Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

25/07/2012

Contra Vigilâncio - São Jerônimo.


São Jerônimo (340-420). - Contra Vigilâncio

Capítulo I
O mundo pariu muitos monstros. Em Isaías lemos sobre centauros, corujas e pelicanos. Jó, em linguagem mística, descreve Leviatã e Behemoth. Cérbero e os pássaros de Estínfalo, o porco de Erimantéia e o leão de Neméia, a Chimera e a Hidra de muitas cabeças são citadas em fábulas poéticas. Virgílio descreve Caco. A Espanha criou Gerion, com seus três corpos. Somente a Gália não teve monstros e sempre contou com homens ricos em coragem e grande eloqüência... Isto até Vigilâncio - ou, mais propriamente, "Dormilâncio" - que surgiu, animado por um espírito imundo, para lutar contra o Espírito de Cristo e negar aquela reverência religiosa que devemos prestar aos túmulos dos mártires. As vigílias - afirma ele - devem ser condenadas. O "Aleluia" nunca deve ser cantado senão na Páscoa. A continência é uma heresia. A castidade, uma cama preparada para a concupiscência. E assim como dizem que Eufórbio renasceu na pessoa de Pitágoras, então temos que neste (=Vigilâncio) ressuscitou a mente corrompida de Joviniano. Nele, não menos que em seu predecessor, encontramos as ciladas do demônio. A Palavra pode ser justamente aplicada a ele: "Raça de malfeitores, preparai vossos filhos para o massacre por causa dos pecados do vosso pai". Joviniano, condenado pela autoridade da Igreja de Roma, entre a carne de faisão e a de porco, exalou, ou melhor, vomitou o seu espírito. E agora, este sustentador das tavernas do Calagurre, que conforme o nome de sua vila nativa é Quintiliano, estúpido ao invés de eloquente, quer combinar água com vinho. Segundo a armadilha que ele há muito já conhece, tenta agora misturar seu veneno com a fé católica: ele agride a virgindade e odeia a castidade; se regozija com o mundano e prega contra o jejum dos santos; serve o filósofo em sua bandeja e se alivia com as doces melodias da salmodia enquanto lambe os lábios após comer seus bolos de queijo. Alias, não poderia ele dignar-se a ouvir as canções de Davi, Jeduth, Asaf e os filhos de Coré a não ser na mesa do banquete. Isto eu tenho dito com mais pesar que alegria, pois não posso me conter, tornando-me surdo ao ouvir as coisas erradas que ele atira contra os apóstolos e mártires. 

Capítulo II
Vergonhoso de se mencionar é que alguns bispos, segundo dizem, se associaram a ele em sua iniquidade - se é que esses homens podem mesmo ser chamados de bispos - e não ordenam diáconos a não ser que tenham eles sido previamente casados. Eles não honram o celibato exigindo mais castidade, ou melhor, eles mostram claramente que a medida da santidade de vida que querem se dá indulgenciando as piores dúvidas do homem e, exceto que os candidatos à ordenação apareçam perante eles com esposas grávidas e bebês chorando no colo de suas mães, não administrarão a estes a ordenação de Cristo. O que estão fazendo as igrejas do Oriente? E as que pertencem às igrejas egípcias ou à Sé Apostólica: aceitam para o ministério apenas homens virgens, ou que praticam a continência ou, se casados, abandonaram seus direitos conjugais? Eis o ensinamento de Dormilâncio, que lança as rédeas sobre o pescoço da luxúria e por seu incentivo duplica o calor natural da carne, que na juventude atinge o ponto máximo e que se sacia pelo intercurso [sexual] com mulheres. Daí, nada nos separa dos porcos, nada aqui nos difere da criação bruta, ou dos cavalos, a respeito do que está escrito: "Eles se dirigiram às mulheres como cavalos selvagens; todos relincharam após [conhecerem] a esposa de seu vizinho". Isto é o que foi dito pelo Espírito Santo através da boca de Davi: "Não sejais como o cavalo e a mula que não compreendem". E, novamente, acerca de Dormilâncio e seus amigos: "Amarrem a maxilar daqueles que se aproximam de vocês com freios e rédeas". 

Capítulo III
Mas agora nos chegou o momento de abordar as suas próprias palavras e responder-lhe em detalhes. Isto porque, possivelmente, em sua malícia, ele pode novamente optar em me deturpar e dizer que eu tenho o trunfo de apreciar um caso fazendo uso dos meus poderes retóricos e declamatórios para combatê-lo, tal como na carta que escrevi para a Gália, expondo para uma mãe e sua filha que estavam na dúvida. Este pequeno tratado que agora redijo, é aguardado pelos respeitáveis presbíteros Ripário e Desidério, que informaram que suas paróquias e vizinhanças estão sendo profanadas e me enviaram, através do nosso irmão Sisínio, os livros que ele (Dormilâncio) vomitou como um bêbado na ressaca. Eles também afirmam que algumas pessoas ali, a partir de suas inclinações para os vícios, aderem às suas blasfêmias. Ele é um bárbaro tanto em sua fala quanto em seu conhecimento. Seu estilo é rude. Ele não tem condição nem de defender a verdade. Mas por amor aos leigos e pobres mulheres, carregados de pecados, sempre aprendendo e nunca atingindo o [pleno] conhecimento da verdade, vou desperdiçar uma noite de trabalho para abordar as suas fúteis melancolias, caso contrário poderia parecer que eu estaria tratando com desprezo as cartas daquelas respeitáveis pessoas que confiaram a mim tal tarefa a ser empreendida. 

Capítulo IV
Certamente ele representa bem a sua raça. Originado de um bando de marginais e indivíduos reunidos dos quatro cantos [do mundo] - isto porque Pompeu, após conquistar a Espanha, quando se apressava para retornar [a Roma] em seu triunfo, desceu pelos Pirineus e reuniu [os referidos indivíduos] em um só lugar, de onde veio o nome da cidade: Convenae [=convocação] - ele (Vigilâncio) foi encarregado por suas práticas criminosas a atacar a Igreja de Deus. Como seus ancestrais, os vetões, os harrabaceus e o celtiberianos, ele se lança sobre as igrejas da Gália, não carregando o estandarte da cruz mas ao contrário, a insígnia do diabo. Pompeu fez o mesmo no Oriente. Após subjugar os piratas e bandidos cilicianos e isaurianos, ele fundou uma cidade, que possui o seu próprio nome, entre a Cilícia e a Isáuria. Essa cidade, porém, observa até hoje as ordens dos seus ancestrais e nenhum Dormilâncio surgiu ali. Mas a Gália possui um inimigo nativo e vê sentado na Igreja um homem que perdeu o juízo e que deveria ser colocado em uma camisa-de-força, como recomenda Hipócrates. Entre outras blasfêmias, escuta-se ele dizer: "Que necessidade há para ti de prestar tal honra, para não dizer adoração, a uma coisa, qualquer que seja ela, que você carrega e cultua?". E novamente, no mesmo livro: "Por que você beija e adora um pouco de poeira envolto em um pedaço de pano?". E mais uma vez, no mesmo livro: "Sob o manto da religião vemos que tudo de uma cerimônia pagã foi introduzida nas igrejas: enquanto o sol ainda brilha, um monte de velas são acesas e em todo lugar um pouco de pó miserável, envolto em panos caros, é beijado e adorado. É esta a grande honra que os homens prestam aos bem-aventurados mártires que - conforme pensam - deve ser feita de maneira gloriosa, através de velas insignificantes, enquanto que o Cordeiro, que se encontra no centro do trono, com todo o brilho de sua majestade, lhes dá a luz?". 

Capítulo V
Louco! Quem neste mundo já adorou os mártires? Quem já pensou que o homem fosse Deus? Acaso Paulo e Barnabé - quando o povo da Licônia pensou que se tratavam de Júpiter e Mercúrio e por isso precisavam oferecer-lhes sacrifícios - não rasgaram suas vestes e se declararam homens (Atos 14,11)? Não que eles não fossem melhores que Júpiter e Mercúrio, mortos muito tempo antes, mas porque, sob as falsas ideias dos gentios, a honra devida a Deus estava sendo prestada a eles. E lemos o mesmo a respeito de Pedro que, quando Cornélio quis adorá-lo, pegou-o pela mão e disse-lhe: "Levanta-te, pois sou apenas um homem" (Atos 10,26) e você (Vigilâncio) tem a audácia de falar de "algo misterioso ou outra coisa qualquer que você carrega em um pequeno embrulho e adora"? Eu gostaria de saber o que é que você chama de "algo misterioso ou outra coisa qualquer". Diga-nos mais claramente - pois não pode haver moderação na sua blasfêmia - o que você quer dizer com a expressão: "um pouco de pó miserável, envolto em panos caros". Isso nada mais é do que as relíquias dos mártires, que o deixam irritado ao vê-las cobertas por tecido nobre e não por farrapos ou lenços de cabeça, ou lançadas na esterqueira. Com efeito, apenas Vigilâncio, em seu sono de bêbado, acha que podem ser adoradas. Seríamos nós, portanto, culpados de sacrilégio quando entramos nas basílicas dos Apóstolos? Seria o imperador Constâncio I culpado de sacrilégio quando transferiu as sagradas relíquias de André, Lucas e Timóteo para Constantinopla? Na presença destas [relíquias] os demônios se perturbam e os diabos que habitam em Vigilâncio confessam que sentem a influência dos santos. E nos presentes dias, seria o imperador Arcádio culpado de sacrilégio por, depois de tanto tempo, ter transportado os ossos do bem-aventurado [profeta] Samuel da Judéia para a Trácia? Deveríamos considerar todos os bispos não apenas sacrílegos mas tolos porque eles carregam "coisas mais inúteis" - poeiras e cinzas - envoltas em sedas douradas? Seriam tolos os fiéis de todas as igrejas porque foram se encontrar com as sagradas relíquias e deram boas vindas a elas com tanta alegria como se estivessem recebendo um profeta vivo em seu meio, de forma que um grande número de pessoas as seguiram da Palestina até a Calcedônia em uma só voz recitando as orações de Cristo? Seriam loucos se adorassem a Samuel e não a Cristo, já que Samuel era um mero levita e profeta. Você (Vigilâncio) demonstra desconfiança porque pensa apenas em corpos sem vidas e em razão disso blasfema. Leia o Evangelho (Mateus 22,32): "O Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó: Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos". Ora, se então eles estão vivos, não são "mantidos em um confinamento honorável", para usarmos aqui as suas palavras. 

