Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

12/09/2012

EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA – PARTES XXVII; XXVIII; XXIX E XXX (FINAL)


EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo

XXVII. INSTANTE EXORTAÇÃO PARA OUVIR DIARIAMENTE A SANTA MISSA
Depois de tudo quanto dissemos até aqui, pareceria desnecessário exortar-te a ouvir a santa Missa todos os dias. Entretanto, acrescentaremos algumas reflexões próprias, para afirmar, em ti, a esta resolução.
Não há dúvida de que nenhuma hora do dia é tão preciosa como a da santa Missa. É verdadeiramente uma hora de ouro, e, por sua influência, tudo o que fizeres no correr do dia será, por assim dizer, transformado em ouro. Sem esta bênção que se recebe do altar, não ganharíamos senão vil metal.
Objetar-nos-ás talvez: "O trabalho me é mais necessário que a audição da santa Missa, visto que, por ele, sustento minha família". - Mas, caro leitor, não dizemos que não trabalhes, quereríamos apenas ver-te dar a Deus pequena meia hora, cada manhã. Abençoado por sua mão paterna, teu trabalho terá melhor êxito.
O desejo de nosso coração, caro leitor, é levar-te a ouvir, quotidianamente, a santa Missa. Por isso procuramos detalhar-te os numerosos e nobres motivos sobre os quais esta excelente devoção é baseada.
Escuta e considera: Foste criado por Deus, para serví-lo: a santa Missa é o culto divino por excelência; tens a obrigação de agradecer-lhe os benefícios espirituais e temporais: a santa Missa é o mais perfeito sacrifício de ação de graças; estás no mundo, para louvar a divina Majestade do Deus onipotente: a santa Missa é o mais perfeito sacrifício de louvor; tens contraído uma dívida enorme: a santa Missa é o mais rico sacrifício de satisfação; o pecado, a doença, a morte te ameaçam: a santa Missa é o mais eficaz sacrifício de impetração; o demônio te persegue, armando ciladas, esforça-se para arrastar-te ao inferno: a santa Missa é o escudo contra o qual se despedaça o poder infernal; a morte te espanta: a audição da santa Missa será para ti a maior consolação na hora da morte.
Quando não te seja possível assistir, cada dia, à santa Missa, faze, pelo menos, que uma ou outra pessoa de tua família a assista na intenção de todos os teus.
A prática de ouvir a santa Missa, uns em favor dos outros, é, extremamente, vantajosa e perfeitamente possível. Há uma diferença notável entre a audição da santa Missa e a sagrada Comunhão. Diz-se: Comungarei por ti, pelas almas do purgatório, etc., o que, porém, não tem a mesma significação que dizer: Ouvirei a santa Missa por ti. É tão impossível receber um sacramento por outra pessoa como é impossível tomar alimento por ela. Não obstante, tua Comunhão será muito vantajosa ao próximo, porque todas as boas obras apagam parte da pena devida a teus pecados, vantagem que podes ceder a teu irmão: demais, a Comunhão, aumentando-nos a graça, torna a oração mais ardente e mais eficaz.
Observa, porém, que Jesus Cristo não instituiu a santa Missa somente pelo que a celebra, ou a assiste, mas também quer tenham os ausentes sua parte, e lhes é feita ao "Memento dos vivos": "Lembrai-vos Senhor", diz o sacerdote, "daqueles pelos quais vos oferecemos ou que vos oferecem este Sacrifício de louvor por si e por todos os seus".
Enfim, cada um pode despojar-se, em favor do próximo, dos méritos que adquire, ou dos tesouros satisfatórios que recebe no santo Sacrifício. Parece, pois, mais vantajoso ouvir a santa Missa por uma pessoa do que comungar por ela.
As palavras persuadem, os exemplos arrastam. Se nossas instantes exortações ainda não te convenceram, citar-te-emos o exemplo dos Santos que, apesar dos numerosos e importantes trabalhos, colocavam a Missa acima das ocupações.
Santo Agostinho refere de sua mãe, santa Mônica, que não deixava passar um dia sem assistir ao santo Sacrifício, tanto estimava o valor desta oblação, cuja virtude salutar apaga os vestígios de nossas faltas. Sentindo-se morrer longe da pátria, recomendava ao filho que não lhe fizesse exéquias pomposas, porém que levasse cada dia, sua lembrança ao altar.
Santa Hediviges, duquesa da Polônia, ouvia, todos os dias, várias Missas, e, quando não se achavam bastantes sacerdotes na corte, mandava chamar os outros para satisfazer a devoção.
São Luis, rei de França, assistia a duas Missas, às vezes até a quatro. As pessoas de sua comitiva o criticavam, achando que o rei devia antes ocupar-se dos negócios do governo. O Santo, porém, respondia-lhes: "Admira-me tanta inquietação. Se empregasse o duplo deste tempo no jogo, ou na caça, ninguém me criticaria". Excelente resposta que, não somente serve aos cortesãos de Luís IX, mas a nós todos. Quando, em dia útil, nos aconteceu assistir a muitas Missas, parecem prejudicados nossos negócios?... entretanto, passamos, sem escrúpulo, horas inteiras a falar, a jogar, a comer, a dormir, mesmo a enfeitar-nos! Que cegueira, pois!
Citamos acima o rei da Inglaterra, Henrique I, a quem o peso dos negócios do Estado nunca impedia de ouvir três Missas, cada dia. Numa entrevista com o rei de França, os dois príncipes vieram a falar em questões religiosas. "Julgo, observou o último, que a assiduidade ao sermão é preferível à da Missa" - "Por mim, retorquiu Henrique, prefiro olhar para meu Amigo divino a ouvir celebrar-lhe os louvores".
É também nossa opinião, caro leitor, sem querermos menosprezar a utilidade das instruções religiosas.
São Venceslau, duque da Boêmia, dava os mesmos exemplos. Refere-se, na sua vida, que durante a assembléia nacional dos Estados da Alemanha, em Worms, o imperador Óton convocou, um dia, todos os príncipes para uma hora matutina.
Todos aí se acham pontualmente, exceto Venceslau que fora à Missa, antes de ir à assembléia. O soberano disse em tom de impaciência: "Comecemos os trabalhos e, quando Venceslau vier, ninguém se levante para dar-lhe lugar". Entretanto, terminada a santa Missa, o duque chegou ao palácio. O imperador o viu entrar acompanhado de dois Anjos que lhe condecoravam o peito com uma cruz de ouro. Imediatamente deixou o trono, foi-lhe ao encontro e abraçou-o com ternura.
A assembléia teve um movimento de surpresa ao ver Óton ser o primeiro a contradizer as próprias ordens. Este, porém, desculpou-se, dizendo: "Vi dois Anjos que acompanhavam o duque, como teria eu ousado não lhe render esta honra?". Alguns dias depois, Venceslau era investido do poder real e coroado rei da Boêmia.
O célebre escritor Barônio relata que o imperador Lotário assistia, cada manhã, a três Missas, mesmo no acampamento. E Súrio afirma que Carlos V não faltou a santa Missa senão uma única vez, por ocasião de uma guerra na África.
O Breviário Romano nos faz admirar a ardente devoção de São Casimiro durante o Ofício solene, ao qual assistia todos os dias. Sua alma abrasava-se de tamanho amor de Deus, que parecia não estar mais sobre a terra.
O heróico confessor da fé, Tomás Mourus, que deu a vida por Jesus Cristo em 1535, tinha em alta estima a santa Missa. Por urgentes que lhe fossem os negócios de chanceler do império britânico, não deixava de assistí-la, cada manhã. Uma vez, enquanto orava ao pé do altar, durante o santo Sacrifício, um mensageiro veio, a toda a pressa, dizer-lhe que o rei o chamava: "Paciência, disse-lhe; devo, em primeiro lugar, prestar minhas homenagens a um príncipe maior, e assistir, até o fim, à audiência divina".
Meu Deus, que diremos, que desculpas apresentaremos no dia do juízo, nós que negligenciamos a santa Missa pelas ocupações, muitas vezes, insignificantes, ao passo que personagens encarregados dos negócios de reinos inteiros, achavam o tempo necessário para ouvir, cada dia, uma ou mais Missas?!
Não digas: "Deus não me condenará por ter deixado de ouvir a santa Missa em dias úteis, desde que é obrigatório somente aos domingos e dias de festa". Sem dúvida, Deus não tratará esta omissão como transgressão positiva; porém, far-te-á expiar este descuido, em seu santo serviço. O servo preguiçoso que foi lançado nas trevas extremas, não havia desperdiçado nem perdido, no fogo, o talento que o dono lhe havia confiado: tinha somente enterrado e foi condenado, por se ter descuidado de utilizá-lo. Toma cuidado que Deus não proceda assim contigo. Viu-se muitas vezes, com que rigor Deus pune a indiferença a respeito do santo Sacrifício.
Quanto aos pais que impedem os filhos de assistirem à santa Missa, em dia de domingo, ou de festa, bem poderiam incorrer no castigo de Gerôncia, mãe de Santa Genoveva. Um dia de festa que ela pretendia proibir à filha ir à Missa, Genoveva lhe disse com firmeza: "Minha mãe, não posso, em consciência, faltar à Missa, hoje: prefiro descontentar-vos a descontentar a meu Deus". Irritada com esta resposta, Gerôncia esbofeteou-a, chamando-a desobediente. O castigo de Deus, porém, não se fez esperar. Gerôncia cegou imediatamente e não recuperou a vista senão dois anos depois, devido às orações da piedosa filha.
Os pais e as mães de família têm obrigação de mandar à santa Missa não só os filhos, como também os criados; devem cuidar deles na igreja e exortá-los a terem grande respeito, para o santo Sacramento. O Apóstolo São Paulo prescreve-o claramente: "Se alguém, diz ele, não toma cuidado dos seus e, particularmente, dos de sua casa, renunciou à fé e é pior do que um infiel" (Tim. 5, 3). A palavra "cuidado" significa, segundo São João Crisóstomo, a conservação da alma assim como do corpo. Ora, se um pai de família deixasse de fornecer ao filho e às pessoas de sua casa alimento e vestuário, seria, aos olhos de Deus, pior do que um infiel. E não será mais desprezível ainda o que não se inquieta da salvação eterna dos seus?
Patrões cristãos, prestai atenção à maneira pela qual cumpris os deferes a este respeito. Deixai toda a liberdade a vossos empregados para ir à Missa, quando a proximidade da Igreja e a hora matutina lhes fornecem a facilidade? Não pareceis dizer com a vossa atitude: "Não é a Deus, mas a mim a quem deveis servir, porque não é Deus, sou eu quem vos paga; trabalhareis, pois, toda a semana para mim somente?" Na verdade, tais cristãos são piores que os pagãos, mas saberão, à hora da morte, a enormidade de seu pecado.

