborrecer as coisas que estão aqui, pois são depreciáveis, perecíveis, pouco duráveis e amar as coisas de lá, que são boas e imperecíveis; pois se fazemos a vontade de Cristo, teremos descanso, mas se não a fizermos, nada nos livrará do castigo eterno, por desobedecermos os seus mandamentos. E a Escritura diz também em Ezequiel: "Ainda que Noé, Jó e Daniel se levantem, não livrarão seus filhos" do cativeiro. Logo, se nem homens tão justos quanto estes podem, com seus atos de justiça, livrar seus filhos, com que confiança nós entraremos no reino de Deus se não mantivermos o nosso batismo puro e sem mancha? Ou - a menos que existam em nós obras santas e justas - quem será nosso advogado?

VII. Devemos aspirar chegar à coroa
Assim pois, irmãos, lutemos seriamente, sabendo que a luta está mui próxima, e que, ainda que muitos venham a lutar, nem todos receberão o prêmio, mas apenas os que se esforçarem em alto grau e lutado com valentia. Lutemos de modo que todos possamos receber o prêmio. Assim, corramos em linha reta, em direção à competição incorruptível. Marchemos em direção a ela em grande número e esforcemo-nos para que possamos receber também o prêmio. E se nem todos puderem receber a coroa, pelo menos tentemos nos aproximar dela o máximo possível. Lembremos que aqueles que batalham nas lides corruptíveis, quando descobertos de que lutam de forma ilegítima, primeiro são açoitados e depois eliminados e afastados da competição. Que pensais disto? Que terá sucesso aquele que luta de forma corruptível na competição da incorrupção? Eis que, com relação àqueles que não têm guardado o selo, Ele diz: "Seus vermes não morrerão e seu fogo não se apagará, e serão um exemplo para toda carne".

d. ARREPENDIMENTO E PENITÊNCIA
VIII. A necessidade do arrependimento enquanto vivermos neste mundo
Nós que estamos na terra, portanto, devemos nos arrepender, porque somos argila na mão do artesão. O oleiro modela uma vasilha e a deforma ou rompe com suas mãos, dando-lhe uma nova forma; uma vez, porém, que a tenha posto no forno aceso, não mais poderá repará-la. Assim também ocorre conosco, enquanto estamos neste mundo: arrependendo-nos de todo coração das coisas más que fizemos na carne, poderemos ser salvos pelo Senhor, em razão da oportunidade para o arrependimento. Mas, quando tivermos partido deste mundo, não poderemos mais confessar, muito menos arrepender-se. Portanto, irmãos, se fazemos a vontade do Pai, se mantemos pura a carne, se guardamos os mandamentos do Senhor, receberemos a vida eterna. Eis o que o Senhor diz no Evangelho: "Se não guardastes o que era pequeno, quem vos dará o que é grande? Pois eu vos digo: o que é fiel no pouco, é fiel também no muito". Na verdade, o que Ele quer dizer é: mantenham a carne pura e o selo sem mácula, para que possam receber a vida.

IX. Seremos julgados na carne
Que ninguém entre vós diga que esta carne não será julgada, nem que não se levantará novamente. Entendei isto: Em que fostes salvos? Em que recobrastes a vista se não nesta carne? Portanto, temos que guardar a carne como templo de Deus, pois da mesma forma que fostes chamados na carne, sereis também julgados na carne. Se Cristo, o Senhor que nos salvou, sendo primeiramente espírito, se fez carne e nela nos chamou, da mesma maneira receberemos nossa recompensa nesta carne. Assim, amemo-nos uns aos outros, para que possamos entrar no reino de Deus. Enquanto tivermos tempo para ser curados, coloquemo-nos nas mãos de Deus, o médico, dirigindo-lhe um tributo. De que tipo? Arrependimento procedente de um coração sincero, porque Ele conhece todas as coisas com antecedência e sabe o que existe no nosso coração. Portanto, dediquemos a Ele um eterno louvor, não só com os lábios mas também com o nosso coração, para que Ele possa nos acolher como filhos. Eis que o Senhor também disse: "Estes são os meus irmãos: aqueles que fazem a vontade do meu Pai".

