Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

____

Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

____

Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

23/05/2012

HOMILIA DE SÃO JOÃO DAMASCENO SOBRE A NATIVIDADE DE MARIA


Tradução: Seminário de Sintra (Portugal)

A Festa da Natividade de Nossa Senhora desde muito cedo que foi celebrada no Oriente, e muitos textos dos Padres o atestam; este, que traduzimos, foi pronunciado em Jerusalém, na Igreja situada sobre o local da Piscina Probática, onde Jesus tinha curado o paralítico, e onde a tradição – atestada por alguns apócrifos – situava a casa de Joaquim e de Ana, o que vem a explicar certas alusões feitas ao longo do texto.
É um grande texto panegírico da glória de Maria, por dela ter nascido o Salvador, com expressões que chegam a parecer ter sido produzidas em estado de êxtase. Usando dados do Antigo Testamento, dos Evangelhos e das Cartas, da tradição oral, de outros teólogos e da própria liturgia bizantina, o nosso Doutor passa em revista a importância para a salvação e para a Igreja do nascimento de Maria, louvando «en passant» os seus pais, Joaquim e Ana. Um ponto muito importante: chama e afirma – é dos primeiros a fazê-lo - Imaculada a Maria.
Sem deixar de fazer também todo o desfiar das tipologias de Maria presentes no Antigo Testamento, S. João Damasceno consegue louvar Nossa Senhora como poucos o fizeram, fornecendo a base patrística para muitas das afirmações acerca de Maria e do seu lugar no mistério da Redenção do homem que mais tarde vieram a efectuar-se. A sua influência na Idade Média foi enorme, e pode mesmo dizer-se que a intuição de base do Dogma da Assunção Corporal de Nossa Senhora ao céu está já presente na obra do Damasceno.

Do humilde monge e presbítero João Damasceno, discurso para o nascimento de Nossa Senhora Santíssima, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria.

1. Vinde, todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se os gregos destacavam com todo o tipo de honras – com os dons que cada um podia oferecer – o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito, uma ouviu a sentença divina: «Darás à luz no meio de penas»; a outra ouviu, por seu turno: «Alegra-te, oh Cheia de Graça». À primeira disse-se: «Inclinar-te-ás para o teu marido», mas à segunda: «O Senhor está contigo». Que homenagem ofereceremos então nós à Mãe do Verbo, senão outra palavra? Que a criação inteira se alegre e festeje, e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza num estado melhor, pela mediação da humanidade. Porque se o homem, que ocupa o meio entre o espírito e a matéria, é o laço de toda a criação, visível e invisível, o Verbo criador de Deus, ao se unir à natureza humana, uniu-se através dela a toda a criação. Festejemos assim o desaparecimento da humana esterilidade, pois cessou para nós a enfermidade que nos impedia a posse dos bens.

2. Mas porque nasceu a Virgem Maria de uma mulher estéril? Àquele que é o único verdadeiramente novo debaixo do sol, como coroamento das Suas maravilhas, deviam ser preparados os caminhos por maravilhas, para que lentamente as realidades mais baixas se elevassem de modo a serem as mais altas. E eis uma outra razão, mais alta e mais divina: a natureza cedeu o lugar à graça, pois ao vê-la tremeu, e não quis mais ter o primeiro lugar. Como a Virgem Mãe de Deus devia nascer de Ana, a natureza não ousou prevenir o fruto da graça, mas permaneceu ela própria sem fruto, até que a graça trouxesse o seu. Era necessário que fosse primogénita aquela que deveria gerar «o Primogénito de toda a criação, no Qual tudo subsiste». Oh Joaquim e Ana, casal venturoso! Toda a criação está em dívida para convosco, porque através de vós ela pôde oferecer ao Criador o dom – entre todos o mais excelso – de uma Mãe venerável, a única digna d’Aquele que a criou. Ditosos os rins de Joaquim, de onde saiu uma semente totalmente imaculada, e admirável o seio de Ana, graças ao qual se desenvolveu lentamente, onde se formou e de onde nasceu uma tão santa criança! Oh entranhas que levastes um céu vivo, mais vasto que a imensidade dos céus! Oh moinho onde foi amassado o Pão vivificante, segundo as próprias palavras de Cristo: «Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só». Oh seio que aleitaste aquela que alimentou o Aquele que alimenta o mundo! Maravilha das maravilhas, paradoxo dos paradoxos! Sim, a inexprimível Encarnação de Deus, cheia de condescendência, devia ser precedida por estas maravilhas. Mas como prosseguirei? O meu espírito está fora de si, dividido que estou entre o temor e o amor; o meu coração bate e a minha língua move-se: não posso suportar a alegria, as maravilhas deitam-me por terra, o ardor apaixonado aprisionou-me num arrebatamento divino. Que o amor vença, que o temor desapareça e que cante a cítara do Espírito: «Alegrem-se os céus, exulte a terra»!

3. Hoje as portas da esterilidade abrem-se, e uma porta virginal e divina avança: a partir dela, por ela, o Deus que está acima de todos os seres deve «vir ao mundo» «corporalmente», segundo a expressão de Paulo, ouvinte dos segredos inefáveis. Hoje, da raíz de Jessé saiu uma vergôntea, de onde surgirá para o mundo uma flor substancialmente unida à divindade.
Hoje, a partir da natureza terrena, um céu foi formado sobre a terra por Aquele que outrora o tornara sólido separando-o das águas, elevando o firmamento nas alturas. É um céu verdadeiramente mais divino e mais elevado que o primeiro, porque Aquele que no primeiro céu criara o sol Se elevou a Si próprio neste novo como um sol de justiça. Sim, há n’Ele duas Naturezas, apesar da loucura dos Acéfalos, e uma só Pessoa, mesmo que os Nestorianos se encolerizem! A Luz eterna, proveniente da Luz eterna antes de todos os séculos, o Ser, imaterial e incorpóreo, tomou um corpo desta mulher, e como um esposo que sai para fora de seu tálamo, assim fez Deus, tornando-se como tal filho da raça terrena. Como um gigante Ele alegra-Se de percorrer os caminhos da nossa natureza, de Se encaminhar, pelos Seus sofrimentos, para a morte, de atar o homem forte e lhe arrancar os seus bens, isto é, a nossa natureza, e de reunir na terra celeste a ovelha errante.
Hoje, o «Filho do Carpinteiro», O Verbo universalmente activo d’Aquele que tudo construiu por Ele, o Braço Poderoso do Deus Altíssimo, querendo afiar pelo Espírito - que é como o seu dedo – a lâmina embotada da natureza, construiu para Si uma escada viva, cuja base está firmada na terra, com o cimo a tocar os céus: Deus repousa sobre ela. É dela a figura que Jacob contemplou, e por ela Deus desceu da Sua imobilidade, ou melhor, inclinou-Se com condescendência, tornando-Se assim «visível sobre a terra, e conversando com os homens». Estes símbolos representam a Sua vinda ao meio de nós, o seu abaixamento condescendente, a sua existência terrena, o verdadeiro conhecimento d’Ele próprio, dado a todos aqueles que estão sobre a terra. A escada espiritual, a Virgem, está fixa na terra, pois na terra ela tem a sua origem, mas a sua cabeça eleva-se até ao céu. A cabeça de toda a mulher é o homem, mas para ela, que não conheceu homem, Deus Pai ocupa o lugar de sua cabeça: pelo Espírito Santo, Ele concluiu uma aliança e, como semente divina e espiritual, enviou o Seu Filho e Verbo, força omnipotente. Em virtude do beneplácito do Pai, não é por uma união natural, mas é superando as leis da natureza, pelo Espírito Santo e pela Virgem Maria, que o Verbo Se fez carne e habitou entre nós. É por aqui que se vê que a união de Deus com os homens se cumpre pelo Espírito Santo.
«Quem puder entender, que entenda»; «Quem tem ouvidos para ouvir, que oiça». Descartemos as representações corporais: a divindade jamais sofreu mudança, oh homens! Aquele que sem alteração gerou Seu Filho a primeira vez segundo a natureza, sem alteração O gera agora de novo segundo a economia. Disto é testemunha a palavra de David, antepassado de Deus: «O Senhor disse-me: "Tu és Meu Filho, Eu hoje te gerei"». Ora este «hoje» não tem cabimento na geração antes de todos os séculos, pois esta deu-se fora do tempo.

4. Hoje é edificada a Porta do Oriente, que dará a Cristo «entrada e saída», e «essa porta estará fechada». Nela está Cristo, «a Porta das Ovelhas», e «o Seu nome é Oriente»: por Ele obtivemos acesso ao Pai das Luzes. Hoje sopraram as brisas anunciadoras duma alegria universal. Alegre-se o céu nas alturas, que debaixo dele «exulte a terra», que os mares do mundo bramam, porque no mundo acaba de ser concebida uma concha, a qual pelo clarão celeste da divindade conceberá em seu seio, gerando a pérola inestimável, Cristo. Dela sairá o «Rei da Glória», revestido da púrpura de sua carne, para «visitar os cativos», e «proclamar a libertação». Que a natureza transborde de alegria: a cordeirinha vem ao mundo, graças à qual o Pastor revestirá a ovelha, tirando-lhe as túnicas da antiga mortalidade. Que a virgindade forme os seus coros de dança, pois nasceu a Virgem que, segundo Isaías, «conceberá e dará à luz um filho, que será chamado Emmanuel, o que quer dizer "Deus connosco"». Aprendei, oh Nestorianos, e fugi à vossa derrota: «Deus connosco»! Não é nem só um homem, nem um mensageiro, mas o Senhor em Pessoa que virá e nos salvará.
«Bendito o que vem em nome do Senhor», «o Senhor é Deus, e iluminou-nos»; «Celebremos uma festa» para o nascimento da Mãe de Deus. Rejubila, Ana, «estéril que não davas à luz; ri de alegria e de júbilo, tu que não tiveste as dores de parto»! Rejubila, Joaquim: de tua filha «um menino nos nasceu, um filho nos foi dado (...) e ser-lhe-á dado este nome: Anjo do grande Conselho (quer dizer, Salvação do Universo) Deus Forte». Que Nestório fique vermelho e meta a mão sobre a boca. A criança é Deus; portanto, como não seria ela a Mãe de Deus, ela que O colocou no mundo? «Se alguém não reconhece por Mãe de Deus a Santa Virgem, está separado da divindade». A frase não é minha, mas no entanto pertence-me: recebi-a como precioso tesouro e herança teológica do meu pai Gregório, o Teólogo.