Capítulo VI
Você diz que as almas dos Apóstolos e mártires residem no seio de Abraão, ou num lugar de refrigério, ou sob o altar de Deus e que eles não podem viver em seus próprios túmulos e estarem presentes onde quiserem. Eles são, ao que parece, da classe senatorial e não estão sujeitos aos piores tipos de cárcere, nem à sociedade de assassinos, mas são mantidos em separado, sob custódia honorífica e liberal nas abençoadas ilhas dos Campos Elíseos. Irá você agora estabelecer a lei para Deus? Irá você agora acorrentar os Apóstolos? Então ficarão eles confinados até o Dia do Julgamento e não estarão com o seu Senhor, embora esteja escrito a respeito deles: "Eles seguem o Cordeiro para qualquer lugar que Ele for" (Apocalipse 14,4). Ora, se o Cordeiro está presente em todo lugar, o mesmo devemos acreditar acerca destes que estão com o Cordeiro. E embora o diabo e os demônios vagueiem por todo o mundo e com tamanha velocidade eles mesmos se movem por todo lugar, estariam os mártires, após derramarem o seu sangue, sendo mantidos confinados em algum lugar de onde não poderiam escapar? Você afirma, em seu panfleto, que enquanto estamos vivos podemos orar uns pelos outros, mas que, quando morremos, a oração de uma pessoa não poderá favorecer outra qualquer; e isto em razão dos mártires, embora eles possam pedir pela vingança de seu sangue, o que, porém, nunca lhes será atendido (Apocalipse 6,10). Se os Apóstolos e mártires, enquanto estão no corpo, podem orar pelos outros, ainda quando se encontram inquietos por si mesmos, quanto mais deverão fazer após terem recebido suas coroas, vencido e triunfado? Um simples homem, Moisés, obteve o perdão de Deus para seiscentos mil homens armados; e Estêvão, seguidor de seu Senhor e o primeiro mártir cristão, implorou o perdão para seus perseguidores; e quando eles entraram na Vida com Cristo, acabaram tendo menos poder do que antes? O Apóstolo Paulo diz que 272 almas foram entregues a ele no navio (Atos 27,37); e após sua dissolução (=morte), quando ele começou a estar com Cristo, deveria ele calar a sua boca e ser incapaz de dizer uma só palavra em favor daqueles que em todo o mundo creram no seu Evangelho? Para Vigilâncio, seria um cachorro vivo melhor que Paulo, o leão morto? Estaria eu certo em seguir o Eclesiastes se admitisse que Paulo está morto em espírito... Mas a verdade é que os santos não são chamados de "mortos"; acerca deles dizemos que estão dormindo. Por isso, diz-se de Lázaro - que estava para ser ressuscitado - que tinha dormido (João 11,11). E o Apóstolo proíbe os tessalonicenses de se preocuparem com aqueles que dormiram. Você (Vigilâncio), que está dormindo acordado e dorme quando escreve, me aponta um livro apócrifo que, sob o nome de Esdras, é lido por você e por aqueles loucos que o escutam, e nesse livro está escrito que após a morte ninguém se atreve a orar pelos outros. Eu nunca li esse livro, mas qual a necessidade de lê-lo se a Igreja não o recebeu? Provavelmente a sua intenção real é de me confrontar com Bálsamo, Barbélio e o Tesouro dos maniqueus, além daquele que traz o ridículo nome de Leusiboras. Talvez porque você vive aos pés dos [montes] Pirineus, no limite da Ibéria, acaba seguindo as "incríveis maravilhas" do antigo herege Basílides e seu assim chamado "conhecimento" - o qual é simples ignorância - e que foi condenado pela autoridade de todo o mundo. Eu afirmo isto porque em seus breves tratados você cita Salomão como se ele concordasse contigo, porém Salomão jamais escreveu tais palavras; então, da mesma forma que você possui um segundo Esdras, tem também um segundo Salomão. E se você gostar, pode ler ainda as revelações imaginárias de todos os patriarcas e profetas; e quando você tiver aprendido todas elas, poderá cantá-las entre as mulheres nas tecelagens, ou ordenar que sejam lidas nas suas tavernas, pois é mais fácil assim que essas canções melancólicas estimulem o povo ignorante a encher novamente as canecas. 

Capítulo VII
Contudo, quanto a questão das velas, ao contrário do que você (Vigilâncio) em vão nos acusa, nós não as acendemos durante o dia, mas para conforto podemos alegrar a escuridão da noite, enquanto aguardamos o amanhecer, para que não sejamos cegos como você e cochilemos nas trevas. E se algumas pessoas, leigos simples e rudes, ou quase sempre mulheres religiosas - de quem podemos realmente dizer: "Eu admito que eles tem zelo por Deus, ainda que não seja conforme a razão" (Romanos 10,2) -, adotam tal prática em honra dos mártires, que mal isto causa a você? Já houve uma vez que os próprios Apóstolos suplicaram que o unguento não fosse desperdiçado e acabaram sendo repreendidos pela voz do Senhor. Cristo não precisava do unguento assim como os mártires não precisam da luz das velas. Ainda assim, aquela mulher que derramou o unguento em honra de Cristo teve a devoção do seu coração aceita [pelo Senhor]. Todos aqueles que acendem essas velas têm sua recompensa de acordo com a sua fé, como disse o Apóstolo: "Que cada um abunde em sua própria intenção". Você chama estes homens de idólatras? Eu não nego que todos nós que cremos em Cristo deixamos de lado o erro da idolatria. Nós não nascemos cristãos, mas nos tornamos cristãos ao renascermos [pelo Batismo]. E porque [um dia] já adoramos ídolos se conclui agora que nós não podemos adorar a Deus, pois parece que prestamos honra a Ele e aos ídolos? Um caso é prestar [honra] aos ídolos e, neste caso, o culto é detestável; outro caso é a veneração dos mártires, sendo seu culto permitido. Em todas as igrejas do Oriente, mesmo quando alguma delas não possui relíquias dos mártires, o Evangelho é lido e os castiçais são acesos, ainda que a aurora esteja avermelhando o céu, não para dispersar as trevas, mas para evidenciar o nosso júbilo. E, conforme o Evangelho, as virgens carregam sempre acesas as suas lâmpadas (Mateus 25,1). E dos Apóstolos diz-se que tinham de cingiam seus lombos e acender suas lâmpadas (Lucas 12,35). E de João Batista lemos que "Ele possui a lâmpada que arde e ilumina" (João 5,35). Assim, através da figura da luz corpórea, é representada aquela luz que lemos no Saltério: "Tua Palavra é uma lâmpada para os meus pés, ó Senhor, e uma luz para os meus caminhos". 

