Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

16/06/2012

Explicação da Ave Maria por São Tomás de Aquino


PRÓLOGO
1. — A saudação angélica é dividida em três partes: A primeira, composta pelo Anjo: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres. (Lc 1, 28).
A segunda é obra de Isabel, mãe de João Batista, que disse: Bendito é o fruto do teu ventre.
A terceira parte, a Igreja acrescentou: Maria
O Anjo não disse: Ave Maria e sim, Ave, Cheia de graça. Mas este nome de Maria, efetivamente, se harmoniza com as palavras do Anjo, como veremos mais adiante.

AVE
2. — Na antiguidade, a aparição dos Anjos aos homens era um acontecimento de grande importância e os homens sentiam-se extremamente honrados em poder testemunhar sua veneração aos Anjos.
A Sagrada Escritura louva Abraão por ter dado hospitalidade aos Anjos e por tê-los reverenciado.
Mas um Anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se tinha ouvido dizer antes que o Anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem, reverenciando-a e dizendo: Ave.
3. — Se na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, é porque o Anjo é maior que o homem e o é por três diferentes razões:
Primeiramente, o Anjo é superior ao homem por sua natureza espiritual.
Está escrito: Dos seres espirituais Deus fez seus Anjos. (Sl 103).
4. — O homem tem uma natureza corruptível e por isso Abraão dizia a Deus: (Gn 18, 27) Falarei a meu Senhor, eu que sou cinza e pó.
Não convém que a criatura espiritual e incorruptível renda homenagem à criatura corruptível.
Em segundo lugar, o Anjo ultrapassa o homem por sua familiaridade com Deus.
Com efeito, o Anjo pertence à família de Deus, mantendo-se a seus pés. Milhares de milhares de Anjos o serviam, e dez milhares de centenas de milhares mantinham-se em sua presença, está escrito em Daniel (7, 10).
Mas o homem é quase estranho a Deus, como um exilado longe de sua face pelo pecado, como diz o Salmista: ( 54 , 8 ) Fugindo, afasteime de Deus.
Convém, pois, ao homem honrar o Anjo por causa de sua proximidade com a majestade divina e de sua intimidade com ela.
Em terceiro lugar, o Anjo foi elevado acima do homem, pela plenitude do esplendor da graça divina que possui. Os Anjos participam da própria luz divina em mais perfeita plenitude. Pode-se enumerar os soldados de Deus, diz Jó (25, 3) e haverá algum sobre quem não se levante a sua luz? Por isso os Anjos aparecem sempre luminosos. Mas os homens participam também desta luz, porém com parcimônia e como num claro-escuro.
Por conseguinte, não convinha ao Anjo inclinar-se diante do homem, até, o dia em que apareceu urna criatura humana que sobrepujava os Anjos por sua plenitude de graças (cf n° 5 a 10), por sua familiaridade com Deus (cf. n° 10) e por sua dignidade.
Esta criatura humana foi a bem-aventurada Virgem Maria. Para reconhecer esta superioridade, o Anjo lhe testemunhou sua veneração por esta palavra: Ave.

CHEIA DE GRAÇA
5. — Primeiramente, a bem-aventurada Virgem ultrapassou todos os Anjos por sua plenitude de graça, e para manifestar esta preeminência o Arcanjo Gabriel inclinou-se diante dela, dizendo: cheia de graça; o que quer dizer: a vós venero, porque me ultrapassais por vossa plenitude de graça.
6. — Diz-se também da Bem-aventurada Virgem que é cheia de graça, em três perspectivas:
Primeiro, sua alma possui toda a plenitude de graça. Deus dá a graça para fazer o bem e para evitar o mal. E sob esse duplo aspecto a Bem-aventurada Virgem possuía a graça perfeitissimamente, porque foi ela quem melhor evitou o pecado, depois de Cristo.
O pecado ou é original ou atual; mortal ou venial.
A Virgem foi preservada do pecado original, desde o primeiro instante de sua concepção e permaneceu sempre isenta de pecado mortal ou venial.
Também está escrito, no Cântico dos Cânticos: (4, 7) Tu és formosa, amiga minha, e em ti não há mácula.
«Com exceção da Santa Virgem, diz Santo Agostinho, em seu livro sobre a natureza e a graça; todos os santos e santas, em sua vida terrena, diante da pergunta: «estais sem pecados?» teriam gritado a uma só voz: «Se disséssemos: estamos sem pecado (cf. 1, Jo 1, 6), estaríamos enganando-nos a nós mesmos e a verdade não estaria conosco».
«A Virgem santa é a única exceção. Para honrar o Senhor, quando se trata a respeito do pecado, não se faça nunca referência à Virgem Santa. Sabemos que a ela foi dada uma abundância de graças maior, para triunfar completamente do pecado. Ela mereceu conceber Aquele que não foi manchado por nenhuma falta».
Mas o Cristo ultrapassou a Bem-aventurada Virgem. Sem dúvida, um e outro foram concebidos e nasceram sem pecado original. Mas Maria, contrariamente a seu Filho, lhe é submissa de direito. E se ela foi, de fato, totalmente preservada, foi por uma graça e um privilégio singular de Deus Todo Poderoso que é devido aos méritos de seu Filho, Jesus Cristo, Salvador do gênero humano. (N.T.).
7. — A Virgem realizou também as obras de todas as virtudes. Os outros santos se destacam por algumas virtudes, dentre tantas. Este foi humilde, aquele foi casto, aquele outro, misericordioso, por isto são apresentados como modelo para esta ou aquela determinada virtude; como, por exemplo, se apresenta São Nicolau, como modelo de misericórdia.
Mas a Bem-aventurada Virgem é o modelo e o exemplo de todas as virtudes. Nela achareis o modelo da humildade. Escutai suas palavras: (Lc 1, 38) Eis a escrava do Senhor. E mais (Lc 1, 48): O Senhor olhou a humildade de sua serva. Ela é também o modelo da castidade: ela mesma confessa que não conheceu homem (cf. Lc 1, 43). Como é fácil constatar, Maria é o modelo de todas as virtudes.
A Bem-aventurada Virgem é pois cheia de graça, tanto porque faz o bem, como porque evita o mal.
8. — Em segundo lugar, a plenitude de graça da Virgem Santa se manifesta no reflexo da graça de sua alma, sobre sua carne e todo o seu corpo.
Já é uma grande felicidade que os santos gozem de graça suficiente, para a santificação de suas almas. Mas a alma da Bem-aventurada Virgem Maria possui uma tal plenitude de graça, que esta graça de sua alma reflete sobre sua carne, que, por sua vez, concebe o Filho de Deus.
Porque o amor do Espírito Santo, nos diz Hugo de São Vitor, arde no coração da Virgem com um ardor singular, Ele opera em sua carne maravilhas tão grandes, que dela nasceu um Homem Deus, como avisa o Anjo à Virgem santa: (Lc 1, 35) Um Filho santo nascerá de ti e será chamado Filho de Deus.
9. — Em terceiro lugar, a Bem-aventurada Virgem é cheia de graça, a ponto de espalhar sua plenitude de graça sobre todos os homens.
Que cada santo possua graça suficiente para a salvação de muitos homens é coisa considerável.Mas se um santo fosse dotado de uma graça capaz de salvar toda a humanidade, ele gozaria de uma abundância de graça insuperável. Ora, essa plenitude de graça existe no Cristo e na Bem-aventurada Virgem.
Em todos os perigos, podemos obter o auxílio desta gloriosa Virgem. Canta o esposo, no Cântico dos Cânticos: (4, 4) Teu pescoço é como a torre de Davi, edificada com seus baluartes. Dela estão pendentes mil escudos, quer dizer, mil remédios contra os perigos.
Também em todas as ações virtuosas podemos beneficiar-nos de sua ajuda. Em mim há toda a esperança da vida e da virtude (Ecl 24, 25).