XXVIII. EXORTAÇÃO PARA OUVIR PIEDOSAMENTE A SANTA MISSA
Quanto não se aflige a Igreja, por ver tantos filhos assistirem, sem piedade, ao santo Sacrifício! Ocupam-se os fiéis, não raras vezes, com o que se passa ao redor, porém, não do que se realiza no altar; observam quem entra e quem sai; oram somente com os lábios, sem que o coração tome parte. Eis seu proceder na presença de Deus três vezes santo! Perguntamos se lhes existe ainda uma faísca de fé na alma e se merecem o nome de católicos. Oh! quanto nos dói o coração à vista de tão culpada irreverência, no momento em que tudo nos convida à mais ardente piedade.
A Igreja católica impõe o respeito para a santa Missa, por estas palavras: "Reconhecer que os cristãos não podem cumprir obra mais santa, mais divina que este assombroso mistério é também reconhecer que não se pode pôr cuidados e diligência suficientes para desempenhá-lo com pureza de coração, com piedade e edificação (Concílio de Trento). Não é necessário, para isso, experimentar uma devoção sensível; basta a vontade firme de assistir atenta e respeitosamente.
A verdadeira piedade, com efeito, não consiste na doçura interior, mas no fiel serviço de Deus.
A piedade ou devoção consiste, segundo todos os mestres da vida espiritual, numa vontade pronta e generosa de fazer tudo quanto Deus quer, e sofrer corajosamente tudo quanto quer que soframos. As doçuras e as consolações sensíveis não são, pois, a devoção, mais um estímulo para a devoção que o Senhor concede conforme nossas necessidades e sua sabedoria. O espírito de fé está sempre ao nosso dispor e podemos, agindo segundo esta fé, servir a Deus com inteira fidelidade e ser do número dos justos que vivem da fé.
Se não tivesses desejo algum e não fizesses nenhum esforço para sair de tua indiferença, então somente, haveria culpa e te privarias de muitos méritos. A este respeito lembrar-te-emos das palavras de Nosso Senhor à Santa Gertrudes.
Esforçando-se, uma vez, em unir alguma intenção particular a cada nota e cada palavra de seu canto, e, sentindo que se achava, muitas vezes, impedida pela fraqueza de sua natureza, dizia no interior, com muita tristeza: "Ah que fruto posso tirar deste exercício visto que sou sujeita a tão grande mudança?". Nosso Senhor, porém, apresentou-lhe nas mãos o Sagrado Coração sob o emblema duma lâmpada ardente, dizendo: "Eis que exponho, aos olhos de tua alma, meu Coração caridoso que é o órgão da Santíssima Trindade, a fim de que lhe peças, com confiança, que faça em ti tudo o que não serias capaz de operar, e desta sorte, eu nada veja, aí, que não seja extremamente perfeito; pois, da mesma maneira que um servo está sempre prestes a executar as ordens de seu amo, assim meu Coração será sempre disposto, em qualquer hora, a reparar os efeitos de tua negligência" (Líber III, c. 25). Santa Gertrudes admirava, tremendo, o excesso da bondade do divino Salvador, julgou, porém, que seria inconveniente que o Coração adorável de seu Deus suprisse os defeitos de sua criatura. Mas o Senhor animou-a com esta comparação: "Não é verdade que, se tivesses uma bela voz e achasses extremo prazer em cantar, encontrando-te com uma pessoa que tivesse a voz tão áspera, tão desagradável e desafinada que sentisse muita pena em pronunciar e em formar os menores sons, acharias mal que, oferecendo-te para cantar, ela não to quisesse permitir? Assim, meu Coração divino, reconhecendo a inconstância e a fragilidade da natureza humana, deseja com ardor que o convides, senão por palavras, pelo menos por outro sinal, a operar e cumprir em ti o que não és capaz de operares e cumprires".
Oh que palavras de animação e conforto! Estás distraído à santa Missa? Desprovido de piedade? Vai a Jesus, dizendo-lhe: "Deploro amargamente estar tão distraído e rogo a vosso divino Coração que se digne suprir a minha negligência".
Para ajudar a tua boa vontade, indicar-te-emos também a maneira de te comportares na santa Missa. Primeiro, indo à igreja, considera aonde vais e o que vais fazer. Não subas ao templo como o fariseu e o publicano para orar somente, mas entras aí para "oferecer", segundo a palavra de David: "Senhor, sou vosso servo, oferecer-vos-ei uma hóstia de louvor e invocarei vosso santo nome" (Sl. 115).
Entras aí para prestar a Deus o culto mais perfeito, para apresentar a oferta que lhe é mais cara. "A audição da santa Missa, diz um escritor eclesiástico, não é somente uma oração, é um ato de adoração, é uma oferta, um sacrifício divino, visto que todos os assistentes bem dispostos unem-se à ação e às intenções do sacerdote". O mesmo autor explica então o sentido da palavra "sacrificar" e diz que a ação mais excelente, é praticar a mais alta virtude, porque, sacrificando, atestamos a soberania de Deus, seu direito de ser, infinitamente, honrado e glorificado; confessarmos, ao mesmo tempo, nossa dependência absoluta como criaturas, das quais pode dispor à vontade. É por isso que o Sacrifício é o ato de religião mais agradável ao Senhor, e o mais útil aos homens.
Penetrado destas verdades, chega ao pé do altar; formula aí a intenção de ouvir a santa Missa. Tens algumas orações particulares que fazer? Faze-as até a consagração. A elevação, não te ocupes senão com Nosso Senhor: adora-o, oferece-o a seu Pai eterno, expondo-lhe tuas necessidades. Há pessoas que têm escrúpulo de renunciar a suas orações quotidianas pelas da santa Missa. É um erro. Tuas orações quotidianas, comparadas com as da santa Missa, são tão inferiores como o cobre é inferior ao ouro. Além disso, estas orações podem fazer-se em outro tempo que não seja à hora da Missa, ao passo que não podes dizer as da Missa, tão utilmente, em outro tempo como quando o santo Sacrifício se efetua; e, se te acontecesse não achar um momento para desempenhar estas devoções particulares, esta omissão seria menos prejudicial que a primeira.
Logo que o sacerdote pronunciou, no momento solene, as palavras da consagração, o pão tornou-se o Corpo de Nosso Senhor. "O homem deve tremer, diz São Francisco de Sales, o mundo estremecer, o céu inteiro ficar arrebatado, quando, sobre o altar, o Filho de Deus se entrega nas mãos do sacerdote". Oh! admirável humildade, o Mestre de todas as coisas abaixa-se, para a salvação do homem, até ocultar-se sob as aparências do pão.
Mas, porque os nossos sentidos não percebem a presença do Senhor, não lhe prestamos atenção, e, entretanto, os demônios fogem espavoridos e os Anjos tremem diante de sua face. Assim disse Jesus Cristo a Santa Brígida: "Do mesmo modo que à palavra 'Sou eu!' meus inimigos caíram por terra, às palavras da consagração 'Isto é o meu Corpo!' os demônios fogem".
A semelhança dos Anjos e dos Santos, apliquemo-nos a glorificar o Senhor sobre o altar, e a participar de seu adorável Sacrifício. É excusado dizer que, no momento da elevação, devemos deixar toda outra oração, a fim de levantar os nossos olhos para o altar e adorar, humildemente, o Cordeiro de Deus, oferecendo-o ao Pai celestial. Estes exercícios de fé e caridade devem ocupar-nos todo o tempo, até que Jesus seja consumido pela Comunhão do sacerdote.
Infelizmente, grande número de fiéis não se conforma a nenhuma destas práticas. Continuam a receitar suas orações costumeiras, dedicando-se a uma espécie de devoção rotineira, como se Nosso Senhor não estivesse presente e não fosse preciso ocupar-se dEle. Caro leitor, não procedas mais assim; no momento da consagração, cai de joelhos como o sacerdote e, repleto de fé e amor, adora aquele que se mostra a teus olhos, sob as espécies de pão e de vinho.