5. Oh Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente sem mancha! Pelo fruto do vosso seio fostes reconhecidos, segundo a palavra do Senhor: «Pelos seus frutos os reconhecereis». A vossa conduta foi agradável a Deus e digna daquela que nasceu de vós. Tendo levado uma vida casta e santa, engendrastes a jóia da virgindade, aquela que deveria permanecer Virgem antes, durante e depois do parto, a única sempre Virgem de espírito, de alma e de corpo. Convinha, de facto, que a virgindade saída da castidade produzisse a Luz única e monógena, corporalmente, pela benevolência d’Aquele que A gerou sem corpo – o Ser que não gera, mas que é eternamente gerado, para Quem ser gerado é a única qualidade própria da Sua Pessoa. Oh que maravilhas, e que alianças estão neste menino! Oh Filha da esterilidade, virgindade que engravida, nela se unirão divindade e humanidade, sofrimento e impassibilidade, vida e morte, para que em todas as coisas o menos perfeito seja vencido pelo melhor! E tudo isto para minha salvação, oh Mestre! Amas-me tanto que não realizaste esta salvação nem pelos anjos, nem por nenhuma outra criatura, mas tal como já a minha criação, também a minha regeneração foi Tua obra pessoal. Assim, eu exulto, faço despertar a minha alegria e o meu júbilo, volto à fonte das maravilhas, e embriagado de uma torrente de alegria, toco de novo a cítara do espírito e canto o hino divino da natividade.

6. Oh Joaquim e Ana, casal castíssimo, «par de rolas» no sentido místico! Observando a lei da natureza, a castidade, merecestes os dons que ultrapassam a natureza: gerastes no mundo uma Mãe de Deus sem esposo. Depois de uma existência santa e piedosa numa natureza humana, gerastes uma filha superior aos anjos e que agora reina sobre eles. Oh Filha graciosíssima e dulcíssima, oh lírio nascido entre os espinhos, da descendência nobilíssima e real de David! Por ti a realeza encheu-se com o sacerdócio; por ti foi cumprida «a mudança da Lei», e revelado o espírito escondido sob a letra, pois que a dignidade sacerdotal passou da tribo de Levi à de David. Oh Rosa nascida dos espinhos do judaísmo, que enche o universo de um perfume divino! Oh filha de Adão e Mãe de Deus! Ditosos os rins e o seio de onde surgistes! Ditosos os braços que te levaram, os lábios que experimentaram os teus castos beijos, os lábios de teus pais, para que em tudo tu fosses eternamente virgem. Hoje é para o mundo o início da salvação. «Aclamai o Senhor, terra inteira, cantai, exultai, tocai instrumentos». Elevai a vossa voz, «fazei-a escutar sem temor», porque na Santa Probática nos nasceu uma Mãe de Deus, de quem quis nascer o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
Tremei de alegria, oh montanhas, naturezas racionais, voltadas para o cume da contemplação espiritual: a montanha do Senhor, refulgente, vem ao mundo, ultrapassando todas as montanhas e todas as colinas, isto é, os anjos e os homens; dela, sem intervenção da mão do homem, Cristo quis desprender-Se, Ele que é a Pedra Angular, Pessoa Una, que aproxima em Si aquilo que está distante: a divindade e a humanidade, os anjos e os homens, os gentios e o Israel carnal num só Israel espiritual. «Montanha de Deus, montanha de abundância, montanha que Deus escolheu para Seu repouso. Os carros de Deus vêm aos milhares, com seres refulgentes» da graça divina, querubins e serafins. Oh cume mais santo que o Sinai, não coberto nem por fumo, nem por trevas, nem por tempestades, nem sequer por fogo perecível, mas pelo esplendor que ilumina do Santíssimo Espírito. No Sinai, o Verbo de Deus tinha gravado a Lei sobre tábuas de pedra, pelo Espírito, dedo divino; aqui, pela acção do Espírito Santo e pelo sangue de Maria, o próprio Verbo encarnou, dando-se á nossa natureza como um remédio de salvação mais eficaz. Antes, era o maná; aqui, está Aquele que deu o maná e a sua doçura.
Que a morada célebre que Moisés construiu no deserto com matérias preciosas de todo o tipo, e ainda antes dela a morada do nosso pai Abraão, se apaguem diante da morada de Deus, viva e espiritual. Ela foi o repouso, não só da energia divina, mas da Pessoa do Filho, que é Deus, presente substancialmente. Que a arca recoberta de ouro reconheça que não tem nada de comparável com Maria, e da mesma forma a urna de ouro com o maná, o candelabro, a mesa e todos os objectos do culto antigo: eles foram honrados porque todos a prefiguravam, como sombras do verdadeiro protótipo.

7. Hoje, o Criador de todas as coisas, Deus Verbo, fez um livro novo, saído do coração do Pai para ser escrito, como se fosse por uma cana, pelo Espírito, que é a língua de Deus. Esse livro foi dado a um homem que conhecia as letras, mas que não o lia. José, com efeito, não conheceu Maria, nem a significação do mistério em si. Oh filha toda santa de Joaquim e de Ana, que escapaste aos olhares dos Principados e das Potestades e aos «assédios inflamados do maligno», e que viveste no tálamo do Espírito, para seres guardada intacta e te tornares esposa de Deus e Mãe de Deus por natureza! Oh filha toda santa, que apareceste nos braços de tua mãe, tu és o terror das potências de rebelião! Oh filha toda santa, alimentada do leite maternal, e rodeada das legiões angélicas! Oh filha amada de Deus, honra de teus pais, gerações de gerações te proclamam bem aventurada, como tu própria o afirmaste com verdade! Oh filha digna de Deus, beleza da natureza humana, reabilitação de Eva, nossa primeira mãe! Por teu nascimento, aquela que tombara foi redimida. Oh filha toda santa, esplendor do sexo feminino! Se a primeira Eva, com efeito, foi culpada de transgressão, e se por sua causa «a morte fez a sua entrada no mundo» (porque ela se colocou ao serviço da serpente contra o nosso primeiro pai), Maria, que se fez a serva da vontade divina, enganou a serpente enganadora e introduziu no mundo a imortalidade.
Oh filha sempre Virgem, que pode conceber sem intervenção humana, porque Aquele que concebeste tem um Pai Eterno! Oh filha da raça terrena, que levas em teus braços divinamente maternais o Criador! Os séculos rivalizavam entre si para saber qual deles se honraria de te ver nascer, mas o desígnio fixado antecipadamente de Deus, «que fez os séculos» colocou fim a essa rivalidade, e os últimos tornaram-se os primeiros, eles a quem foi atribuída a felicidade da tua Natividade. Na verdade, tu és mais preciosa que toda a criação, pois só de ti o Criador recebeu em partilha as primícias da nossa matéria humana. A Sua Carne foi feita da tua carne, o Seu Sangue do teu sangue; Deus alimentou-Se do teu leite, e os teus lábios tocaram os lábios de Deus. Oh maravilhas incompreensíveis e inefáveis! Na presciência da tua dignidade, amou-te o Deus do universo; porque te amou, predestinou-te, e nos «últimos tempos», chamou-te à existência, e constituiu-te Mãe para gerar um Deus e alimentar o Seu próprio Filho e Verbo.

8. Diz-se que os contrários servem de remédio contra os contrários, mas os contrários não nascem uns dos outros. Mesmo se cada ser é na sua natureza um tecido de contrários, ele próprio provém da predominância da causa que o fez nascer. De facto, da mesma forma que o pecado, ao operar para mim a morte por meio do bem, mostra em extremo a sua natureza pecaminosa, da mesma forma o Autor dos bens, pelo meio dos contrários desses bens, opera para nós o bem que Lhe é natural, porque «onde abundou o pecado, superabundou a graça». Se tivéssemos conservado a nossa primeira comunidade com Deus, não teríamos merecido a Segunda, maior e mais extraordinária. De facto, pelo pecado, fomos julgados indignos da primeira união, porque não conservámos o dom recebido. Mas pela compaixão de Deus fomos perdoados e tomados sob a Sua guarda, para que a comunhão fosse assegurada, porque nos quer conservar unidos a Ele, sem nenhuma beliscadura, Aquele que nos recebeu sob a Sua protecção.
Sim, toda a terra pejava de fornicações, e o povo do Senhor, possuído «pelo espírito de fornicação», errava longe do Senhor seu Deus, longe d’Aquele que o tinha adquirido «com mão forte e braço poderoso», que com sinais e prodígios o tinha feito sair da «casa da escravidão» do Faraó, o tinha conduzido através do Mar Vermelho e guiado «por uma nuvem de dia, e noite inteira por um luzeiro de fogo». O seu coração voltava-se para o Egipto, e o povo do Senhor tornou-se «aquele que não é o povo do Senhor»; aquele que obtinha misericórdia, tornou-se aquele que não a merecia, e aquele que era amado, tornou-se aquele que não era amado.
Eis então a razão pela qual uma Virgem vem agora ao mundo, como adversária da ancestral fornicação; ela foi dada como esposa ao próprio Deus, e gerou a misericórdia de Deus. Assim foi estabelecido como povo de Deus aquele que até aí não era o Seu povo; excluído da Sua misericórdia, obteve misericórdia; não amado, é agora amado. Dela nasce o Filho Bem-Amado de Deus, no Qual Ele colocou as Suas complacências.