X. O vício deve ser abandonado e a virtude seguida
Desta forma, meus irmãos, façamos a vontade do Pai que nos chamou, para que possamos viver; e continuemos na virtude, abandonando o vício como precursor dos nossos pecados, e nos afastemos da impiedade para não nos sobrevenham males. Pois se somos diligentes em fazer o bem, a paz virá a todos nós. Por esta causa é impossível ao homem alcançar a felicidade: ele é influenciado pelo temor de outros homens, preferindo o gozo deste mundo à promessa da vida vindoura. Na verdade, não sabem quão grande tormento acarreta o gozo deste [mundo] e o deleite que proporciona a promessa do [mundo] vindouro. Se fizessem essas coisas com respeito a eles mesmos, ainda seria tolerável; contudo, o que fazer é ensinar o mal a almas inocentes, não sabendo que farão jus a uma condenação em dobro: a sua e a dos que os ouviram.

f. CONFIAR EM DEUS
XI. Devemos seguir a Deus e confiar nas Suas promessas
Portanto, sirvamos a Deus com o coração puro, para sermos justos; porém, se não o Servirmos, porque não cremos na promessa de Deus, seremos desgraçados, pois a palavra da profecia diz também: "Desgraçados os indecisos, que duvidam em seu coração e dizem: 'Essas coisas temos ouvido, inclusive nos dias de nossos pais; entretanto, temos aguardado dia após dia e nada temos visto. Estúpidos! Comparem-se a árvores; a uma vinha, por exemplo: primeiro, desprendem-se as folhas, logo sai um broto, depois vem o agraz e, por fim, as uvas maduras. Do mesmo modo meu povo passou por problemas e aflições; porém, depois receberá as coisas boas". Assim, meus irmãos, não sejamos indecisos, mas soframos com paciência na esperança, para que possamos obter também a nossa recompensa. "Porque fiel é Aquele que prometeu" pagar a cada um a recompensa por suas obras. Se temos feito justiça, portanto, aos olhos de Deus, entraremos em seu reino e receberemos as promessas que nenhum "ouvido ouviu, nem nenhum olho viu, nem ainda acessou o coração do homem".

XII. Devemos olhar constantemente para o Reino de Deus
Deste modo, esperemos o reino de Deus, hora após hora, com amor e justiça, já que não sabemos qual será o dia da aparição de Deus. Eis que o mesmo Senhor, quando certa pessoa lhe perguntou quando viria o seu reino, respondeu: "Quando os dois forem um, quando o que estiver fora for como o que estiver dentro, e o varão for como a mulher, não havendo nem varão, nem mulher". Pois bem: os dois são um quando dizemos a verdade entre nós e entre dois corpos haverá apenas uma alma, sem divisão. E, ao dizer que o exterior será como o interior, quer dizer isto: o interior é a alma e o exterior é o corpo; portanto, da mesma maneira que aparece o corpo, se manifesta a alma em suas boas obras. E, ao dizer o varão como a mulher, nem varão, nem mulher, significa isto: que um irmão ao ver uma irmã não deveria pensar nela como sendo sua mulher e que uma irmã ao ver um irmão não deveria pensar nele como sendo seu homem. Se fizerdes estas coisas - diz Ele - logo vira o reino de Meu Pai.

g. DEUS E A IGREJA ESPIRITUAL
XIII. O nome de Deus não deve ser blasfemado
Assim, irmãos, arrependamo-nos imediatamente. Sejamos sóbrios para o que é bom, pois estamos cheios de loucura e maldade. Apaguemos os nossos pecados anteriores e arrependamo-nos com toda a alma, para que sejamos salvos. E não agrademos os homens, nem desejemos agradar uns aos outros somente, mas também aos que estão fora, com a nossa justiça, para que o Nome não seja blasfemado por causa de nós. Porque o Senhor disse: "Meu nome é blasfemado de todas as formas entre os gentios". E também: "Ai daquele em razão de quem seja blasfemado o meu nome!" No que é blasfemado? Quando não fazeis as coisas que desejo, pois os gentios, quando ouvem da nossa boca as palavras de Deus, se maravilham de sua formosura e grandeza; porém, quando descobrem que as nossas obras não são dignas das palavras que pregamos, imediatamente começam a blasfemar, afirmando que é um conto mentiroso e um engodo. Porque, quando ouvem que lhe falamos que Deus diz: "Qual é o vosso merecimento, se amais os que vos amam? Será vosso merecimento se amardes os vossos inimigos e aqueles que vos aborrecem", quando ouvem estas coisas, repito, ficam maravilhados de Sua soberana bondade; porém, quando percebem que não apenas não amamos quem nos aborrece, como também não amamos nem aos que nos amam, passam a nos gozar e a nos depreciar, e o Nome é blasfemado.