Capítulo VIII
Estaria o bispo de Roma equivocado quando oferece sacrifícios ao Senhor sobre os veneráveis ossos dos falecidos Pedro e Paulo, do modo como já dissemos, mas de acordo com você (Vigilâncio), sobre um punhado de poeira sem valor, julgando que seus túmulos não são dignos de ser altares de Cristo? E não seria este o único bispo de uma cidade a estar equivocado, mas os bispos de todo o mundo já que, ao contrário do sustentador de tavernas Vigilâncio, entram nas basílicas dos mortos, onde "um punhado de poeira e cinzas sem valor encontram-se envoltos em um pedaço de pano" encardido ou encardindo. Assim, segundo você, os templos sagrados são como os sepulcros dos fariseus, caiados por fora, enquanto que por dentro resta a imundície, estando cheios de podridão e odores fétidos. E então ele (Vigilâncio) atreve-se a vomitar suas porquices sobre esta questão e afirma: "Será que as almas dos mártires amam tanto suas cinzas que acabam permanecendo em torno delas, para que, estando sempre presentes não fiquem tristes por surgir ali alguém para rezar, pois se estivessem ausentes, não conseguiriam ouvir?" Ó, monstro, que merece ser banido para os confins da terra! Você (Vigilâncio) ri das relíquias dos mártires e na companhia de Eunômio, pai desta heresia, calunia as igrejas de Cristo? Você não se preocupa em andar com tal companhia e prega contra nós as mesmas coisas que ele levanta contra a Igreja? Todos os seus seguidores se recusam a entrar nas basílicas dos Apóstolos e mártires, porém, contraditoriamente, eles adoram o falecido Eunômio, cujos livros eles consideram de maior autoridade que os Evangelhos. E eles também creem que a luz da verdade estava nele assim como alguns outros hereges sustentavam que o Paráclito teria vindo em Montano ou que o próprio Maniqueu era o Paráclito. Você não pode mesmo encontrar uma ocasião de orgulho para supor que é o inventor dessa nova espécie de maldade, sendo que essa sua heresia já foi outrora levantada contra a Igreja. Ela encontrou, porém, um oponente em Tertuliano, um homem de grande sabedoria, que escreveu um famoso tratado que ele corretamente intitulou "Scorpiacum", porque assim como o escorpião dobra-se como um arco para infligir o ferimento, também o que era formalmente conhecido como "a heresia de Caim" infere veneno no corpo da Igreja. Tal acusação repousou, ou melhor, ficou sepultada por um longo tempo, mas agora ressurge graças a Dormilâncio. Eu fico surpreso de ver você (Vigilâncio) omitir então que não deveria haver martírios, já que Deus, que não quer o sangue de bezerros e bois, muito menos poderia querer o sangue dos homens. É exatamente esta a sua conclusão, ou melhor, se você não afirma isso [explicitamente], ao menos é esta a conclusão que [implicitamente] se chega. E se [você] mantiver a ideia de que as relíquias dos mártires devem ser pisoteadas, acabará também por concluir que o derramamento de sangue que sofreram não é digno de qualquer honra. 

Capítulo IX
A respeito das vigílias e das frequentes vezes que passamos a noite nas basílicas dos mártires, darei aqui uma breve resposta, a qual já ofereci em outra carta há cerca de dois anos, quando escrevi para o respeitável presbítero Ripário. Você (Vigilâncio) afirma que elas não deveriam ser observadas, exceto quando estamos próximos da Páscoa, pois não seguem as vigílias anuais de costume. Se assim fosse, então os sacrifícios [da Missa] não deveriam ser oferecidos a Cristo a cada dia do Senhor (=domingo), exceto quando celebrássemos a Páscoa da Ressurreição do Senhor, tendo sido introduzido o costume de haver muitas Páscoas ao invés de uma. Seja como for, não devemos imputar a homens piedosos as faltas e erros de jovens e mulheres inúteis que muitas vezes são encontrados por aí durante a noite. É verdade que, mesmo nas vigílias da Páscoa, alguns desses se aproximam da Luz; mas as falhas de alguns não constituem em argumento válido contra a religião em geral, de modo que tais pessoas, ainda que não participem da vigília, podem estar erradas inclusive em suas próprias casas ou na de outras pessoas. A traição de Judas não anula a lealdade dos Apóstolos. E se alguns se comportam mal durante a vigília, isso não implica que esta deva deixar de existir. Aliás, melhor seria que [esses] dormissem mesmo para que, não sendo obrigados a participar das vigílias, pudessem ao menos preservar a sua castidade. Ora, se uma coisa foi feita boa, ela não pode ser má se for feita muitas vezes. E se existe aí alguma falta a ser combatida, a censura não consiste em ser feita várias vezes, mas por ter sido feita uma única vez. Portanto, nós [também] não deveríamos realizar a vigília da Páscoa, pois poderíamos temer que adúlteros pudessem aproveitar para satisfazer seus desejos [sexuais] duramente reprimidos, ou que certa esposa pudesse encontrar a oportunidade certa para pecar sem que suscitasse desconfiança contra ela da parte de seu marido. [Na verdade,] as ocasiões em que raramente se recorre são justamente aquelas em que surgem os maiores desejos. 

Capítulo X
Eu não posso aqui percorrer todos os tópicos abordados nas cartas dos respeitáveis presbíteros. Irei, portanto, fazer referência a alguns pontos extraídos dos tratados de Vigilâncio. Ele prega contra os sinais e milagres que ocorrem nas basílicas dos mártires, afirmando que eles se dão [apenas] para os infiéis, não para os fiéis, muito embora a questão aqui seria esta: em vantagem de quem ocorrem, não sob o poder de quem. Supõe [ele] que tais sinais são para os infiéis pois como estes não obedeceriam nem a palavra nem a doutrina, acabariam por crer através dos sinais. Com efeito, até mesmo o Senhor teria apresentado sinais para os infiéis (tais sinais do Senhor não entram aqui em discussão) porque aquele povo não tinha fé; [esses sinais] eram dignos de grande admiração pois que poderosíssimos para subjugar os corações mais duros, compelindo os homens a crerem. Eu não vou pedir para que você (Vigilâncio) me diga que esses sinais são para os infiéis, mas para responder a esta questão: como é que essas poeiras e cinzas indignas encontram-se associadas com este maravilhoso poder de sinais e milagres? Eu percebo - e como percebo -, ó mais infeliz dos mortais, o porquê de você ser tão preocupado e o que causa esse temor: é que esse espírito imundo, que força você a escrever essas coisas, foi muitas vezes torturado por essa "poeira sem valor", e continua sendo torturado neste momento. E se no seu caso em específico ele disfarça as suas feridas, em outros casos ele próprio confessa. Você é fiel seguidor dos pagãos e ímpios Porfírio e Eunômio e acha que aqueles (sinais que ocorrem nas basílicas dos mártires) são armadilhas dos demônios, sendo que estes não gritam [ao serem expulsos], somente fingem seus tormentos. Deixe-me dar um conselho a você: vá até as basílicas dos mártires; certamente um dia você será libertado; você encontrará lá vários casos como o seu e receberá o fogo - não das velas dos mártires que ora deixam você ofendido - mas das chamas invisíveis. Então você confessará aquilo que agora nega e irá pronunciar livremente o seu nome, pois esse que atualmente fala na pessoa de Vigilâncio é, na verdade, Mercúrio (o mercenário); ou Noturno (que, segundo o "Amphitryon" de Platão, dormia enquanto Júpiter, por duas noites seguidas, mantinha relações adulterinas com Alcmena, gerando assim o poderoso Hércules); ou [seu] pai Baco (famoso beberrão, portando a caneca em seus ombros, com sua face rubra, lábios cheios de espuma e brigão descabeçado). 

Capítulo XI
Qualquer dia desses, quando um terremoto repentinamente ocorrer nesta província no meio da noite, obrigando-nos a acordar, você (Vigilâncio), o mais prudente e sábio dos homens, começará a pregar pelado e nos trará à mente o relato de Adão e Eva no paraíso. Eles, então, quando se lhe abriram os olhos, ficaram envergonhados, porque viram que estavam nus, e cobriram suas vergonhas com folhas de árvores. Mas você, que parece ter sido despido das suas roupas e da sua fé, no repentino terror que o esmagou e ainda sob os efeitos da bebida da última noite, mostrou sua sabedoria expondo sua nudez de maneira tão evidente aos olhos dos irmãos. Tais são os adversários da Igreja! Estes são os líderes que lutam contra o sangue dos mártires! Eis aí um espécimen dos oradores que estrondam contra os Apóstolos! Ou melhor: eis aí os cachorros loucos que uivam para os discípulos de Cristo! 

Capítulo XII
Eu confesso o meu próprio temor, por imaginar que tudo isso provém da superstição. Quando eu ficava bravo, ou tinha maus pensamentos em mente, ou algum espírito da noite me seduzia, eu não me atrevia a entrar nas basílicas dos mártires, eu tremia completamente, tanto no corpo quanto na alma. Talvez você (Vigilâncio) ria e zombe, dizendo que isto chega ao nível das fantasias selvagens das mulheres mais frágeis. Se é assim, eu não me envergonho de ter uma fé igual daquelas [mulheres] que viram por primeiro o Senhor ressuscitado, que foram enviadas aos Apóstolos e que, na pessoa da Mãe de nosso Senhor e Salvador, foram recomendadas aos santos Apóstolos. Vomite suas indecências, se quiser, para os homens que estão no mundo; eu jejuarei ao lado destas mulheres. Sim, [vomite] para homens religiosos que testemunham sua castidade e que, com a face pálida em razão da prolongada abstinência, demonstram a própria castidade de Cristo. 