9. «Uma vinha de belos sarmentos» foi gerada no seio de Ana, e ela produziu um fruto cheio de doçura, fonte de um néctar abundante de vida eterna para os habitantes da terra. Joaquim e Ana fizeram-se semeadores de justiça, e recolheram um fruto de vida. Eles foram iluminados pela luz do conhecimento, procuraram o Senhor, e daí lhes veio um fruto de justiça. Que a terra tenha confiança! «Filhos de Sião, alegrai-vos no Senhor vosso Deus, porque o deserto ficou verdejante»: aquela que era estéril deu o seu fruto; Joaquim e Ana, como montanhas místicas, fizeram brotar vinho doce. Permanece na alegria, oh Ana venturosa, por teres dado à luz uma mulher, porque essa mulher será a Mãe de Deus, porta da luz, fonte de vida, e reduzirá nada a acusação que pesava sobre a mulher.
Os homens nobres do povo desejarão vê-la, e diante dessa mulher os reis das nações prostrar-se-ão, oferecendo-lhe presentes. Entregá-la-ás a Deus, rei universal, adornada da beleza das suas virtudes como de «brocados de ouro», ornada da graça do Espírito, de cuja glória ela se reveste. A glória da mulher é o homem, e é-lhe dada a partir de fora; mas a glória da Mãe de Deus é interior, e é fruto do seu seio.
Oh mulher amabilíssima, três vezes bem-aventurada! «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre»! Oh mulher, filha do Rei David e Mãe de Deus, Rei do Universo! Oh divina e vivente obra-prima, na qual Deus Criador Se alegrou, de quem o espírito é governado por Deus e atento somente a Ele, e de quem todo o desejo se eleva apenas Àquele que é o único amável e desejável, que não te encolerizas senão contra o pecado e contra aquele que o fez nascer! Terás uma vida superior à natureza, porque não é para ti que a terás, já que também não é para ti que tu nasceste. Terás antes a tua vida para Deus, e é por causa d’Ele que vieste à vida, por causa de Quem servirás à salvação universal, para que o antigo desígnio de Deus, a Encarnação do Verbo e a nossa divinização, se cumpra através de ti. A tua vontade é alimentares-te das palavras divinas e fortificares-te com a sua seiva, como «oliveira fecunda na casa de Deus», como «árvore plantada à beira das águas» do Espírito, como árvore da vida, que deu o seu fruto no tempo que lhe foi destinado: o fruto que é o Deus Encarnado, Vida eterna de todos os seres. Guardas todos os pensamento gostoso e útil para a alma, mas todo aquele que é supérfluo e que seria um perigo para a alma tu o rejeitas ainda antes de o provar. Os teus olhos «estão sempre voltados para o Senhor», olhando a luz eterna e inacessível. Teus ouvidos escutam a palavra de Deus e deleitam-se com a cítara do Espírito; foi por eles que o Verbo entrou para Se fazer Carne. Tuas narinas respiram deliciadas o aroma dos perfumes do Esposo, que é Ele próprio um perfume, espontaneamente derramado para perfumar a Sua humanidade: «O teu nome é um perfume que se espalha», diz a Escritura. Os teus lábios louvam o Senhor, e estão ligados aos Seus lábios. A tua língua e o teu palato discernem as palavras de Deus e saciam-se com a suavidade divina. Oh coração puro e sem mácula, que vê e deseja o Deus imaculado!
É neste seio que o Ser ilimitado veio habitar; do seu leite se alimentou Deus, o Menino Jesus. Oh porta de Deus, sempre virginal! Eis as mãos que suportam Deus, e esses joelhos que são um trono mais elevado que os querubins: por eles «as mãos fracas e os joelhos trémulos» foram fortalecidos. Os seus pés são guiados pela lei de Deus como por uma lâmpada que brilha, e correm após Ele sem se voltarem, até que tenham feito chegar aquela que ama junto do Bem-Amado. Em todo o seu ser ela é o tálamo do Espírito, a Cidade de Deus Vivo, que «alegra os canais do rio», isto é, as correntes dos carismas do Espírito: «Toda bela, toda próxima de Deus». Dominando os querubins, mais alta que os serafins, próxima de Deus: é a ela que esta palavra se aplica!

10. Oh maravilha que ultrapassa todas as maravilhas: uma mulher é colocada mais alto que os serafins, porque Deus surgiu abaixado «um pouco inferior aos anjos»! Que o sapientíssimo Salomão se cale, e não torne a dizer: «Nada de novo debaixo do sol». Oh Virgem cheia da graça divina, templo santo de Deus, que o Salomão espiritual, o Príncipe da Paz, construiu e habita, o ouro e as pedrarias não te dão mais beleza, mas mais que o ouro, é o Espírito que te dá o teu esplendor. Por pedrarias, tens a pérola preciosíssima, Cristo, a Brasa da divindade. Suplica-Lhe que toque os nossos lábios, para que, purificados, Lhe cantemos, com o Pai e o Espírito, a natureza única da Divindade em três Pessoas: «Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos Exércitos».
Santo é o Pai, que quis que em ti e por ti se cumprisse o mistério que predeterminara antes de todos os séculos. Santo é o Forte, o Filho de Deus, e Deus Monógeno, que hoje te faz nascer, primogénita de uma mãe estéril, para que, sendo Ele próprio Filho Único do Pai e «Primogénito de toda a criatura», possa nescer de ti, como Filho único de uma Virgem-Mãe, «Primogénito de uma multidão de irmãos», semelhante a nós e por ti participante da nossa carne e do nosso sangue. Apesar disso, não te fez nascer de um só pai ou de uma só mãe, para que ao único Monógeno fosse reservado em perfeição o privilégio de Filho Único: Ele é, com efeito, Filho Único, somente Ele de um Pai só, somente Ele de uma Mãe só.
Santo é o Imortal, o Espírito de toda a santidade, que pelo orvalho da Sua Divindade te guardou intocada pelo fogo divino: é isto que significou antecipadamente a sarça ardente.
Eu te saúdo, oh Porta das Ovelhas, morada santíssima da Mãe de Deus. Eu te saúdo, oh Porta da Ovelhas, domicílio ancestral da tua rainha, antigamente redil das ovelhas de Joaquim, mas hoje tornada Igreja do rebanho espiritual de Cristo e imitação do céu. Outrora recebias uma vez por ano um anjo de Deus, que agitava as águas e devolvia a saúde a um só homem, livrando-o do mal que o paralisava; agora recebes multidões de potências celestes que celebram connosco a Mãe de Deus, Abismo de Maravilhas, fonte da cura universal. Tu recebeste, não um anjo servidor, mas o «Anjo do Grande Conselho», descido sem ruído algum sobre o velo de lã como uma chuva de bondade, Aquele que renovou toda a natureza, doente e a ponto de se perder, com uma saúde inalterável e uma vida sem velhice: por Ele, o paralítico que em ti jazia saltou como um veado. Eu te saúdo, oh preciosa Porta das Ovelhas, e que se multiplique a tua graça!
Eu te saúdo, Maria, filha dulcíssima de Ana. De novo para ti o amor me impele. Como descrever o teu caminhar cheio de seriedade, os teus vestidos, a graça de teu rosto, a maturidade do discernimento num corpo juvenil? A tua forma de estar foi modesta, distante de todo o luxo e de toda a indolência; o teu caminhar era grave, sem precipitação, sem preguiça; o teu carácter era sério, temperado de júbilo, de uma perfeita reserva a propósito dos homens – disto é testemunho a inquietação que te surgiu aquando da proposta inesperada do anjo. A teus pais dócil e obediente, tinhas humildes sentimentos nas mais altas contemplações, palavra amável, provinda de uma alma pacífica. Em resumo: que outra digna morada senão tu para Deus? Com razão todas as gerações te proclamam bem-aventurada, oh glória insigne da humanidade! Tu és a honra do sacerdócio, a esperança dos cristãos, a planta fecunda da virgindade, porque é através de ti que o renome da virgindade se estendeu aos confins do mundo. «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o Fruto do teu ventre». Aqueles que confessam a tua maternidade divina são benditos, e malditos aqueles que a negam.

11. Joaquim e Ana, casal abençoado, recebei de mim estas palavras de aniversário. Oh filha de Joaquim e de Ana, oh Soberana, acolhe a palavra deste teu servo pecador, mas inflamada pelo amor, e para quem tu és a única esperança de alegria, a protectora da vida e, junto de teu Filho, a reconciliadora e firme garantia da salvação. Possa tu aliviar-me do fardo dos meus pecados, dissipar a névoa que obscurece o meu espírito e o peso que me agarra à matéria. Possas tu deter as tentações, governar felizmente a minha vida e conduzir-me pela mão até à felicidade do Alto. Concede ao mundo a paz, e a todos os habitantes ortodoxos desta cidade uma alegria perfeita e a salvação eterna, pelas orações de teus pais e de todo o Corpo da Igreja. Assim seja, assim seja! «Salve, oh cheia de graça, o Senhor está contigo! Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto de teu ventre», Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Ele a Glória, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.