MARIA
10. — A Virgem, cheia de graça, ultrapassou os Anjos, por sua plenitude de graça. E por isto é chamada Maria, que quer dizer, «iluminada interiormente», donde se aplica a Maria o que disse Isaias: (58, 11) O Senhor encherá tua alma de esplendores. Também quer dizer: «iluminadora dos outros», em todo o universo; por isso, Maria é comparada, com razão, ao sol e à lua.

O SENHOR É CONVOSCO
11. — Em segundo lugar, a Virgem ultrapassa os Anjos em sua intimidade com o Senhor. O arcanjo Gabriel reconhece esta superioridade, quando lhe dirige estas palavras: O Senhor é convosco, isto é, venero-vos e confesso que estais mais próxima de Deus do que eu mesmo estou. O Senhor está, efetivamente, convosco.
O Senhor Pai está com Maria, pois Ele não se separa de maneira nenhuma de seu Filho e Maria possui este Filho, como nenhuma outra criatura, até mesmo angélica. Deus mandou dizer a Maria, pelo Arcanjo Gabriel (Lc 1, 35) Uma criança santa nascerá de ti e será chamada Filho de Deus.
O Senhor está com Maria, pois repousa em seu seio. Melhor do que a qualquer outra criatura se aplicam a Maria estas palavras de Isaias: (12, 6) Exulta e louva, casa de Sião, porque o Grande, o Santo de Israel está no meio de ti.
O Senhor não habita da mesma maneira com a Bem-aventurada Virgem e com os Anjos. Deus está com Maria, como seu Filho; com os Anjos, Deus habita como Senhor.
O Espírito Santo está em Maria, como em seu templo, onde opera. O arcanjo lhe anunciou: (Lc 1, 35) O Espírito Santo virá sobre ti. Assim, pois, Maria concebeu por efeito do Espírito Santo e nós a chamamos «Templo do Senhor», «Santuário do Espírito Santo». (cf. liturgia das festas de Nossa Senhora).
Portanto, a Bem-aventurada Virgem goza de uma intimidade com Deus maior do que a criatura angélica.
Com ela está o Senhor Pai, o Senhor Filho, o Senhor Espírito Santo, a Santíssima Trindade inteira. Por isso canta a Igreja: «Sois digno trono de toda a Trindade».
É esta então a palavra mais nobre, a mais expressiva, como louvor, que podemos dirigir à Virgem.

MARIA
12. — Portanto o Anjo reverenciou a Bem-aventurada Virgem, como mãe do Soberano Senhor e, assim, ela mesma como Soberana. O nome de Maria, em siríaco significa soberana, o que lhe convém perfeitamente.
13. — Em terceiro lugar, a Virgem ultrapassou aos Anjos em pureza.
Não só possuía em si mesma a pureza, como procurava a pureza para os outros.
Ela foi puríssima de toda culpa, pois foi preservada do pecado original e não cometeu nenhum pecado mortal ou venial, como também foi livre de toda pena.

BENDITA SOIS VÓS ENTRE AS MULHERES
14. — Três maldições foram proferidas por Deus contra os homens, por causa do pecado original.
A primeira foi contra a mulher, que traria seu filho no sofrimento e daria à luz com dores.
Mas a Bem-aventurada Virgem não está submetida a estas penas. Ela concebeu o Salvador sem corrupção, trouxe-o alegremente em seu seio e o teve na alegria. A Ela se aplica a palavra de Isaias: (35, 2) A terra germinará, exultará, cantará louvores.
15. — A segunda maldição foi pronunciada contra o homem (Gn 3, 9): Comerás o teu pão com o suor de teu rosto.
A Bem-aventurada Virgem foi isenta desta pena. Como diz o Apóstolo (1 Cor 7, 32-34): Fiquem livres de cuidados as virgens e se ocupem só com o Senhor.
A terceira maldição foi comum ao homem e à mulher. Em razão dela devem ambos tornar ao pó.
A Bem-aventurada Virgem disto também foi preservada, pois foi, com o corpo, assunta aos céus. Cremos que, depois de morta, foi ressuscitada e elevada ao céu. Também se lhe aplicam muito apropriadamente as palavras do Salmo 131, 8: Levanta-te, Senhor, entra no teu repouso; tu e a arca da tua santificação.

MARIA
A Virgem foi pois isenta de toda maldição e bendita entre as mulheres. Ela é a única que suprime a maldição, traz a bênção e abre as portas do paraíso.
Também lhe convém, assim, o nome de Maria, que quer dizer, «Estrela do mar», Assim como os navegadores são conduzidos pela estrela do mar ao porto, assim, por Maria, são os cristãos conduzidos à Glória.

BENDITO É O FRUTO DE VOSSO VENTRE
18. — O pecador procura nas criaturas aquilo que não pode achar, mas o justo o obtém. A riqueza dos pecadores está reservada para os justos, dizem os Provérbios (13, 22). Assim Eva procurou o fruto, sem achar nele a satisfação de seus desejos. A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou em seu fruto tudo o que Eva desejou.
19. — Eva, com efeito, desejou de seu fruto três coisas:
Primeiro, a deificação de Adão e dela mesma e o conhecimento do bem e do mal, como lhe prometera falsamente o diabo: Sereis como deuses (Gn 3, 5), disse-lhes o mentiroso. O diabo mentiu, porque ele é mentiroso e o pai da mentira (cf. Jo 8, 44). E por ter comido do fruto, Eva, em vez de se tornar semelhante a Deus, tornou-se dessemelhante. Por seu pecado, afastou-se de Deus, sua salvação, e foi expulsa do paraíso.
A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou sua deificação no fruto de suas entranhas. Por Cristo nos unimos a Deus e nos tornamos semelhantes a Ele. Diz-nos São João: (1 Jo 3, 2) Quando Deus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele é.
20. — Em segundo lugar, Eva desejava o deleite (cf. Gn 3, 6), mas não o encontrou no fruto e imediatamente conheceu que estava nua e a dor entrou em sua vida.
No fruto da Virgem, ao contrário, encontramos a suavidade e a salvação. Quem come minha carne tem a vida eterna (Jo 6, 55).
21. — Enfim, o fruto de Eva era sedutor no aspecto, mas quão mais belo é o fruto da Virgem que os próprios Anjos desejam contemplar (cf. 1 Pe 1, 12). É o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44, 3), porque é o esplendor da glória de seu Pai (Heb 1, 3) como diz S. Paulo.
Portanto, Eva não pôde achar em seu fruto o que também nenhum pecador achará em seu pecado.
Acharemos, no entanto, tudo o que desejamos no fruto da Virgem. Busquemo-lo.
22. — O fruto da Virgem Maria é bendito por Deus, que de tal forma encheu-o de graças que sua simples vinda já nos faz render homenagem a Deus. Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, declara São Paulo (Ef 1, 3).
O fruto da Virgem é bendito pelos Anjos. O Apocalipse (7, 11) nos mostra os Anjos caindo com a face por terra e adorando o Cristo com seus cantos: O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém.
O fruto de Maria é também bendito pelos homens: Toda a língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai, nos diz o Apóstolo (Fp 2, 11). E o Salmista (Sl 117, 26) o saúda assim: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Assim, pois, a Virgem é bendita, porém, bem mais ainda, é o seu fruto.