Capítulo XIII
Alguma outra coisa também parece estar incomodando você (Vigilâncio). Você está preocupado que a continência, a sobriedade e o jejum crie raízes entre os povos da Gália e as tavernas desse lugar deixem de funcionar. Então você será incapaz de manter as suas vigílias noturnas diabólicas e diversões entre as bebidas. Ademais, fiquei sabendo a partir daquelas mesmas cartas [dos presbíteros Ripário e Desidério] que, desafiando a autoridade de Paulo, ou melhor, a de Pedro, João e Tiago - que concederam o direito de apostolado a Paulo e Barnabé e ordenaram que se lembrassem dos pobres - você proíbe que qualquer socorro pecuniário seja remetido para Jerusalém, para o socorro dos santos. Agora, se eu abordo esta questão, você imediatamente solta a língua e vocifera que estou defendendo a minha própria causa. Evidentemente, você foi tão generoso para a comunidade inteira que se não viesse a Jerusalém para torrar todo o seu dinheiro ou o dos seus patrões, todos nós estaríamos à beira da fome. Eu digo o que o bem-aventurado Apóstolo Paulo disse em quase todas as suas epístolas! Ele ordenou para as igrejas dos gentios que, no primeiro dia da semana (=domingo), isto é, no dia do Senhor, as ofertas feitas por cada um fossem remetidas para Jerusalém, para socorrer os santos, e isso seria observado pelos seus seus discípulos, bem como por aqueles aprovados por estes. E se isso não devesse ser feito, ele mesmo enviaria ou levaria [para Jerusalém] o que recolheu? Também nos Atos dos Apóstolos, quando se dirigiu ao governador Félix, ele disse: "Depois de muitos anos, eu subi a Jerusalém a fim de levar esmolas e ofertas para a minha nação, e para cumprir os meus votos, tendo sido encontrado me purificando no templo". Por que ele não distribuiu em alguma outra parte do mundo, nas igrejas nascentes em que instruía na fé, aqueles dons que recebeu dos outros? Mas ele percorreu longo caminho para dar aos pobres dos lugares santos que, abandonando suas poucas posses por amor a Cristo, convertiam todo o seu coração para o serviço do Senhor. Levaria muito tempo agora se eu começasse a repetir aqui todas as passagens das suas epístolas nas quais ele advoga e defende de todo coração aquele dinheiro que seria remetido para os fiéis de Jerusalém e locais santos. Não para gratificar a avareza, mas para socorrer. Não para acumular riquezas, mas para suportar a fraqueza do pobre corpo e para repelir o frio e a fome. E este costume continua na Judéia até a presente data, não apenas entre nós, mas também entre os hebreus. Isto é o que eles observam na lei do Senhor, dia e noite. E nenhum pai sobre a terra, exceto o Senhor, pode ser protegido pelo auxílio das sinagogas e de todo o mundo; assim, a desigualdade e a angústia de outros podem ser reduzidas, pois a abundância que alguns têm pode suportar a necessidade de outros (cf. 2Coríntios 8,14). 

Capítulo XIV
Você (Vigilâncio) responderá que todos podem fazer isto em suas próprias nações, caso contrário seus pobres nunca poderão ser auxiliados com os recursos [pecuniários] da Igreja. Nós não negamos que a assistência deveria alcançar todos os pobres, inclusive judeus e samaritanos, se estes aceitassem. Mas o Apóstolo ensina que a esmola deve ser dada a todos, a começar, porém, por aqueles que compartilham da mesma fé (Gálatas 6,10). E a respeito destes, o Salvador disse no Evangelho: "Fazei-vos amigos das riquezas da injustiça, [para que quando faltarem] vos recebam em habitações eternas" (Lucas 16,9). O quê? Podem estas pobres criaturas, com seus trapos e imundícies, dominarem desse jeito, por furiosa ambição? Podem elas - que nada são, nem agora, nem depois - possuírem habitações eternas? Não há dúvida de que não é a simples pobreza, mas a pobreza em espírito, que é chamada de bem-aventurada. Destes foi escrito: "Bem-aventurado aquele que ofereceu a sua mente para o pobre e o necessitado. O Senhor o livrará naquele dia ruim". Mas o fato é que, para suportar o pobre existente entre o povo comum é necessário dinheiro e não a mente. No caso do pobre santificado, sua mente se ocupa dos santos exercícios, e, por isso, recebe [a esmola] com rubor; e quando o que recebeu é mortificado, se converte em coisas espirituais aquilo que eram coisas carnais, beneficiando aquele que deu. É seu argumento (=de Vigilâncio) que aqueles que mantêm o que têm e distribuem pouco a pouco entre os pobres, aumentam suas posses e agem muito mais profundamente que aqueles que vendem todas as suas posses e dão tudo de uma só vez. Porém é o Senhor - e não eu - quem dá a resposta: "Se você quer ser perfeito, vá, vende tudo o que tem e dá aos pobres. Depois vem e me segue" (Mateus 19,21). Ele (Cristo) fala para aqueles que desejam ser perfeitos e que, como os Apóstolos, deixaram pai, barco e redes. O homem que você aprova está sentado na segunda ou terceira fileira; mesmo assim nós o recebemos para que se compreenda que o primeiro será antecedido pelo segundo e o segundo pelo terceiro. 

Capítulo XV
Permita-me acrescentar que os nossos monges não são dissuadidos da sua firmeza por causa de sua língua de víbora e mordida feroz. Seu argumento a respeito deles funciona assim: se todos os homens se isolassem e vivessem na solidão, quem haveria para frequentar as igrejas? Quem sobraria para vencer aqueles que se ocupam dos hábitos mundanos? Quem seria capaz de incentivar os pecadores a possuir uma conduta virtuosa? De uma forma similar: se todos fossem tolos como você, quem seria sábio? E ainda seguindo o seu argumento, a virgindade não seria digna de aprovação, pois se todos fossem virgens, não existiriam casamentos; a raça [humana] pereceria; os recém-nascidos não chorariam em seus berços; parteiras perderiam os seus empregos e se tornariam indigentes; e Dormilâncio, totalmente sozinho e encolhido de frio, mentiria só para si mesmo. A verdade é esta: a virtude é coisa rara e não é perseguida por muitos. Daí o pouco que foi dito: "Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos". A prisão estaria vazia... Mas a função de um monge não é ensinar, mas sim lamentar, como uma carpideira, para si ou para o mundo, e com receio de que se antecipe a vinda do Senhor. Conhecedor das suas próprias fraquezas e fragilidades do seu corpo, ele (o monge) se preocupa com os tropeços, para que não seja assaltado por alguma coisa e, assim, caia e se quebre. Por isso, ele evita o sorriso das mulheres, particularmente o das mais jovens, e se isola, temendo até mesmo aquilo que é seguro. 

Capítulo XVI
Perguntará você (Vigilâncio): por que se retirar para o deserto? A razão é óbvia. Para que eu não possa te escutar, nem te ver! Para que eu não possa ser perturbado pela sua loucura! Para que eu não me ocupe com você! Para que os olhos da prostituta não me tornem um cativo! Para que a beleza não me leve para abraços irregulares! Você replicará: "Isto não é uma luta, mas uma fuga. Permaneça na linha de batalha, coloque a sua armadura e resista aos seus inimigos! E então, tendo vencido, receberá a sua coroa". Pois eu confesso a minha fraqueza. Eu não lutaria na esperança de vencer, para não correr o risco de perder em algum momento a vitória. Se eu fujo, eu evito a espada. Se eu fico, ou eu venço ou eu sou derrotado. Que necessidade tenho eu de ignorar as certezas e seguir as incertezas? Quer com o meu escudo, quer com os meus pés, eu devo evitar a morte [certa]. Você que luta pode vencer, mas também pode ser vencido. Não existe segurança em dormir com uma serpente do seu lado; é possível que ela não me pique, mas também é possível que ela, após certo tempo, acabe por me picar. Nós chamamos de mães aquelas mulheres que não são mais velhas que irmãs e filhas, e não ficamos corados por encobrir nossos vícios com os nomes mais pios. O que tem para fazer um monge na cela das mulheres? Qual o significado dos olhares e conversas secretas que evitam a presença de testemunhas? Amor santo não tem desejo inquieto. Ademais, o que já dissemos a esse respeito deve ser também aplicado à avareza e todos os vícios que devemos evitar pela solidão. Assim, ficamos afastados das cidades populosas para que não sejamos compelidos a fazer o que nos pedem, não tanto pela natureza, mas pela escolha. 

Capítulo XVII
A pedido dos respeitáveis presbíteros - como já disse - eu me dediquei à redação destas poucas considerações, em uma noite de trabalho, pois meu irmão Sisínio, tem pressa de partir para o Egito, onde socorrerá os santos e, por isso, encontra-se impaciente para ir embora. É uma pena, pois a questão por si mesma é tão blasfema que leva à indignação um escritor que possui uma multidão de provas. Mas se Dormilâncio pensa que abusará de mim mais uma vez, e se pensa em disparar contra mim aquela mesma boca blasfema com a qual quebra em pedaços os Apóstolos e mártires, certamente escreverei algo mais que estas linhas. Seja como for, passarei uma noite inteira em vigília, em favor dele e das suas companhias - sejam elas discípulos ou mestres - que pensam que nenhum homem pode ser digno do ministério de Cristo, exceto se for casado e sua esposa for vista com filhos. 