XIV. A Igreja espiritual
Portanto, irmãos, se fazemos a vontade de Deus, nosso Pai, pertenceremos à primeira Igreja, que é espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; porém, se não fazemos a vontade do Senhor, seremos como a Escritura, que diz: "Minha casa se transformou em covil de ladrões". Logo, prefiramos ser a Igreja da vida, para que sejamos salvos. E não creio que ignoreis que a Igreja viva "é o corpo de Cristo", porque a Escritura diz:"Deus fez o homem, varão e mulher". O varão é Cristo; a mulher é a Igreja. E os livros e os apóstolos declaram de modo inequívoco que a Igreja não apenas existe agora, pela primeira vez, como assim desde o princípio, porque era espiritual, como nosso Jesus também era espiritual; porém, foi manifestada nos últimos dias para que Ele possa nos salvar. Pois bem: sendo a Igreja espiritual, foi manifestada na carne de Cristo, com o qual nos mostrou que, se alguns de nós a guarda na carne e não a contamina, a receberá novamente no Espírito Santo, pois esta carne é a contrapartida e a cópia do espírito. Nenhum homem que tenha contaminado a cópia, pois, receberá o original como porção suja. Isto é, portanto, o que Ele quer dizer, irmãos: Guardai a carne para que possais participar do espírito. Porém, se dizemos que a carne é a Igreja e o espírito é Cristo, então o que trabalhou de forma corruptível com a carne também trabalhou de forma corruptível com a Igreja. Logo, este não participará do espírito, que é Cristo. Tão excelente é a vida e a imortalidade que esta carne pode receber como sua porção o Espírito Santo que vai unido a ela. Ninguém pode declarar ou dizer "as coisas que Senhor preparou" para os seus eleitos.

g. JUSTIFICAÇÃO E JUÍZO FINAL
XV. Quem salva e quem é salvo
Pois bem: não creio que haja dado nenhum conselho depreciado a respeito da continência; não me arrependo do que escrevi, pois quis salvar a outro e a mim, seu conselheiro. Porque é uma grande recompensa aconselhar uma alma extraviada, próxima do perecimento, para que possa ser salva. Esta é a recompensa que podemos dar a Deus, que nos criou, se o que fala e escuta, por sua vez, fala e escuta com fé e amor. Portanto, permaneçamos nas coisas que cremos, na justiça e santidade, para que possamos, com confiança, pedir a Deus que diz: "Quando ainda estás falando, eis que estou aqui contigo", porque estas palavras são a garantia de uma grande promessa, pois o Senhor diz de si mesmo que está mais disposto a dar do que pedir. Percebendo, pois, que somos participantes de uma bondade tão grande, não andemos remissos em obter tantas coisas boas, porque, assim como é grande o prazer que proporcionam estas palavras aos que as escutam, assim será também a condenação que acarretam sobre si mesmos aqueles que as desobedecem.

XVI. Preparação para o dia do julgamento
Portanto, irmãos, sendo assim que a oportunidade que temos para o arrependimento não tem sido pequena, já que tivemos tempo para ela, voltemo-nos para Deus, que nos chamou, enquanto temos Alguém para nos receber. Porque, se nos desprendermos destes gozos e vencer a nossa alma, recusando as concupiscências, seremos partícipes da misericórdia de Jesus. Sabeis que o dia do juízo vem chegando, "como um forno aceso, os poderes dos céus se dissolveram", e toda a terra se derreterá como o chumbo levado ao fogo, e então se descobrirá os segredos das obras ocultas dos homens. A esmola é coisa boa para se arrepender do pecado; o jejum é melhor que a oração, mas a esmola é melhor que estes dois. O amor cobrirá uma multidão de pecados, porém a oração feita em boa consciência livrará da morte. Bem-aventurado o homem que tiver abundância destas coisas, porque a esmola quitará o peso do pecado.