Fonte: Pai Nosso e Ave Maria – Sermões de Santo Tomás de Aquino. Editora Permanência, Rio de Janeiro

13/06/2012

Mensagem do Papa São Gregório Magno à RCC


Para os que pensam ter o dom das línguas, mas que perderam o dom de ouvir
São Gregório Magno, foi Papa no final do século VI. Foi um dos maiores Papas da Igreja. Em um de seus sermões, ele tratou dos pretensos carismas, e o que ele disse então responde perfeitamente às pretensões do falso misticismo da RCC de hoje em dia.
Este sermão, foi feito por esse santo Papa, no dia da Ascenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, em 24 de Maio de 591, na basílica de Sâo Pedro, comentando o texto do Evangelho de São Marcos (XVI, 15-20).
Ele será bem útil àqueles que, sendo humildes, amarem mais terem ouvidos para ouvir do que pretenderem ter línguas estranhas para falar.
Ouçamos, pois, São Gregório:
***
Eis os sinais que acompanharão aqueles que terão acreditado: em meu nome, eles expulsarão os demônios, eles falarão em línguas novas, eles pegarão em serpentes, e se tiverem bebido algum veneno mortal, ele não lhes fará nenhum mal. Eles imporão suas mãos aos doentes e estes serão curados” (São Marcos, XVI,16).
Será que, meus caros irmãos, pelo fato de que vós não fazeis nenhum destes milagres, é sinal de que vós não tendes nenhuma fé?
Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las.
Eis porque São Paulo dizia:”O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22).
Sobre esses sinais e esses poderes, temos nós que fazer observações mais precisas?
A Santa Igreja, faz todo dia, espiritualmente, o que ela realizava então nos corpos, por meio dos Apóstolos. Porque, quando os seus padres, pela graça do exorcismo, impõem as mãos sobre os que crêem, e proibem aos espíritos malignos de habitar sua alma, faz outra coisa que expulsar os demônios?
Todos esses fiéis que abandonam o linguajar mundano de sua vida passada, cantam os santos mistérios, proclamam com todas as suas forças os louvores e o poder de seu Criador, fazem eles outra coisa que falar em línguas novas?
Aqueles que, por sua exortação ao bem, extraem do coração dos outros a maldade, agarram serpentes.
Os que ouvem maus conselhos sem, de modo algum, se deixar arrastar por eles a agir mal, bebem uma bebida mortal, sem que ela lhes faça mal algum.
Aqueles que todas a vezes que vêem seu próximo enfraquecer, para fazer o bem, e o ajudam com tudo o que podem, fortificam, pelo exemplo de suas ações, aqueles cuja vida vacila, que fazem eles senão impor suas mãos aos doentes, a fim de que recobrem a saúde?
Estes milagres são tanto maiores pelo fato de serem espirituais, são tanto maiores porque repõem de pé, não os corpos, mas as almas.
Também vós, irmãos caríssimos, realizais, com a ajuda de Deus, tais milagres, vós os realizais, se quiserdes.
Pelos milagres exteriores não se pode obter a vida. Esses milagres corporais, por vezes, manifestam a santidade.Eles não criam a santidade.
Os milagres espirituais agem na alma.Eles não manifestam uma vida virtuosa. Eles fazem vida virtuosa.
Também os maus podem realizar aqueles milagres materiais. Mas os milagres espirituais só os bons podem fazê-los.
É por isso que a Verdade diz, de certas pessoas:
“Muitos me dirão, naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que nós profetizamos, que nós expulsamos os demônios e que realizamos muitos prodígios? E Eu lhes direi:”Eu não vos conheço. Afastai-vos de Mim, vós que fazeis o mal” (São mateus VII, 22-23).
Não desejeis, ó irmãos caríssimos, fazer os milagres que podem ser comuns também aos réprobos,, mas desejai esses milagres da caridade e do amor fraterno dos quais acabamos de falar: eles são tanto mais seguros pelo fato de que são escondidos, e porque acharão, junto a Deus, uma recompensa tanto mais bela quanto eles dão menor glória diante dos homens”(São Gregório Magno, Papa, Sermões sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp. 205 a 209).
***
Eis o que nos ensina São Gregório Magno, Papa, prevenindo-nos contra o pretender possuir imprudentemente os dons e carismas extraordinários do Espirito Santo.
E este santo Doutor da Igreja nos previne ainda contra os que pretendem que se tornem comuns a todos, os carismas e dons que o Espírto Santo dá extraordinaraiamente apenas a alguns, que ele escolhe sem precisar que se lhes ensine trejeitos que imitem os verdadeiros dons, que são gratuitos, e não fruto de uma técnica humana.
Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça. E que toda língua pretensiosa e imprudente se cale.
Sâo Paulo, 17 de julho de 2009.
Orlando Fedeli 



Para citar este texto: 
Orlando Fedeli - "Mensagem do Papa São Gregório Magno à RCC"  MONTFORT Associação Cultural - http://www.montfort.org.br/index.php
secao=veritas&subsecao=religiao&artigo=msg_sao_gregorio_rcc&lang=bra 
Online, 14/12/2011 às 21:03h
fonte: Rainha de Todos os Povos - http://rainhadetodosospovos.blogspot.com/

A Oração do Senhor - São Cipriano de Cartago (200-258)


Quais são, caríssimos irmãos, os mistérios da oração do Senhor? Quantos e quão grandes são eles, condensados em palavras breves mas prenhes de força espiritual, que nada omitem e fazem dessa oração um compêndio da doutrina celeste?

Diz ele: "Assim deveis orar: Pai-nosso, que estás nos céus". O homem novo, renascido e restaurado para Deus, pela graça, diz, logo de início, Pai, porque já começou a ser filho. "Veio pata o que era seu e os seus não o receberam. A todos, porém, que o receberam, deu o poder de se tornarem filhos de Deus, a todos os que crêem em seu nome". [1]. Assim, aquele que crê em seu nome e se torna filho de Deus, há de começar imediatamente a dar graças e a confessar-se filho de Deus. E ao dirigir-se a Deus, chamando-o de Pai que está no céu, indica também, por suas primeiras palavras da vida nova, que renunciou ao pai terreno e carnal, que reconhece o Pai que principiou a ter no céu. Pois está escrito: "Quem diz a seu pai e a sua mãe, não os conheço, e a seus filhos, não sei quem sois, este guardou os teus preceitos e conservou o teu testamento" [2]. Também o Senhor ensinou que não devemos chamar a ninguém" pai", na terra, porque só existe para nós um Pai que está nos céus. E respondeu ao discípulo que fizera menção do pai falecido: "Deixa aos mortos que sepultem os seus mortos" [3]. Ele havia dito que o seu pai estava morto, contudo o Pai dos crentes vive.

Como é grande, portanto, a indulgência do Senhor! Ele nos envolve com a abundância de sua graça e bondade, a ponto de querer que o chamemos Pai, ao elevarmos a Deus nossa oração, de modo que assim como Cristo é Filho, nós também sejamos chamados filhos. Se o próprio Cristo não nos tivesse permitido orar dessa maneira, quem de nós ousaria pronunciar tal nome de Pai? Por isso devemos estar conscientes de que se damos a Deus tal apelativo precisamos agir como filhos seus, para que assim como nos alegramos com Deus Pai, também se alegre Ele conosco. Vivamos, portanto, como templos de Deus, para que se note que Ele habita em nós. Que nossa ação não seja indigna do Espírito, para que não nos aconteça ter começado a ser do céu e pensar e praticar o que não é celeste nem espiritual. Com efeito, o Senhor nos adverte: - "Eu glorificarei os que me glorificam e desprezarei os que me desprezam" [4]. Igualmente diz o bem-aventurado Apóstolos: "Não sois vossos. Fostes comprados por um grande preço. Glorificai a Deus trazendo-o em vosso corpo" [5].