* * *
Fonte: New Advent (http://www.newadvent.org/)
Tradução: Carlos Martins Nabeto

24/07/2012

EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA - PARTES I; II E III


EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo

I. DA ESSÊNCIA DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
Na língua sagrada de nossa mãe, a Santa Igreja católica, no latim, a Santa Missa é designada pelo nome de "sacrificium", sacrifício.
"Um sacrifício é um dom visível, oferecido, exclusivamente, a Deus, por um ministro sagrado, para reconhecer a soberania do Altíssimo sobre todas as coisas".
O sacrifício, portanto, é um culto devido, exclusiva e unicamente, a Deus. A nenhuma criatura, por mais elevada que seja, compete jamais um sacrifício.
Diz Santo Agostinho: "Quem pensaria jamais, que se pudesse oferecer sacrifício, senão ao Deus único e verdadeiro?"
Somente à idolatria insana dos Imperadores romanos ficou reservada a presunção sacrílega de exigir, dos súditos desditosos, sacrifícios de diversas formas.
Indagando a origem do sacrifício, que encontramos entre os povos, sem exceção devemos confessar, com S. Tomás de Aquino, que é uma lei natural oferecer sacrifícios a Deus, e, por este motivo, é que o homem se sente levado a sacrificar, sem insinuação ou conselho de alguém.
Com efeito, Caim e Abel, Noé e Abraão, como outros patriarcas, profetas e reis do antigo testamento ofereceram a Deus sacrifícios espontaneamente.
Porém não só os que conservaram a fé no Deus verdadeiro, mas também os povos que apostataram desta fé, os pobres pagãos, ofereceram sacrifícios a seus ídolos. Pois, o sacrifício, como a religião, da qual é a mais elevada manifestação, é, realmente, uma necessidade da natureza humana, e, por isso, encontramo-lo entre todos os povos de todos os tempos.
Por conveniência imperiosa, Jesus Cristo cuidou de deixar na sua religião, divinamente perfeita, uma forma de sacrifício, como jamais houve entre povo algum; e essa forma de sacrifício é a Santa Missa.
A respeito, ensina o Santo Concílio de Trento: "Segundo o testemunho de S. Paulo Apóstolo, o sacerdócio levítico do antigo testamento não atingiu a perfeição. Assim, desde a origem do mundo, o Deus da Misericórdia determinara, que surgisse um sacerdote podendo aperfeiçoar e completar o sacrifício. Esse sacerdote era Jesus Cristo, Nosso Senhor que, depois de se ter oferecido a seu Pai sobre o altar da cruz, não queria deixar extinto o seu sacrifício, e, na véspera de sua morte, deu a sua esposa mística estremecida, a Santa Igreja, um sacrifício visível, segundo as exigências da natureza humana."
Este sacrifício devia perpetuar o Sacrifício cruento que Jesus Cristo ia oferecer sobre a Cruz; devia perpetuar-lhe a memória até o fim dos tempos e, por sua virtude salutar, nossos pecados quotidianos deviam ser perdoados. Deste modo, Jesus Cristo declarou-se sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, oferecendo a seu eterno Pai seu Corpo e seu Sangue, sob as aparências de pão e vinho, que deu a seus apóstolos também sob as mesmas espécies, instituindo-os sacerdotes do novo Testamento. E, dizendo as palavras: "Fazei isto em memória de mim", ordenou-lhes e aos seus sucessores no sacerdócio, que os oferecessem em sacrifício.
A Santa Igreja nos ensina que, na última Ceia, Jesus Cristo não só mudou o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue, mas também ofereceu-os a Deus, seu Pai, e instituiu e ofereceu pessoalmente o Sacrifício do novo Testamento, a fim de que se reconhecesse, nele, este sacerdote de que canta o salmista: "O Senhor jurou e não se arrependerá de seu juramento. És sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec" (Sl. 109, 4). Muito contrário ao costume de sua época, Melquisedec não imolava animais como faziam Abraão e outros patriarcas, mas, por inspiração do Espírito Santo, levantava o pão e o vinho para o céu e oferecia-os por meio de cerimônias e orações especiais. Assim tornou-se a figura de Jesus Cristo, e seu Sacrifício é o símbolo da nova Lei. Como tudo que se relaciona com a pessoa do salvador foi objeto de admiráveis profecias, desde os dias do paraíso até os últimos tempos do antigo testamento, também o sacrifício que havia de coroar e perpetuar a obra redentora na cruz, foi predito séculos antes. Escreve o profeta Malaquias: "Minha afeição não está mais em vós, diz o Senhor dos exércitos, e nunca mais receberei ofertas de vossas mãos, porque, desde o oriente até o ocidente, meu nome é grande entre as nações e, em toda parte, se sacrifica e oferece uma oblação pura".
Esta profecia não se realizou no antigo testamento, como se vê no próprio texto, pois o próprio Deus declara rejeitar os antigos sacrifícios.
Tão pouco a profecia se refere ao sacrifício da cruz, porque esse sacrifício foi oferecido somente uma vez e em um lugar.
É de um sacrifício novo e puro em que Deus tem as complacências, que o profeta fala. Esse sacrifício, infinitamente puro, não pode ser outro senão o sacrifício da Missa. Desde o momento de sua instituição no cenáculo, crêem e confessam isto os apóstolos, os evangelistas, todos os primeiros cristãos, e assim ainda crê e confessa a Igreja católica universalmente, tanto quanto as igrejas cismáticas orientais.
De acordo com o evangelista S. Lucas, a Santa Igreja ensina: "Na véspera de sua morte, Jesus Cristo tomou o pão e, rendendo graças a Deus, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim". Da mesma forma, tomou o cálice depois da ceia, dizendo: "Este cálice é o novo Testamento em meu Sangue, que será derramado por vós." (Lc. 22, 19-29).
Ponderemos bem o que diz e faz o Senhor: Muda o pão em seu Corpo, e o vinho em seu Sangue; e por esta separação mística de seu Corpo e de seu Sangue, constituiu-se em holocausto. As palavras que acompanham a transubstanciação, indicam o sacrifício. "Isto é o meu Corpo, que será entregue por vós, isto é o meu Sangue, que será derramado por vós". Ainda que se quisesse aplicar estas duas palavras "entregar" e "derramar" ao Sacrifício da Cruz, Jesus Cristo afirma, claramente, que estas duas ações se realizam na Ceia, e assim afirma também que houve aí sacrifício.
Se os adversários pretendem desvalorizar este ensino de nossa Santa Igreja, dando outras explicações torcidas e infundadas, como é que explicarão as palavras claras de S. Paulo Apóstolo, quando escreve aos Hebreus:
"Temos um altar, e uma vítima da qual os que prestam serviços ao Tabernáculo, (isto é, os judeus) não têm o direito de comer" (Hb. 13, 10). Ora, não poderia existir altar sem oblação, e a palavra "comer" indica, claramente, que não se trata do sacrifício da Cruz, mas de um sacrifício (comestível) nutriente, tal qual Jesus Cristo o instituiu na Ceia.
Lemos também, na vida do apóstolo S. Mateus, que foi morto no altar, quando celebrava os santos mistérios. Na vida de Santo André, refere-se que ele disse ao juiz Egéias: "Ofereço em sacrifício, diariamente, a Deus todo-poderoso, não a carne de touros, nem o sangue dos animais, mas o Cordeiro Imaculado".
É atribuída ainda a S. Tiago e a S. Marcos uma liturgia da Santa Missa. Enfim, atribui-se também a S. Pedro o "Cânon", isto é, a parte da Santa Missa que vai do "Sanctus" até a Comunhão.
Tantos testemunhos provam que o Santo Sacrifício do novo Testamento esteve, desde o começo, em uso na Igreja.
O fato de não se encontrar a palavra "Missa" nas sagradas letras, não pode servir de argumento contra a doutrina da Igreja. A palavra "Trindade" também não se encontra; e, não obstante, os adversários aceitam-na. Mas, em 142, encontramos a palavra Missa tal qual a empregamos. O Papa Pio I faz uso da palavra de maneira que evidencia que o termo era geralmente, adotado e conhecido. Daí em diante, a palavra Missa não desaparece mais dos escritos dos santos Padres e mais escritores da Igreja católica.
A Igreja grega emprega nomes de significação idêntica. Falam, por exemplo, da mesa ou do altar do Senhor, ceia, oferta. Em vista disso, que valem os ataques dos hereges?
Os ataques violentos promovidos, em diversas épocas, contra a Santa Missa, testemunham-lhes à santidade e importância como também o ódio com que o demônio a persegue.
No curso dos dez primeiros séculos, quando numerosos hereges afligiam a Santa Igreja, nenhum deles ousou atacá-la. Era preciso, para isto, um alto grau de perversidade, uma audácia verdadeiramente infernal.
Isto só aconteceu no décimo primeiro século pelo herege Berengar de Cours. Porém, mal havia disseminado as blasfêmias, o orbe católico recuou de espanto e clamou-lhe indignado: "Tornai-vos uma pedra de escândalo para os fiéis, separai-vos de nossa Mãe, a Santa Igreja, pois perturbais a unidade dos cristãos". Berengar, depois de anatematizado por mais de cindo Concílios, por um milagre da misericórdia divina, abjurou os erros, fez penitência, e morreu em 1088, confessando a doutrina verdadeira.
Infelizmente, a heresia sobreviveu-lhe, sendo pregada, alguns anos depois, pelos albigenses, seita perversa que declarava, entre outros erros, o matrimônio como ilícito, e permitia a impureza. Em particular, atacava a Missa privada, vulgarmente chamada Missa-rezada. Aos que assistiam a essas Missas, perseguiam com penas horrorosas e, mais ainda, aos Padres que tinham a coragem de celebrar os santos mistérios.
Após os albigenses, os inimigos mais encarniçados da Santa Missa foram os reformadores do século décimo sexto. O próprio Lutero confessa, no livro "contra a missa", cap. XIX, ter sido impelido por Satanás a abolir a Santa Missa como um ato de idolatria, e que fez sabendo, perfeitamente, que o demônio odiava todo o bem e que seus ensinos eram mentirosos.
Se as trevas infernais não tivessem invadido, inteiramente, toda a inteligência de Lutero, não teria antes raciocinado assim: se Satanás considera a Santa Missa como um ato de idolatria, para que procura abolí-la, em vez de louvá-la e propagá-la, a fim de insultar mais cruelmente o Altíssimo?
Ora, Satanás privou o Santo Sacrifício da Missa a todas as seitas luteranas, causando-lhes tão profundo ódio contra este santo mistério, que vomitaram a espantosa blasfêmia: "A Missa é uma abominável idolatria... aí renuncia-se o sacrifício cruento de Cristo!" Assim se exprime o catecismo dos calvinistas de Heidelberg.
Pobres insensatos! Neste caso, como podem admitir que uma alma se tenha salvo desde Jesus Cristo? Todos os apóstolos, todos os sacerdotes têm celebrado o Santo Sacrifício da Missa, os mártires, os confessores assistiram-no com terna devoção. Acusarão todo este exército de Cristo de idolatria, e, por conseguinte, digno do inferno? O simples bom senso a isso se opõe.
Ah, mais suave é ouvir S. Fulgêncio dizer: "Creio, sem dúvida alguma, que o Filho único de Deus, feito homem por nós, ofereceu-se em sacrifício a Deus Altíssimo, a quem a Igreja católica oferece, sem cessar, na fé e na caridade, o Sacrifício do pão e do vinho".
Tomemos cuidado para não nos acontecer o que aconteceu aos hereges, a quem Satanás tirou a Santa Missa. Não podendo privar-nos inteiramente dela, esforça-se, pelo menos, para cegar-nos sobre o valor infinito do Santo Sacrifício a fim de que, apreciando-o pouco, deixemos de assisti-lo, ou não tiremos os abundantes frutos de graças que poderíamos colher.