XVII. [continuação]
Arrependamo-nos, pois, de todo coração, para que nenhum de nós pereça durante o caminho, pois se recebemos um mandamento de que devemos também nos ocupar disto, afastando os homens de seus ídolos e instruí-los, como é péssimo que uma alma que conhece a Deus venha a perecer! Assim, ajudemo-nos uns aos outros, de modo que possamos guiar o débil até o alto, abraçando o que for bom, a fim de que todos possam ser salvos; e convertamo-nos e admoestamo-nos uns aos outros. E não pensemos em atentar e crer somente agora, quando estamos sendo admoestados pelos presbíteros, mas também quando partirmos para as nossas casas, recordemos os mandamentos do Senhor e não permitamos ser arrastados para outro caminho por nossos desejos mundanos. Assim mesmo, venhamos aqui com mais frequência e esforcemo-nos em progredir nos mandamentos do Senhor, para que, unânimes, possamos ser reunidos para a vida, pois o Senhor disse: "Venho para reunir todas as nações, tribos e línguas". Ao dizer isto, fala do dia da sua aparição, quando vier nos redimir, a cada segundo as suas obras. E os não crentes verão a Sua glória e o Seu poder, e cairão assombrados ao ver o reino do mundo ser entregue a Jesus; então dirão: "Ai de nós, porque Tu eras e nós não te conhecíamos e não críamos em Ti; e não obedecemos aos presbíteros quando nos falaram da nossa salvação". E "os vermes não morrerão e seu fogo não se apagará, e servirão de exemplo para toda a carne". Está dito do dia do juízo, que os homens verão aqueles que, entre vós, viveram vidas ímpias e tiveram obras falsas quanto aos mandamentos de Jesus Cristo. Porém, os justos, tendo boas obras e sofrido tormentos, bem como aborrecido os prazeres da alma, quando contemplarem aos que têm obras más e negaram a Jesus com suas palavras e atos, sendo castigados com penosos tormentos e um fogo inextinguível, darão glória a Deus, dizendo: "Há esperança para Aquele que serviu a Deus de todo coração".

XVIII. O autor, ainda pecador, busca a salvação
Assim, sejamos contados entre os que rendem graças, entre os que serviram a Deus e não entre os ímpios que serão julgados. Porque eu também, sendo um grande pecador e ainda não livre da tentação, em meio às ciladas do diabo, procuro com diligência seguir a justiça, para poder, pelo menos, chegar próximo, já que temo o juízo vindouro.

h. EXORTAÇÕES FINAIS
XIX. Recompensa dos justos, ainda que possam sofrer
Portanto, irmãos e irmãs, após ouvir o Deus da verdade, leio-vos uma exortação a fim de que possais prestar atenção às coisas que estão escritas, para que possais salvar-vos a vós mesmos e aos que vivem no meio de vós. Peço-vos como que uma recompensa: arrependei-vos de todo coração e procureis a salvação e a Vida. Fazendo isto, estabeleceremos um objetivo para todos os jovens que desejam esforçar-se na perseguição da piedade e da bondade de Deus. E não nos desanimemos ou aflijamos, como os estúpidos, quando alguém nos aconselhar para que deixemos a injustiça e busquemos a justiça, porque às vezes, quando temos obras más, não nos damos conta disto por causa da indecisão e incredulidade que bate nos nossos peitos, e nosso entendimento é encoberto pelas nossas vãs concupiscências. Portanto, ponhamos em prática a justiça, para que possamos ser salvos até o fim. Bem-aventurados aqueles que obedecem estes mandamentos; ainda que precisem sofrer aflição por um breve momento no mundo, reconhecerão o fruto imortal da ressurreição. Assim, que não se aflija o que é piedoso, ainda que desgraçado nos presentes dias, pois o espera tempos de boa-aventurança. Voltará a viver no céu com os padres e se regozijará durante toda a eternidade, sem quaisquer penas.