21/05/2012

Profissão: feminista


É comum que os jornais, quando intentam mostrar a opinião das mulheres sobre algum assunto, interroguem justamente aquelas que se dizem "feministas".
Ora, este equívoco é lamentável. Não é justo chamar um curandeiro para representar os médicos, um arrancador de dentes representar os odontólogos, um misturador de massas de modelar para representar os químicos, um consertador de rádios para representar os engenheiros eletrônicos, uma prostituta para representar as mulheres.
Este último exemplo, por esdrúxulo que seja, não é tão humilhante para as mulheres do que serem representadas por uma "feminista". Explico-me: as meretrizes entregam seu corpo em troca de dinheiro. As feministas fazem algo mais degradante: em troca dos dólares que recebem do exterior, entregam, não o seu corpo, mas aquilo que há de mais nobre na mulher: sua vocação à maternidade. Associam-se em entidades fartamente remuneradas com a condição de fazerem tudo e somente aquilo para que são contratadas. Ao contrato do que possa parecer, elas são a expressão máxima da subserviência, do rebaixamento e da degradação feminina.
O que o patrão delas deseja? Que elas, renunciando ao instinto materno, ao desejo natural de fazer tudo por sua prole, até de dar a vida por ela, convertam-se em defensoras da legalização do hediondo crime do aborto. O poder corrosivo do dinheiro vai a ponto de fazê-las defender o direito que a mulher tem (?) de matar seus filhos. Nada mais estranho à índole da mulher e à psicologia feminina.
Os argumentos por elas utilizados para este macabro fim oscilam entre o hipócrita e o ridículo. Para referir-se à prática infanticida nunca usam o verbo "matar", e muito menos "assassinar". A palavra criança é evitada a todo custo, e para isto usam-se vários eufemismos e metonímias: concepto, produto conceptual, embrião, feto, blastocisto. Para o aborto o substitutivo mais comum é "interrupção da gravidez", embora nunca utilizem "interrupção da vida" para o assassinato de um adulto.
O aborto seria um direito de a mulher de dispor do seu próprio corpo, como se a criança fosse uma verruga, um quisto, um tumor, uma unha ou um fio de cabelo, um pedaço do corpo humano.
A atenção é concentrada sobre o drama das mulheres que morrem em "abortos mal feitos", sem que haja nenhuma lamentação pelas crianças que, bem ou mal assassinadas, foram jogadas fora como lixo. Paradoxalmente elas não se preocupam em legalizar o roubo, embora haja muitos ladrões de baixo poder aquisitivo, que morrem em "roubos mal feitos". Também não está na sua pauta a legalização do "sequestro", pois não há condolência pelos sequestradores que morrem em "sequestros mal feitos". O aborto, enquanto assassinato de um inocente e indefeso, supera em muito a monstruosidade de qualquer roubo ou sequestro. Mas aquela que pratica tal crime deve ter atenção especial por parte do Estado, a fim de que o extermínio de sua prole seja feito dentro das normas da "higiene" e da "segurança".
Ao defender o aborto, as feministas ousam dizer (pasmem!) que somente os homens o condenam, e isto apenas porque são homens. As mulheres sem dúvida, dizem elas, estão a seu favor. Quando recebem manifestações contrárias de mulheres pró-vida, procuram classificá-las não como mulheres, mas como "fundamentalistas religiosas" que querem impor sua "crença", sua "doutrina", a um Estado "laico". O respeito à vida nascente não seria então uma lei natural, mas apenas o capricho de uma seita, como a proibição de comer carne de porco ou de fazer transfusão de sangue.
O grito de guerra delas é a defesa da "vida das mulheres". Esquecem ou não querem lembrar, que cinquenta por cento das crianças abortadas são do sexo feminino, e que elas próprias já habitaram o útero.
Quantas são as feministas? Um número reduzidíssimo. No Congresso Nacional funciona "a todo vapor" um lobby pró-aborto chamado CFEMEA (lê-se cefêmea): Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Freqüentam o Congresso diariamente, como se não tivessem outras ocupações com a família ou o emprego. Nas sessões legislativas não passam de uma dúzia ocupando a galeria. No entanto seu trabalho é eficientíssimo. Fazem pesquisas, enquetes, pressões individuais sobre os deputados, promovem seminários, conferências, e para tanto, trazem abortistas de toda a parte do país. Imprimem livros e panfletos e os distribuem fartamente. Além disso, obtêm sempre um bom espaço nos meios de comunicação social. O dia da votação é cuidadosamente preparado, bem como os itens da pauta e a ordem em que serão apreciados. Em caso de perceberem uma possibilidade de derrota, conseguem habilmente, com algum dispositivo do regimento interno, o adiamento da votação.
Nenhum de nós, pró-vida, teríamos tempo e dinheiro para fazer o que elas fazem. De onde vem seu financiamento? A resposta encontra-se na ficha editorial (página 2) de qualquer boletim mensal do CFEMEA. Lá se encontra sempre em letras miúdas após a palavra "Apoio": Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), Fundo das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM) e duas entidades privadas: a Fundação Ford e a Fundação Mc Arthur. No Guia dos Direitos da Mulher, por elas publicado, aparece ainda um outro financiador: a UNICEF, que recentemente deixou de receber ajuda do Vaticano por estar patrocinando o aborto.
O CFEMEA não é a única entidade feminista. Há várias outras como o Fórum de Mulheres de Brasília, a União Brasileira de Mulheres, o Conselho Nacional de Direitos da Mulher, a Rede Nacional de Saúde e Direitos Reprodutivos... Mas o leitor não deve estranhar se descobrir que elas são apenas um punhado de pessoas, associando-se de diversas formas, com nomes pomposos, com o fim de causar impacto na opinião pública.
Verifica-se nas entidades feministas brasileiras aquilo que já planejava o Relatório Kissinger para o controle demográfico de treze países-chave, entre eles o Brasil. Dizia o referido documento, datado de 1974:
"A condição e a utilização das mulheres nas sociedades dos países subdesenvolvidos são de extrema importância na redução do tamanho da família" (NSSM 200, p. 151).
Quanto as feministas recebem? Isto é um enigma. Certamente é um salário alto, pois muitos são os doadores. Em 1994 o CFEMEA recebeu somente da Fundação Ford 175.000 dólares para "consolidar uma rede de saúde reprodutiva e direitos reprodutivos da mulher" (Fonte: New York - Civil Rights). Dados mais atuais e mais completos eu deixo para a investigação do leitor.
No dia 27 de fevereiro de 1997 tive oportunidade de presenciar como são marionetizadas as feministas. Naquele dia elas conseguiram reunir no Espaço Cultural da Câmara dos Deputados aborteiros de toda a parte: São Paulo, Campinas, Recife, Brasília, com o único fim de fazer propaganda do projeto de lei abortista 20/91. No final, a presidente da mesa, Guacira César de Oliveira, prestou seus agradecimentos ao "patrão": "Nós queremos agradecer ao Fundo das Nações Unidas para a População, que patrocinou este seminário". Pelo que me consta, não havia na sala nenhum representante da entidade patrocinadora. Mas a conferência estava sendo gravada e provavelmente o empregador gostaria de ouvir a um ato de gratidão das assalariadas.
O objetivo de instrumentalizar as mulheres para fins de controle demográfico transparece no investimento de 1,92 milhões de dólares feito pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para a criação de um Centro de Liderança da Mulher no Rio de Janeiro. Segundo a notícia, veiculada no dia 6/12/96, tal centro poderia proporcionar cursos de "treinamento" (sic) para 270 mulheres (Correio Braziliense, Economia e Trabalho, p. 13).
A legalização do aborto, depois da esterilização, é importantíssima para o controle demográfico. Já dizia o Relatório Kissinger:
"Certos fatos sobre o aborto precisam ser entendidos:
- nenhum país já reduziu o crescimento de sua população sem recorrer ao aborto" (NSSM 200, p. 182).
Os dados acima relatados creio sejam suficientes para o leitor descobrir que legalizar o aborto não é um desejo insano de alguns desocupados. É uma decisão consciente e minuciosamente planejada pelos organismos internacionais. Os quais no Brasil contam com as feministas como suas melhores servidoras.
Concluindo, perguntar se uma feminista é ou não a favor do aborto é uma redundância. Ela não pode se opor publicamente àquele que a financia. Ser feminista não é uma questão de convicção, mas de profissão. Profissão degradante, sem dúvida, abaixo mesmo da prostituição.
Assim sendo, quando o fim de uma entrevista for descobrir o que pensam as entidades estrangeiras sobre o aborto, as feministas são as pessoas indicadas. Assim, se quisermos saber o que o FNUAP pensa sobre o aborto, uma ótima ideia é entrevistar um membro do CFEMEA. Se quisermos saber o pensamento da Fundação Ford sobre o assunto, podemos entrevistar as "Católicas pelo Direito de Decidir". Se quisermos saber o que acha a Fundação Mc Arthur acerca do aborto, um ótimo recurso é entrevistar alguém do Grupo Transas do Corpo.
Porém nenhum jornalista pode cometer o crime de entrevistar os grupos acima como se eles representassem "as mulheres". Mulheres são seres humanos dos quais as feministas são grosseiras caricaturas. Para saber o que as mulheres pensam sobre o aborto, que tal entrevistar uma mãe de família, apaixonada pelos seus filhos e que nunca viu na sua frente um centavo de dólar?
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
18 de fevereiro de 1998


O CREDO POR SÃO TOMÁS DE AQUINO – VII ARTIGO


SÉTIMO ARTIGO
DONDE HÁ DE VIR A JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS

Julgar é função do rei: O rei, que está sentado no trono da justiça, pelo seu olhar dissipa todo o mal (Prov 20,8). Porque Cristo subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus como Senhor de todos, evidentemente compete-lhe o juízo. Por isso, pela Regra da Fé Católica, confessamos que virá julgar os vivos e os mortos. Isto também, foi dito pelo Anjo: Este Jesus, que do meio de vós foi elevado aos céus, virá também assim como o vistes subir para os céus (Mt 1,11).

Devemos considerar nesse juízo três coisas: Primeiro, a sua forma; segundo, que ele deve ser temido, e, terceiro, como para ele devemos nos preparar. 

No juízo devemos ainda distinguir três elementos componentes: quem é o juiz, quem deve ser julgado e qual a matéria do julgamento.

Cristo é o juiz, conforme se lê no Livro dos Atos: Ele que foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos(10,42). Pode este texto ser interpretado, ou chamando de mortos os pecadores e, de vivos, os que vivem retamente; ou designando vivos, por interpretação literal, os que agora vivem, e, mortos, todos os que morreram.

Ele é juiz não só enquanto Deus, mas também como homem, por três motivos:

Primeiro, porque é necessário, aos que vão ser julgados, verem o juiz. Como a Divindade é de tal modo deleitável que ninguém a pode ver sem se deleitar, e nenhum condenado poderia vê-la sem que não sentisse logo alegria, foi necessário que Cristo
aparecesse em forma só de homem, para que fosse visto por todos. Lê-se em S. João: Deu-lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem (5,27).

Segundo, porque Ele mereceu este ofício como homem. Ele, enquanto homem, foi injustamente julgado e, por isso, Deus O fez juiz de todos Lê--se: A tua causa foi julgada como a de um ímpio; receberás o julgamento das causas (Jo 36,17).

Terceiro, para que os homens não mais desesperem, vendo-se julgados por um homem. Se somente Deus julgasse, os homens ficariam desesperados. devido ao temor. (Mas todos verão um homem julgar), pois se lê em São Lucas: Verão o Filho do Homem vindo na nuvem (21.27). Serão julgados os que existiram, os que existem e existirão, conforme ensina São Paulo: Convém que todos nós sejamos apresentados diante do tribunal de Cristo, para que cada um manifeste o que fez de bom e de mal enquanto estava neste corpo (2 Cor 5,10).

Há quatro diferenças, segundo São Gregório, entre os que devem ser julgados.

Estes, ou são bons, ou são maus.

Entre os maus, alguns serão condenados, mas não julgados, como os infiéis, cujas ações não serão discutidas, porque, como está escrito, o que não crer já está julgado (10 3,18).

Outros, porém, serão condenados e julgados, como os fiéis que morreram em estado de pecado mortal. Disse o Apóstolo: o salário do pecado é a morte (Rom 6,23). Estes não serão excluídos do julgamento por causa da fé que tiveram.

Entre os bons também haverá os que serão salvos sem o julgamento, os pobres de espírito por amor de Deus. Lê-se em São Mateus: vós que me seguistes, na regeneração, quando o Filho do Homem estiver sentado em seu trono majestoso, sentar-vos-eis também sobre doze tronos, julgando as doze tribos de Israel (19,28).


Estas palavras não se dirigem só aos discípulos, mas a todos os pobres de espírito. Caso assim não fosse, São Paulo que trabalhou mais que todos, não estaria nesse número. Este texto deve, portanto, ser aplicado a todos os que seguiram os Apóstolos, e aos varões apostólicos. Eis porque São Paulo escreve:Não sabeis que julgamos os Anjos? (1 Cor 6,3). Lê-se ainda em Isaías: O Senhor virá com seniores e com os príncipes do seu povo (Is 3,14).

Outros serão salvos e julgados, isto é, aqueles que morreram em estado de justificação. Bem que tivessem morrido neste estado, erraram, todavia, em alguma coisa durante a vida terrestre. Serão, por isso, julgados, mas receberão a salvação.

Todos serão julgados pelos atos bons e maus que praticaram. Lê-se na Escritura: Segue os caminhos do teu coração. .. mas fica certo de que Deus te levará ao julgamento por causa deles (Ecle 11,9); Deus citará no julgamento todas as tuas ações, até as ocultas, quer sejam boas, quer sejam más (EcIe 13,14). Serão julgados também pelas palavras inúteis: Toda palavra inútil pronunciada por alguém, este dará conta dela no dia do juízo (Mt 12,36).

Serão julgados, por fim, pelos pensamentos que tiveram. Lê-se no livro da Sabedoria: Os ímpios serão argüidos a respeito dos seus pensamentos (1,9).