Dizemos a seguir: "Santificado seja o teu nome". Não porque pretendamos que Deus seja santificado por nossa oração, mas pedimos que seu nome seja santificado em nós. De resto, por quem poderia ser santificado o santificador? Mas, como disse ele: "sede santos, que eu também sou santo" [6], suplicamos a perseverança naquilo que começamos a ser pela santificação do batismo. Oramos assim todos os dias, necessitamos diariamente de santificação a fim de purificar-nos continuamente dos pecados de cada dia. E o Apóstolo nos indica qual a santificação que nos é conferida pela misericórdia de Deus: "Na verdade, fostes perversos, devassos... mas fostes lavados, justificados e santificados em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus" [7]. Diz que estamos santificados em nome de Jesus Cristo e no Santo Espírito do nosso Deus. Oramos para que esta santificação permaneça em nós. E como o Senhor, nosso juiz, recomendou ao que foi por ele curado e vivificado, não reincidisse em pecado, a fim de não lhe acontecer algo pior, fazemos continuamente esta prece, suplicamos dia e noite, seja mantida em nós, pela proteção de Deus, a santificação e vivificação que recebemos de sua graça.

Segue-se a petição: "Venha a nós o teu reino". Desejamos que o reino de Deus se torne presente a nós, como havíamos desejado que o seu nome fosse santificado em nós. Pois quando é que Deus não reina? Quando poderia começar para ele um reino que sempre existiu e nunca deixará de existir? Pedimos, pois, que venha a nós o "teu reino", aquele que nos foi prometido por Deus e obtido pela paixão de Cristo. Nós, os que servimos neste século como servos, esperamos reinar com Cristo vitorioso, conforme a promessa: "Vinde, benditos de meu Pai, apossai-vos do reino que vos está preparado desde o começo do mundo" [8]. Pode-se dizer que o próprio Cristo seja o reino de Deus ao qual queremos chegar, cada dia, e cujo advento pedimos que se abrevie. Pois se ele é a nossa ressurreição, porque nele ressuscitamos, podemos igualmente conceber que ele seja também o reino, uma vez que nele havemos de reinar. E com razão pedimos o reino de Deus, isto é, o reino celeste, pois há também o reino terrestre, mas quem renunciou ao século está acima desse reino e das suas honras.

Ajuntamos a seguir: "Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu". Não que Deus deva ser rogado a fazer o que Ele mesmo quer, mas nós devemos fazer o que Ele quer.

Quem o impediria de fazer o que quer? Nós, todavia, perturbados como somos pelo diabo, que pretende impedir-nos de seguir a Deus com toda a alma e ação, regamos que se cumpra em nós a vontade de Deus, para o que é indispensável sua ajuda e proteção. Ninguém é forte por suas próprias forças, mas graças à indulgência e misericórdia de Deus. Até o próprio Cristo indica a fraqueza do homem que ele mesmo carregava, dizendo: "Pai, se possível, afasta de mim este cálice" [9]. E acrescentou imediatamente, deixando aos discípulos o exemplo de que não deveriam fazer a própria vontade, mas a de Deus: "contudo, não se faça o que eu quero, mas o que tu queres". O mesmo ele diz em outro lugar: "Não desci do céu para fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou" [10].

Se o Filho esteve atento no cumprir a vontade do Pai, quanto mais deve estar o servo em relação ao Senhor. São João nos exorta igualmente, em sua epístola, a cumprir a vontade do Pai: "Não ameis o mundo, nem o que está no mundo. Se alguém ama o mundo, a caridade do Pai não está nele. Pois tudo que está no mundo é concupiscência da carne, concupiscência do mundo. O mundo passará, e igualmente a sua concupiscência; aquele, porém, que cumprir a vontade de Deus permanece eternamente" [11]. Os que quisermos permanecer eternamente devemos, pois, cumprir a vontade do eterno Deus.

Ora, a vontade de Deus é a que Cristo praticou e ensinou. Humildade na vida, estabilidade na fé, veracidade nas palavras, justiça no agir, misericórdia nas obras, disciplina nos costumes, não saber injuriar, tolerar a injúria recebida, manter a paz com os irmãos, querer a Deus com todo o coração, amando-o como Pai e temendo-o como Deus; nada prepor ao Cristo, porque ele também nada prepôs a nós; aderir inseparavelmente à sua caridade, unir-se à sua cruz com firmeza e fé e, quando houver luta por seu nome e honra, manifestar na palavra e constância, com que o confessarmos diante dos juízes, a firmeza de nosso combate; manifestar enfim na morte a paciência pela qual somos coroados. Isso é ser co-herdeiros de Cristo, isso é praticar o preceito de Deus, isso é cumprir a vontade do Pai!

Pedimos que seja feita a vontade do Pai assim na terra como no céu, pois em ambos os casos está em jogo nossa segurança e salvação. Possuímos um corpo da terra e um espírito do céu, somos a um tempo terra e céu. Oramos para que em ambos, corpo e espírito, seja feita a vontade de Deus. Na verdade, há luta entre a carne e o espírito, e essa discórdia diária acarreta-nos embaraços para fazer o que queremos. De um lado o espírito procura o que é celeste, o divino; de outro lado a carne cobiça o secular, o terreno. Por isso pedimos que pelo auxílio de Deus se estabeleça a harmonia entre ambos, que graças à sua vontade, realizada na carne e no espírito, seja salva a vida por ele renascida.

Pode-se ainda, irmãos caríssimos, entender de outra maneira. Como o Senhor quer e exige que amemos até os inimigos, que oremos até pelos que nos perseguem, pode-se entender que devamos pedir também pelos que ainda são terra e não começaram a ser celestes, para que neles se realize a vontade de Deus, a vontade que Cristo cumpriu conservando e reintegrando o homem.

O Senhor já não chama seus discípulos terra, mas sal da terra, e o Apóstolo diz que o primeiro homem é limo da terra, ao passo que o segundo é celeste; portanto, nós, que devemos ser semelhantes ao Pai - (o qual faz nascer o sol sobre bens e maus, chover sobre justos e injustos) - seguindo o conselho de Cristo, oramos e pedimos numa única prece pela salvação de todos. Assim como a vontade de Deus foi feita no céu, isto é, em nós - que pela fé nos tornamos céu assim se faça também na terra, isto é, nos que ainda não crêem, que ainda são terrenos pelo primeiro nascimento a fim de começarem a ser celestes pelo renascimento na água e no Espírito.

Prosseguindo, dizemos: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje". Podemos tomar este pedido tanto no sentido espiritual como no literal, pois os dois modos de entender servem divinamente à nossa salvação. O Cristo é o pão da vida, e este pão não é de todos, é nosso. E assim como dissemos Pai nosso) porque é Pai dos que entendem e crêem, dizemos também pão nosso) porque é pão para aqueles que comem o seu corpo. Pedimos que este pão nos seja dado diariamente a fim de que, estando no Cristo e recebendo diariamente a eucaristia como alimento de salvação, não venhamos a ser separados do Corpo de Cristo e tornar-nos alguma vez proibidos de participar do pão celeste, afastados da comunhão, por causa de algum grave pecado. Ele próprio disse: "Eu sou o pão que desci do céu. Se alguém comer do meu pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo" [12]. Dizendo viver eternamente quem comer deste pão, fica evidente que viverão sempre os que pertencem ao seu corpo e recebem a eucaristia, pelo direito da comunhão, ao mesmo tempo que se passa a temer que alguém seja separado do corpo de Cristo e afastado da salvação, pela interdição de participar do pão. Devemos orar para que tal não aconteça, como ele mesmo nos adverte: "se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós" [13]. Por isso pedimos que o pão nosso, isto é, Cristo, nos seja dado diariamente. Vivendo nele, não nos afastaremos de seu corpo e de sua santificação.