XXIX. QUE DEVOÇÃO SE DEVE PRATICAR DURANTE A ELEVAÇÃO
Imediatamente depois da consagração, o sacerdote procede à elevação das santas espécies, cerimônia sublime, prescrita pela santa Igreja, para que o povo possa gozar e aproveitar, mais perfeitamente, da presença real do divino Salvador. É desta elevação e da devoção que, durante ela, se deve praticar, que queremos tratar neste capítulo.
Oh! que júbilo pra o céu! Que fonte de salvação para a terra! Que refrigério para as almas do purgatório! Que terror para o inferno! Nesta elevação, se oferece o dom mais precioso que possa ser apresentado ao Altíssimo! Sabes sob que forma a santa humanidade de Jesus é oferecida a seu Pai, pelas mãos do sacerdote? Esta humanidade que é a imagem, muito perfeita, da Santíssima Trindade, jóia única dos tesouros celestes e terrestres.
É oferecida debaixo de várias formas, porque entre as mãos do sacerdote, o Verbo encarna-se novamente, nasce de novo e sofre a Paixão; o suor de sangue, a flagelação, a coroação de espinhos, a crucificação, a morte... oh, que emoção para o coração do Pai eterno, durante esta elevação de seu Filho predileto!
Entretanto, o sacerdote não é o único a expor Jesus Cristo aos olhos de seu Pai, o próprio Salvador se expõe: "À elevação, vi Jesus Cristo apresentar-se a seu Pai e oferecer-se de uma maneira que ultrapassa toda a compreensão", refere Santa Gertrudes no seu "Livro das Revelações". Mas, se não podemos fazer idéia deste encontro do Pai com o Filho, a fé deve nos levar a uma oração muito mais fervorosa no momento em que se realiza".
São Boaventura convida o sacerdote e os fiéis a dizerem então, ao Pai celeste: "Vede, ó Pai eterno, vede vosso Filho, que o mundo inteiro não pode conter e tornou-se nosso prisioneiro. Não o deixaremos ir sem que nos tenhais concedido o que vos pedimos em seu nome: o perdão de nossos pecados, o aumento da graça, a riqueza das virtudes e alegria da vida eterna".
O sacerdote, ao mostrar a sagrada Hóstia, poderia ainda dizer ao povo: "Eis cristãos, vosso divino Salvador, vosso Redentor. Olhai-o com fé viva e derramai vossos corações diante dele em ardentes súplicas. Bem-aventurados os olhos que vêem o que contemplais! Bem-aventurados os que crêem, firmemente, na presença de Jesus Cristo, nesta santa Hóstia!" Se adoras assim, asseguras a salvação de tua alma, e poderás repetir com o patriarca Jacó: "Vi a Deus face a face, a minha alma foi salva" (Gen. 32, 30).
À elevação, todo o povo deve levantar os olhos para o altar e olhar, com piedade, o Santíssimo Sacramento. Jesus Cristo revelou a Santa Gertrudes quanto é útil à alma esta prática. "Cada vez, escreve ela, que olharmos para o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, oculto no Sacramento do Altar, aumentamos o grau de nosso mérito para o céu, o prazer, o gozo da vida eterna". Não te inclines, pois, tão profundamente à elevação que te seja impossível ver a sagrada Hóstia.
A santa Igreja também não o deseja; ela prescreve ao sacerdote levantar as santas espécies, alguns instantes, acima da cabeça, a fim de que o povo possa vê-las e adora-las. A eficácia deste olhar para o divino Salvador foi figurada no antigo Testamento: "Ao povo de Israel, que tinha murmurado contra o Senhor e contra Moisés, mandou o Senhor cobras, cujas mordedura queimavam como fogo. Muitos, tendo sido feridos, foram ter com Moisés, dizendo: "Pecamos; roga ao Senhor para que nos livre destas serpentes". Moisés fez uma serpente de bronze, colocou-a como sinal, e os que, sendo feridos, olhavam para ela, ficaram curados" (Num. 21, 8).
O santo Evangelho vê, neste fato, um símbolo tocante de Cristo, porque diz: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do homem deve ser levantado sobre a cruz" (Jo. 3, 14). Se a imagem da serpente de bronze tinha a virtude de curar os israelitas e de preservá-los da morte, com maior de razão, a piedosa contemplação do próprio Jesus curará as almas feridas, aflitas e desanimadas.
A fim de tornar muito eficaz este olhar para o divino Salvador, faze atos de fé em sua presença real e no Sacrifício que ele oferece a seu Pai celeste, por nós, pobres pecadores. Estes atos de fé valer-te-ão uma insigne recompensa. "Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo. 20, 29). Estas palavras podem bem se aplicar àqueles que têm uma fé viva na presença real de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.
Tendo adorado a Santa Hóstia, faze dela oferta ao Rei celeste. Já expusemos a virtude deste ato; acrescentamos somente a seguinte palavra da Santa Gertrudes: "A oblação da sagrada Hóstia é a mais eficaz satisfação por nossas culpas". Com isso quer dizer que, pobres pecadores como somos, devemos concentrar todas as forças de nossa alma, para oferecer a Deus a Hóstia santa, a fim de obter-lhe o perdão e a misericórdia.
À elevação da santa Hóstia, sucede a do Cálice sagrado, cerimônia igualmente significativa. É então que o precioso Sangue corre, de maneira mística, sobre os circunstantes, como se vê das palavras do missal: "Isto é o Cálice de meu Sangue, do novo e eterno Testamento: mistério da fé que será derramado por vós e por muitos, para o perdão dos pecados". Neste momento, recebes a mesma graça como se estivesses, cheio de arrependimento, debaixo da Cruz no Calvário e o precioso Sangue te inundasse.
Deus disse, no Antigo Testamento, ao povo de Israel: "Imolai um cordeiro e marcai, com seu sangue, as portas e os portais; e o Anjo exterminador passará a porta de vossa casa, quando vir este sangue" (Ex. 12, 22). Se o sangue do cordeiro pascoal preservou os israelitas dos golpes do Anjo exterminador, mais poderosamente, o Sangue do Cordeiro sem mancha nos protegerá contra a raiva do anjo das trevas que, como um leão rugidor, anda em redor de nós, procurando a quem possa devorar.
Vejamos ainda o que devemos fazer depois da elevação do Cálice. Muitas pessoas têm o costume de rezar então cinco Padre-Nossos em honra das cinco chagas; excelente prática, porém muito mal colocada. Outros que se sobrecarregam de orações, continuam a fazê-las. Seria, infinitamente, melhor fazer o que faz o sacerdote; pois, o Sacrifício nos pertence tanto quanto a ele. Apesar das ofertas reiteradas antes da elevação, o sacerdote continua a oferecer depois. Nada aliás poderíamos fazer mais agradável a Deus. É por isso que o sacerdote diz, depois de ter posto o Cálice sobre o altar: Por esta razão, Senhor, nós, vossos servos, mas também vosso povo santo... oferecemos à vossa augusta Majestade de vossos dons e dádivas, a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna e o Cálice da salvação perpétua".
Sanchez diz destas palavras: "Em toda a Missa, o sacerdote não pronuncia palavras mais consoladoras; pois, nem ele nem o povo poderiam fazer cousa melhor do que oferecer a Deus o augusto Sacrifício". Compreende, portanto, como prejudicas a teus interesses, substituindo esta preciosa oferta por tuas pobres e tíbias orações.
Criaturas indigentes que somos, desprovidos de méritos e virtudes, como não nos apoderaríamos, avidamente, de imenso tesouro que podemos apresentar, como sucesso, ao Pai celestial? E este tesouro, Deus no-lo dá em cada Missa, e, com ele, nos entrega todas as suas riquezas, para que as empreguemos em saldar nossas dívidas. Oferece, pois, a santa Missa, oferece-a ainda, oferece-a sempre.
As pessoas que não sabem ler os excelentes métodos de oferecer o santo Sacrifício, contido nos formulários de orações, podem decorar a oração seguinte:
Meu Deus, eu vos ofereço esta Santa Missa; ofereço-vos vosso caro Filho, sua encarnação, seu nascimento, sua dolorosa paixão; ofereço-vos seu suor de sangue, sua flagelação, sua coroação de espinhos, sua via sacra, sua crucificação, sua morte, seu precioso Sangue. Ofereço-vos, para vossa maior glória e a salvação de minha alma, tudo quanto vosso caro Filho fez, padeceu, mereceu, e todos os Mistérios que ele renova nesta santa Missa.
Amém.