XX. As verdadeiras riquezas
Não permitas tampouco que isto perturbe a tua mente: ver os ímpios possuírem riquezas e os servos de Deus sofrerem apertos. Tenhamos fé, irmãos e irmãs! Estamos lutando nas fileiras de um Deus vivo; recebemos treinamento na vida presente para que possamos ser coroados na [vida] futura. Nenhum justo recolheu o fruto rapidamente, mas espera que este chegue. Porque se Deus desse imediatamente a recompensa aos justos, então nosso treinamento seria pago de forma comercial, e não conforme a piedade, porque não seríamos justos em razão da piedade, mas por causa da ganância. E por isso o juízo divino alcança o espírito daquele que não é justo, e o acorrenta.
- Ao único Deus invisível, Pai da verdade, que nos enviou o Salvador e Príncipe da imortalidade, por meio do qual Deus também nos manifestou a verdade e a vida celestial: a Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

08/10/2012

A Mensagem de Nossa Senhora em La Salette


A Santíssima Virgem Maria apareceu na montanha de La Salete, Isére, nos Alpes franceses. Nossa Senhora apareceu a 19 de Setembro de 1846 a duas crianças, Maximin Giraud de 11 anos e Mélanie Calvat de 15 anos.
O culto a Nossa Senhora de La Salette floresceu no século XX e, assim como Nossa Senhora de Lourdes (1858) e Nossa Senhora de Fátima (1917), continua a ser uma das mais famosas aparições marianas da idade moderna.
Os dois pastorinhos – Maximin Giraud e Mélanie Calvat – tiveram uma visão da Virgem Maria numa montanha perto de La Salette, França, a 19 de Setembro de 1846, por volta das três horas da tarde. Fazia muito sol. Maximin Giraud e Mélanie Calvat haviam recebido apenas uma muito limitada educação. A aparição consistia em três fases diferentes. As crianças viram, numa luz resplandecente, uma bela dama em um estranho costume, falando alternadamente francês e patois. Ela estava sentada sobre uma pedra, e as crianças relataram que a “Belle Dame” estava triste e chorando, com seu rosto descansando em suas mãos.

A Bela Senhora pôs-se de pé. E disse: “Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!”
“Se meu povo não se quer submeter, sou forçada a deixar cair o braço de meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais.”
“Há quanto tempo sofro por vós.”
“Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não mo querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de meu Filho.”
“E também os carroceiros não sabem jurar sem usar o nome de meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesado o Seu braço.”
“Se a colheita for perdida a culpa é vossa (…) Orai bem, fazei o bem.”
“Se a colheita se estraga, e só por vossa causa, Eu vo-lo mostrei no ano passado com as batatinhas: e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatinhas estragadas, blasfemáveis usando o nome de meu Filho. Elas continuarão assim e, neste ano, para o Natal, não haverá mais.”
Então, as crianças descem até a Bela Senhora. Ela não parava de chorar. Segundo os relatos das crianças a Senhora era alta e toda de luz. Vestia-se como as mulheres da região: vestido longo, um grande avental, lenço cruzado e amarrado às costas, touca de componesa. Rosas coroavam sua cabeça, ladeavam o lenço e ornavam seu calçado. Em sua fronte a luz brilhava como um diadema. Sobre os ombros carregava uma pesada corrente. Uma corrente mais leve prendia sobre o peito um crucifixo resplandecente, com um martelo de um lado, e de outro uma torquês. Assim a Bela Senhora falou em segredo a Maximino e depois a Melânia. E novamente, os dois em conjunto ouvem as seguintes palavras: “Se se converterem, as pedras e rochedos se transformarão em montões de trigo, e as batatinhas serão semeadas nos roçados” E a Bela Senhora conclui, não mais em patois, e sim em francês: “Pois bem, meus filhos, transmitireis isso a todo o meu povo.” Terminou assim a aparição. Segundo as crianças ela andava, mas as plantas de seus pés não esmagavam a relva, quase não dobravam os talos. Mélanie correu e a contemplou de novo lá no alto. E depois, segundo ela, viu o rosto e a figura da Senhora desaparecendo à medida que a luminosidade aumentava.