Pode-se, na verdade, interpretar de outra maneira estas palavras. Pode-se entender que nós, que renunciamos ao século e rejeitamos as suas riquezas e pompas, pela fé da graça espiritual, não peçamos senão o alimento indispensável para o nosso sustento, conforme a palavra do Senhor: "Quem não renunciar a tudo que possui, não pode ser meu discípulo". [14]. Quem, portanto, seguindo a palavra do Mestre, renunciou a tudo e começou a ser discípulo de Cristo, deve pedir o alimento para o dia que passa e não estender os seus desejos em longos pedidos. Assim ele preceituou, dizendo: "Não penseis no dia de amanhã, porque o dia de amanhã trará os seus cuidados. Basta a cada dia a sua própria pena". [15]. Assim, o discípulo de Cristo, proibido de preocupar-se com o dia de amanhã, pede apenas o alimento de cada dia. Aliás, seria estranho e contraditório pedirmos que o reino de Deus venha a nós em breve e ao mesmo tempo cuidarmos de viver no mundo mais longamente. Também o Apóstolo aconselha, fortalecendo e consolidando nossa fé e esperança: "Nada trouxemos para este mundo; e nada, na verdade, podemos levar. Se temos o que comer e vestir, estejamos contentes. Os que desejam enriquecer, caem na tentação, no laço e em muitos desejos nocivos que lançam o homem na perdição e na morte. Com efeito, a raiz de todos os males é a cobiça; por ela alguns se afastaram da fé e acarretaram para si muitas dores" [16].

Esta doutrina ensina, não só que as riquezas devam ser desprezadas, mas que são perigosas, achando-se nelas a raiz dos males que afagam e enganam, por disfarces e seduções, a cega mente humana. Daí, Deus ter respondido ao rico insensato que pensava nos seus bens terrenos e se vangloriava da abundância dos seus frutos: "Insensato, esta noite ainda, entregarás a tua alma; para quem ficará o que preparaste?" [17] Alegrava-se o insensato com seus frutos na noite em que ia morrer, preocupava-se com a abundância de alimento no momento em que a vida já se afastava.

O Senhor ensina, ao contrário, tornar-se perfeito e íntegro quem vende tudo o que possui e dá aos pobres, prepara este seu tesouro no céu. Diz o Senhor que só pode segui-lo e imitar a glória de sua paixão quem não está ligado por interesses particulares e então, pronto e sem empecilhos, está livre para acompanhar com a própria pessoa a doação já feita dos bens. Em preparação para isso aprenda-se a orar dessa maneira e a descobrir assim como se deve ser.

Pedimos a seguir por nossos pecados, dizendo: - "Perdoa as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores". Depois do socorro do alimento, o perdão do pecado. Quem é alimentado por Deus, viva também em Deus; cuide não só da vida presente e temporal, mas sobretudo da eterna, à qual se pode chegar se os pecados são perdoados, pecados que o Senhor, no Evangelho, chama dívidas: "Perdoei toda a tua dívida, porque me pediste" [18].

Mas, quão necessária, quão salutar e previdentemente se nos adverte que somos pecadores e devemos rogar pelos nossos pecados! Pois ao pedirmos a misericórdia de Deus, tomamos consciência de nós mesmos. Para que ninguém se contente consigo, presumindo-se inocente, nem avance ainda mais para a morte, exaltando-se, está essa ordem de rezarmos cada dia pelos próprios pecados, lembrando-nos que pecamos diariamente. Disso aliás também nos previne João, na epístola: "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está conosco. Se, porém, confessarmos nossos pecados, o Senhor é fiel e justo para perdoá-los" [19]. Aqui estão duas idéias: devemos rogar pelos nossos pecados, e conseguiremos a indulgência quando o fizermos. Por isso, diz-se que o Senhor é fiel no cumprimento de sua promessa, isto é, fiel no perdão dos pecados: ensinou-nos a orar nessa intenção, prometendo a indulgência e a misericórdia de um Pai.

Mas vem logo indicada, claramente, a condição segura e o penhor de nossa prece, a maneira em que devemos fazê-la: peçamos para nós o perdão das dívidas na medida em que perdoarmos aos nossos devedores; não podemos conseguir o que pedimos para os nossos pecados, se não fizermos o mesmo em relação aos nossos devedores. Nesse sentido, lê-se em outro lugar: "Na medida em que medirdes, sereis medidos" [20]. Assim, aquele servo que recebera do senhor o perdão de toda a sua dívida e a seguir não quis fazer o mesmo para o companheiro, foi preso e encarcerado. O senhor retirou-lhe o perdão porque lhe faltou indulgência para com o companheiro. Outra vez, mais fortemente ainda, Cristo propõe, entre seus preceitos, este princípio: "Se ides orar e tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-o antes, para que o vosso Pai celeste, igualmente, vos perdoe os pecados. Se porém não perdoardes, vosso Pai do céu também não perdoará os vossos pecados" [21]. Não te restará, pois, a menor escusa no dia do juízo, quando fores julgado conforme tua sentença. Como fizeste, assim te será feito.

Deus preceituou que devemos ser pacíficos, concordes e unânimes em sua casa. Ele quer que perseveremos tais como nos fez pela geração do segundo nascimento, a fim de que permaneçam na sua paz, os que vivemos em Deus e tenhamos uma só alma e um só sentir os que temos um só Espírito. Deus não aceita o sacrifício do dissidente. Manda que volte do altar e se reconcilie antes com o irmão para ser benigno e obter a benignidade de Deus. O máximo sacrifício, aos olhos de Deus, é a nossa paz e concórdia fraternal, é o povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Manda-nos ainda o Senhor que digamos na oração: "E não nos deixes cair em tentação". Isto mostra que o adversário nada pode contra nós sem uma permissão de Deus. Assim, voltar-se-á para o Senhor todo nosso temor, zelo e devoção; pois nada é possível ao Maligno, no sentido de tentar-nos, sem a divina permissão.

Prova-o a divina Escritura; "Veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e atacou-a; o Senhor entregou-a em suas mãos" [22].

E o poder contra nós é dado a ele segundo os nossos pecados, pois está escrito: "Quem entregou Jacó ao massacre e Israel aos espoliadores? Não foi Deus, contra quem pecaram, cujas vias não quiseram seguir e cuja lei não quiseram ouvir, que dirigiu para eles a ira de sua alma?" [23] E também a respeito de Salomão, quando pecou e se afastou dos caminhos de Senhor: "O Senhor excitou Satanás contra Salomão" [24].

De duas maneiras é dado poder contra nós: para castigo, quando pecamos; para glória, quando somos provados. Isso aparece concretamente no caso de Jó, por revelação do próprio Deus: "Eis, tudo que é dele coloco em teu poder; cuida, porém, de nele não tocares" [25].

No Evangelho, diz o Senhor sobre o tempo da paixão: "Nenhum poder terias contra mim, se não te fosse dado do alto" [26].

Rogando para não cair em tentação, lembramo-nos de nossa fraqueza e miséria, e não nos exaltarmos insolentemente, considerando orgulhosamente algo como nosso, não julgaremos nossa glória a confissão do martírio. Pois, ensinando-nos a humildade, diz o Senhor: "Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca" [27]. Antepõe, assim, a confissão humilde e submissa à prece, atribui tudo a Deus a fim de obteres da sua misericórdia o que pedires com temor e reverência.

Depois disto tudo, completando a oração, vem a petição final que, numa síntese brevíssima conclui todos os nossos pedidos e súplicas. Dizemos em último lugar: - "Livra-nos de todo o mal" abrangendo com esta palavra as adversidades que o inimigo possa maquinar contra nós neste mundo. Contra todas as tramas suas estaremos firmes e seguros se Deus nos livrar delas, se conceder seu auxílio aos que Lho suplicam e imploram. Tendo dito: "Livra-nos do mal", nada mais resta a pedir, pois já pedimos, de uma só vez, a proteção de Deus contra o mal; conseguida essa proteção estamos seguramente guardados contra as maquinações do diabo e do mundo. Com efeito, que se poderá temer no mundo se se tem a Deus por guardião?