XXX. RESPEITO COM QUE SE DEVE ASSISTIR À SANTA MISSA
Diz o Concílio de Trento: "Se somos, forçosamente, obrigados a confessar que os fiéis não podem exercer obra mais Santa nem mais divina do que este Mistério terrível, no qual a Hóstia vivificadora, que nos reconciliou com Deus Pai, é, todos os dias, imolada pelos sacerdotes, parece bastante claro que devemos ter muito cuidado para fazer esta ação com grande pureza de coração e com a maior devoção exterior possível". Estas palavras dizem respeito tanto aos fiéis como ao celebrante.
O historiador Flávio Josefo relata que, no templo de Salomão, setecentos sacerdotes e levitas estavam ocupados, todos os dias, em imolar as vítimas, em purificá-las, em queimá-las sobre o altar, e que isto se fazia com profundo silêncio e perfeito respeito. Entretanto, estes sacrifícios eram somente símbolos do Sacrifício da Santa Missa. Com que fervor, com que silêncio e atenção devemos assistir, pois, ao sacrifício verdadeiro!
Os primeiros cristãos nos deram admiráveis exemplos a este respeito. Segundo o testemunho de S. João Crisóstomo, ao entrar na Igreja, beijavam, humildemente, o assoalho e guardavam, durante a Santa Missa, tal recolhimento que se julgava estar em lugar deserto. Era de observar o preceito da liturgia de S. Tiago: "Todos devem se conservar no silêncio, no temor, no medo e no esquecimento das coisas terrestres, quando o Rei dos reis, Nosso Senhor Jesus Cristo, vem imolar-se e dar-se em alimento aos fiéis". São Martinho conformou-se, exatamente, com esta recomendação. Nunca se sentava na igreja; de joelhos, ou em pé, orava com ar compenetrado de um santo assombro. Quando lhe perguntavam pela razão desta atitude, costumava dizer: "Como não temeria, visto que me acho em presença do Senhor?".
Como outrora a Moisés, Deus poderia ainda dizer-nos hoje: "Tirai os sapatos de vossos pés, porque o lugar onde estais é Santo". Mais santas ainda são as nossas igrejas sagradas, com tanta profusão de unções e orações, e santificações, cada dia, pela oblação do Santo Sacrifício. Caro leitor, David eleito de Deus, tremendo, aproximava-se da Arca da Aliança, e nós não tremeríamos, ao entrar na igreja, onde se acha o Santíssimo Sacramento? Não nos esqueçamos da severa advertência do Senhor: "Tremei diante de meu santuário" e da exclamação de Jacó: "Quanto é terrível este lugar! É, verdadeiramente, a casa de Deus e a porta dos céus" (Gen. 28, 17).
À vista disto, que pensar dos cristãos que se comportam, na igreja e durante a Santa Missa, como se estivessem na rua, ou em casa? Os Anjos adoram, tremendo e prostrados, a divina Majestade, e entre os assistentes há cristãos que lançam, aqui e acolá, olhares curiosos e provocadores; ocupam-se das pessoas presentes, pensam nos negócios do mundo, nas suas vaidades, falam sem pudor em coisas inúteis, talvez, más, semelhantes aos vendedores no templo que "faziam da casa de oração uma casa de ladrões". As nossas igrejas são mais que uma casa de oração: são a casa de Deus, habitada por Jesus Cristo, dia e noite.
Ora, se o próprio Jesus expulsou, a chicote, os profanadores do templo, como tratará estes cristãos audaciosos?
Dizes: "É mister responder a quem interroga". - Não é proibido responder a uma pergunta útil nem dizer uma palavra necessária; é proibido, conversar coisas inúteis, fazer observações sobre o próximo, saudar-se mutuamente, como se estivesse na rua, e outras coisas semelhantes que impedem seguir, atentamente, a Santa Missa. Jesus Cristo nos preveniu: "Os homens darão conta, no dia do Juízo, de toda palavra ociosa" (Mt. 12, 36). Ora, haverá palavras mais inúteis do que as proferidas durante o tremendo Mistério do Altar?
São Crisóstomo opina que os que falam e riem, durante a Santa Missa, merecem ser fulminados na Igreja. Com esta ameaça, o santo Doutor aponta também os que, por direito e dever, deveriam impedir as irreverências: os pais que não repreendem nem corrigem os filhos dissipados; os mestres e amos que não vigiam a atitude de seus alunos e criados.
Testemunhamos ainda nosso respeito, assistindo à Santa Missa, de joelhos. São Paulo nos convida, quando diz que, "ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos" (Fl. 2, 10). Com mais razão ainda, devemos guardar esta atitude durante a presença real do divino Salvador, isto é, desde a elevação até a Comunhão. Muitas pessoas, homens sobretudo, têm o mau costume de ficar em pé durante toda Missa; apenas inclinam-se à consagração para levantar-se logo depois, como se Jesus não estivesse presente. Quem não puder permanecer de joelhos durante toda a Missa, poderia ficar em pé até o momento da consagração e depois da Comunhão. A presença real de Nosso Senhor torna também inconveniente o costume de muitas pessoas de sentarem-se, sem motivo de força maior, imediatamente depois da elevação. Se estivessem na presença dos grandes da terra, em alguma reunião mundana, a força não lhes faltaria, mesmo para tomar atitudes muito mais penosas do que a de estar de joelhos!
A piedosa imperatriz Leonor, esposa de Leopoldo I, assistia sempre, de joelhos, à Santa Missa. Quando lhe aconselhavam poupar a saúde e servir-se duma cadeira de braços, dizia: "Todos se inclinam diante de mim, pobre pecadora, ninguém de minha corte ousaria sentar-se em minha presença, e teria eu a coragem de faze-lo em presença de meu Deus e Criador?"
Aconselharíamos, de boa vontade, às mães, que não trouxessem à Missa os pequenitos que, com os choros, poderiam perturbar o silêncio e incomodar o sacerdote no altar: quanto aos que estão bastante crescidos para aí ficarem quietos, é muito bom conduzí-los.
Terminando, reprovamos ainda outro deplorável abuso: o das senhoras e moças que vão à Missa vestidas à última moda, às vezes bastante indecente para lugar tão santo. Estas pessoas não medem a imensa dívida que contraem para com Deus. Jesus Cristo, do alto da cruz, parece dizer-lhes: "Vê, minha filha, estou atado a este lenho, inundado de sangue, coberto de chagas, para pagar o escândalo de teus trajos inconvenientes. Tu, por ironia cruel, apareces aqui ostentando a elegância; não te envergonhas de mostrar-te a meus fiéis? Toma cuidado para que teu luxo e tua vaidade não te lancem ao fogo do inferno!"
A garridice, o luxo é como um archote que acende desejos ilícitos até no coração dos justos; que fogo não acenderá nos levianos e impuros! As pessoas adornadas com tanto cuidado são sempre perigosas: desviam do altar a atenção dos homens e são a causa de distrações e pensamentos criminosos. Quem prepara o veneno comete um pecado mortal, mesmo que não o tome aquele a quem é destinado; o mesmo acontece com estas pessoas: pecam pelo único fato de expor os outros à tentação. Sua falta é ainda mais escandalosa, quando assim se apresentam na Santa Missa. Como responderão por suas vítimas no dia do Juízo? Acrescenta a isso que são uma ocasião de pecado para outras senhoras, a quem servem de figurinos de imitação.
Terminamos, caro leitor, com uma súplica: [...] lê e relê com atenção. Teu amor para o divino Sacrifício e a Santa Comunhão crescerão, porque, de mais a mais, compreenderás a excelência da Santa Missa, e o tesouro imenso que lucras, assistindo a ela fielmente. Será, porém, na hora da morte, principalmente, que experimentarás quanto o Senhor é bom para os que honram os sagrados Mistérios do Altar, ao passo que os indiferentes e tíbios meditarão, num amargo, mas inútil arrependimento, o prejuízo que fizeram a seus interesses eternos.
Rogamos a Deus que, por Nosso Senhor Jesus Cristo, seu Filho único, e pela virtude do Espírito Santo, esclareça a inteligência e fortifique a vontade dos que lerão estas linhas, a fim de que aproveitem para sua alma e nos façam participar de suas orações, no Santo Sacrifício.