II. EXCELÊNCIA DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
A excelência da Santa Missa é tão grande, que os próprios Serafins não podem compreende-la perfeitamente. Experimentemos, entretanto, investigar os ensinamentos da Igreja a este respeito.
São Francisco de Sales diz: "O santíssimo Sacrifício do altar é, entre os exercícios da religião, como o sol entre os astros, porque é verdadeiramente a alma da piedade e o centro da religião cristã, ao qual todos os seus mistérios e todas as suas leis se relacionam; é o mistério inefável da divina caridade, pelo qual Jesus Cristo, dando-se realmente a nós, cumula-nos com suas graças de maneira igualmente amável e magnificente" (Introdução à vida devota).
O sábio Osório julga a Santa Missa acima de todos os outros mistérios da nossa religião: "Entre todos os atos da Igreja, o Santo Sacrifício da Missa é o mais augusto e mais precioso, porque o Santíssimo Sacramento do altar é aí consagrado e oferecido a Deus". E Fornerus de Bamberg acrescenta: "Se bem que todos os Sacramentos estejam cheios de majestade, a Santa Missa excede-os; aqueles são vasos que contêm a divina misericórdia para os vivos, esta é um oceano inesgotável de liberalidade divina pelos vivos e pelos mortos".
Vejamos agora em que se manifesta a excelência da Santa Missa.
Em primeiro lugar, manifesta-se, no cerimonial pomposo da bênção solene ou consagração de uma igreja, ou dum altar pelo Bispo. Longo demais seria narrar aqui toda a cerimônia - aliás rara entre nós, devido a diversas razões; mas é certo que a consagração das igrejas é uma cerimônia tão tocante e insinuante, que facilmente dela se deduz que, das nossas igrejas, muito mais que do templo de Jerusalém, valem as palavras do profeta Isaías: "Conduzi-los-ei à montanha santa, enchê-los-ei de alegria, à invocação de meu nome; a vítima que me oferecerem há de me ser agradável, porque minha casa será chamada por todos os povos, casa de oração".
Desta palavra fez menção Jesus Cristo, quando, cheio de santa indignação, expulsou do templo de Jerusalém os que o violavam pelos negócios gananciosos. Lembremo-nos, também, desta mesma palavra para, cheios de santa fé e religioso respeito, entrarmos em nossas igrejas para adorarmos a Jesus Cristo, corporal e essencialmente, presente no santo altar. Conservemo-nos alheios do costume altamente censurável de fazer dos templos sagrados lugares de conversas e, quiçá, de faltas mais graves.
Em segundo lugar, a excelência da santa Missa nos é demonstrada pelo rito solene da ordenação dos ministros do altar, mormente dos sacerdotes. Dispensamo-nos ainda de expor longamente a administração do santo sacramento da ordem, do sacerdócio, para não se avolumar demais este livro. Quem já teve ensejo de assistir à ordenação de neopresbíteros, não terá deixado de experimentar singular impressão, sentindo a grandeza oculta do ato, seu efeito duradouro do estado sacerdotal e de seu fim elevado de oferecer o santo sacrifício da Missa.
Ainda poderíamos referir-nos aos objetos que servem à celebração da santa Missa e dar outras tantas provas da excelência do mesmo sacrifício da Missa, pois a grande e rigorosa diligência de nossa santa Igreja se inspira na compreensão e estima que tem daquilo que se passa no santo altar. Inspiremo-nos nesta diligência, para assistirmos sempre com rigorosa atenção a tão grande mistério.
Até a língua empregada no sacrossanto sacrifício da Missa, a Igreja faz compreender que no altar se efetua algo de superior ao comum. Não se usa a língua vulgar - mas a língua sagrada da Madre Igreja. Houve quem ousasse censurar o uso do latim na Missa, - mas entendamos bem: A santa Missa não é uma instrução, mas um grande mistério. O sacerdote não celebra para ensinar, mas para santificar-se e ao povo. Para tomarmos parte na santa Missa, não é preciso compreendermos as palavras, basta e cumpre unirmo-nos, afetuosamente, ao que se passa no altar. No emprego da língua latina no santo sacrifício, temos ainda um valioso símbolo da unidade da Igreja: Uma só Igreja, um só sacrifício, uma só língua em todo o mundo no altar.
Passemos agora à prova mais evidente da excelência da santa Missa, que consiste em demonstrar quem é a pessoa do sacrificador, e qual a oferta na santa Missa.
Quem é o sacrificador? - o sacerdote? o Bispo? o Papa? - Não. - Será um Anjo do céu? um Santo? a própria Mãe de Deus, Maria Santíssima? - Oh, não. É o sacerdote dos sacerdotes, o Bispo dos Bispos, o Filho de Deus, Jesus Cristo, "o sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec".
É ele quem dá à santa Missa a excelência incomparável; é ele quem eleva a oferta do pão e do vinho a um sacrifício divino.
Que Jesus Cristo é o sacerdote na santa Missa, prová-lo-emos com estas palavras de S. João Crisóstomo: "O mesmo Jesus Cristo que nos preparou, na última Ceia, esta mesa sagrada, está aqui para abastece-la; pois não é o homem que muda o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor, mas sim Jesus Cristo que, por nós, foi crucificado".
Com estas palavras S. Crisóstomo prova que Jesus Cristo cumpre, pessoalmente, a parte essencial da santa Missa; que desce do céu, muda em seu Corpo e Sangue, o pão e o vinho, oferecendo-se, em holocausto, a seu Pai pela salvação do mundo, e ora, como fiel mediador, pelos pecados do povo. Os sacerdotes são apenas seus instrumentos: emprestam-lhe a boca, a língua, as mãos para a realização do divino Sacrifício.
Se alguém recusar crer no testemunho de S. Crisóstomo, eis a decisão do grande Concílio de Trento: "O Sacrifício da Cruz e o Sacrifício da Missa são um só e mesmo sacrifício, porque aquele que se imolou sobre a Cruz, de maneira cruenta, é o mesmo que se imola na santa Missa, de modo incruento, pelo ministério dos sacerdotes".
É pois, doutrina da santa Igreja, que os sacerdotes são simplesmente os servos de Jesus Cristo e que Nosso Senhor se oferece, no altar, tão verdadeiramente como se ofereceu sobre o patíbulo da Cruz.
Que honra! que graça! que inestimável benefício! O divino Salvador digna-se de fazer-se nosso sacerdote, nosso mediador, nosso advogado!
Eis o que também refere S. Paulo em sua Epístola aos Hebreus: "Era justo que tivéssemos um pontífice como este: santo, inocente, sem mancha, segregado dos pecadores, e mais elevado que os céus, que não fosse obrigado, como os outros pontífices, a oferecer vítimas, todos os dias, primeiramente pelos próprios pecados e, em seguida, pelos pecados do povo. A lei antiga estabeleceu, para pontífices, homens fracos, mas a palavra de Deus, confirmada pelo juramento que fez depois da lei, constituiu pontífice o Filho, que é santo e perfeito eternamente" (Heb. 7, 26-28).
Não são estas magníficas palavras do Apóstolo uma prova de quanto Deus nos estima, visto que nos deu, por sacerdote e mediador, não um homem frágil e pecador, mas seu Filho único, a própria santidade?
Consideremos, agora, por que Jesus Cristo não quis confiar seu sacrifício a homem nenhum. A principal razão foi porque este sacrifício devia ser puríssimo como o profeta Malaquias o havia anunciado.
Em todo lugar, sacrifica-se e oferece-se ao meu nome uma oblação pura. Foi por esta razão que Deus reservou o nome a função de sacerdote a seu Filho único, ao sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec.
Deste modo, o sacerdote celebrante não é propriamente falando, o sacrificador, porém apenas o servo do grande sacerdote Jesus Cristo.