Os Apóstolos dos Últimos Tempos
Nas suas aparições, Nossa Senhora de La Salette, tal como São Luís de Montfort, falou dos Apóstolos dos Últimos Tempos.
São Luís Maria Grignion de Montfort, na sua obra “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria”, profetizou o surgimento futuro daqueles a que o próprio santo chamou de “Apóstolos dos Últimos Tempos” e que viriam a ser confirmados, mais tarde, durante as aparições de Nossa Senhora em La Salette.

Durante a aparição de 19 de Setembro de 1846, decorrida na montanha de La Salette, Nossa Senhora, após dar o segredo, ditou à vidente Mélanie Calvat, palavra por palavra, uma regra para que se fundasse uma ordem religiosa com o nome de “Ordem da Mãe de Deus” e que se destinaria aos “Apóstolos dos Últimos Tempos”.
No dia 3 de Outubro 1876, num interrogatório, Mélanie Calvat revelou ao Padre F. Bliard: “Esta ordem abrangerá: 1º – Padres, que serão os Missionários da Santíssima Virgem e os Apóstolos dos Últimos Tempos; 2º – Irmãs religiosas que dependerão dos Missionários; 3º – Fiéis de vida secular que se queiram associar à obra. A finalidade desta nova ordem religiosa é a de trabalhar-se mais eficazmente na santificação do clero, na conversão dos pecadores e a de propagar o reino de Deus na terra inteira. As religiosas, tal como os missionários, são chamadas a trabalhar com zelo na salvação das almas pela oração e pelas obras de misericórdia corporais e espirituais. Quanto ao espírito da ordem, este deve ser o espírito dos primeiros apóstolos. A Santíssima Virgem caracterizou suficientemente este espírito, seja na regra que Ela me deu, seja no apelo aos Apóstolos dos Últimos Tempos em que finda o segredo”.
Em relação aos “Apóstolos dos Últimos Tempos”, Nossa Senhora de La Salette disse:
“Eu dirijo um urgente apelo à Terra; chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivo que reina nos Céus; chamo os verdadeiros imitadores de Cristo feito Homem, o único e verdadeiro salvador dos homens; chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, aqueles que já se me consagraram a fim de que vos conduza ao meu Divino Filho; os que, por assim dizer, levo nos meus braços, os que têm vivido do meu Espírito; finalmente, chamo os Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que têm vivido no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e no desconhecimento do mundo. Já é hora de que saiam e venham iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como filhos queridos meus. Eu estou convosco e em vós sempre que a vossa fé seja a luz que alumie, e nesses dias de infortúnio, que o vosso zelo vos faça famintos da glória de Deus e da honra de Jesus Cristo”.
No mesmo dia 19 de Setembro 1846, Mélanie teve uma visão: “Vejo os Apóstolos dos Últimos Tempos com os seus hábitos. Ele parece-se mais ou menos ao dos sacerdotes dos seus tempos. Numa extremidade da cinta encontram se estas três letras em encarnado: M.P.J. (Mourir pour Jesus – Morrer por Jesus), na outra extremidade as seguintes três letras em azul: E.D.M. (Enfant de Marie – Filho de Maria)”.
As profecias da Virgem

O tema central das mensagens da Virgem para a humanidade foi que deveriam livrar-se do pecado mortal e fazer penitência, ou sofreriam terríveis sofrimentos. A Virgem Maria predisse eventos futuros da sociedade e da Igreja. O cumprimento destas previsões foi também visto como uma das indicações da veracidade da aparição nas investigações que se seguiram à aparição. No que diz respeito à sociedade, a Virgem Maria previu que a colheita seria completamente fracassada. Em Dezembro de 1846, a maior parte das camadas populares foi atingida por doenças e, em 1847, uma fome assola a Europa, resultando na perda de cerca de um milhão de vidas, sendo cem mil só na França. A Cólera se tornou prevalente em várias partes da França e custou a vida de muitas crianças. O desaparecimento da Segunda República Francesa, com a Guerra franco-prussiana (1870-1871) e a revolta da Comuna de Paris de 1871 foram igualmente previstos. No que diz respeito à Igreja, Ela previu que a fé católica na França e no mundo, mesmo na hierarquia católica, iria diminuir bastante, por causa dos muitos pecados dos leigos e do clero. Guerras iriam ocorrer se os homens não se arrependessem, e Paris e Marselha seriam destruídas. A Humanidade foi alertada para a vinda do anticristo e do fim dos tempos. Para Maximino, Ela previra a conversão da Inglaterra (leia mais no artigo: A VISÃO DE SÃO DOMINGOS SÁVIO - texto abaixo) na fase final do apocalipse.