1 Jo 1,115.
2 Dt 33,9.
3 Mt 8,22.
4 15m 2,30.
5 lCor 6,19.
6 Lv 20,26; Pd 1,16.
7 1Cor 6,95.
8 Mt 25,34.
9 Mt 26,39.
10 Jo 6,38
11 lJo 2,15 ss
12 Jo 6,51.
13 Jo 6,53.
14 Lc 14,33.
15 Mt 6,34.
16 1Tm 5,7 ss.
17 Lc 20,20.
18 Mt 18,32
19 1Jo 1,8.
20 Mt 7,2.
21 Mt 6,14
22 Dn 1,1-2.
23 Is 12,255.
24 1Rs 1,14.
25 Jo 1,12.
26 Jo 19,11.
27 Mt 26,41.

Fontes:
GOMES, Cirilo Folch, OSB. Antologia dos Santos Padres. Coleção "Patrologia". Ed. Paulinas, São Paulo, 1985.

12/06/2012

A SEMANA CRISTÃ - CURSO DE LITURGIA PE. JOÃO BATISTA REUS, S. J.


CURSO DE LITURGIA
PE. JOÃO BATISTA REUS, S. J.
PROFESSOR DO SEMINÁRIO CENTRAL DE SÃO LEOPOLDO, R. G. S.

§ 62. A SEMANA

O DOMINGO
249. A semana cristã é a continuação da semana israelítica. Mas o sábado, como dia do culto divino, foi substituído pelo domingo.
1. Os primeiros cristãos estavam acostumados a guardar o sábado, o último dia da semana. Depois de acabar este dia (mais ou menos às 6 horas da tarde), celebravam o santo mistério da missa e comunhão no primeiro dia da semana. Assim sabemos que S. Paulo reuniu os cristãos de Trôade para partir o pão eucarístico una sabbati, "no primeiro dia depois do sábado". Em Corinto (1 Cor 16, 2) os cristãos se reuniram pela primeira vez per unam sabbati.No Apocalipse de S. João (1, 10) este dia pela primeira vez é chamado: dia do Senhor (dies dominica, domingo).
Em breve o domingo foi recebido pelo uso geral, a ponto de ficarem as seitas mais antigas, p. ex., os ebionitas, com o domingo ao lado do sábado, ao qual deram preferência. O domingo foi chamado também dies solis, o dia do sol, pois que Jesus Cristo é o verdadeiro sol de justiça e santidade.

250.2. A Igreja tem o poder de substituir o sábado pelo domingo. Pois Jesus Cristo aboliu as leis cerimoniais do antigo testamento pela sua morte. Por isso, avisa S. Paulo os cristãos perseguidos por não observarem as leis cerimoniais judaicas (Col 2, 16) que não se importassem com as festas da lua nova ou do sábado. Pois tudo isso era figura do futuro, que se achava cumprido em Jesus Cristo e por conseguinte não tinha mais força obrigatória.

251.3. Motivos para celebrar o domingo.
1) A ressurreição de Jesus Cristo no primeiro dia da semana, mistério fundamental da fé cristã. Por isso nos domingos se recita o Sl 117, que traz as palavras da antífona pascoal:"Heec dies quam fecit dominus: exsultemus et lwtemur in ea." O Senhor mesmo aplicou estas palavras à sua ressurreição (Mt 21, 42): "Nunquam legistis in scripturis: a domino factum est istud et est mirabile in oculis nostris?" São Pedro alude ao mesmo salmo. (At 4, 11; 1 Ped 2, 7.) Por isso, as antífonas das Laudes e Horas menores vêm acompanhadas de 1 ou 3 aleluias como no tempo pascal; não se jejua nem se reza de joelhos, p. ex., as antífonas marianas, o anjo do Senhor. S. Agostinho explica este costume, dizendo (Ep. 55, 28): Stantes oramus, quod est signum resurrectionis.
2) O dia da criação do mundo. Lembrança disso há nas vésperas: Lucis Creator optime.
3) O dia dá descida do Espírito Santo. Por isso o domingo era "o dia da Liturgia" e o tipo de todas as festas, que durante o ano eclesiástico se celebravam com vigília e descanso dominical. (Piacenza, Reg. p. 29.)

252.Sendo comemoradas assim as três Pessoas divinas no domingo, foi ele considerado como dedicado à SS. Trindade. Fala deste santo mistério o hino das matinas: "Primo die quo Trinitas Beata mundum condidit"; o responsório 8 com o Sanctus, Sanctus, Sanctus, o símboloQuicumque, o prefácio da SS. Trindade.
Mas o domingo não foi igualmente por toda parte considerado primeiro dia da semana. Em vários países era o último dia da semana, porquanto esta começava pela segunda-feira. Pela legislação eclesiástica e civil o domingo se tornou dia de descanso no sentido cristão desde o século IV. Assistir à missa nos domingos tornou-se obrigação para todos os adultos desde o princípio do século IV. (Sínodo de Elvira, 306.)

§ 63. DIVISÃO DOS DOMINGOS

253.1. Classes. No missal, p. ex., o primeiro domingo do advento traz a rubrica: 1 classis. Semiduplex. É uma contradição aparente. Pois os domingos são classificados segundo a dignidade (p. ex., 1 classis) e o rito (p. ex., semiduplex).
a) Quanto ao rito, todos os domingos são semiduplex com exceção de 3: Dominica paschalis, Dominica iri Albis, Dominica Pentecostes.
b) Quanto à dignidade, distinguem-se maiores e menores ou comuns (per annum).
c) Os domingos maiores dividem-se em 2 classes conforme o seu respectivo privilégio de preferência.
aa. Os domingos da primeira classe são preferidos na ocorrência (portanto não nas vésperas) a todas as festas são 10: o 1° domingo do advento, os 4 domingos da quaresma e os 4 seguintes até ao domingo da pascoela, e pentecostes. As festas incidentes devem ser transferidas.

254.bb. Os domingos da segunda classe são preferidos a todas as festas menos às de primeira classe. São 6: o 2°, 3° e 4° do advento, os três antecedentes à quaresma: setuagésima, sexagésima e qüinquagésima.

2. Privilégios. Todos os domingos têm os seguintes privilégios:
a) Neles nenhuma festa pode ser fixada para sempre. Exceções: festa da S. Família, da SS. Trindade, de Cristo Rei ou de outra festa por dispensa rara da S. C. dos Ditos.
b) Nenhuma festa pode ser transferida para um domingo.
c) Nenhum ofício de domingo se omite totalmente; quando impedido deve ser comemorado no ofício e na missa com seu prefácio próprio, ao menos por via de regra, e a missa impedida deve ser rezada na semana seguinte, conforme regras especiais.

3. Número. Nos livros litúrgicos são indicados 53 domingos e 53 ofícios de domingos. Se A é letra dominical ou (no ano bissexto) é uma delas (A g, bA), i. é, quando o 1° de janeiro cai num domingo, ou, no ano bissexto no sábado, lodos os 30 ofícios depois de pentecostes (24 mais 6 da epifania) têm o seu domingo, do contrário só 29, e um ofício antecipado no sábado com os direitos de domingo. Pois, neste caso, são só 52 domingos.

255.4. Vacantes são os domingos sem ofício e sem comemoração. Ocorrem, às vezes, entre o dia 25 de dezembro e 13 de janeiro e são ocupados por festas.
Vagos (móveis) se chamam o 3°, 4°, 5° e 6° domingo depois da epifania, porque não são fixados num lugar certo, sendo celebrados, ora depois da epifania, ora depois de pentecostes.