10/09/2012

CONCÍLIO DE TRENTO - SESSÃO XIII - DECRETO SOBRE O SANTÍSSIMO SACRAMENTO DA EUCARÍSTIA


CONCÍLIO ECUMÊNICO DE TRENTO
Sessão XIII
Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Júlio III, em 11 de outubro do ano do Senhor de 1551
Decreto sobre o Santíssimo Sacramento da Eucaristia
Ainda que o Sacrossanto, Ecumênico e Geral concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos Legados e Núncios da Santa Sé Apostólica, e se congregou, não sem a particular direção e governo do Espírito Santo, com a finalidade de expor a verdadeira doutrina sobre a fé e os Sacramentos, a colocar um paradeiro em todas as heresias e a outros gravíssimos males que no presente afligem lamentavelmente a Igreja de Deus, e a dividem em muitos e vários partidos, teve, desde o princípio, principalmente por objetivo de seus desejos, arrancar pelas raízes a mancha dos execráveis erros e cismas que o demônio colocou nestes nossos calamitosos tempos sobre a doutrina da fé, uso e culto da Sacrossanta Eucaristia, a mesma que foi deixada à Sua Igreja pelo nosso Salvador, como símbolo de sua unidade e caridade, querendo que com ela estivessem todos os Cristãos juntos e reunidos entre si.
Como conseqüência, então o Sacrossanto Concílio, ensinando a mesma perfeita e sincera doutrina sobre esse venerável e Divino Sacramento da Eucaristia, que sempre reteve e conservará até o final dos séculos a Igreja Católica, instruída por Jesus Cristo, nosso Senhor e seus Apóstolos, e ensinada pelo Espírito Santo que incessantemente lhe sugere toda verdade, proíbe a todos os fiéis Cristãos que de ora em diante se atrevam a crer, ensinar, ou pregar a respeito da mesma Eucaristia, de outro modo que não aquele que de define e explica no presente decreto.

Cap. I - Da presença real de Jesus Cristo nosso Senhor no santíssimo sacramento da Eucaristia
Em primeiro lugar, ensina o Santo Concílio, claramente, e sinceramente confessa que depois da consagração do pão e do vinho, fica contido no saudável sacramento da Santa Eucaristia, verdadeira, real e substancialmente nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e Homem, sob as espécies daqueles materiais sensíveis, pois não existe com efeito, incompatibilidade que o mesmo Cristo nosso Salvador esteja sempre sentado, no Céu, à direita do Pai, segundo o modo natural de existir e que ao mesmo tempo nos assista sacramentalmente com Sua presença, e em sua própria substância em outros lugares, com existência que ainda que apenas o possamos expressar com palavras, poderemos, não obstante, alcançar com nosso pensamento ilustrado pela fé, que é possível a Deus, e devemos firmemente acreditar.
Assim pois, professaram clarissimamente todos os nossos antepassados que viveram a verdadeira Igreja de Cristo, e trataram deste santíssimo e admirável Sacramento, a saber: que nosso Redentor o instituiu na última ceia, quando depois de ter benzido o pão e o vinho, atestou a seus Apóstolos, com claras e enérgicas palavras que lhes dava Seu próprio Corpo e Seu próprio Sangue. E sendo fato consumado que as ditas palavras mencionadas pelos mesmos Santos Evangelistas e repetidas depois pelo Apóstolo São Paulo, incluem em si mesmas aquele próprio e patentíssimo significado, segundo as entenderam os santos Padres, é sem dúvida execrável a maldade com que certos homens pretensiosos e corruptos as distorcem, violentam e tentam explicar em sentido figurado, fictício ou imaginário, negando a realidade da Carne e Sangue de Jesus Cristo contra a inteligência unânime da Igreja, que sendo coluna e apoio da Verdade, sempre detestou por serem diabólicas estas ficções expressas por homens ímpios e sempre conservou indelével a memória e gratidão deste tão sobressalente benefício que nos fez Jesus Cristo.

Cap. II - Do modo com que se instituiu este santíssimo Sacramento
Estando, então, nosso Salvador para partir deste mundo para ficar junto ao Seu Pai, instituiu este Sacramento, no qual, incluiu todas as riquezas de Seu divino amor para com todos os homens, deixando-nos um monumento de suas maravilhas, e ordenando-nos que ao recebe-lo recordássemos com veneração Sua memória, e anunciássemos Sua morte e que Ele haveria de voltar para julgar o mundo. Quis também que este Sacramento fosse recebido como um alimento espiritual das almas, que com ele se alimentem e confortem os que vivem pela vida de Jesus Cristo que disse: Quem comer do Meu Corpo e beber do Meu Sangue, viverá por Mim; e como um antídoto com que nos libertamos dos pecados veniais e nos preservamos dos pecados mortais. Quis também que fosse este Sacramento um prêmio de nossa futura glória e perpétua felicidade, e consequentemente um símbolo ou significado daquele único Corpo, cuja Cabeça é Ele mesmo, e ao qual quis que estivéssemos unidos estritamente como membros por meio da seguríssima união da fé, da esperança e da caridade, para que todos crêssemos na mesma Verdade e que não houvesse cisma entre nós.

Cap. III - Da excelência do santíssimo sacramento da Eucaristia, em relação aos demais Sacramentos
É comum, por certo, à Santíssima Eucaristia, juntamente com os demais Sacramentos, ser símbolo ou significado de uma coisa sagrada, e forma ou sinal visível da graça invisível, não obstante se acha neste, a excelência e singularidade dos demais Sacramentos que começam a ter eficácia de santificar quando são administrados em alguém, a Eucaristia contém o Próprio Autor da santidade antes de ser administrado, pois ainda não tinham recebido os Apóstolos a Eucaristia da mão do Senhor, quando Ele mesmo afirmou com toda verdade que o que lhes dava era Seu Corpo e Seu Sangue.
Sempre subsistiu na Igreja de Deus esta fé que nos diz que imediatamente depois da consagração existe sob as espécies do pão e do vinho, o verdadeiro Corpo e verdadeiro Sangue de nosso Senhor, juntamente com Sua Alma e Divindade. O Corpo certamente sob a espécie do Pão, e o Sangue sob a espécie do Vinho, e a Alma sob as duas espécies, em virtude daquela natural conexão e concomitância pelas quais estão unidas entre si as Partes de nosso Senhor Jesus Cristo, que ressuscitou dentre os mortos para não voltar jamais a morrer, e a divindade por aquela Sua admirável união hipostática com o Corpo e com a alma. Por isto é certíssimo que existe sob a espécie do Pão, em seu todo ou em suas menores partes, e sob a espécie do Vinho, também em seu todo ou em suas menores partes1.

Cap. IV - Da Transubstanciação
Mas pelo que disse Jesus Cristo nosso Redentor, que era verdadeiramente Seu Corpo que O oferecia sob a espécie do pão, a Igreja de Deus acreditou perpetuamente e o mesmo declara novamente o Santo Concílio que pela consagração do pão e do vinho, são convertidas: a substância total do pão no Corpo de nosso Senhor, e a substância total do vinho no Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, e essa transformação é oportuna e propriamente chamada de Transubstanciação pela Igreja Católica.