Fica assim esclarecida qual a matéria do julgamento.
Por quatro motivos deve ser temido aquele juízo.
Primeiro, devido à sabedoria do juiz, porque ele conhece todas as coisas, os pensamentos. as palavras e as ações, já que, como se lê na Carta aos Hebreus, todas as coisas estão nuas e abertas aos seus olhos(4,13). Lê-se ainda na Escritura: Todos os caminhos dos homens estão diante dos seus olhos (Prov 16,1). - Conhece Ele as nossas palavras: Os seus ouvidos atentos ouvem tudo (Sab 1,10). Conhece os nossos pensamentos: O coração do homem é depravado e impenetrável. Quem o pode conhecer? Eu, o Senhor, penetro rios corações e sondo os rins, retribuo a cada um conforme o seu caminho e conforme os frutos dos seus pensamentos (Jer 17,9).

Haverá neste juízo também testemunhas infalíveis, isto é, as próprias 'consciências dos homens, segundo se lê em São Paulo: A consciência deles servirá de testemunho no dia em que o Senhor julgar as coisas ocultas dos homens, enquanto pelos pensamentos se acusam ou se defendem (Rom 2,15,16).

Segundo, devido ao poder do juiz, porque Ele é em si mesmo todo-poderoso. Lê-se: Eis que o Senhor virá com fortaleza (Is 11,10). É poderoso também sobre os outros, porque toda criatura estava com Ele: Lê-se:O universo inteiro combaterá com ele contra os insensatos (Sab 5,2); Ninguém há que possa livrar-se da vossa mão (Jo 10,7); e ainda: Se subo aos céus, vós ali estais; se desço aos infernos, estais lá também(SI 138,8).

Terceiro, devido à justiça inflexível do juiz. Agora é o tempo da misericórdia. Mas o tempo futuro é tempo só de justiça. Por isso, o tempo de agora é nosso; mas o tempo futuro será só de Deus. Lê-se: No tempo que eu determinar, farei justiça (SI 134,3). O varão furioso de ciúmes não lhe perdoará no dia da vingança, não atenderá às suas súplicas, nem receberá como satisfação presentes, por maiores que. sejam (Prov 6,34).
Quarto, devido à ira do juiz. Aparecerá aos jústos doce e deleitável, porque, conforme diz Isaías: Verão o rei na sua beleza (Is 33,17). Aos maus, porém, aparecerá tão irado e cruel, que eles dirão aos montes: Caí sobre nós, e escondei-nos da ira do cordeiro (Ap 6,16).

Esta ira em Deus não significa uma comoção de espírito, mas signnica o efeito da ira, a pena infligida aos pecados, isto é, a pena eterna. A propósito disso escreveu Orígenes: Como serão estreitos os caminhos no juízo! No fim estará o juiz irado.
Contra este temor devemos aplicar quatro remédios.
primeiro remédio é a boa ação. Lê-se em São Paulo: Queres não temer a autoridade? Faze o bem e receberás dela o louvor (Rom 13,3).

segundo, é a confissão dos pecados cometidos e a penitência feita por eles. Na confissão deve haver três coisas: a dor interior, a vergonha da confissão dos pecados e o rigor da satisfação por eles. São essas três coisas que redimem a pena eterna.

terceiro remédio é a esmola que toma tudo puro, segundo as palavras do Senhor: Conquistai amigos com o dinheiro da iniqüidade, para que, quando cairdes, eles vos recebam nas lendas eternas (Lc 26,9). (41)

O quarto remédio é a caridade, quer dizer, o amor de Deus e do próximo, pois conforme a Escritura: A caridade cobre uma multidão de pecados (lPed 4,8; cir. Prov 10,12).

18/05/2012

O CREDO POR SÃO TOMÁS DE AQUINO – VI ARTIGO

SEXTO ARTIGO
SUBIU AOS CÉUS E ESTÁ SENTADO À DIREITA DE DEUS PAI TODO-PODEROSO

Depois de se afirmar a Ressurreição de Cristo, convém crer na Sua Ascenção, pois Ele subiu para o céu após quarenta dias de ressuscitado. Eis porque se diz no Credo: "Subiu aos céus.". Devemos considerar as três características principais deste acontecimento, isto é, que ele foi sublime, racional e útil.
Foi sublime, porque Ele subiu para os céus.

Explica-se isto de três maneiras:

Primeiro porque Ele subiu acima de todos os céus corpóreos, conforme se lê em São Paulo: Subiu acima de todos os céus (Ef 4,10). Tal ascenção foi realizada pela primeira vez por Cristo, porque até então o corpo terreno estivera somente na terra, sendo o paraíso onde esteve Adão, situado também na terra.

Segundo porque subiu sobre todos os céus espirituais, isto é, acima das naturezas espirituais, como se lê também em São Paulo: Colocando (o Pai) Jesus à sua direita nos céus, sobre todo principado, Potestade, Virtude, Dominação e acima de todo nome que se pronuncia não só neste século, mas também nos futuros e tudo colocou sob os seus pés (Ef 1,20) .

Terceiro porque subiu até ao trono do Pai. Lê-se nas Escrituras: Eis que vinha sobre as nuvens do céu como um Filho de Homem; Ele dirigiu-se para o Ancião, e foi conduzido à sua presença (Dan 7,13). Lê-se também em São Marcos: E o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado subiu ao céu, e sentou-se à direita de Deus (16,19). A expressão direita de Deus não deve ser entendida em sentido corporal, mas em sentido metafórico. Enquanto Deus, diz-se que Cristo está sentado à direita de Deus, porque é igual ao Pai; enquanto homem, diz-se que Cristo está sentado à direita do Pai, porque goza dos melhores bens. O diabo aspirou também semelhante elevação, como se lê em Isaías: Subirei ao céu, acima dos astros de Deus colocarei o meu trono; sentar-me-ei no Monte da Promessa, que está do lado do Aquilão; subirei acima da elevação das nuvens, serei semelhante ao Altíssimo (14,13). Mas a tal altura não se elevou senão Cristo, razão pela qual se diz no Credo: Subiu aas céus e está sentado à direita do Pai, o que é confirmado no Livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor, senta-te a minha direita (SI 109,1).

A Ascensão de Cristo foi racional por três motivos.

Primeiro, porque o céu era devido a Cristo por exigência da sua natureza. É, com efeito, natural que cada coisa retome à sua origem. Cristo tem sua origem em Deus, que está acima de todas as coisas, conforme Ele mesmo disse: Saí do Pai, e vim ao mundo; deixo agora o mundo e volta para o Pai (J o 16,18). Disse também: ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu (Jo 3,13),
Apesar de os Santos irem para o céu, todavia não o fazem como Cristo: porque Cristo o fez por seu próprio poder; os santos, porém, levados por Cristo. Lê-se no Livro dos Cânticos: Leva-me na Vossa sequência (Cant 1,3). Pode-se explicar de outra maneira porque se diz que ninguém subiu ao céu a não ser Cristo: os Santos não sobem senão enquanto membros de Cristo; que é a cabeça da Igreja, conforme está escrito em São Mateus: Onde estiver o corpo, aí as águias se congregarão (24,28).


Em segundo lugar, a Ascensão de Cristo foi racional devido à sua vitória. Sabemos que Cristo veio ao mundo para lutar contra o diabo, e o venceu. Por isso mereceu ser exaltado sobre todas as coisas. Confirma-o o Apóstolo: Eu venci, e sentei-me com o Pai no seu trono (Ap 3,21).

A Ascensão de Cristo foi racional, em terceiro lugar, por causa da humildade de Cristo, que, sendo Deus, quis fazer-se homem; sendo Senhor, quis suportar a condição de escravo, fazendo-se obediente até à morte, segundo se lê na Carta aos Filipenses (2,1), descendo ainda até ao inferno. Por isso mereceu ser exaltado até ao céu e sentar-se à direita de Deus. A humildade é, com efeito, o caminho da exaltação, como se lê em São Lucas: Quem se humilha, será exaltado (14,11). Escreveu também São Paulo:
O que desceu do céu, este é o que subiu acima de todos os céus (Ef 4,10).

A Ascensão de Cristo foi além de sublime e racional, também útil. 

Essa afirmação pode ser esclarecida em três dos seus aspectos.

O primeiro, refere-se ao fim da Ascensão, pois Cristo foi para o céu para nos conduzir até lá. Desconhecíamos o caminho, mas Ele no-lo ensinou, Lê-se: Subiu abrindo o caminho na frente deles (Mt 2,13). Subiu ao céu também para nos fazer seguros da posse do reino celeste, conforme se lê em São João: Vou preparar-vos o lugar (Jo 14,2).

O segundo, refere-se à segurança que a Ascensão nos trouxe, pois subiu aos céus ;para interceder por nós. Lê-se: Subiu por si mesmo aa Deus sempre vivo para interceder por nós(Heb 7,25). Lê-se também: Temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo (1 J o 21),

O terceiro, para atrair a si os nossos corações, segundo está escrito em São Mateus: Onde está o teu coração está o teu tesouro (6,21), e para que desprezemos as coisas temporais, como nos exorta o Apóstolo S. Paulo: Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alta, onde Cristo está sentado à direita de Deus; saboreai as coisas do alta e não as da terra (Col 3,1).

17/05/2012

EPÍSTOLA DE EFRÉM DA SÍRIA A UM MONGE SOBRE A HUMILDADE, A CARIDADE E A FIDELIDADE À FÉ DA IGREJA CATÓLICA


Tradução: Carlos Martins Nabeto

Santo Efrém da Síria (306-373 d.C. aprox.), Padre da Igreja, expõe nesta epístola uma série de questões espirituais referentes à vida monástica, entre elas a humildade, a vivência da caridade e a exortação para que o cristão seja sempre fiel à fé que recebeu da Igreja Católica.