Segue-se daí, que toda Missa é de um valor infinito, pois é celebrada pelo próprio Jesus Cristo, com uma devoção, um respeito, um amor acima do entendimento dos Anjos e dos homens. O mesmo Jesus Cristo revelou esta verdade à Santa Matilde: "Só Eu, disse, compreendo, perfeitamente, de que forma me imolo, todos os dias, sobre o altar pela salvação dos fiéis; os Querubins e os Serafins, nenhuma Potestade celeste, saberiam compreende-la inteiramente" (Revelações, I, 19). Oh meu Jesus! que impenetrável mistério e que felicidade para nós, pobres pecadores, sermos admitidos à santa Missa, onde efetuais essa salutar oblação!
Caro leitor, considera bem estas palavras e quanto te é vantajoso assistir à santa Missa, em que Nosso Senhor se oferece por ti; faz-se o mediador entre tua culpabilidade e a justiça divina, e retém o castigo que merecem, cada dia, os teus pecados. Oh, se abrisses bem os olhos a esta verdade, como amarias a santa Missa; como suspirarias pela felicidade de assisti-la. Como a ouvirias devotamente. Como te lastimarias por faltar a uma só! Para poupar um tal prejuízo a tua alma, suportarias, de boa vontade, qualquer dano temporal. Os primeiros cristãos nos deixaram disto o exemplo: preferiram perder a vida a deixar de assistir à santa Missa.
Já insistimos muito na excelência da santa Missa; entretanto, resta-nos ainda a tratar de um ponto importante: o valor da oferta, apresentada à Santíssima Trindade.
É evidente que esta oferta, para ser digna de Deus, deve ser de um preço inestimável, porque quanto maior é a quem se faz uma oferta, tanto mais preciosa ela deve ser. Se alguém ousasse oferecer uma bagatela a um príncipe, cobrir-se-ia de confusão
Ora, o céu e a terra são apenas uma bagatela diante da imensa Majestade de Deus.
"O mundo, perante Deus, é o grãozinho que apenas dá diminuta inclinação à balança, a gota do orvalho da manhã, que cai sobre a terra" (Sabedoria, 11, 23).
Então, onde achar, no universo inteiro, alguma coisa digna de Deus?
Que acharia Jesus Cristo, mesmo no céu, que fosse digno de Deus?
No céu e sobre a terra achou apenas sua santa, imaculada e bendita Humanidade, isto é, o que a onipotência de Deus produziu de maior. "A Humanidade de Jesus Cristo, disse Nossa Senhora à Santa Brígida, foi, e será para sempre, o que há de mais precioso".
Com efeito, a mão liberalíssima de Deus ornou esta Humanidade de tantas graças e perfeições que nada mais lhe podia acrescentar. Não porque Deus não pudesse, absolutamente, conceder mais, porém porque a capacidade da humanidade não as poderia conter.
Todavia, esta Humanidade tão bela, tão pura, tão santa e perfeita, não pode oferecer um sacrifício digno da adorabilíssima Trindade senão em razão de sua união com a pessoa do Verbo eterno, união que dá a todos os seus atos e sacrifícios um valor e merecimento infinitos.
Por esta grande dignidade, durante sua permanência na terra, a santa Humanidade do divino Salvador atraiu a mais profunda veneração, não só de homens piedosos como também de Anjos do céu. Que adoração universal, porém, é prestada agora a esta santa Humanidade no céu, onde se acha gloriosa e imortal em um trono, à direita do Pai celeste!
A santíssima Humanidade de Jesus Cristo forma a única oferta digna de ser apresentada no santo Sacrifício, e, na verdade, é o mesmo Jesus Cristo quem a oferece. Com ela, oferece tudo o que efetuou e sofreu durante os trinta e três anos de sua vida mortal: jejuns, vigílias, orações, viagens, mortificações, pregações, perseguições, insultos, zombarias, lágrimas, gotas de suor, agonia no jardim das oliveiras, flagelação, coroação de espinhos, crucificação, morte e sepultura. Além disto, oferece a Humanidade, inseparavelmente unida à Divindade, porque, embora a Divindade não seja objeto do sacrifício, a Humanidade é nele oferecida no estado de perfeição a que a eleva à união hipostática.
Medi, pois, se podeis, o valor de uma tal oferta. Enfim, Jesus Cristo não oferece sua Humanidade sob a forma que tem no céu, mas no estado em que se acha sobre o altar. No céu ela é tão gloriosa que os Anjos tremem ante sua Majestade: no altar, pelo contrário, sua humilhação é tão extrema que estes mesmos se enchem de espanto.
A Humanidade de Nosso Senhor está, de tal modo, unida e estreitada às espécies eucarísticas que nunca se podem separar, nem mais aí subsistirá, quando forem destruídas as espécies. De que modo contempla a Santíssima Trindade este prodígio de humanidade! Que glória para o Pai celeste! Que virtude, que perfeição não recebe daí a santa Missa onde se cumprem estes divinos Mistérios! Que bênção, que socorro para aqueles em cujas intenções o santo Sacrifício é oferecido! Que consolação, que alívio não recebem as almas do purgatório, quando a santa Missa é celebrada, ou ouvida pelos seu livramento! A Missa quotidiana é a arma, pela qual a graça e a misericórdia sobressaem à justiça.
Agradeçamos, pois, ternamente ao divino Salvador por nos ter legado, a nós, seus pobres filhos, um sacrifício tão poderoso; agradeçamos-lhe por nos ter deixado este meio infalível de atrair as ondas da divina misericórdia.
Para glória da santa Missa, relatamos como se fez a consagração da capela d'Einsiedeln, na Suíça, e como o mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo celebrou o santo Sacrifício como grande solenidade.
Oitenta anos depois da morte de Meinrado, o santo eremita Eberardo, piedoso solitário de nobre família, foi pedir a S. Corado, Bispo de Constança, a graça de consagrar a capela de S. Meinrado. O virtuoso Bispo anuiu-lhe ao pedido. Na festa da Exaltação da santa cruz, em 14 de setembro de 940, devia realizar-se a consagração.
Mas, indo para a capela, a fim de entregar-se à oração, o santo Bispo ouviu os coros dos Anjos cantar as antífonas e os responsórios da consagração. Entrou e viu a capela cheia de Anjos, e, no meio deles, Nosso Senhor, que, revestido de paramentos episcopais, procedia à consagração do santuário. À vista disto, Conrado caiu em santo êxtasis, sem, entretanto, nada perder de sua atenção. Viu e ouviu Nosso Senhor pronunciar as palavras da Igreja e desempenhar-lhe as cerimônias em igual festa. Os apóstolos, os Anjos e uma multidão de Santos assistiam-lhe. A Mãe de Deus, a quem o altar e a capela eram dedicados, aparecia em cima do altar, mais brilhante que o sol, mais resplandecente que o fulgor do relâmpago.
Terminada a consagração, o Senhor começou a Missa solene, depois da qual toda a corte celeste desapareceu, deixando Conrado em transporte de alegria.
Reconheceu, sobre as cinzas que cobriam o solo, as marcas dos pés do Salvador e, sobre as paredes, os traços das unções.
De manhã, o clero veio buscar o Bispo para fazer a sagração, porém ele disse: "Não posso consagrar este santuário, porque já foi consagrado de maneira misteriosa".
Insistem, forçam-no, quando uma voz celeste se faz ouvir e repete por três vezes: "Pára, meu irmão, a capela já está consagrada".
Mais tarde, S. Conrado referiu ao Papa Leão VIII este fato extraordinário, cuja veracidade o mesmo Papa afirmou num rescrito apostólico, em que proibiu tornar a consagrar a capela, e concedeu indulgências especiais aos fiéis, que a freqüentassem (Legende der Heiligen von Ott, p. 2326).
Caro leitor, dizes, com certeza: "Ah! se pudesse assistir a uma festa igual, ver o que viu S. Conrado, ouvir o que ele ouviu! Que prazer, que emoção!".
Entretanto, não está presente, em cada Missa, Nosso Senhor, o grande pontífice? Não nasce, em cada Missa, sobre o altar, e não o cercam os Anjos?
Feliz serás, pois, se considerares que te achas no meio de uma tão alta assembléia, que se digna de unir tuas pobres orações às suas, para faze-las subir até o trono de Deus.