Cap. V - Do culto e veneração que se deve dar a este santíssimo Sacramento
Não resta pois motivo algum de dúvida de que todos os fiéis Cristãos tenham que venerar este Santíssimo Sacramento e prestar-lhe, segundo o costume sempre seguido pela Igreja católica, o culto de adoração que se deve a Deus. Também não se deve tributar menos adoração com o pretexto de que foi instituído por Cristo nosso Senhor para recebe-Lo, pois cremos que está presente nesse Sacramento, aquele mesmo Deus de quem o Pai Eterno quando O introduziu no mundo disse: Adorem a Ele todos os Anjos de Deus, o mesmo a Quem os magos prostrados adoraram, e Quem finalmente, segundo o testemunho da escritura, foi adorado pelos Apóstolos na Galiléia.
Declara também o Santo Concílio que o costume de celebrar com singular veneração e solenidade todos os anos em dia certo, demarcado e festivo, este sublime e venerável Sacramento e o costume de conduzi-lo em procissões, honorífica e reverentemente pelas ruas e lugares públicos, foram introduzidos na Igreja de Deus com muita piedade e religião. É sem dúvida muito justo que sejam designados alguns dias de festa em que todos os Cristãos testemunhem com singulares e agradáveis demonstrações a gratidão e lembranças de seu encorajamento e respeito pelo Dono e Redentor de todos, por tão inefável e claramente Divino benefício, em que se representam seus triunfos e a vitória que Ele alcançou sobre a morte. É necessário por certo que a verdade vitoriosa triunfe de tal modo sobre a mentira e as heresias que Seus inimigos, assistindo tanto esplendor e testemunhos do grande regozijo da Igreja Universal, ou debilitados e alquebrados sejam consumidos pela inveja ou então envergonhados e confundidos tomem novo sentido.

Cap. VI - Como se deve guardar o sacramento da Sagrada Eucaristia, e como leva-la aos enfermos
É tão antigo o costume de guardar a Santa eucaristia no sacrário, que já era conhecido no século em que foi celebrado o Concílio de Nice. É certo que além de ser muito conforme a equidade e a razão, se tenha ordenado em muitos concílios, e observando por costume muito antigo da Igreja Católica, que se leve a Sagrada Eucaristia para administrá-la aos enfermos, e com essa finalidade a eucaristia deve ser cuidadosamente guardada nas igrejas. Por este motivo, estabelece o Santo Concílio que necessariamente este costume tão saudável deve ser mantido.

Cap. VII - Da preparação que deve preceder o recebimento digno da Sagrada Eucaristia
Se não é decoroso que ninguém se apresente a nenhuma das demais funções sagradas, senão com pureza e santidade, muito mais notória é às pessoas cristãs, a santidade e divindade deste celeste Sacramento, com muito maior agilidade por certo devem procurar apresentar-se para receber com grande respeito e santidade; principalmente se nos lembrarmos daquelas terríveis palavras do Apóstolo São Paulo: "Quem come e bebe indignamente, come e bebe sua condenação, pois não faz diferença entre o Corpo do Senhor e outras comidas". Devido a isto deveremos sempre lembrar àquele que queira comungar, o preceito do mesmo Apóstolo: Reconheça-se o homem a si mesmo.
O costume da Igreja declara que é necessário este exame para que ninguém que tenha consciência de que esteja em pecado mortal possa receber a Sagrada Eucaristia, mesmo que pareça estar muito arrependido, pois é necessária a confissão sacramental para livrá-lo dos pecados. Isto mesmo foi decretado por este Santo Concílio, e seja observado perpetuamente por todos os cristãos, e também os sacerdotes, a quem corresponde a celebração por obrigação, a não ser que lhes falte um confessor. E se o sacerdote, por alguma urgente necessidade celebrar sem haver se confessado, confesse sem prorrogação, logo que possa.

Cap. VIII - Do uso deste admirável Sacramento.
Com muita razão e prudência discutiram nossos Padres a respeito do uso deste Sacramento, e concluíram que existem 3 modos de recebê-Lo. Alguns ensinaram que certas pessoas o recebem apenas sacramentalmente, pois são pecadores. Outros O recebem apenas espiritualmente, ou seja, aqueles que recebendo com o desejo este pão celeste, percebem com a vivacidade de sua fé, que realiza por amor seu fruto e utilidades. Os terceiros são os que recebem sacramental e espiritualmente ao mesmo tempo, e estes são os que se preparam e se propõe antes, de tal modo que se apresentam a esta divina mesa adornados com as vestes nupciais.
Quando os fiéis recebem a Eucaristia sacramentalmente, sempre foi costume da Igreja de Deus que estes leigos tomem a comunhão da mão do sacerdote, e que os sacerdotes, quando celebram, se comunguem a si mesmos. Esse costume deve ser mantido com muita razão por vir de uma tradição apostólica. Finalmente, o Santo Concílio faz uma admoestação com seu amor paternal, exorta, roga e suplica pelas entranhas de misericórdia de Deus nosso Senhor, a todos e a cada um que estejas sob o nome de cristãos, que se compenetrem e conformem-se neste sinal de unidade neste vínculo de caridade e neste símbolo de concórdia, e lembrando-se de tão suprema majestade e do amor tão extremo de Jesus Cristo, nosso Senhor, que deu Sua amada vida em favor de nossa salvação, e Sua Carne para que nos servisse de alimento, creiam e venerem estes sagrados mistérios de Seu Corpo e Sangue, com fé tão constante e firme, com tal devoção de alegria, e com tal piedade e reverência, que possam receber com freqüência aquele Pão sobresubstancial de modo que exista vida verdadeira em suas almas, e saúde perpétua de seus entendimentos para que, confortados com o vigor daquilo que recebem, possam chegar do caminho desta miserável peregrinação à Pátria Celestial, para comer nela, sem nenhum disfarce nem véu, o mesmo pão dos Anjos que agora comem sob as sagradas espécies.
E portanto, não basta expor as verdades, se não se descobrem e refutam os erros. Houve por bem este Santo Concílio editar os cânones seguintes, para que, uma vez conhecida a doutrina católica, entendam também todos, quais são as heresias de que devem guardar-se e devem evitar.

Cânones do Santíssimo Sacramento da Eucaristia
·  Cân. I - Se alguém negar que no santíssimo sacramento da Eucaristia está contido verdadeira, real e substancialmente o corpo e o sangue juntamente com a alma e divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e por conseqüência o Cristo inteiro; mas pelo contrário, disser que apenas existe na Eucaristia um sinal, ou figura virtual, seja excomungado.
·  Cân. II - Se alguém disser que no sacrossanto sacramento da Eucaristia permanece substância de pão e vinho juntamente com o Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, e negar aquela admirável e singular conversão de toda a substância do pão em Corpo e de toda substância do vinho em Sangue, permanecendo somente as espécies de pão e vinho, conversão que a Igreja Católica propiciamente chama de Transubsctanciação, seja excomungado.
·  Cân III - Se alguém negar que o venerável sacramento da Eucaristia contém o Cristo Total em cada uma das espécies, e em cada uma das partículas em que forem divididas as espécies, seja excomungado.
·  Cân. IV - Se alguém disser que, feita a consagração, não existe no admirável sacramento da eucaristia, nada além de mentiras, e que recebe, mas nem antes e nem depois permanece o verdadeiro Corpo do Senhor nas hóstias ou partículas consagradas, que se guardam depois das comunhões, seja excomungado.
·  Cân. V - Se alguém disser que o principal fruto da Sacrossanta Eucaristia, é o perdão dos pecados, ou que não provém dela outros efeitos, seja excomungado.
·  Cân. VI - Se alguém disser que no santo sacramento da eucaristia não se deve adorar a Cristo, Filho unigênito de Deus, com o culto de "latria" nem também com o externo, e que portanto não se deve venerar com peculiar e festiva celebração, nem ser conduzido solenemente em procissões, segundo o louvável e universal rito e costume da Santa Igreja, ou que não se deve expor publicamente ao povo para que receba adoração, e que tal adoração constitui idólatria, seja excomungado.
·  Cân. VII - Se alguém disser que não é lícito reservar a Sagrada Eucaristia no sacrário, pois imediatamente depois da consagração é necessário que se faça a distribuição total das hóstias, ou disser que não é lícito levá-la piedosamente aos enfermos, seja excomungado.
·  Cân. VIII - Se alguém disser que Cristo, dado na eucaristia, somente é recebido espiritualmente e não também sacramental e realmente, seja excomungado.
·  Cân. IX - Se alguém negar que todos e cada um dos fiéis Cristãos de ambos os sexos, quando tenham chegado ao completo uso da razão, estão obrigados a comungar todos os anos ao menos na Páscoa da Ressurreição, segundo o preceito de nossa Santa Madr Igreja, seja excomungado.
·  Cân. X - Se alguém disser que não é lícito ao sacerdote que celebra a missa, comungar-se a si mesmo, seja excomungado.
·  Cân. XI - Se alguém disser que apenas a fé é preparação suficiente para receber o Sacramento da Santíssima Eucaristia, seja excomungado.
E para que não se receba indignamente tão magno Sacramento, e por conseqüência, seja causa de morte e condenação da alma, estabelece e declara o mesmo Concílio, que os que se sintam agravados com a consciência de pecado mortal, por mais arrependidos que estejam, devem, para receber a Eucaristia, proceder à confissão sacramental, havendo confessor. E se alguém presumir ensinar, pregar, ou afirmar com pertinácia o contrário, ou também defendê-lo em discussões públicas, fique pelo mesmo fato excomungado.