256.5. O primeiro domingo do mês é, na acepção civil, aquele que cai no dia primeiro do mês ou vem logo depois dele. Este cômputo é necessário, quando se trata de fixar uma festa num domingo determinado ou de ganhar indulgências concedidas para certo domingo do mês. No cômputo propriamente eclesiástico o primeiro domingo do mês é aquele que cai no dia primeiro ou que vem mais perto dele. Se o dia primeiro do mês cai numa segunda ou terça ou quarta-feira; o primeiro domingo é aquele que precede estes dias; se cai nos outros dias, é o domingo seguinte. Faz exceção o primeiro domingo do advento que é determinado em relação à festa de S. André. (30 de nov.) Este cômputo decide o princípio das lições da s. escritura no ofício divino.

§ 64. OS DIAS DA SEMANA

257.1. Nomes. O nosso domingo era chamado pelos israelitas primeiro dia depois do sábado (una = prima sabbati), os dias seguintes eram designados com o número ordinal. Este modo foi recebido pela Igreja, mas modificado quanto ao primeiro e último dia, que tomaram o nome de domingo e sábado. Além disso a Igreja acrescentou ao número ordinal o termo feria,falando da Feria secunda, Feria tertia. Quis significar que os clérigos devem deixar o cuidado das outras coisas para "feriar" só para Deus. (In festo S. Silvestri, 31 dec.)
Os pagãos falavam do dies soils, lunce, martis, mercurii, jovis, veneris et saturni,termos às vezes empregados também pelos s. padres dos primeiros séculos.

258.2. Dias principais. São os dias que, ainda hoje, no ano eclesiástico têm uma posição especial na quaresma e nas quatro têmporas: a quarta-feira, a sexta-feira e o sábado.
A sexta-feira, tanto no Oriente como no Ocidente, foi consagrada à paixão de Jesus Cristo. Foi neste dia que o Senhor foi pregado na cruz para satisfazer por nossos pecados. Em sinal de luto e penitência guardava-se nele o jejum.
A quarta-feira lembra a traição de Judas, que neste dia vendeu o divino Redentor por 30 siclos. Esta circunstância motivou o jejum de penitência na quarta-feira.
O sábado era celebrado no Ocidente do mesmo modo que no Oriente. No Ocidente encontramos pelo fim do século III o uso de jejuar no sábado. Provavelmente tem a sua origem no fervor dos cristãos que estenderam o jejum da sexta-feira até ao sábado (superponere jejunium). Nestes três dias mencionados nem em Alexandria nem em Roma havia missa. Eram dias de estação (statio), dias alitúrgicos. Provavelmente feria só é a tradução do hebraico sabbatum, descanso. Pois S. Jerônimo (Ad Gal. II, 4; ML 26 p. 378) chama a quarta-feira cristã quartam sabbati.

259.3. O sábadoao menos desde o fim do século X , é consagrado à Maria Santíssima.
Durandus (IV, c. 1, n.° 30-35) alega os motivos seguintes, que com reserva merecem ser mencionados.
1. Achava-se numa igreja de Constantinopla uma imagem da Virgem SS., diante da qual pendia uma cortina que a cobria toda. Esta cortina desaparecia na sexta-feira depois das vésperas sem alguém a tocar, só por um milagre de Deus, para que a imagem pudesse ser vista totalmente pelo povo. Depois das vésperas do sábado a cortina cobria outra vez a imagem e ficava assim até à sexta-feira seguinte. Por causa deste milagre determinou-se cantar sempre neste dia em honra da SS. Virgem.
2. Quando o Senhor estava morto e os discípulos desesperaram da ressurreição, naquele sábado só nela ficou toda a fé. Ela estava certa de que Cristo era filho de Deus e havia de ressurgir no terceiro dia.
3. O sábado é a porta do domingo, portanto a porta do céu, cujo símbolo é o domingo.Ora, Maria é a porta do céu. Por isto a festejamos no dia que precede o domingo.
4. A solenidade do filho (sexta-feira) deve seguir-se imediatamente a solenidade da mãe.
5. Convém que no sábado, em que Deus descansou da sua obra, haja alguma solenidade.
Quanto à 1ª razão é preciso notar que uma crença popular e ingênua pode ser a causa próxima de uma devoção fundada em motivos sólidos. A 2ª razão dificilmente se compõe com a promessa de que S. Pedro nunca havia de vacilar na fé. Bento XIV (de fest. c. 5, n. 8) diz:"Nem todos os teólogos defendem a sentença de que os apóstolos perderam a fé, a qual era firme só na Virgem SSma. Pois Pedro, negando a Cristo, não cometeu outra falta além de ter medo de confessar a Cristo aberta e livremente. A sua alma contudo estava isenta de qualquer erro. Nem Cristo teria encomendado sua mãe caríssima a S. João, se ele tivesse perdido a fé." (Suarez, de fide disp. 9. sect. 3.)
O mesmo papa (de fest. B. M. V. I. II c. 18 n. 2) escreve: Belarmino observa que Madalena estava abrasada de grande fogo de caridade como se vê em Jo. 19 e 20. Ora, a caridade não se pode separar da fé. Até acrescenta: Parece ser perigoso dizer que só na Virgem SSma. ficou a verdadeira Fé. Desta maneira a Igreja teria perecido. Pois uma pessoa não pode ser chamada Igreja, porquanto a Igreja é um povo e o reino de Cristo. (Bellarm. t. II.controvers. 1. '3, de eccl. mil . c. 17.)
A 4ª razão será a decisiva. Começou-se a jejuar na sexta-feira e continuou-se em honra da mãe. Stabat iuxta crucem fesu Mater eius. (Jo 19, 25.)
No Liber sacramentorurn do séc. VIII para cada dia da semana está assinalada uma missa votiva própria. Pois não havendo muitas festas de santos não era possível evitar arepetição da missa do domingo. Para aliviar a devoção pela mudança das fórmulas da missa e para achar auxílio nas necessidades por missas especiais formou-se o costume, fixado mais tarde por Pio V, de consagrar os dias da semana ao culto de Deus trino e dos santos segundo a dignidade indicada na ladainha de todos os santos: Deus, Maria, José e Apóstolos.
O domingo está consagrado à SS. Trindade, com preferência considerada na unidade da essência divina.
A segunda-feira, sendo Maria SS. venerada no sábado, dedicou-se à SS. Trindade, considerada expressamente na trindade das Pessoas divinas, a terça-feira aos anjos, que têm o terceiro lugar, a quarta-feira aos apóstolos que ocupam o quarto lugar no céu. Com o conhecimento mais profundo da dignidade de São José superior à dos apóstolos, a ele se deu o quarto lugar, logo depois dos anjos, e a sua missa votiva (1883) foi marcada também para a quarta-feira. A quinta-feira sempre esteve dedicada à SS. Eucaristia, a sexta-feira à cruz, o sábado à Maria SSma.
A missa do Espírito Santo se reservou para a quinta-feira, dia este, em que se realizou a ascensão de Jesus Cristo, de que dependia essencialmente a abertura da porta celestial e por conseguinte a descida triunfal do Espírito Santo. (lo 16, 7, Pref. de Sp. S.) A segunda-feira é o dia das almas.
O ensejo desta instituição parece ser uma suposta revelação divina em que se afirma ter outorgado Nosso Senhor aos condenados repouso de seus tormentos todos os domingos em honra de sua ressurreição. A notícia se acha no apocalipse apócrifo de São Paulo do séc. IV e tornou-se opinião muito espalhada. Com o correr dos séculos o privilégio dos condenados foi transferido para as almas do purgatório. Assim São Pedro Damião, seguindo, como ele diz, "a piedosa opinião de homens ilustres", ensina que as almas do purgatório no domingo estão livres dos sofrimentos' mas devem voltar para as penas na segunda-feira.
Por isso é mister socorrê-las neste dia. A Igreja, com a sua solicitude maternal, sem adotar esta opinião, prescreve, quando não obstam as rubricas, a oração "Fidelium" pelos defuntos e permite a missa conventual de réquie na segunda-feira. (Franz:Messe i. d. Mittel pág. 144 MI. 145 pág. 564; 427; Durand IV, 1 n. 29.) O fundamento dogmático decisivo para a Igreja é a comunhão dos santos. No domingo se comemora a Igreja triunfante, logo depois na segunda-feira a Igreja padecente, à maneira da festa de Todos os Santos e do dia de finados.