III. SÍMBOLOS DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
Querendo falar dos sublimes e múltiplos mistérios da santa Missa, devemos dizer com o rei David: "Vinde e vede as obras do Senhor e os prodígios que operou sobre a terra" (Sl. 45, 9).
Nosso divino Salvador fez muitos e grandes milagres, quando vivia neste mundo; nenhum, porém, parece tão admirável como a instituição da santa Missa, na última Ceia.
É a Santa Missa o compêndio das maravilhas das obras de Deus, um milagre que contém em si tantos mistérios, que São Boaventura, meditando-os, prorrompeu nestas palavras: "A santa Missa tem tantas maravilhas quantas são as gotas d 'água no oceano, os grãozinhos de poeira no ar, as estrelas no firmamento, e os Anjos no céu. Nela se operam, quotidianamente, tantos mistérios que não sei se, em tempo algum, a mão onipotente de Deus fez obra melhor e mais sublime" (Tom. 6. De Sacramentis).
Palavras admiráveis! Será então verdade que a santa Missa contém tantos mistérios que a língua humana jamais os pode enumerar? O grande teólogo padre Sanchez confirma as palavras de São Boaventura, e acrescenta: "Na santa Missa, recebemos tesouros tão admiráveis, dons tão preciosos, bens tão essenciais para esta vida e uma esperança tão firme para a outra, que nos é necessária, para crê-lo, a virtude da fé. Assim como se pode tirar, sem diminuir, toda a água que se quiser, do mar, ou dos grandes rios, da mesma forma, apesar da abundância das graças que tirardes na santa Missa, não diminuireis nem lhe esgotareis jamais os tesouros" (Thes. Missae, e. 1).
O primeiro símbolo da santa Missa foi o sacrifício do justo Abel, oferecendo, piedosamente, ao Altíssimo as primícias de seu rebanho. Este sacrifício agradou ao Senhor; pois que diz a Sagrada Escritura: "O Senhor lançou os olhos sobre Abel e sobre a sua oferta" (Gen. 4, 4). O sacrifício de Abel partia dum coração submisso e fiel, e era feito em vista do futuro Salvador. O fogo desceu do céu, diz a Sagrada Escritura, e consumiu o holocausto de Abel.
O sacrifício de Abel agradou visivelmente ao Altíssimo; mais lhe agrada, porém o Sacrifício do novo Testamento. Quando o sacerdote oferece, na santa Missa, o pão e o vinho, e pronuncia as palavras da consagração, o fogo divino do Espírito Santo consome o pão e o vinho, mudando-os no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo. Este holocausto, portanto, é infinitamente mais agradável ao Senhor que o de Abel. O Pai celestial o acolhe com grande satisfação, dizendo: "Este é meu Filho bem amado em que pus toda a minha complacência".
São outras figuras do santo Sacrifício da Missa os sacrifícios de Noé, de Abraão, de Isaac e de Jacó, narradas em vários lugares da Sagrada Escritura. Porém, o símbolo mais tocante da Missa foi o sacrifício que Melquisedec ofereceu a Deus todo-poderoso, em reconhecimento da vitória de Abraão. Este sacrifício consistia em pão e vinho, e era acompanhado de preces e de cerimônias particulares. O próprio Melquisedec era uma figura de Jesus Cristo. Seu nome significa: Rei da paz; pois, como Jesus Cristo, era, ao mesmo tempo, rei e sacerdote.
No cânon da Missa, imediatamente depois da consagração, faz-se menção dos sacrifícios antigos, quando o sacerdote diz: "Oferecemos à vossa sublime Majestade o dom de uma vítima (+) pura, de uma vítima (+) santa, de uma vítima (+) sem mancha, o pão sagrado (+) da vida eterna e o cálice da eterna (+) salvação. Outrora aceitastes os sacrifícios dos tenros cordeiros que Vos ofereceu Abel; o sacrifício que Abraão Vos fez de seu filho único, imolado sem perder a vida. Enfim o sacrifício misterioso do pão e do vinho que Vos apresentou Melquisedec". É o suficiente para indicar que esses sacrifícios foram imagens do sacrifício da Missa.
Na santa Missa, são realizados não somente todos os sacrifícios simbólicos, como também se representam os principais mistérios da vida e da paixão do nosso divino Salvador.
David o indica, quando diz: "O Senhor deixou uma lembrança de suas maravilhas; mostrou-se misterioso e compassivo" (Sl. 110, 4). E para que lhe compreendêssemos bem o pensamento, diz, em outra parte: "Acercar-me-ei de vosso altar, a fim de ouvir a voz de vossos louvores e narrar vossas maravilhas". Neste sentido, Jesus Cristo disse também a seus apóstolos, depois da instituição da Eucaristia: "Fazei isto em memória de mim. A obra da redenção vai ser cumprida. Estou prestes a deixar-vos, porém antes de tornar ao meu Pai celeste, instituo a santa Missa como sacrifício único do novo Testamento e lego-vos o poder de efetuá-la a meu exemplo, até que eu volte para julgar os vivos e os mortos. E, para que minha lembrança permaneça viva, encerro neste sacrifício todos os mistérios de minha paixão, que reproduzireis, sem cessar, aos olhos de meus fiéis".
Primeiramente, renova-se na santa Missa o mistério da Encarnação. Na hora da Encarnação, a Virgem obedientíssima ofereceu a Deus o seu corpo e a sua alma a fim de que, segundo as palavras do Arcanjo, o Espírito Santo operasse em suas castas e virginais entranhas a concepção de Jesus Salvador.
De modo mui parecido, quando o sacerdote apresenta e oferece a Deus o pão e o vinho, o Espírito Santo muda-os no verdadeiro Corpo e Sangue de Jesus Cristo. O sacerdote, no momento da transubstanciação, recebe o filho de Deus em suas mãos tão realmente como a santíssima Virgem o recebeu no seu casto seio.
Analogamente, em segundo lugar, vemos renovar-se, na Missa, o mistério da Natividade. Como Jesus Cristo nasceu do corpo imaculado e inviolado da santíssima Virgem, na Missa Ele nasce dos lábios do sacerdote. Apenas pronunciada a última palavra da consagração, Jesus acha-se nos panos alvíssimos do altar como outrora nas fachas do presépio. Como Maria Santíssima, em sua indizível felicidade, adorava a seu filho Deus humanado, como o apresentava aos pastores, assim o sacerdote adora Jesus e apresenta-o aos fiéis na elevação da santa Missa. E aquele infante divino que os três magos vieram adorar, que o velho Simeão tomou nos braços quando os pais o ofereceram no templo, nos o temos diante dos olhos, em todas as Missas a que assistimos.
E ainda há mais. Jesus nos anuncia, na santa Missa, seu Evangelho pela boca do sacerdote, nos ensina a orar, ora conosco e por nós; soam, na Missa, as palavras do perdão como no Calvário: "Pai, perdoai-lhes". Não resta dúvida, cabem aqui as palavras de Jesus: "Bem aventurados os que não viram, mas creram", pois, aos olhos corporais permanece tudo isso escondido, mas não assim à nossa alma esclarecida pela fé. Ela reconhece, como o apóstolo Tomé, a Jesus debaixo das espécies do pão; inundada de santa alegria percebe a realização da divina promessa: "Eis que estou convosco até a consumação dos séculos". Está conosco Jesus na santa Missa, está conosco como nosso Salvador, nosso Mediador, nossa vítima. Daí se compreende também uma diferença notável entre a hóstia sagrada da custódia e a da Missa, se bem que, numa e noutra, Jesus Cristo esteja igualmente presente. Na custódia ou na âmbula, permanece Jesus presente em nossos altares, oferece-se às nossas adorações, dá-nos a bênção, serve-nos de alimento, - na santa Missa, porém, é nossa vítima, nosso Mediador como no Calvário.
Cristãos! Que meio fácil e eficacíssimo de, na santa Missa, nutrirmos a fé, a esperança, o amor! Que ocasião de acendermos nossa piedade, de estreitarmos a união sagrada com Jesus!
Pode haver graça ou favor necessário, que não nos seja possível obter pelo sacrifício da santa Missa?
Se Jesus nos ensina a pedir, dizendo: "Pedi, e recebereis!" vale este conselho, muito especial e particularmente, na hora da santa Missa. Nos capítulos seguintes haveremos de explicar, mais minuciosamente, tudo isso. Mas, desde já, será permitido perguntar, se não causa perda irreparável de benefícios preciosos, corporais e espirituais, aos cristãos a cegueira de fazer tão pouco caso de tão rico tesouro? Possa a leitura atenta disso e de quanto segue, esclarecer-nos e inspirar-nos grande estima do santíssimo sacrifício da Missa.