Meu bem-amado no Senhor,
Quando desejardes dar alguma resposta, deves por em tua boca, antes de mais nada, a humildade uma vez que sabes muito bem que, por ela, todo o poder do inimigo se reduz a nada. Tu conheces a bondade do teu Mestre, que foi blasfemado, e como Ele se fez humilde e obediente inclusive até a morte. Filho meu, trabalha por ti mesmo para firmar a humildade em tua boca, em teu coração e em teu colo, pois há um mandamento que a exige. Lembra-te de Davi, que vangloriava-se por sua humildade e disse: “Porque me humilho, o Senhor me libertou e me abençoou” (Sal 29 [30], 8-12). Filho meu, apega-te à humildade e farás com que as virtudes de Deus te acompanhem. E se permanecerdes no estado de humildade, nenhuma paixão, qualquer que seja, poderá dominar-te. Não existe medida para a beleza do homem que é humilde. Não há paixão, qualquer que seja, capaz de dominar o homem humilde; e não há medida para a sua beleza. O homem humilde é um sacrifício a Deus. O coração de Deus e de seus anjos descansam naquele que é humilde. Mais ainda: quando os anjos o glorificam, é porque houve uma razão para ele obter todas as virtudes; porém, aquele que se revestiu da humildade não necessita de nenhuma razão além de se Ter feito humilde.
Filho meu, estas são as virtudes da humildade. Filho meu, conserva a paz, pois está escrito: “Aquele que é sábio, nesse momento conservará a paz” (Am 5, 13). Mantém a paz até que te questionem. E quando te questionarem, fale usando palavras humildes; comporta-te também de maneira humilde. Não lamentes. Se a pergunta exigir extensa resposta, senta-te. Nunca fales enquanto os outros estiverem usando palavras de desprezo; mas, alegremente, não esqueças que teus pensamentos devem ser estes: “não escutei [as palavras de desprezo]”. Prestai tua máxima atenção, porém, à toda palavra valiosa, pois está escrito: “Se tu deixas passar a palavra e não a escuta, te enganas a ti mesmo, filho meu no Senhor”. Te dei mandamentos desde o princípio; guarda-os desde a juventude. Examina o que diz Paulo; disse: “Desde o tempo em que eras um menino, conhecias a Santa Escritura, que tem o poder para te salvar” (2Tim 3,15). Aprende toda regra dos preceitos do monge, e faz-te querido em todos os teus trabalhos. Se tu, que sois jovem, vais para o deserto e te estabeleces em um local muito grande para ti e vês que Deus ali está, não deixes esse lugar para ir para outro, porque estais descontente. Deixa que o deserto em que te estabeleceste te seja suficiente, não deixeis que Ele se ofenda, pois está escrito: “Não é uma pequena coisa contrária que provocará a ira nos homens”.
No deserto em que te estabeleceste mantém esta maneira de agir e não fujas de um lugar para outro. Não te dirija à morada de ninguém para lamentar no que crês, muito menos por causa dos desejos do teu estômago. Não estejas em companhia do homem agitado e problemático, mas assegura-te em continuar com tua vida silenciosa; não estejas também na boca dos teus irmãos. Te suplico, meu amado no Senhor, que deixeis que tua meta principal seja aprender; escutar com atenção (ou obedecer) te dará a paz, pois está escrito: “O proveito da instrução não é a prata”. Cuida-te para jamais deixar de escutar (ou desobedecer). Que a palavra de Saul não se realize em ti, nem em tua geração, pois Deus é mais facilmente persuadido pela obediência do que pelo sacrifício (cf. 1 Sam 15, 22).
Estas são, então, as regras do ofício do monge: deves comer com os irmãos; não levantes a cabeça enquanto não tiver terminado de comer; come com a roupa que te deixas ver em público; se acontecer de serdes o último a ser servido, não digas: “Traga-me logo, pois aqui está sentado alguém maior que tu”; quando desejares beber da garrafa de água, não deixes que tua garganta cause confusão como um homem comum; quando estiverdes sentado no meio dos irmãos e desejares cuspir, não o faça no meio deles, mas afasta-te a certa distância e então cospe.
Quando estiverdes dormindo em algum lugar com os irmãos, não permitas que pessoa alguma se aproxime a menos de um cotovelo de distância. Se o trabalho for tranqüilo, não durmas sobre a esteira, mas dobra-a pois sois um homem jovem. Não durmas estendido, nem tampouco de costas, para que teus sonhos não te molestem.
Quando estiverdes caminhando com os irmãos, mantém-te sempre a alguma distância deles, pois quando caminhas com um irmão fazes com que teu coração esteja ocioso. Se estiverdes usando sandálias nos pés e o que caminha contigo não as têm, desata-as e caminha como ele, pois está escrito: “Sofrereis”.
Faz o trabalho do pregador. Faça-o cuidadosamente enquanto estiverdes em tua habitação. Não comas enquanto o sol estiver brilhando. Não acendas a fogueira para ti apenas, ou te transformarás num homem exibido. Quando for necessário aquecer-se, chama algum homem pobre e miserável que está contigo no deserto, e serás elogiado, ao dizer: “Não posso comer sozinho o meu pão”.
Se estiverdes numa montanha ou em um lugar onde há algum irmão doente, visita-o duas vezes ao dia: de manhã, antes de começardes a trabalhar com tuas mãos, e à tarde; pois está escrito, meu amado no Senhor: “Estive doente e tu me visitaste” (Mt 25, 36. 43). Quando um irmão morre na montanha onde estás, não te sentes na cela onde consegues ouvir a notícia, mas vai sentar-te com ele e chora sobre ele; pois está escrito: “Chora pelo homem falecido e caminha com ele até que seja enterrado”, pois esta é a última coisa que se pode fazer por seu irmão. Saúda seu corpo com compaixão, dizendo: “Lembra-te de mim diante do Senhor”.
Filho meu, faz tudo o possível para observar as coisas que escrevi para ti, pois elas são as regras do ofício do monge. Deixa que a morte se aproxime de ti de dia e de noite, pois tu sabes que conheces ela e te dirá: “Eu nunca a pus em meu coração. Meus pés estão no umbral e viverei até cruzar o umbral da porta”. Filho meu, põe sempre toda a tua mente diante de Deus e não deixes que todos estes pensamentos instáveis te desviem do caminho. Tem sempre em vista os castigos que vêm. Enquanto estiverdes em tua habitação, faz-te semelhante a Deus.
Se um irmão vem até ti, regozija-te com ele. Saúda-o. Prepara água para seus pés. Não esqueça isto. Que ele reze. Ficai sentado. Saúda suas mãos e seus pés. Não o incomodes com perguntas como: “De onde vens?”; pois está escrito: “Desta maneira, alguns, sem saber, têm recebido anjos em sua morada” (Heb 12, 2). Crê naquele que veio a ti da mesma forma como crerias em Deus. Se ele for um homem mais virtuoso que tu, diga-lhe humildemente: “Que teu favor esteja sobre mim”, o que equivale a dizer: “Tu és meu mestre”. Guarda tua comida e come com ele. E se tiverdes algum compromisso, desmarca-o; pois está escrito: “Filho meu, sempre me traz prazer acompanhar o homem que quer caminhar”. Deves regozijar-te com ele e estar feliz. Fazei o máximo que puder para que te bendiga três vezes, para que a bênção do anjo que entrou com ele venha sobre ti.
E como exige a mesma fé da Igreja Católica, não te desvies dela, nem te ponhas fora dela. Cremos em só Deus, Pai todo-poderoso, e em seu Filho único, Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem foi feito o universo, e no Espírito Santo, ou seja, [cremos] na Santíssima Trindade, a divindade plena. Ele [Jesus] é Deus, Ele estava com Deus, Ele é a Luz que vem da Luz, Ele é o Senhor que vem do Senhor. Ele foi gerado, não criado. Foi gerado como homem. Ele não é uma criatura, é Deus. Foi gerado pela Santíssima Virgem Maria, a mulher que levou Deus em seu seio. Ele tomou a carne do homem para o nosso bem, [veio] à terra e dela ascendeu. Escolheu pregadores, os Santos Apóstolos, cujas vozes, conforme o que está escrito, têm sido ouvidas em toda a terra (Sal 18 [19],4). Fui crucificado e traspassado com uma lança. Daí veio a nossa salvação, Água e Sangue, isto é, o Batismo e o glorioso Sangue; quem não recebeu o Sangue, não foi batizado.
Faz isto, filho meu. Mantém esta fé e o Deus da paz estará contigo, e te salvará, e te libertará, e estarás em paz pelo resto dos teus dias. A salvação está no Senhor, filho querido, no Senhor. Lembra-te de mim, amado no Senhor, por Jesus, o Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

Em defesa da Santa Fé: SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Em defesa da Santa Fé: SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR: Postado por Elias, O Profeta A ascensão é a segunda festa que se celebra dentro do ciclo litúrgico da vida do salvador. Er...

16/05/2012

O CREDO POR SÃO TOMÁS DE AQUINO – V ARTIGO


QUINTO ARTIGO
DESCEU AOS INFERNOS AO TERCEIRO DIA RESSURGIU DOS MORTOS

Como dissemos acima, a morte de Cristo consistiu na separação da alma e do corpo, como na morte dos outros homens. Mas a divindade estava de tal modo ligada ao homem Cristo, que, apesar de a alma e o corpo terem se separado entre si, a própria Deidade sempre esteve unida ao corpo e à alma de um modo perfeitíssimo. Eis por que no sepulcro estava presente o Filho de Deus, o qual desceu também com a alma aos infernos. Por quatro razões Cristo desceu com a alma aos infernos: A primeira, para que suportasse toda a pena do pecado, e, assim, expiasse toda a culpa. A pena do pecado do homem não foi somente a morte do corpo, mas também uma punição na alma. Por que o pecado era também da alma, esta deveria ser punida pela privação da visão divina. Ora, não se tinha ainda apresentado uma satisfação para que esta privação fosse afastada. Por isso, antes do advento de Cristo, todos desciam aos infernos, até os Santos Patriarcas. Para Cristo carregar sobre Si toda a punição devida aos pecadores, quis não somente morrer, mas também descer com a alma aos infernos. Lê-se nos Salmos: Fui considerado como um homem caído na fossa; fiquei como um homem sem auxílio, livre no meio dos mortos (87, 5-6). Os outros aí estavam como escravos. Cristo, como um homem livre.

A segunda razão da descida de Cristo aos infernos, foi ir em socorro de todos os Seus amigos. Tinha ele os Seus amigos não só no mundo, mas também nos infernos. Manifestam-se alguns como amigos de Cristo, nisto: têm caridade. Muitos estavam nos infernos que para lá desceram possuindo caridade e fé no Esperado, como Abraão, Isaac, Jacó, Davi e muitos outros homens justos e perfeitos.

Como Cristo visitara os seus amigos no mundo, e os socorrera pela própria morte, quis também visitar aqueles amigos que estavam no inferno, e socorrê-los, indo também a eles. Lê-se no Livro do Eclesiástico: Penetrarei em todas as partes interiores da terra, e verei todos os que aí dormem, e iluminarei todos os que esperam no Senhor (24,25).

A terceira razão, foi para que Cristo tivesse uma vitória perfeita contra o diabo.

Alguém só tem um perfeito triunfo sobre outrem, não apenas quando o vence no campo de batalha, mas até quando ainda lhe invade a própria casa, e se apodera da sede do reino e do palácio.

Cristo já havia triunfado do diabo e já o vencera da cruz, pois se lê em São João: Agora é o julgamento do mundo, agora o príncipe deste mundo (isto é, o diabo) será lançado fora (Jo 12,31). Para que Cristo triunfasse sobre o diabo de um modo completo, quis tirar-lhe a sede do reino e prendê-lo na sua própria casa, que é o inferno.

Por isso aí desceu, tirou-lhe todos os bens, aprisionou-o e apoderou-se da sua presa. Lê-se: Despojando os principados e as sociedades, exibiu-os publicamente, triunfando deles na cruz (Col 2,15). Devemos considerar que como Cristo recebera o poder e a posse do céu e da terra, deveria também ter a posse do inferno, como se lê na Carta aos Filipenses: Ao nome de Jesus dobre-se todo joelho, dos que estão nos céus, na terra e nos infernos (Fil. 2,10). O próprio Jesus dissera: Em meu nome expulsarão os demônios.(Ma 16,17).

A quarta e última razão, foi para libertar os santos que estavam nos infernos.

Assim como Cristo quis submeter-se à morte para libertar os vivos, da morte, quis também descer aos infernos, para libertar os que aí se encontravam: Lê-se: Vós também (Senhor), pelo Sangue do vosso testamento, tírastes os Seus que estavam presos na fossa, onde não havia água .. (Zac 9,11). – O morte, serei a tua morte, ó inferno, serei para ti como uma mordida. (Os 13,14).

Bem que Cristo tivesse totalmente destruido a morte, não destruiu completamente o inferno, mas como que o mordeu, por que não libertou todos os que nele estavam, mas somente os que não tinham pecado mortal, nem o pecado original.

Deste, foram libertados, enquanto pessoas indivíduas, pela circuncisão, e, antes da instituição da circuncisão, as crianças privadas do uso da razão, pela fé dos pais fiéis; os adultos, pelos sacrifícios e pela fé no Cristo que esperavam. Estavam no inferno devido ao pecado original causado por Adão, do qual não poderiam ser libertados, enquanto pecado que era da natureza humana, senão por Cristo.

Deixou então os que aí desceram com pecado mortal e as crianças incircuncisas . Por isso disse ao descer ao inferno: Serei para ti como uma mordida (Os 13,14)

Do exposto, podemos tirar quatro ensinamentos para nossa instrução: Primeiro, uma firme esperança em Deus, pois quando o homem está em aflição, deve sempre esperar do auxílio divino e Nele confiar. Nada há de mais sério do que cair no inferno. Se portanto, Cristo libertou os que estavam nos infernos, cada um, se é de fato amigo de Deus, deve muito confiar para que Ele o liberte de qualquer angústia. Lê-se: Esta (isto é, a sabedoria) não abandonou o justo que foi vencido (. . .), desceu com ele na fossa, e na prisão o não abandonou (Sab 10,13-14). Como Deus auxilia aos seus servos de um modo todo especial, aquele que O serve deve estar sempre muito seguro. Lê-se: O que teme ao Senhor por nada trepidará e nada temerá por que Ele é a sua esperança (Ecl 39,16).

Segundo, devemos despertar em nós o temor, e de nós afastar presunção. Pois, apesar de Cristo ter suportado a paixão pelos pecadores, e ter descido aos infernos, não libertou a todos mas somente àqueles que estavam sem pecado mortal, como acima foi dito. Aqueles que morreram em pecado mortal, deixou-os abandonados. Por isso ninguém que desça lá com pecado mortal espere perdão. Mas ficarão no inferno o tempo em que os Santos Patriarcas estiverem no Paraíso, isto é, para toda a eternidade. Lê-se em São Mateus: Irão os malditos para o suplício eterno, os justos, porém, para o Paraíso (25,46).

Terceiro, devemos viver atentos, porque se Cristo desceu aos infernos para a nossa salvação, também nós devemos, com solicitude lá descer em espírito, meditando sobre as penas nele existentes, imitando o Santo Ezequias, que dizia: Irão os mal; para o suplício eterno, os justos, porém, para o Paraíso (Is 38,10). Desse modo, aquele que em vida, vai lá pela meditação, não descerá facilmente para o inferno na morte, porque tal medi¬tação o afasta do pecado. Ao vermos como os homens deste mundo evitam as más ações por temor das penas temporais", como não deveriam eles muito mais se resguardarem do pecado por causa das penas do inferno, que são muito mais longas, mais cruéis e mais numerosas? Eis porque lê-se nas Escrituras: Lembra-te dos teus últimos dias, e não pecarás para sempre (Ecle 7,40).

O quarto ensinamento tirado da descida de Cristo aos infernos, é nos ter Ele oferecido um exemplo de amor. Cristo desceu aos infernos para libertar os seus. Devemos também nós descer pela meditação, para auxiliar os nossos. Eles, por si mesmos, nada podem conseguir. Nós é que devemos ir em socorro dos que estão no purgatório. Se alguém não quisesse socorrer um ente querido que estivesse na prisão, como isso nos pareceria cruel! No entanto, seria muito mais cruel aquele que não viesse em socorro do amigo que está no purgatório, pois não há comparação entre as penas deste mundo e aquelas. Lê-se a esse respeito: Tende piedade de mim, tende piedade de mim, pelo menos vós, Ó meus amigos, porque a mão de Deus me feriu (Jo 19,21); - É santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos para que sejam livres dos pecados (Mc 19,46).

São auxiliados, conforme disse Agostinho, os que estão no purgatório, principalmente por três atos: pelas Missas, pelas orações e pelas esmolas. Gregório acrescenta um quarto: o jejum. Não deve causar que assim seja, porque também neste mundo o amigo pode satisfazer pelo amigo. A mesma coisa acontece com os que estão no purgatório.

É necessário que o homem conheça duas coisas: a glória de Deus e a pena do inferno. 

Elevados pela glória de Deus, e aterrorizados pela pena do inferno, os homens cuidam melhor das suas ações e afastam-se do pecado. Mas é muitíssimo difícil para o homem conhecer essas duas coisas. Com relação à glória, lê-se: Quem poderá conhecer as coisas do céu? (Sab 9,16). Isso é realmente muito difícil para os habitantes da terra, porque se lê em São João: O que é da terra, fala das coisas da terra (Jo 3,31). Para os espirituais; porém, não o é, porque o que veio do céu, está acima de todos, conforme continua aquele texto. Por conseguinte, Deus desceu do céu e se encarnou, para nos ensinar as coisas do céu.

Com relação à pena do inferno, era também muito difícil conhecê-la. Lê-se no Livro da Sabedoria: Não se conhece quem tenha voltado dos infernos (Sab 2,1). Essa passagem da Escritura refere-se às pessoas dos ímpios. Mas agora isso não mais pode ser dito, porque, como Ele desceu do céu para ensinar as coisas do céu, também ressurgiu dos infernos para esclarecer-nos sobre as coisas do inferno.

É necessário, pois, que creiamos não apenas que Ele se fez homem e que morreu, bem como ressurgiu dos mortos. Por que esse motivo é professado no Credo: Ao terceiro dia res¬surgiu dos mortos. Lemos nos Evangelhos que muitos ressuscitaram dos mortos, como Lázaro, o filho da viúva e a filha do chefe da Sinagoga.

Mas a Ressurreição de Cristo difere daquelas e de outras, em quatro aspectos. Primeiro, devido à causada ressurreição, porque os outros que ressuscitaram, não ressusitaram por próprio poder, mas pelo poder de Cristo ou das orações de algum santo. Cristo ressus¬citou por próprio poder, porque não era apenas homem, mas também Deus, e a divindade do Verbo jamais se separou nem da sua alma, nem do seu corpo. Por isso, o corpo reassumia a alma e a alma o corpo, quando queria. Lê-se: Tenho poder para entregar a minha alma, bem como para a reassumir (Jo 10,18). Bem que tenha sido morto, não o foi por fraqueza ou por necessidade, mas, espontaneamente. Isto é verdade, porque quando Cristo entregou o seu espírito, deu um grito. Os outros, porém, que morrem, não O podem dar, porque morrem por fraqueza. O centurião exclamou no Calvário: Ele era verdadeiramente o Filho de Deus (Mt 87,54).

Como Cristo por sua própria força entregou a alma, reassu¬miu-a também por própria força. Por isso é dito no Credo ressuscitou e não - foi ressuscitado, como se o fosse por outro. Lê-se nos Salmos: Dormi, caí em profundo sono e res¬surgi (3,6). Não há, porém, contradição entre este texto e o dos Atos dos Apóstolos: Este Jesus, ressuscitou-O Deus (Act 2,32) porque o Pai O ressuscitou, e o Filho também O ressuscitou, já que a virtude do Pai e a do Filho são a mesma virtude.

Difere, em segundo lugar, devido à vida que fora ressuscitada. Cristo ressuscitou para a vida gloriosa e incorruptível, con¬forme se lê na Carta aos Romanos: Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai (Cor 6,4). Os outros, para a mesma vida que antes possuíam, como se verificou em Lázaro e nos outros ressuscitados.
Difere ainda a Ressurreição dc Cristo da dos outros quanto à sua eficácia e quanto ao seu futuro, porque foi cm virtude daquela que todos ressuscitaram. Lê-se: Muitos corpos dos Santos que dormiam ressuscitaram (Mt 2,7,52). Cristo ressurgiu dos mortos, primícia dos que dormem (Cor 15,20). Vede bem que Cristo pela Paixão chegou à glória, conforme está escrito em São Lucas: Não foi conveniente que Cristo assim padecesse, para poder entrar na sua glória? (Is 24,26), para nos ensinar como podemos chegar à glória: Por muitas tributações devemos passar para entrar no reino de Deus (Mt 14,21).

A quarta diferença é relativa ao tempo, porque a ressurreição dos outros foi retardada para o fim dos tempos, a não ser que tenha sido concedida por privilégio, como a da Virgem Santa, e, conforme se crê piedosamente, a de São João Evangelista. Cristo, porém, ressuscitou ao terceiro dia porque a sua Ressurreição e a sua Morte realizaram-se para a nossa salvação, e Ele, portanto, só quis ressurgir quando fosse isso vantajoso para a nossa salvação. Ora, se ressuscitasse imediatamente após a morte, não se acreditaria que Ele tivesse morrido. Se fosse demasiadamente protelada a ressurreição, os discípulos não perseverariam na fé, e nenhuma utilidade teria a sua Paixão. Lê-se nos Salmos: Que utilidade haveria em ter eu derramado o sangue, se desci ao lugar da corrupção? (29,10). Ressuscitou no terceiro dia para que se acreditasse na sua morte e para que os discípulos não perdessem a fé.

Sobre o que acabamos de expor, podemos fazer quatro consi¬derações para nossa instrução. Primeiro,que devemos nos esforçar para ressurgirmos espiri¬tualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência. Escreve o Apóstolo: Surge, tu que dormes, ressurge dos mor¬tos, e Cristo te iluminará (Ef 5,14). Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o Apocalipse: Feliz o que teve parte na primeira ressurreição (Ap 20,6).
Segundo, que não devemos protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou no terceiro dia. Lê-se: Não tardes na conversão para o Senhor, e não a delon¬gues dia por dia(Ecle 5,8). Por que estás agravado pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa

Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta Romanos: Assim também vós vos considereis mortos para pecado: Vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhes as concuspicências; não exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para como vivos que saíram da morte (Rom 6,9; 11-13).

Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e pecado. Lê-se na Carta aos Romanos: Como Cristo ressurge entre os mortos pela glória do Pai, também nós deve mos ¬andar na novidade de vida (Rom 5,4). Esta vida nova é da de justiça, que renova a alma e a conduz para a glória.

15/05/2012

O CÂNON BÍBLICO



·       "Cânon 36 - Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos1, dois livros dos Paralipômenos2, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão3, doze livros dos Profetas4, Isaías, Jeremias5, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras6 e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos7, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo8, uma do mesmo aos Hebreus9, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João.10 Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar11. É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários12(Concílio de Hipona, 08.Out.393).

·       "Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros dos Paralipômenos, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão, doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João12. Isto se fará saber também ao nosso santo irmão e sacerdote, Bonifácio, bispo da cidade de Roma, ou a outros bispos daquela região, para que este cânon seja confirmado, pois foi isto que recebemos dos Padres como lícito para ler na Igreja" (Concílio de Cartago III (397) e Concílio de Cartago IV (419)).

·       "Tratemos agora sobre o que sente a Igreja Católica universal, bem como o que se dever ter como Sagradas Escrituras: um livro do Gênese, um livro do Êxodo, um livro do Levítico, um livro dos números, um livro do Deuteronômio; um livro de Josué, um livro dos Juízes, um livro de Rute; quatro livros dos Reis13, dois dos Paralipômenos; um livro do Saltério; três livros de Salomão: um dos Provérbios, um do Eclesiastes e um do Cântico dos Cânticos; outros: um da Sabedoria, um do Eclesiástico. Um de Isaías, um de Jeremias com um de Baruc e mais suas Lamentações, um de Ezequiel, um de Daniel; um de Joel, um de Abdias, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias, um de Malaquias. Um de Jó, um de Tobias, um de Judite, um de Ester, dois de Esdras, dois dos Macabeus. Um evangelho segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas, um segundo João. [Epístolas:] a dos Romanos, uma; a dos Coríntios, duas; a dos Efésios, uma; a dos Tessalonicenses, duas; a dos Gálatas, uma; a dos Filipenses, uma; a dos Colossences, uma; a Timóteo, duas; a Tito, uma; a Filemon, uma; aos Hebreus, uma. Apocalipse de João apóstolo; um, Atos dos Apóstolos, um. [Outras epístolas:] de Pedro apóstolo, duas; de Tiago apóstolo, uma; de João apóstolo, uma; do outro João presbítero, duas14; de Judas, o zelota, uma. (Catálogo dos livros sagrados, composto durante o pontificado de São Dâmaso [366-384], no Concílio de Roma de 382)

·       "Quais os livros aceitos no cânon das Escrituras, o breve apêndice o mostra: Cinco livros de Moisés, isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Um livro de Josué, filho de Num; um livro dos Juízes; quatro livros dos Reinos; e Rute. Dezesseis livros dos Profetas; cinco livros de Salomão; o Saltério. Livros históricos: um de Jó, um de Tobias, um de Ester, um de Judite, dois dos Macabeus, dois de Esdras, dois dos Paralipômenos. Do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos; quatorze epístolas do apóstolo Paulo, três de João, duas de Pedro, uma de Judas, uma de Tiago; os Atos dos Apóstolos; e o Apocalipse de João" (papa Inocêncio I, 20.02.405; Carta "Consulenti Tibi" a Exupério, bispo de Tolosa).

·       "Devemos agora tratar das Escrituras Divinas. Vejamos o que a Igreja Católica universalmente aceita e o que deve ser evitado: (1) Começa a ordem do Antigo Testamento: um livro da Gênese, um do Êxodo, um do Levítico, um dos Números, um do Deuteronômio, um de Josué (filho de Nun), um dos Juízes, um de Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, um livro de 150 Salmos, três livros de Salomão (um dos Provérbios, um do Eclesiastes, e um do Cântico dos Cânticos). Ainda um livro da Sabedoria e um do Eclesiástico. (2) A ordem dos Profetas: um livro de Isaías, um de Jeremias com Cinoth (isto é, as suas Lamentações), um livro de Ezequiel, um de Daniel, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Joel, um de Abdias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias e um de Malaquias. (3) A ordem dos livros históricos: um de Jó, um de Tobias, dois de Esdras, um de Ester, um de Judite e dois dos Macabeus. (4)A ordem das escrituras do Novo Testamento, que a Santa e Católica Igreja Romana aceita e venera são: quatro livros dos Evangelhos (um segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas e um segundo João). Ainda um livro dos Atos dos Apóstolos. As 14 epístolas de Paulo Apóstolo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Efésios, duas aos Tessalonicenses, uma aos Gálatas, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon e uma aos Hebreus. Ainda um livro do Apocalipse de João. Ainda sete epístolas canônicas: duas do Apóstolo Pedro, uma do Apóstolo Tiago, uma de João Apóstolo, duas epístolas do outro João (presbítero) e uma de Judas Apóstolo (o zelota)" (papa S. Gelásio, ~495; Decreto Gelasiano; repetido em 520 pelo papa S. Hormisdas. Seguido também pelo Concílio Ecumênico de Florença15 [1438-1445], e novamente ratificado pelos Concílio de Trento16 [1546-1563] e Vaticano I [1870])).

Outras Fontes:
·       Concílio Regional de Trulos, realizado no ano 692.

1Trata-se dos dois livros de Samuel (1Rs/2Rs) e os dois livros de Reis (3Rs/4Rs).
2Isto é, os dois livros das Crônicas (1Cr/2Cr).
3Ou seja: Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
4A saber: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
5Incluindo as "Lamentações" e "Baruc", segundo a Septuaginta.
6Isto é, o livro de Esdras e o livro de Neemias.
7Mateus, Marcos, Lucas e João.
8Aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito e a Filemon.
9Curiosa distinção resultada, provavelmente, dos escrúpulos que a Igreja Africana tinha a respeito da autenticidade literária paulina dessa epístola.
10Percebe-se, assim, que o cânon coincide perfeitamente com o cânon definido pelo Concílio de Trento.
11Trata-se da Igreja de Roma.
12Alusão ao culto dos santos mártires.
13Os Concílios regionais de Cartago simplesmente repetem, com as mesmas palavras, o conteúdo do cânon 36 do Concílio regional de Hipona. A diferença está somente na conclusão.
14Interessante distinção, já que antiquíssima tradição de Éfeso distinguia o João Apóstolo de um João Presbítero, da mesma região.
15cf. Decreto "Pro Iacobitis" (da Bula "Cantate Domino", de 04.02.1441):
 "...O Sacrossanto Concílio professa que um e o mesmo Deus é o autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei, dos Profetas e do Evangelho, pois os santos de ambos os Testamentos falaram sob a inspiração do mesmo Espírito Santo. Este Concílio aceita e venera os seus livros que vêm indicados pelos títulos seguintes: Cinco livros de Moisés (isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, o Saltério de Davi, as Parábolas (Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, os Doze Profetas menores (isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) e dois livros dos Macabeus. Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), catorze epístolas de Paulo (uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, uma aos Hebreus), duas epístolas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João".
16cf. Decreto sobre o Cânon (sessão IV, de 08.04.1546).

São Cirilo de Alexandria: Discurso pronunciado no Concílio de Éfeso sobre Maria



Salve, cidade de Éfeso, mais formosa que os mares, porque em vez dos portos da terra, marcaram encontro em ti os que são portos do céu! Salve, honra desta região asiática semeada por todos os lados de templos, como preciosas jóias, e consagrada, no presente, pelos benditos pés de muitos santos Padres e Patriarcas! Com sua vinda, cumularam-te de toda bênção, porque onde eles se congregam, aumenta e multiplica-se a santidade: religiosos fiéis, anjos da terra, afugentam eles, com sua presença, todo satânico poder e toda afeição pagã. Eles, repetimos, confundem toda heresia e são glórias de nossa fé ortodoxa.
Salve, bem-aventurado João, apóstolo e evangelista, glória da virgindade, mestre da honestidade. Salve, vaso puríssimo da temperança, a ti virgem, confiou, na cruz, nosso Senhor Jesus Cristo a Mãe de Deus, sempre virgem!
Salve, ó Maria, Mãe de Deus, virgem e mãe, estrela e vaso de eleição! Salve, Maria, virgem, mãe e serva: virgem, na verdade, por virtude daquele que nasceu de ti; mãe por virtude daquele que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por aquele que amou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebeste sem concurso de varão, e foi divino teu parto. Salve, Maria, templo onde mora Deus, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: "O teu templo é santo e admirável em sua justiça" (Sl 64). Salve, Maria, criatura mais preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti nasceu o sol da Justiça! Salve, Maria, morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível! Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2,14). Salve, Maria, Mãe de Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve, Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz! Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador" (Tt 2,1). Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, a nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12). Deus te salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is 9, 2), uma luz não outra senão Jesus Cristo nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1,9). Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 21,9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel! Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembléia de entusiásticos defensores de tua honra!
Também aquele que, levando cartas de perseguição, sendo derrubado pela luz do céu no caminho de Damasco, falou sobre ti e confirmou para o mundo a fé na Trindade consubstancial, de um só Senhor, de um só batismo; de um só Pai, um só Filho, um só Espírito Santo; da substância inseparável e simplicíssima; da divindade incompreensível do Senhor Deus de Deus, Luz de Luz, Esplendor da Glória, que nasceu de Maria Virgem, conforme o anúncio do Arcanjo: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo, o Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, e por isso o santo que de ti nascer será chamado Filho de Deus vivo" (Lc 1,35). Não somente o sabemos pelo arcanjo Gabriel; também Davi, no vaticínio que canta diariamente a Igreja, nos diz: "O Senhor me disse: és meu filho; no dia de hoje te gerei" ( Sl 2,7). Já o sábio Isaías, filho do profeta Amós, profeta nascido de profeta, o predissera: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho e seu nome será Emanuel, que significa Deus conosco" (Mt 1,23).
Por isso todos os que formos fieis às Escrituras, seguindo os caminhos de Paulo, ouvindo as vozes dos profetas clamar-te-ão Bem aventurada.. Todos os que formos seguidores dos Evangelhos permaneceremos como disse o profeta: seremos como “oliveira fértil na casa de Deus” (Sl 51), glorificando a Deus Pai Todo Poderoso, a seu Filho UNIGÊNITO que nasceu de Maria e ao vivificante Espírito Santo, que se comunica a todos na vida; submissos aos fidelíssimos imperadores, honrando as rainhas, discretas e santas virgens, no seu amor à fé ortodoxa de Cristo de Jesus, nosso Senhor a quem se deve a glória pelos séculos dos séculos . Amém.


FONTE:
GOMES, Folch F. Antologia dos Santos Padres. Ed Paulinas . SP 1979
EXTRAÍDO DO SITE: http://www.ecclesia.com.br