§ 65. DIVISÃO DAS FÉRIAS

260.1. Segundo a dignidade, as férias dividem-se em férias maiores e menores.Maiores são as férias do advento, da quaresma, das quatro têmporas de setembro, da segunda-feira das Rogações.
As férias maiores são privilegiadas ou não privilegiadas. As privilegiadas são 7: A quarta-feira das cinzas e os 6 dias da semana santa (S. R. C. 1.0 nov. 1931). São preferidas a todas as festas.
As férias maiores não privilegiadas são preferidas somente às festas simples e vigílias, mas são comemoradas nos ofícios de 9 lições.
Menores ou per annum são todas as férias fora das férias maiores. Não tem comemoração, quando se celebra outro ofício.

261.2. Ofício. A féria menor não tem I vésperas, principia, portanto, pelas matinas e termina com as vésperas e completas do dia.
Precede um simplex, as vésperas são da féria respectiva, porquanto o simplex não tem II vésperas. Segue-se urna festa, embora simplex, o ofício da féria termina com a noa, e as vésperas são da festa seguinte, sem comemoração da féria. Ocorre um simplex ou simplificado numa féria maior, as vésperas do dia anterior são da féria, como no saltério, com comemoração do simplex ou simplificado. Pois não se rezam as vésperas de um ofício, que na sua maior parte é simplificado. Pars maior trahit minorem.

262.3. Composição do ofício ferial. Invitatório, hino, os 9 salmos e antífonas (omitido o versículo do 1º, 2º noturno) e o versículo do 3º noturno da féria respectiva. Lições e responsórios do próprio do tempo; no fim da 3ª lição no tempo da páscoa — Te Deum, o qual fora deste tempo e na segunda-feira das rogações se omite. Nas laudes se rezam nas férias menores as antífonas e salmos da 1ª série; no advento, no tempo entre a setuagésima até à semana santa, nas vigílias comuns (exceto a vigília da ascensão), nas quatro têmporas, da 2ªsérie.

263.A capítula da féria respectiva. A oração, se não houver própria, é a do domingo precedente. O sufrágio, fora do advento e do tempo da paixão (no tempo pascalcommemoratio crucis), se não houver comemoração de um duplex, de uma oitava, ou de um oitavo dia simplex, item na sexta-feira depois da oitava da ascensão e na vigília de pentecostes.
As preces feriais recitam-se no advento, na quaresma até à semana santa, inclusive, nas quatro têmporas, mesmo se se fizer a comemoração de uma oitava, de um duplex ousemiduplex (A. B. VIII, 3).

264.4. A prima é rezada como está indicado no ordinário e saltério.
a) Se nas laudes se tomou a 2ª série, a prima tem além dos 3 salmos costumados um quarto salmo, a saber, o primeiro da 1ª série de laudes, que havia sido omitido e substituído pelo Miserere.
b) A capítula é: Pacem; só nos dias de domingo antecipado e do tempo pascal: Regi.
c) Se houver preces feriais nas laudes, há-os também na prima; se não, há dominicais.
5. Terça, sexta, noa como no ordinário e saltério. Preces feriais, se houver na prima.
6. Vésperas como no ordinário, saltério, e próprio do tempo. Sufrágio e preces feriais como nas laudes.
7. Completas como no ordinário e saltério. Preces como na prima.

§ 66. AS QUATRO TÊMPORAS

265.1. NomeQuatro têmporas ou só têmporas se chamam a quarta-feira, a sexta-feira e o sábado das 4 semanas seguintes: primeira da quaresma, primeira de pentecostes, terceira de setembro e terceira de dezembro; nestas semanas há jejum.
2. Origem. Influíram provavelmente vários elementos. Conforme uns autores as quatro têmporas são o vestígio da antiga semana cristã com 3 dias de jejum; conforme outros, foram instituídas para santificar o início das 4 estações do ano. Mais provável é que sejam resultado de várias reflexões.
a) A idéia de jejum algumas vezes por ano acha-se na escritura sagrada do antigo testamento. Estes textos são citados nas lições dos sábados das têmporas de setembro. O profeta Zacarias (8, 19) menciona quatro épocas de jejum para Israel. O Papa Leão Magno (Sermão 92; 79; 12) ensina que as têmporas fora da quaresma foram instituídas pelos apóstolos.

266.b) Foi em Roma que primeiro se celebravam as 3 têmporas do verão, outono e inverno. O número 3 se explica por certas festas pagas que ocorriam três vezes por ano, feriae sementinae (inverno), feriae messis (verão), feriae vindemiales (outono). As têmporas contrabalançavam os excessos dos idólatras. Assim se explica o fato, um tanto estranho, de que o Oriente não conhece as têmporas. O Líber Pontificalis diz que o papa Calisto (+ 233) instituiu estas 3 têmporas.
c) S. Leão Magno menciona pela primeira vez as quatro têmporas relacionando-as com as 4 estações do ano. Deviam ser santificadas pelo jejum.
d) O Papa (Gelásio (+ 496) acrescentou as ordenações sacerdotais que ainda hoje se fazem nestes dias. (Cân. 1006, § 2) De Roma, as têmporas se propagaram para todas as igrejas de rito romano. A sua época só foi fixada por Urbano II (1095).
Como foi costume antigo cristão jejuar antes das ordenações (At 13, 2), a Igreja, guardando este costume, conferia as ordens nos dias de jejum. Segundo Durandus (II e 1 n.34) as quatro têmporas são as primícias do tempo, porque representam cada vez o inicio de uma nova estação do ano. Os clérigos são as primícias do povo cristão, porquanto estão em lugar dos levitas, os quais Deus reservou para si em troca dos filhos primogênitos de cada família. Por isso convém, que as primícias do povo cristão sejam consagradas a Deus junto com as primícias do tempo, as quatro têmporas.

267.3. A Liturgia das têmporas tem na quarta-feira duas epístolas. A razão histórica é o antigo costume romano e de outras Liturgias de ler duas lições antes do evangelho.
Beletho (c. 90) e Durando (VI, c. 8 n. 2) explicam as duas lições com a antiga regra de que, no sábado depois de uma quarta-feira com duas lições na missa, se podem ordenar sacerdotes, e isto seis vezes por ano. Na quarta-feira os candidatos eram examinados e por isso na missa se acrescentava uma lição relativa ao sacerdócio, para significar que os ordenandos devem ser versados no antigo e novo testamento para poder instruir o povo.
Nos sábados das têmporas se lêem seis lições, mas provavelmente antes eram doze, como ainda no sábado santo, por causa do escrutínio dos catecúmenos antes do batismo. A quinta lição é sempre a chamada lectio de camino ignis do profeta Daniel. A sua significação é profunda. Como os três jovens passaram pela prova do fogo, assim os candidatos ao sacerdócio devem passar pelas provas exigidas pela Igreja, conforme a lei apostólica:Probentur primum et sic ministrent. (1 Tim 3, 10; Durando VI, c. 10, n. 3.) Depois. dela antigamente se realizavam todas as ordenações, ao passo que hoje são distribuídas pelas várias lições.