Decreto sobre a Reforma
Cap. I - Velem os bispos com prudência na reforma dos costumes de seus súditos e que ninguém apele de sua correção
O Sacrossanto Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos mesmos Legados e Núncios da santa Sé Apostólica, propondo-se a promulgar alguns estatutos pertencentes à jurisdição dos Bispos, para que, segundo o decreto da próxima Sessão, se sintam com mais gosto a residir nas igrejas que lhes estão destinadas, e também com maior e melhor facilidade e comodidade possam governar seus súditos, e mantê-los na honestidade de vida e costumes, acredita que em primeiro lugar deve alertá-los que se lembrem que são pastores e não verdugos, e que de tal modo convém que na administração de seus súditos, procedam com eles, não como senhores, porém que os amem como a filhos e irmãos, trabalhando com suas exortações e avisos, de modo que os separem das coisas ilícitas, para que não se vejam na necessidade de sujeitá-los às penas legais, nos casos de delinqüência. Não obstante, se acontecer que pela fragilidade humana caiam em alguma culpa, devem observar aquele preceito do Apóstolo, de reinquiri-los, de rogar-lhes encarecidamente, e de repreendê-los com toda bondade e paciência, pois em muitas ocasiões é mais eficaz, com os que se tem que corrigir, a benevolência que a austeridade, mais a exortação que a ameaça, e mais a caridade que o poder. Mas se, pela gravidade do delito for necessário apelar para o castigo, então é quando deve ser usado o rigor com mansidão, a justiça com brandura, para que procedendo com aspereza, se conserve a disciplina necessária e saudável aos povos, e se emendem os que foram corrigidos, ou, se não quiserem voltar sobre si, exortem os demais para não cair nos vícios, com o saudável exemplo do castigo que foi imposto aos outros, pois é próprio do pastor diligente e ao mesmo tempo piedoso, aplicar primeiro estímulos suaves às enfermidades de suas ovelhas e proceder, depois quando for necessário para uma enfermidade maior, remédios mais fortes e violentos. Se isto não for aproveitável para as desgarradas, sirvam ao menos para livrar as ovelhas restantes do castigo que as ameaça. E sabendo-se que os réus apresentam, em muitas ocasiões, queixas e agravantes para evitar as penas e declinar das sentenças dos Bispos, e que impedem o processo do juiz com o recurso da apelação, para que não haja abusos em defesa de sua iniquidade e da pena estabelecida como corretivo, e para que não ocorram semelhantes artifícios e subterfúgios dos réus, estabelece e decreta o seguinte:
Não cabe apelação antes da sentença definitiva do Bispo ou de seu vigário geral, nas coisas espirituais, da sentença interlocutora, como também de nenhum outro agravante, quaisquer que sejam as causas em questão, e correção, ou de habilidade e inaptidão, assim como também não cabem nem nas criminais. Nem o Bispo nem seu vigário estão obrigados a deferir semelhante apelação frívola, mas podem prosseguir adiante sem que haja qualquer obstrução emanada do juiz da apelação, nem tão pouco seja obstáculo qualquer estilo ou costume contrário, ainda que seja muito antigo, a não ser que o agravante alegado seja irreparável na sentença definitiva, ou que não se possa apelar desta, em cujos casos devem prevalecer em seu vigor os antigos estatutos dos sagrados cânones.

Cap. II - Quando em causas criminais a apelação da sentença do Bispo deve ser feita ao Metropolitano, ou a um dos superiores mais próximos
Se acontecer que as apelações da sentença do Bispo ou do seu vigário geral de casos espirituais, sobre matérias criminais, sejam delegadas por autoridade Apostólica "in partibus" ou fora da cúria Romana, em caso que haja motivo de apelação, estas deverão ser dirigidas ao Metropolitano ou seu vigário geral para casos espirituais, ou em caso de aquele ser suspeito por qualquer razão, ou esteja a mais de dois dias de caminho, ou já se tenha apelado a ele, recorra-se a um dos Bispos mais próximos, ou a seus vigários gerais, mas jamais a juízes inferiores.

Cap. III - Sejam dados dentro de trinta dias e gratuitamente os autos de primeira instância ao réu que apelar
O réu, que em causa criminal, apela da sentença do Bispo ou de seu vigário geral para causas espirituais, apresente certidão de pobreza ao juiz ante o qual tenha apelado nos autos de primeira instância, e de nenhum modo este poderá absolvê-lo sem que antes o tenha visto. O juiz a quem tenha sido feita a apelação deve entregar gratuitamente os autos que lhe forem pedidos dentro de trinta dias. Se assim não o fizer, fique terminada sem esses autos a causa da mencionada apelação, segundo parecer em justiça.

Cap. IV - Como se deverão castigar os clérigos quando o exija a gravidade de seus delitos
Sendo algumas vezes tão graves e atrozes os delitos cometidos por pessoas eclesiásticas que devem estas serem depostas de suas sagradas ordens, e entregues ao braço secular da lei, em cujo caso se requer, segundo os sagrados cânones, certo número de Bispos e se for difícil que todos se juntem, seja deferido o devido cumprimento do direito, e se alguma vez puderem se juntar, seja cassada sua residência. Estabeleceu e declarou o Sagrado Concílio para acorrer a estes inconvenientes, que o Bispo, por si ou por seu vigário geral para causas espirituais, possa processar o clérigo, ainda que este esteja constituído na sagrada ordem do sacerdócio, até sua condenação e disposição verbal, e por si mesmo também até a atual e solene extinção das mesmas ordens e graus eclesiásticos. Nos casos em que seja requerida a assistência de outros Bispos no número determinado pelos cânones, ainda que estes não se reunam, mas acompanhem e assistam nesse caso outros diversos Abades que tenham privilégio Apostólico, uso de mitra e báculo, se puderem ser achados na cidade ou diocese, e puderem comodamente assistir. Se não puder ser assim, será acompanhado por outras pessoas constituídas em dignidade eclesiástica, que sejam recomendáveis por sua idade, gravidade e instrução, no direito.

Cap. V - Conheça sumariamente o Bispo, as graças pertencentes ou à absolvição dos delitos, ou a remissão das penas
E mesmo que possa acontecer que algumas pessoas alegando causas fingidas e que sem dúvida parecem bastante verossímeis, consigam graças de tal natureza que lhes são perdoadas todas as culpas, ou lhes são diminuídas as penas que com justa severidade lhes foram impostas pelos Bispos, jamais deve-se tolerar que a mentira, desagradável a Deus em alto grau, não apenas fique sem castigo, como também jamais sirva ao mentiroso como meio de alcançar o perdão para outro delito.
Com este objetivo, o Sagrado Concílio estabeleceu e decretou o seguinte: Tome o bispo, que resida em sua igreja, conhecimento sumário por si mesmo, como delegado da Sé Apostólica, da opressão ou supressão das graças alcançadas com falsos motivos, sobre a absolvição de algum pecado ou delito público, ou que tenha começado a tomar conhecimento, ou do perdão da pena que haja sido condenado o réu por sua sentença, e não admita aquela graça sempre que legitimamente constar haver sido obtida por falsos informes, ou por haver se calado à verdade.

Cap. VI - Não se cite ao Bispo para que compareça pessoalmente senão em causa que se trate de sua privação ou proibição de posse
E mesmo que aqueles que estejam sujeitos ao Bispo podem, ainda que tenham sido castigados justamente, aborrecê-lo bastante e como se houvessem padecido graves injúrias, imputar-lhe falsos delitos para molestar-lhe por todos os meios possíveis, de onde resulta que o temor destas vexações intimida e retarda de modo geral ao Bispo para inquirir e castigar os delitos de seus súditos. Com este motivo, e para que o bispo não se veja solicitado com muita incomodidade, tanto sua como de sua igreja, a abandonar o rebanho que está conduzindo, e a ficar vagando com detrimento de sua dignidade episcopal, estabeleceu e decretou o Sagrado Concílio, que de modo algum se cite ou admoeste o Bispo a que compareça pessoalmente, senão por causa em que deve comparecer para ser deposto ou privado de sua posse, ainda que se processe por ofício ou por informação ou denúncia ou acusação ou de qualquer outro modo.

