Coloquemos o nosso coração diante do espelho desse beijo falso, para que descubramos se também nós, de algum modo, estamos a repetir o drama daquele apóstolo que esteve tão perto de Jesus… e, no entanto, o seu coração manteve-se frio.
A Paixão de Cristo não foi apenas uma sucessão de factos históricos. É um mistério que se renova em cada alma. E cada um de nós é chamado a perguntar-se esta semana: quem sou eu nesta Paixão?
Hoje contemplamos o traidor. Não para nos escandalizarmos... mas para não repetirmos a sua queda.
I. A traição: mistério de uma alma que se esfria
Judas não era um desconhecido. Não era um fariseu. Era um dos Doze. Foi chamado pelo próprio Cristo. Viu Nosso Senhor pregar, curar, expulsar demónios. Estava junto do Coração de Jesus… mas não estava unido a Ele.
Onde começou a sua queda? Terá sido apenas por avareza? Não. O Evangelho diz que roubava da bolsa (cf. Jo 12,6). Mas o mal mais profundo de Judas foi a tibieza prolongada, a falta de amor verdadeiro. Judas já não escutava com o coração. Cumpria o ritmo exterior da vida apostólica, mas a sua alma estava vazia.
E isto é o mais perigoso: estar exteriormente próximo de Cristo e ter a alma longe.
Quantas vezes, também nós cumprimos com as práticas exteriores da fé, mas o nosso coração vai arrefecendo. Continuamos na Igreja, mas já não arde a alma de amor. Começamos a negociar com o mundo, a justificar o pecado, a vender Cristo por ninharias: o respeito humano, a comodidade, o prazer, a vaidade.
Quantos beijos damos nós a Cristo... que na verdade escondem uma traição?
II. O Coração ferido do Redentor
Mas Cristo, na Sua Paixão, não amaldiçoa Judas. Não o denuncia perante os outros. Não o abandona. Dá-lhe várias oportunidades:
- Chama-o “amigo” no Jardim;
- Lava-lhe os pés na Última Ceia;
- Oferece-lhe o bocado de pão, sinal de amizade;
- E até ao último momento, olha-o com amor.
Jesus sofre não só no corpo, mas também na alma: a dor de ser rejeitado por uma alma amada. Quanto terá doído ao Coração de Jesus aquele beijo de traição, que representa todos os nossos actos hipócritas, as nossas comunhões sacrílegas, as nossas orações sem amor, as nossas confissões sem propósito de emenda.
O Senhor continua hoje a sofrer em tantos Sacrários abandonados, em tantos corações mornos, em tantos cristãos que vivem como se não O conhecessem.
III. Judas não confiou na Misericórdia
Mas o maior pecado de Judas não foi a traição. O seu maior pecado foi não confiar no perdão.
Pedro também traiu. Mas chorou e voltou.
Judas, pelo contrário, desesperou. Olhou mais para o seu pecado do que para o Coração de Cristo.
E aqui está uma grande lição para nós:
O demónio primeiro tenta-nos a pecar. E depois, tenta-nos a desesperar.
Diz-nos: “Deus não te vai perdoar, és demasiado miserável, já não há volta a dar.” Mentira do inferno!
Não há pecado que não possa ser perdoado, se a alma se humilhar e confiar no Coração de Cristo.
Conclusão: Não sejamos traidores, mas amigos fiéis
“Vens comigo ou vais trair-me mais uma vez?”
É tempo de escolher.
Que nunca se diga de nós: “Amigo, com um beijo entregas o Filho do Homem?”
Mas que possamos dizer, como os santos:
“Senhor, afastei-me, mas Tu olhaste-me. Feriste-me com o Teu amor, e volto para Ti.”
Nestes dias temos que fazer uma boa confissão. Cortar com esse pecado escondido. Deixar de brincar com Deus. Voltar a beira Dele e dizer-Lhe:
“Senhor, não quero dar-Te mais beijos hipócritas. Quero amar-Te de verdade. Mesmo que me custe, quero ser todo Teu.”
Olhemos Jesus não para O-trair, senão para O-amar
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