A visão de São Domingos Sávio
Além do segredo de La Salette a mais famosa é o “sonho” de São Domingos Sávio. Em verdade, tratou-se de um êxtase que o menino santo chamou de “distração”.
Este “sonho” é especialmente digno de nota, pois envolve também a São João Bosco e ao Beato Pio IX. A vida e a obra dos três foi objeto dos severos crivos dos processos de beatificação e canonização. Neles, escritos e falas dos três foram analisados com lupa pelos advogados vaticanos que os declararam isentos de todo erro contra a fé ou contra a moral.
A visão num êxtase de São Domingos Sávio foi descrita pelo próprio São João Bosco no capítulo XX do livro “Vita del giovanetto Savio Domenico” (“Vida do jovem Domingos Sávio”) .
Don Bosco conta que estando perto de São Domingos Sávio agonizante perguntou-lhe o que ele diria ao Papa se pudesse falar-lhe. De ali nasceu o seguinte diálogo entre os dois santos:
“‒ Se eu pudesse falar ao Papa, quereria lhe dizer que em meio às tribulações que o aguardam não deixe de trabalhar com especial solicitude pela Inglaterra; Deus prepara um grande triunfo do catolicismo naquele reino.
“‒ No que é que V. baseia essas palavras?
“‒ Vou contar-lhe, mas não mencione isso aos outros, pois podem achar ridículo. Mas se o Sr. vai a Roma, diga-o a Pio IX por mim. (…)
“Certa manhã, durante minha ação de graças após a comunhão, voltei a ter uma distração, que me pareceu estranha; eu achei ver uma grande parte de um país envolvida em grossas brumas, e estava cheia com uma multidão de pessoas. Estavam se movendo, mas como homens que, tendo perdido seu caminho, não estavam certos onde pisavam.
“Alguém próximo disse: ‘Esta é a Inglaterra.’
“Eu estava para fazer algumas perguntas a respeito disso quando vi Sua Santidade Pio IX, representado da mesma maneira que vi nas figuras.

“Ele estava majestosamente vestido, e estava carregando uma tocha brilhante com a qual ele se aproximou da multidão, como que para iluminar sua escuridão.
“À medida que se aproximava, a luz da tocha parecia dispersar a névoa, e as pessoas foram trazidas à plena luz do dia.
“Esta tocha,” disse meu informante, “é a religião Católica que está para iluminar a Inglaterra”.
No Boletim Salesiano (Turim, abril de 1924, nº 4), ainda encontramos as seguintes confidências ouvidas por São João Bosco da boca do menino santo:
‒ “Quantas almas aguardam nossa ajuda na Inglaterra! Oh se eu tivesse força e virtude, quereria ir para lá aqui na hora e conquistá-las todas para o Senhor com pregações e com o bom exemplo”.

No mesmo boletim (1° de março de 1950, nº 5), ainda lemos:
“No dia seguinte, ele fez todos os exercícios pela boa morte, despediu-se dos companheiros, um por um, pagou uma dívida de dois tostões que tinha com um deles, falou aos sócios da Companhia da Imaculada, e por fim saudou a Dom Bosco dizendo:
‒ “O Sr. indo a Roma lembre do recado para o Papa pela Inglaterra. Reze por mim para que eu possa ter uma boa morte e adeus até o Paraíso…”
Don Bosco cumpriu o combinado, e assim narrou:
“No ano de 1858 quando eu fui a Roma, contei essas coisas ao Sumo Pontífice, que ouviu com bondade e aprazimento.
“‒  Isto, disse o Papa, me confirma no propósito de trabalhar energicamente em favor da Inglaterra, pela qual eu já engajo as minhas mais vivas solicitudes. Esse relato, para não dizer mais, chega-me como o conselho de uma boa alma.”
Fonte: http://aparicaodelasalette.blogspot.com/