Cap. VII - Descreva-se as qualidades dos testemunhos contra o Bispo
Não se recebam por testemunhos em causa criminal para informação ou indiciação ou para qualquer outra coisa em causa principal contra o Bispo, senão de pessoas que sejam incontestáveis e de boa conduta, reputação e fama, e em caso que deponham alguma coisa por ódio ou temeridade ou cobiça, sejam castigados com penas graves.

Cap. VIII - O Sumo Pontífice é o que deverá conhecer as causas graves contra os Bispos
Ante o Sumo Pontífice é que deverão ser expostas, e por ele mesmo haverão de terminar as causas dos Bispos, quando pela qualidade do delito imputado devam estes comparecer.

Decreto da Prorrogação da Definição de Quatro Artigos sobre o Sacramento da Eucaristia e do Salvo-Conduto que deverá ser Concedido aos Protestantes
Desejando o mesmo Santo Concílio retirar do campo do Senhor todos os erros que apareceram sobre este Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e cuidar da salvação de todos os fiéis, havendo exposto na presença de Deus Onipotente todos os dias suas piedosas súplicas, entre outros artigos pertencentes a esse Sacramento tratados com a mais completa investigação da verdade Católica, havidas muitas e minuciosas disputas segundo a gravidade da matéria, e ouvidas as opiniões dos teólogos mais destacados, discutia também os quatro artigos que se seguem:
Primeiro: Se é necessário, para obter a salvação e ordenado por direito divino, que todos os fiéis cristãos recebam o mesmo venerável Sacramento sob as duas espécies?
Segundo: Se aquele que comunga sob uma só espécie recebe menos que aquele que comunga sob as duas?
Terceiro: Se a Santa Madre Igreja errou dando a comunhão sob apenas a espécie do pão aos leigos, e aos sacerdotes que não celebram?
Quarto: Se deve ser dada também a comunhão às crianças?
E por isto desejam os que se chamam Protestantes da nobre província da Alemanha, que os ouça o Santo Concílio sobre estes mesmos artigos, antes que se definam, e com este motivo pediram ao Concílio um salvo-conduto, pelo qual lhes seja permitido vir e habitar nesta cidade, falar e propor abertamente ante o Concílio o que sentirem e retirarem-se depois, quando quiserem.
O Santo Concílio, ainda que tenha aguardado durante muitos meses e com grandes desejos sua chegada, não obstante como mãe piedosa que geme dolorosamente para voltar a trazê-los para o seio da Igreja, desejando intensamente e trabalhando para que não haja cisma algum sob o nome Cristão, e assim como todos reconhecem a um mesmo Deus e Redentor, do mesmo modo digam e creiam e saibam uma mesma doutrina confiando na misericórdia de Deus e esperando que se conseguirá que eles voltem à santíssima e saudável união de uma mesma fé, esperança e caridade, condescendendo satisfatoriamente com eles neste ponto, lhes deu e concedeu na parte que toca à segurança e fé pública que pediram e chamam de salvo-conduto, do temor que abaixo se expressa.

Determinação das Próximas Sessões
E por causa dos mesmos se diferiu a definição dos mencionados artigos, até a Segunda Sessão que ficou marcada para o dia da festa da Conversão de São Paulo, que será em 25 de janeiro do ano seguinte, para que deste modo possam comodamente chegar. Além disso, estabeleceu que se trate na mesma Sessão do sacrifício da missa, em virtude da grande conexão que existe entre ambas as matérias e entretanto que fica assinalada para tratar na próxima Sessão a matéria dos Sacramentos da Penitência e Extrema-Unção.
Decretando que esta se celebre em 25 de novembro, festa da Santa Catarina virgem e Mártir, e que em uma e outra Sessão seja continuada a matéria da reforma.

Salvo-Conduto concedido aos Protestantes
O Sacrossanto Geral e Ecumênico Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos mesmos Legados e Núncios da Sé Apostólica concede no que toca ao Santo Concílio, a todas e a cada uma das pessoas eclesiásticas ou seculares de toda a Alemanha, de qualquer graduação, estado, condição e qualidade que sejam, que desejem concorrer a este Ecumênico e Geral Concílio, a fé pública e plena segurança que chamam salvo-conduto, com todas e cada uma de suas cláusulas e decretos necessários e condizentes ainda que se devessem se expressar em particular e não em termos gerais, os mesmos que quiseram se tenham por expressados para que possam e tenham faculdade de conferenciar, propor e tratar com toda liberdade das coisas que tenham de discutir no mesmo Concílio Geral, e permanecer e viver nele, e também para representar e propor tanto por escrito como de viva voz os artigos que lhes parecesse e conferenciar e discutir com os padres ou com as pessoas que indicar o mesmo santo Concílio, sem injúrias nem ultrajes, e igualmente para que possam retirar-se quando quiserem quando for sua vontade.
Além disso, resolveu o mesmo Concílio que, se desejarem, para sua maior liberdade e segurança, que lhes sejam indicados juízes privativos, tanto a respeito dos delitos cometidos, como os que possam cometer, nomeiem pessoas que lhes sejam favoráveis, ainda que seus delitos sejam muito grandes e com tendências à heresias.

1Verdadeiramente o Corpo, Sangue, alma e Divindade de Jesus Cristo - N.do T.

Martírio de são Cipriano



No dia décimo oitavo das calendas de outubro pela manhã, grande multidão se reuniu no campo de Sexto, conforme a determinação do procônsul Galério Máximo. Este, presidindo no átrio Saucíolo, no mesmo dia ordenou que lhe trouxessem Cipriano. Chegado este, o procônsul interrogou-o: "És tu Táscio Cipriano?" O bispo Cipriano respondeu: "Sou".
O procônsul Galério Máximo: "Tu te apresentastes aos homens como papa do sacrílego intento?" Respondeu o bispo Cipriano: "Sim".
O procônsul Galério Máximo disse: "Os augustíssimos imperadores te ordenaram que te sujeites às cerimônias". Cipriano respondeu: "Não faço".
Galério Máximo disse: "Pensa bem!" O bispo Cipriano respondeu: "Cumpre o que te foi mandado; em causa tão justa, não há que discutir".
Galério Máximo deliberou com o seu conselho e, com muita dificuldade, pronunciou a sentença, com esta palavras: "Viveste por muito tempo nesta sacrílega idéia e agregaste muitos homens nesta ímpia conspiração. Tu te fizeste inimigo dos deuses romanos e das sacras religiões, e nem os piedosos e sagrados augustos príncipes Valeriano e Galieno, nem Valeriano, o nobilíssimo César, puderam te reconduzir à prática de seus ritos religiosos. Por esta razão, por seres acusado de autor e guia de crimes execráveis, tu te tornarás uma advertência para aqueles que agregaste a ti em teu crime: com teu sangue ficará salva a disciplina". Dito isto, leu a sentença: "Apraz que Tarcísio Cipriano seja degolado à espada". O bispo Cipriano respondeu: "Graças a Deus!"
Após a sentença, o grupo dos irmãos dizia: "Sejamos também nós degolados com ele". Por isto houve tumulto entre os irmãos e grande multidão o acompanhou. E assim Cipriano foi conduzido ao campo de Sexto. Ali tirou o manto e o capuz, dobrou os joelhos e prostrou-se em oração ao Senhor. Retirou depois a dalmática, entregando-a aos diáconos e ficou de alva de linho e aguardou o carrasco, a quem, quando chegou, mandou que os seus lhe dessem vinte e cinco moedas de ouro. Os irmãos estenderam diante de Cipriano pano de linho e toalha. O bem-aventurado quis vendar os olhos com as próprias mãos. Não conseguindo amarrar as pontas, o presbítero Juliano e o subdiácono Juliano o fizeram.
Desde modo morreu o bem-aventurado Cipriano. Seu corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi colocado ali perto, de onde, à noite, foi retirado e, com círios e tochas, hinos e em grande triunfo, levado ao cemitério de Macróbio Candiano, administrador, existente na via Mapaliense, junto das piscinas. Poucos dias depois, morreu o procônsul Galério Máximo.
Mártir santíssimo Cipriano foi morto, no dia décimo oitavo das calendas de outubro, sob Valeriano e Galieno imperadores, reinando, porém, nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém.