Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

21/05/2012

O CREDO POR SÃO TOMÁS DE AQUINO – VII ARTIGO


SÉTIMO ARTIGO
DONDE HÁ DE VIR A JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS

Julgar é função do rei: O rei, que está sentado no trono da justiça, pelo seu olhar dissipa todo o mal (Prov 20,8). Porque Cristo subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus como Senhor de todos, evidentemente compete-lhe o juízo. Por isso, pela Regra da Fé Católica, confessamos que virá julgar os vivos e os mortos. Isto também, foi dito pelo Anjo: Este Jesus, que do meio de vós foi elevado aos céus, virá também assim como o vistes subir para os céus (Mt 1,11).

Devemos considerar nesse juízo três coisas: Primeiro, a sua forma; segundo, que ele deve ser temido, e, terceiro, como para ele devemos nos preparar. 

No juízo devemos ainda distinguir três elementos componentes: quem é o juiz, quem deve ser julgado e qual a matéria do julgamento.

Cristo é o juiz, conforme se lê no Livro dos Atos: Ele que foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos(10,42). Pode este texto ser interpretado, ou chamando de mortos os pecadores e, de vivos, os que vivem retamente; ou designando vivos, por interpretação literal, os que agora vivem, e, mortos, todos os que morreram.

Ele é juiz não só enquanto Deus, mas também como homem, por três motivos:

Primeiro, porque é necessário, aos que vão ser julgados, verem o juiz. Como a Divindade é de tal modo deleitável que ninguém a pode ver sem se deleitar, e nenhum condenado poderia vê-la sem que não sentisse logo alegria, foi necessário que Cristo
aparecesse em forma só de homem, para que fosse visto por todos. Lê-se em S. João: Deu-lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem (5,27).

Segundo, porque Ele mereceu este ofício como homem. Ele, enquanto homem, foi injustamente julgado e, por isso, Deus O fez juiz de todos Lê--se: A tua causa foi julgada como a de um ímpio; receberás o julgamento das causas (Jo 36,17).

Terceiro, para que os homens não mais desesperem, vendo-se julgados por um homem. Se somente Deus julgasse, os homens ficariam desesperados. devido ao temor. (Mas todos verão um homem julgar), pois se lê em São Lucas: Verão o Filho do Homem vindo na nuvem (21.27). Serão julgados os que existiram, os que existem e existirão, conforme ensina São Paulo: Convém que todos nós sejamos apresentados diante do tribunal de Cristo, para que cada um manifeste o que fez de bom e de mal enquanto estava neste corpo (2 Cor 5,10).

Há quatro diferenças, segundo São Gregório, entre os que devem ser julgados.

Estes, ou são bons, ou são maus.

Entre os maus, alguns serão condenados, mas não julgados, como os infiéis, cujas ações não serão discutidas, porque, como está escrito, o que não crer já está julgado (10 3,18).

Outros, porém, serão condenados e julgados, como os fiéis que morreram em estado de pecado mortal. Disse o Apóstolo: o salário do pecado é a morte (Rom 6,23). Estes não serão excluídos do julgamento por causa da fé que tiveram.

Entre os bons também haverá os que serão salvos sem o julgamento, os pobres de espírito por amor de Deus. Lê-se em São Mateus: vós que me seguistes, na regeneração, quando o Filho do Homem estiver sentado em seu trono majestoso, sentar-vos-eis também sobre doze tronos, julgando as doze tribos de Israel (19,28).


Estas palavras não se dirigem só aos discípulos, mas a todos os pobres de espírito. Caso assim não fosse, São Paulo que trabalhou mais que todos, não estaria nesse número. Este texto deve, portanto, ser aplicado a todos os que seguiram os Apóstolos, e aos varões apostólicos. Eis porque São Paulo escreve:Não sabeis que julgamos os Anjos? (1 Cor 6,3). Lê-se ainda em Isaías: O Senhor virá com seniores e com os príncipes do seu povo (Is 3,14).

Outros serão salvos e julgados, isto é, aqueles que morreram em estado de justificação. Bem que tivessem morrido neste estado, erraram, todavia, em alguma coisa durante a vida terrestre. Serão, por isso, julgados, mas receberão a salvação.

Todos serão julgados pelos atos bons e maus que praticaram. Lê-se na Escritura: Segue os caminhos do teu coração. .. mas fica certo de que Deus te levará ao julgamento por causa deles (Ecle 11,9); Deus citará no julgamento todas as tuas ações, até as ocultas, quer sejam boas, quer sejam más (EcIe 13,14). Serão julgados também pelas palavras inúteis: Toda palavra inútil pronunciada por alguém, este dará conta dela no dia do juízo (Mt 12,36).

Serão julgados, por fim, pelos pensamentos que tiveram. Lê-se no livro da Sabedoria: Os ímpios serão argüidos a respeito dos seus pensamentos (1,9).

Fica assim esclarecida qual a matéria do julgamento.
Por quatro motivos deve ser temido aquele juízo.
Primeiro, devido à sabedoria do juiz, porque ele conhece todas as coisas, os pensamentos. as palavras e as ações, já que, como se lê na Carta aos Hebreus, todas as coisas estão nuas e abertas aos seus olhos(4,13). Lê-se ainda na Escritura: Todos os caminhos dos homens estão diante dos seus olhos (Prov 16,1). - Conhece Ele as nossas palavras: Os seus ouvidos atentos ouvem tudo (Sab 1,10). Conhece os nossos pensamentos: O coração do homem é depravado e impenetrável. Quem o pode conhecer? Eu, o Senhor, penetro rios corações e sondo os rins, retribuo a cada um conforme o seu caminho e conforme os frutos dos seus pensamentos (Jer 17,9).

Haverá neste juízo também testemunhas infalíveis, isto é, as próprias 'consciências dos homens, segundo se lê em São Paulo: A consciência deles servirá de testemunho no dia em que o Senhor julgar as coisas ocultas dos homens, enquanto pelos pensamentos se acusam ou se defendem (Rom 2,15,16).

Segundo, devido ao poder do juiz, porque Ele é em si mesmo todo-poderoso. Lê-se: Eis que o Senhor virá com fortaleza (Is 11,10). É poderoso também sobre os outros, porque toda criatura estava com Ele: Lê-se:O universo inteiro combaterá com ele contra os insensatos (Sab 5,2); Ninguém há que possa livrar-se da vossa mão (Jo 10,7); e ainda: Se subo aos céus, vós ali estais; se desço aos infernos, estais lá também(SI 138,8).

Terceiro, devido à justiça inflexível do juiz. Agora é o tempo da misericórdia. Mas o tempo futuro é tempo só de justiça. Por isso, o tempo de agora é nosso; mas o tempo futuro será só de Deus. Lê-se: No tempo que eu determinar, farei justiça (SI 134,3). O varão furioso de ciúmes não lhe perdoará no dia da vingança, não atenderá às suas súplicas, nem receberá como satisfação presentes, por maiores que. sejam (Prov 6,34).
Quarto, devido à ira do juiz. Aparecerá aos jústos doce e deleitável, porque, conforme diz Isaías: Verão o rei na sua beleza (Is 33,17). Aos maus, porém, aparecerá tão irado e cruel, que eles dirão aos montes: Caí sobre nós, e escondei-nos da ira do cordeiro (Ap 6,16).

Esta ira em Deus não significa uma comoção de espírito, mas signnica o efeito da ira, a pena infligida aos pecados, isto é, a pena eterna. A propósito disso escreveu Orígenes: Como serão estreitos os caminhos no juízo! No fim estará o juiz irado.
Contra este temor devemos aplicar quatro remédios.
primeiro remédio é a boa ação. Lê-se em São Paulo: Queres não temer a autoridade? Faze o bem e receberás dela o louvor (Rom 13,3).

segundo, é a confissão dos pecados cometidos e a penitência feita por eles. Na confissão deve haver três coisas: a dor interior, a vergonha da confissão dos pecados e o rigor da satisfação por eles. São essas três coisas que redimem a pena eterna.

terceiro remédio é a esmola que toma tudo puro, segundo as palavras do Senhor: Conquistai amigos com o dinheiro da iniqüidade, para que, quando cairdes, eles vos recebam nas lendas eternas (Lc 26,9). (41)

O quarto remédio é a caridade, quer dizer, o amor de Deus e do próximo, pois conforme a Escritura: A caridade cobre uma multidão de pecados (lPed 4,8; cir. Prov 10,12).

18/05/2012

O CREDO POR SÃO TOMÁS DE AQUINO – VI ARTIGO

SEXTO ARTIGO
SUBIU AOS CÉUS E ESTÁ SENTADO À DIREITA DE DEUS PAI TODO-PODEROSO

Depois de se afirmar a Ressurreição de Cristo, convém crer na Sua Ascenção, pois Ele subiu para o céu após quarenta dias de ressuscitado. Eis porque se diz no Credo: "Subiu aos céus.". Devemos considerar as três características principais deste acontecimento, isto é, que ele foi sublime, racional e útil.
Foi sublime, porque Ele subiu para os céus.

Explica-se isto de três maneiras:

Primeiro porque Ele subiu acima de todos os céus corpóreos, conforme se lê em São Paulo: Subiu acima de todos os céus (Ef 4,10). Tal ascenção foi realizada pela primeira vez por Cristo, porque até então o corpo terreno estivera somente na terra, sendo o paraíso onde esteve Adão, situado também na terra.

Segundo porque subiu sobre todos os céus espirituais, isto é, acima das naturezas espirituais, como se lê também em São Paulo: Colocando (o Pai) Jesus à sua direita nos céus, sobre todo principado, Potestade, Virtude, Dominação e acima de todo nome que se pronuncia não só neste século, mas também nos futuros e tudo colocou sob os seus pés (Ef 1,20) .

Terceiro porque subiu até ao trono do Pai. Lê-se nas Escrituras: Eis que vinha sobre as nuvens do céu como um Filho de Homem; Ele dirigiu-se para o Ancião, e foi conduzido à sua presença (Dan 7,13). Lê-se também em São Marcos: E o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado subiu ao céu, e sentou-se à direita de Deus (16,19). A expressão direita de Deus não deve ser entendida em sentido corporal, mas em sentido metafórico. Enquanto Deus, diz-se que Cristo está sentado à direita de Deus, porque é igual ao Pai; enquanto homem, diz-se que Cristo está sentado à direita do Pai, porque goza dos melhores bens. O diabo aspirou também semelhante elevação, como se lê em Isaías: Subirei ao céu, acima dos astros de Deus colocarei o meu trono; sentar-me-ei no Monte da Promessa, que está do lado do Aquilão; subirei acima da elevação das nuvens, serei semelhante ao Altíssimo (14,13). Mas a tal altura não se elevou senão Cristo, razão pela qual se diz no Credo: Subiu aas céus e está sentado à direita do Pai, o que é confirmado no Livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor, senta-te a minha direita (SI 109,1).

A Ascensão de Cristo foi racional por três motivos.

Primeiro, porque o céu era devido a Cristo por exigência da sua natureza. É, com efeito, natural que cada coisa retome à sua origem. Cristo tem sua origem em Deus, que está acima de todas as coisas, conforme Ele mesmo disse: Saí do Pai, e vim ao mundo; deixo agora o mundo e volta para o Pai (J o 16,18). Disse também: ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu (Jo 3,13),
Apesar de os Santos irem para o céu, todavia não o fazem como Cristo: porque Cristo o fez por seu próprio poder; os santos, porém, levados por Cristo. Lê-se no Livro dos Cânticos: Leva-me na Vossa sequência (Cant 1,3). Pode-se explicar de outra maneira porque se diz que ninguém subiu ao céu a não ser Cristo: os Santos não sobem senão enquanto membros de Cristo; que é a cabeça da Igreja, conforme está escrito em São Mateus: Onde estiver o corpo, aí as águias se congregarão (24,28).


Em segundo lugar, a Ascensão de Cristo foi racional devido à sua vitória. Sabemos que Cristo veio ao mundo para lutar contra o diabo, e o venceu. Por isso mereceu ser exaltado sobre todas as coisas. Confirma-o o Apóstolo: Eu venci, e sentei-me com o Pai no seu trono (Ap 3,21).

A Ascensão de Cristo foi racional, em terceiro lugar, por causa da humildade de Cristo, que, sendo Deus, quis fazer-se homem; sendo Senhor, quis suportar a condição de escravo, fazendo-se obediente até à morte, segundo se lê na Carta aos Filipenses (2,1), descendo ainda até ao inferno. Por isso mereceu ser exaltado até ao céu e sentar-se à direita de Deus. A humildade é, com efeito, o caminho da exaltação, como se lê em São Lucas: Quem se humilha, será exaltado (14,11). Escreveu também São Paulo:
O que desceu do céu, este é o que subiu acima de todos os céus (Ef 4,10).

A Ascensão de Cristo foi além de sublime e racional, também útil. 

Essa afirmação pode ser esclarecida em três dos seus aspectos.

O primeiro, refere-se ao fim da Ascensão, pois Cristo foi para o céu para nos conduzir até lá. Desconhecíamos o caminho, mas Ele no-lo ensinou, Lê-se: Subiu abrindo o caminho na frente deles (Mt 2,13). Subiu ao céu também para nos fazer seguros da posse do reino celeste, conforme se lê em São João: Vou preparar-vos o lugar (Jo 14,2).

O segundo, refere-se à segurança que a Ascensão nos trouxe, pois subiu aos céus ;para interceder por nós. Lê-se: Subiu por si mesmo aa Deus sempre vivo para interceder por nós(Heb 7,25). Lê-se também: Temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo (1 J o 21),

O terceiro, para atrair a si os nossos corações, segundo está escrito em São Mateus: Onde está o teu coração está o teu tesouro (6,21), e para que desprezemos as coisas temporais, como nos exorta o Apóstolo S. Paulo: Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alta, onde Cristo está sentado à direita de Deus; saboreai as coisas do alta e não as da terra (Col 3,1).

17/05/2012

EPÍSTOLA DE EFRÉM DA SÍRIA A UM MONGE SOBRE A HUMILDADE, A CARIDADE E A FIDELIDADE À FÉ DA IGREJA CATÓLICA


Tradução: Carlos Martins Nabeto

Santo Efrém da Síria (306-373 d.C. aprox.), Padre da Igreja, expõe nesta epístola uma série de questões espirituais referentes à vida monástica, entre elas a humildade, a vivência da caridade e a exortação para que o cristão seja sempre fiel à fé que recebeu da Igreja Católica.


Meu bem-amado no Senhor,
Quando desejardes dar alguma resposta, deves por em tua boca, antes de mais nada, a humildade uma vez que sabes muito bem que, por ela, todo o poder do inimigo se reduz a nada. Tu conheces a bondade do teu Mestre, que foi blasfemado, e como Ele se fez humilde e obediente inclusive até a morte. Filho meu, trabalha por ti mesmo para firmar a humildade em tua boca, em teu coração e em teu colo, pois há um mandamento que a exige. Lembra-te de Davi, que vangloriava-se por sua humildade e disse: “Porque me humilho, o Senhor me libertou e me abençoou” (Sal 29 [30], 8-12). Filho meu, apega-te à humildade e farás com que as virtudes de Deus te acompanhem. E se permanecerdes no estado de humildade, nenhuma paixão, qualquer que seja, poderá dominar-te. Não existe medida para a beleza do homem que é humilde. Não há paixão, qualquer que seja, capaz de dominar o homem humilde; e não há medida para a sua beleza. O homem humilde é um sacrifício a Deus. O coração de Deus e de seus anjos descansam naquele que é humilde. Mais ainda: quando os anjos o glorificam, é porque houve uma razão para ele obter todas as virtudes; porém, aquele que se revestiu da humildade não necessita de nenhuma razão além de se Ter feito humilde.
Filho meu, estas são as virtudes da humildade. Filho meu, conserva a paz, pois está escrito: “Aquele que é sábio, nesse momento conservará a paz” (Am 5, 13). Mantém a paz até que te questionem. E quando te questionarem, fale usando palavras humildes; comporta-te também de maneira humilde. Não lamentes. Se a pergunta exigir extensa resposta, senta-te. Nunca fales enquanto os outros estiverem usando palavras de desprezo; mas, alegremente, não esqueças que teus pensamentos devem ser estes: “não escutei [as palavras de desprezo]”. Prestai tua máxima atenção, porém, à toda palavra valiosa, pois está escrito: “Se tu deixas passar a palavra e não a escuta, te enganas a ti mesmo, filho meu no Senhor”. Te dei mandamentos desde o princípio; guarda-os desde a juventude. Examina o que diz Paulo; disse: “Desde o tempo em que eras um menino, conhecias a Santa Escritura, que tem o poder para te salvar” (2Tim 3,15). Aprende toda regra dos preceitos do monge, e faz-te querido em todos os teus trabalhos. Se tu, que sois jovem, vais para o deserto e te estabeleces em um local muito grande para ti e vês que Deus ali está, não deixes esse lugar para ir para outro, porque estais descontente. Deixa que o deserto em que te estabeleceste te seja suficiente, não deixeis que Ele se ofenda, pois está escrito: “Não é uma pequena coisa contrária que provocará a ira nos homens”.
No deserto em que te estabeleceste mantém esta maneira de agir e não fujas de um lugar para outro. Não te dirija à morada de ninguém para lamentar no que crês, muito menos por causa dos desejos do teu estômago. Não estejas em companhia do homem agitado e problemático, mas assegura-te em continuar com tua vida silenciosa; não estejas também na boca dos teus irmãos. Te suplico, meu amado no Senhor, que deixeis que tua meta principal seja aprender; escutar com atenção (ou obedecer) te dará a paz, pois está escrito: “O proveito da instrução não é a prata”. Cuida-te para jamais deixar de escutar (ou desobedecer). Que a palavra de Saul não se realize em ti, nem em tua geração, pois Deus é mais facilmente persuadido pela obediência do que pelo sacrifício (cf. 1 Sam 15, 22).
Estas são, então, as regras do ofício do monge: deves comer com os irmãos; não levantes a cabeça enquanto não tiver terminado de comer; come com a roupa que te deixas ver em público; se acontecer de serdes o último a ser servido, não digas: “Traga-me logo, pois aqui está sentado alguém maior que tu”; quando desejares beber da garrafa de água, não deixes que tua garganta cause confusão como um homem comum; quando estiverdes sentado no meio dos irmãos e desejares cuspir, não o faça no meio deles, mas afasta-te a certa distância e então cospe.
Quando estiverdes dormindo em algum lugar com os irmãos, não permitas que pessoa alguma se aproxime a menos de um cotovelo de distância. Se o trabalho for tranqüilo, não durmas sobre a esteira, mas dobra-a pois sois um homem jovem. Não durmas estendido, nem tampouco de costas, para que teus sonhos não te molestem.
Quando estiverdes caminhando com os irmãos, mantém-te sempre a alguma distância deles, pois quando caminhas com um irmão fazes com que teu coração esteja ocioso. Se estiverdes usando sandálias nos pés e o que caminha contigo não as têm, desata-as e caminha como ele, pois está escrito: “Sofrereis”.
Faz o trabalho do pregador. Faça-o cuidadosamente enquanto estiverdes em tua habitação. Não comas enquanto o sol estiver brilhando. Não acendas a fogueira para ti apenas, ou te transformarás num homem exibido. Quando for necessário aquecer-se, chama algum homem pobre e miserável que está contigo no deserto, e serás elogiado, ao dizer: “Não posso comer sozinho o meu pão”.
Se estiverdes numa montanha ou em um lugar onde há algum irmão doente, visita-o duas vezes ao dia: de manhã, antes de começardes a trabalhar com tuas mãos, e à tarde; pois está escrito, meu amado no Senhor: “Estive doente e tu me visitaste” (Mt 25, 36. 43). Quando um irmão morre na montanha onde estás, não te sentes na cela onde consegues ouvir a notícia, mas vai sentar-te com ele e chora sobre ele; pois está escrito: “Chora pelo homem falecido e caminha com ele até que seja enterrado”, pois esta é a última coisa que se pode fazer por seu irmão. Saúda seu corpo com compaixão, dizendo: “Lembra-te de mim diante do Senhor”.
Filho meu, faz tudo o possível para observar as coisas que escrevi para ti, pois elas são as regras do ofício do monge. Deixa que a morte se aproxime de ti de dia e de noite, pois tu sabes que conheces ela e te dirá: “Eu nunca a pus em meu coração. Meus pés estão no umbral e viverei até cruzar o umbral da porta”. Filho meu, põe sempre toda a tua mente diante de Deus e não deixes que todos estes pensamentos instáveis te desviem do caminho. Tem sempre em vista os castigos que vêm. Enquanto estiverdes em tua habitação, faz-te semelhante a Deus.
Se um irmão vem até ti, regozija-te com ele. Saúda-o. Prepara água para seus pés. Não esqueça isto. Que ele reze. Ficai sentado. Saúda suas mãos e seus pés. Não o incomodes com perguntas como: “De onde vens?”; pois está escrito: “Desta maneira, alguns, sem saber, têm recebido anjos em sua morada” (Heb 12, 2). Crê naquele que veio a ti da mesma forma como crerias em Deus. Se ele for um homem mais virtuoso que tu, diga-lhe humildemente: “Que teu favor esteja sobre mim”, o que equivale a dizer: “Tu és meu mestre”. Guarda tua comida e come com ele. E se tiverdes algum compromisso, desmarca-o; pois está escrito: “Filho meu, sempre me traz prazer acompanhar o homem que quer caminhar”. Deves regozijar-te com ele e estar feliz. Fazei o máximo que puder para que te bendiga três vezes, para que a bênção do anjo que entrou com ele venha sobre ti.
E como exige a mesma fé da Igreja Católica, não te desvies dela, nem te ponhas fora dela. Cremos em só Deus, Pai todo-poderoso, e em seu Filho único, Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem foi feito o universo, e no Espírito Santo, ou seja, [cremos] na Santíssima Trindade, a divindade plena. Ele [Jesus] é Deus, Ele estava com Deus, Ele é a Luz que vem da Luz, Ele é o Senhor que vem do Senhor. Ele foi gerado, não criado. Foi gerado como homem. Ele não é uma criatura, é Deus. Foi gerado pela Santíssima Virgem Maria, a mulher que levou Deus em seu seio. Ele tomou a carne do homem para o nosso bem, [veio] à terra e dela ascendeu. Escolheu pregadores, os Santos Apóstolos, cujas vozes, conforme o que está escrito, têm sido ouvidas em toda a terra (Sal 18 [19],4). Fui crucificado e traspassado com uma lança. Daí veio a nossa salvação, Água e Sangue, isto é, o Batismo e o glorioso Sangue; quem não recebeu o Sangue, não foi batizado.
Faz isto, filho meu. Mantém esta fé e o Deus da paz estará contigo, e te salvará, e te libertará, e estarás em paz pelo resto dos teus dias. A salvação está no Senhor, filho querido, no Senhor. Lembra-te de mim, amado no Senhor, por Jesus, o Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

Em defesa da Santa Fé: SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Em defesa da Santa Fé: SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR: Postado por Elias, O Profeta A ascensão é a segunda festa que se celebra dentro do ciclo litúrgico da vida do salvador. Er...

16/05/2012

O CREDO POR SÃO TOMÁS DE AQUINO – V ARTIGO


QUINTO ARTIGO
DESCEU AOS INFERNOS AO TERCEIRO DIA RESSURGIU DOS MORTOS

Como dissemos acima, a morte de Cristo consistiu na separação da alma e do corpo, como na morte dos outros homens. Mas a divindade estava de tal modo ligada ao homem Cristo, que, apesar de a alma e o corpo terem se separado entre si, a própria Deidade sempre esteve unida ao corpo e à alma de um modo perfeitíssimo. Eis por que no sepulcro estava presente o Filho de Deus, o qual desceu também com a alma aos infernos. Por quatro razões Cristo desceu com a alma aos infernos: A primeira, para que suportasse toda a pena do pecado, e, assim, expiasse toda a culpa. A pena do pecado do homem não foi somente a morte do corpo, mas também uma punição na alma. Por que o pecado era também da alma, esta deveria ser punida pela privação da visão divina. Ora, não se tinha ainda apresentado uma satisfação para que esta privação fosse afastada. Por isso, antes do advento de Cristo, todos desciam aos infernos, até os Santos Patriarcas. Para Cristo carregar sobre Si toda a punição devida aos pecadores, quis não somente morrer, mas também descer com a alma aos infernos. Lê-se nos Salmos: Fui considerado como um homem caído na fossa; fiquei como um homem sem auxílio, livre no meio dos mortos (87, 5-6). Os outros aí estavam como escravos. Cristo, como um homem livre.

A segunda razão da descida de Cristo aos infernos, foi ir em socorro de todos os Seus amigos. Tinha ele os Seus amigos não só no mundo, mas também nos infernos. Manifestam-se alguns como amigos de Cristo, nisto: têm caridade. Muitos estavam nos infernos que para lá desceram possuindo caridade e fé no Esperado, como Abraão, Isaac, Jacó, Davi e muitos outros homens justos e perfeitos.

Como Cristo visitara os seus amigos no mundo, e os socorrera pela própria morte, quis também visitar aqueles amigos que estavam no inferno, e socorrê-los, indo também a eles. Lê-se no Livro do Eclesiástico: Penetrarei em todas as partes interiores da terra, e verei todos os que aí dormem, e iluminarei todos os que esperam no Senhor (24,25).

A terceira razão, foi para que Cristo tivesse uma vitória perfeita contra o diabo.

Alguém só tem um perfeito triunfo sobre outrem, não apenas quando o vence no campo de batalha, mas até quando ainda lhe invade a própria casa, e se apodera da sede do reino e do palácio.

Cristo já havia triunfado do diabo e já o vencera da cruz, pois se lê em São João: Agora é o julgamento do mundo, agora o príncipe deste mundo (isto é, o diabo) será lançado fora (Jo 12,31). Para que Cristo triunfasse sobre o diabo de um modo completo, quis tirar-lhe a sede do reino e prendê-lo na sua própria casa, que é o inferno.

Por isso aí desceu, tirou-lhe todos os bens, aprisionou-o e apoderou-se da sua presa. Lê-se: Despojando os principados e as sociedades, exibiu-os publicamente, triunfando deles na cruz (Col 2,15). Devemos considerar que como Cristo recebera o poder e a posse do céu e da terra, deveria também ter a posse do inferno, como se lê na Carta aos Filipenses: Ao nome de Jesus dobre-se todo joelho, dos que estão nos céus, na terra e nos infernos (Fil. 2,10). O próprio Jesus dissera: Em meu nome expulsarão os demônios.(Ma 16,17).

A quarta e última razão, foi para libertar os santos que estavam nos infernos.

Assim como Cristo quis submeter-se à morte para libertar os vivos, da morte, quis também descer aos infernos, para libertar os que aí se encontravam: Lê-se: Vós também (Senhor), pelo Sangue do vosso testamento, tírastes os Seus que estavam presos na fossa, onde não havia água .. (Zac 9,11). – O morte, serei a tua morte, ó inferno, serei para ti como uma mordida. (Os 13,14).

Bem que Cristo tivesse totalmente destruido a morte, não destruiu completamente o inferno, mas como que o mordeu, por que não libertou todos os que nele estavam, mas somente os que não tinham pecado mortal, nem o pecado original.

Deste, foram libertados, enquanto pessoas indivíduas, pela circuncisão, e, antes da instituição da circuncisão, as crianças privadas do uso da razão, pela fé dos pais fiéis; os adultos, pelos sacrifícios e pela fé no Cristo que esperavam. Estavam no inferno devido ao pecado original causado por Adão, do qual não poderiam ser libertados, enquanto pecado que era da natureza humana, senão por Cristo.

Deixou então os que aí desceram com pecado mortal e as crianças incircuncisas . Por isso disse ao descer ao inferno: Serei para ti como uma mordida (Os 13,14)

Do exposto, podemos tirar quatro ensinamentos para nossa instrução: Primeiro, uma firme esperança em Deus, pois quando o homem está em aflição, deve sempre esperar do auxílio divino e Nele confiar. Nada há de mais sério do que cair no inferno. Se portanto, Cristo libertou os que estavam nos infernos, cada um, se é de fato amigo de Deus, deve muito confiar para que Ele o liberte de qualquer angústia. Lê-se: Esta (isto é, a sabedoria) não abandonou o justo que foi vencido (. . .), desceu com ele na fossa, e na prisão o não abandonou (Sab 10,13-14). Como Deus auxilia aos seus servos de um modo todo especial, aquele que O serve deve estar sempre muito seguro. Lê-se: O que teme ao Senhor por nada trepidará e nada temerá por que Ele é a sua esperança (Ecl 39,16).

Segundo, devemos despertar em nós o temor, e de nós afastar presunção. Pois, apesar de Cristo ter suportado a paixão pelos pecadores, e ter descido aos infernos, não libertou a todos mas somente àqueles que estavam sem pecado mortal, como acima foi dito. Aqueles que morreram em pecado mortal, deixou-os abandonados. Por isso ninguém que desça lá com pecado mortal espere perdão. Mas ficarão no inferno o tempo em que os Santos Patriarcas estiverem no Paraíso, isto é, para toda a eternidade. Lê-se em São Mateus: Irão os malditos para o suplício eterno, os justos, porém, para o Paraíso (25,46).

Terceiro, devemos viver atentos, porque se Cristo desceu aos infernos para a nossa salvação, também nós devemos, com solicitude lá descer em espírito, meditando sobre as penas nele existentes, imitando o Santo Ezequias, que dizia: Irão os mal; para o suplício eterno, os justos, porém, para o Paraíso (Is 38,10). Desse modo, aquele que em vida, vai lá pela meditação, não descerá facilmente para o inferno na morte, porque tal medi¬tação o afasta do pecado. Ao vermos como os homens deste mundo evitam as más ações por temor das penas temporais", como não deveriam eles muito mais se resguardarem do pecado por causa das penas do inferno, que são muito mais longas, mais cruéis e mais numerosas? Eis porque lê-se nas Escrituras: Lembra-te dos teus últimos dias, e não pecarás para sempre (Ecle 7,40).

O quarto ensinamento tirado da descida de Cristo aos infernos, é nos ter Ele oferecido um exemplo de amor. Cristo desceu aos infernos para libertar os seus. Devemos também nós descer pela meditação, para auxiliar os nossos. Eles, por si mesmos, nada podem conseguir. Nós é que devemos ir em socorro dos que estão no purgatório. Se alguém não quisesse socorrer um ente querido que estivesse na prisão, como isso nos pareceria cruel! No entanto, seria muito mais cruel aquele que não viesse em socorro do amigo que está no purgatório, pois não há comparação entre as penas deste mundo e aquelas. Lê-se a esse respeito: Tende piedade de mim, tende piedade de mim, pelo menos vós, Ó meus amigos, porque a mão de Deus me feriu (Jo 19,21); - É santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos para que sejam livres dos pecados (Mc 19,46).

São auxiliados, conforme disse Agostinho, os que estão no purgatório, principalmente por três atos: pelas Missas, pelas orações e pelas esmolas. Gregório acrescenta um quarto: o jejum. Não deve causar que assim seja, porque também neste mundo o amigo pode satisfazer pelo amigo. A mesma coisa acontece com os que estão no purgatório.

É necessário que o homem conheça duas coisas: a glória de Deus e a pena do inferno. 

Elevados pela glória de Deus, e aterrorizados pela pena do inferno, os homens cuidam melhor das suas ações e afastam-se do pecado. Mas é muitíssimo difícil para o homem conhecer essas duas coisas. Com relação à glória, lê-se: Quem poderá conhecer as coisas do céu? (Sab 9,16). Isso é realmente muito difícil para os habitantes da terra, porque se lê em São João: O que é da terra, fala das coisas da terra (Jo 3,31). Para os espirituais; porém, não o é, porque o que veio do céu, está acima de todos, conforme continua aquele texto. Por conseguinte, Deus desceu do céu e se encarnou, para nos ensinar as coisas do céu.

Com relação à pena do inferno, era também muito difícil conhecê-la. Lê-se no Livro da Sabedoria: Não se conhece quem tenha voltado dos infernos (Sab 2,1). Essa passagem da Escritura refere-se às pessoas dos ímpios. Mas agora isso não mais pode ser dito, porque, como Ele desceu do céu para ensinar as coisas do céu, também ressurgiu dos infernos para esclarecer-nos sobre as coisas do inferno.

É necessário, pois, que creiamos não apenas que Ele se fez homem e que morreu, bem como ressurgiu dos mortos. Por que esse motivo é professado no Credo: Ao terceiro dia res¬surgiu dos mortos. Lemos nos Evangelhos que muitos ressuscitaram dos mortos, como Lázaro, o filho da viúva e a filha do chefe da Sinagoga.

Mas a Ressurreição de Cristo difere daquelas e de outras, em quatro aspectos. Primeiro, devido à causada ressurreição, porque os outros que ressuscitaram, não ressusitaram por próprio poder, mas pelo poder de Cristo ou das orações de algum santo. Cristo ressus¬citou por próprio poder, porque não era apenas homem, mas também Deus, e a divindade do Verbo jamais se separou nem da sua alma, nem do seu corpo. Por isso, o corpo reassumia a alma e a alma o corpo, quando queria. Lê-se: Tenho poder para entregar a minha alma, bem como para a reassumir (Jo 10,18). Bem que tenha sido morto, não o foi por fraqueza ou por necessidade, mas, espontaneamente. Isto é verdade, porque quando Cristo entregou o seu espírito, deu um grito. Os outros, porém, que morrem, não O podem dar, porque morrem por fraqueza. O centurião exclamou no Calvário: Ele era verdadeiramente o Filho de Deus (Mt 87,54).

Como Cristo por sua própria força entregou a alma, reassu¬miu-a também por própria força. Por isso é dito no Credo ressuscitou e não - foi ressuscitado, como se o fosse por outro. Lê-se nos Salmos: Dormi, caí em profundo sono e res¬surgi (3,6). Não há, porém, contradição entre este texto e o dos Atos dos Apóstolos: Este Jesus, ressuscitou-O Deus (Act 2,32) porque o Pai O ressuscitou, e o Filho também O ressuscitou, já que a virtude do Pai e a do Filho são a mesma virtude.

Difere, em segundo lugar, devido à vida que fora ressuscitada. Cristo ressuscitou para a vida gloriosa e incorruptível, con¬forme se lê na Carta aos Romanos: Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai (Cor 6,4). Os outros, para a mesma vida que antes possuíam, como se verificou em Lázaro e nos outros ressuscitados.
Difere ainda a Ressurreição dc Cristo da dos outros quanto à sua eficácia e quanto ao seu futuro, porque foi cm virtude daquela que todos ressuscitaram. Lê-se: Muitos corpos dos Santos que dormiam ressuscitaram (Mt 2,7,52). Cristo ressurgiu dos mortos, primícia dos que dormem (Cor 15,20). Vede bem que Cristo pela Paixão chegou à glória, conforme está escrito em São Lucas: Não foi conveniente que Cristo assim padecesse, para poder entrar na sua glória? (Is 24,26), para nos ensinar como podemos chegar à glória: Por muitas tributações devemos passar para entrar no reino de Deus (Mt 14,21).

A quarta diferença é relativa ao tempo, porque a ressurreição dos outros foi retardada para o fim dos tempos, a não ser que tenha sido concedida por privilégio, como a da Virgem Santa, e, conforme se crê piedosamente, a de São João Evangelista. Cristo, porém, ressuscitou ao terceiro dia porque a sua Ressurreição e a sua Morte realizaram-se para a nossa salvação, e Ele, portanto, só quis ressurgir quando fosse isso vantajoso para a nossa salvação. Ora, se ressuscitasse imediatamente após a morte, não se acreditaria que Ele tivesse morrido. Se fosse demasiadamente protelada a ressurreição, os discípulos não perseverariam na fé, e nenhuma utilidade teria a sua Paixão. Lê-se nos Salmos: Que utilidade haveria em ter eu derramado o sangue, se desci ao lugar da corrupção? (29,10). Ressuscitou no terceiro dia para que se acreditasse na sua morte e para que os discípulos não perdessem a fé.

Sobre o que acabamos de expor, podemos fazer quatro consi¬derações para nossa instrução. Primeiro,que devemos nos esforçar para ressurgirmos espiri¬tualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência. Escreve o Apóstolo: Surge, tu que dormes, ressurge dos mor¬tos, e Cristo te iluminará (Ef 5,14). Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o Apocalipse: Feliz o que teve parte na primeira ressurreição (Ap 20,6).
Segundo, que não devemos protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou no terceiro dia. Lê-se: Não tardes na conversão para o Senhor, e não a delon¬gues dia por dia(Ecle 5,8). Por que estás agravado pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa

Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta Romanos: Assim também vós vos considereis mortos para pecado: Vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhes as concuspicências; não exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para como vivos que saíram da morte (Rom 6,9; 11-13).

Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e pecado. Lê-se na Carta aos Romanos: Como Cristo ressurge entre os mortos pela glória do Pai, também nós deve mos ¬andar na novidade de vida (Rom 5,4). Esta vida nova é da de justiça, que renova a alma e a conduz para a glória.

15/05/2012

O CÂNON BÍBLICO



·       "Cânon 36 - Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos1, dois livros dos Paralipômenos2, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão3, doze livros dos Profetas4, Isaías, Jeremias5, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras6 e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos7, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo8, uma do mesmo aos Hebreus9, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João.10 Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar11. É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários12(Concílio de Hipona, 08.Out.393).

·       "Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros dos Paralipômenos, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão, doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João12. Isto se fará saber também ao nosso santo irmão e sacerdote, Bonifácio, bispo da cidade de Roma, ou a outros bispos daquela região, para que este cânon seja confirmado, pois foi isto que recebemos dos Padres como lícito para ler na Igreja" (Concílio de Cartago III (397) e Concílio de Cartago IV (419)).

·       "Tratemos agora sobre o que sente a Igreja Católica universal, bem como o que se dever ter como Sagradas Escrituras: um livro do Gênese, um livro do Êxodo, um livro do Levítico, um livro dos números, um livro do Deuteronômio; um livro de Josué, um livro dos Juízes, um livro de Rute; quatro livros dos Reis13, dois dos Paralipômenos; um livro do Saltério; três livros de Salomão: um dos Provérbios, um do Eclesiastes e um do Cântico dos Cânticos; outros: um da Sabedoria, um do Eclesiástico. Um de Isaías, um de Jeremias com um de Baruc e mais suas Lamentações, um de Ezequiel, um de Daniel; um de Joel, um de Abdias, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias, um de Malaquias. Um de Jó, um de Tobias, um de Judite, um de Ester, dois de Esdras, dois dos Macabeus. Um evangelho segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas, um segundo João. [Epístolas:] a dos Romanos, uma; a dos Coríntios, duas; a dos Efésios, uma; a dos Tessalonicenses, duas; a dos Gálatas, uma; a dos Filipenses, uma; a dos Colossences, uma; a Timóteo, duas; a Tito, uma; a Filemon, uma; aos Hebreus, uma. Apocalipse de João apóstolo; um, Atos dos Apóstolos, um. [Outras epístolas:] de Pedro apóstolo, duas; de Tiago apóstolo, uma; de João apóstolo, uma; do outro João presbítero, duas14; de Judas, o zelota, uma. (Catálogo dos livros sagrados, composto durante o pontificado de São Dâmaso [366-384], no Concílio de Roma de 382)

·       "Quais os livros aceitos no cânon das Escrituras, o breve apêndice o mostra: Cinco livros de Moisés, isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Um livro de Josué, filho de Num; um livro dos Juízes; quatro livros dos Reinos; e Rute. Dezesseis livros dos Profetas; cinco livros de Salomão; o Saltério. Livros históricos: um de Jó, um de Tobias, um de Ester, um de Judite, dois dos Macabeus, dois de Esdras, dois dos Paralipômenos. Do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos; quatorze epístolas do apóstolo Paulo, três de João, duas de Pedro, uma de Judas, uma de Tiago; os Atos dos Apóstolos; e o Apocalipse de João" (papa Inocêncio I, 20.02.405; Carta "Consulenti Tibi" a Exupério, bispo de Tolosa).

·       "Devemos agora tratar das Escrituras Divinas. Vejamos o que a Igreja Católica universalmente aceita e o que deve ser evitado: (1) Começa a ordem do Antigo Testamento: um livro da Gênese, um do Êxodo, um do Levítico, um dos Números, um do Deuteronômio, um de Josué (filho de Nun), um dos Juízes, um de Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, um livro de 150 Salmos, três livros de Salomão (um dos Provérbios, um do Eclesiastes, e um do Cântico dos Cânticos). Ainda um livro da Sabedoria e um do Eclesiástico. (2) A ordem dos Profetas: um livro de Isaías, um de Jeremias com Cinoth (isto é, as suas Lamentações), um livro de Ezequiel, um de Daniel, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Joel, um de Abdias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias e um de Malaquias. (3) A ordem dos livros históricos: um de Jó, um de Tobias, dois de Esdras, um de Ester, um de Judite e dois dos Macabeus. (4)A ordem das escrituras do Novo Testamento, que a Santa e Católica Igreja Romana aceita e venera são: quatro livros dos Evangelhos (um segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas e um segundo João). Ainda um livro dos Atos dos Apóstolos. As 14 epístolas de Paulo Apóstolo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Efésios, duas aos Tessalonicenses, uma aos Gálatas, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon e uma aos Hebreus. Ainda um livro do Apocalipse de João. Ainda sete epístolas canônicas: duas do Apóstolo Pedro, uma do Apóstolo Tiago, uma de João Apóstolo, duas epístolas do outro João (presbítero) e uma de Judas Apóstolo (o zelota)" (papa S. Gelásio, ~495; Decreto Gelasiano; repetido em 520 pelo papa S. Hormisdas. Seguido também pelo Concílio Ecumênico de Florença15 [1438-1445], e novamente ratificado pelos Concílio de Trento16 [1546-1563] e Vaticano I [1870])).

Outras Fontes:
·       Concílio Regional de Trulos, realizado no ano 692.

1Trata-se dos dois livros de Samuel (1Rs/2Rs) e os dois livros de Reis (3Rs/4Rs).
2Isto é, os dois livros das Crônicas (1Cr/2Cr).
3Ou seja: Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
4A saber: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
5Incluindo as "Lamentações" e "Baruc", segundo a Septuaginta.
6Isto é, o livro de Esdras e o livro de Neemias.
7Mateus, Marcos, Lucas e João.
8Aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito e a Filemon.
9Curiosa distinção resultada, provavelmente, dos escrúpulos que a Igreja Africana tinha a respeito da autenticidade literária paulina dessa epístola.
10Percebe-se, assim, que o cânon coincide perfeitamente com o cânon definido pelo Concílio de Trento.
11Trata-se da Igreja de Roma.
12Alusão ao culto dos santos mártires.
13Os Concílios regionais de Cartago simplesmente repetem, com as mesmas palavras, o conteúdo do cânon 36 do Concílio regional de Hipona. A diferença está somente na conclusão.
14Interessante distinção, já que antiquíssima tradição de Éfeso distinguia o João Apóstolo de um João Presbítero, da mesma região.
15cf. Decreto "Pro Iacobitis" (da Bula "Cantate Domino", de 04.02.1441):
 "...O Sacrossanto Concílio professa que um e o mesmo Deus é o autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei, dos Profetas e do Evangelho, pois os santos de ambos os Testamentos falaram sob a inspiração do mesmo Espírito Santo. Este Concílio aceita e venera os seus livros que vêm indicados pelos títulos seguintes: Cinco livros de Moisés (isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, o Saltério de Davi, as Parábolas (Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, os Doze Profetas menores (isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) e dois livros dos Macabeus. Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), catorze epístolas de Paulo (uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, uma aos Hebreus), duas epístolas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João".
16cf. Decreto sobre o Cânon (sessão IV, de 08.04.1546).

São Cirilo de Alexandria: Discurso pronunciado no Concílio de Éfeso sobre Maria



Salve, cidade de Éfeso, mais formosa que os mares, porque em vez dos portos da terra, marcaram encontro em ti os que são portos do céu! Salve, honra desta região asiática semeada por todos os lados de templos, como preciosas jóias, e consagrada, no presente, pelos benditos pés de muitos santos Padres e Patriarcas! Com sua vinda, cumularam-te de toda bênção, porque onde eles se congregam, aumenta e multiplica-se a santidade: religiosos fiéis, anjos da terra, afugentam eles, com sua presença, todo satânico poder e toda afeição pagã. Eles, repetimos, confundem toda heresia e são glórias de nossa fé ortodoxa.
Salve, bem-aventurado João, apóstolo e evangelista, glória da virgindade, mestre da honestidade. Salve, vaso puríssimo da temperança, a ti virgem, confiou, na cruz, nosso Senhor Jesus Cristo a Mãe de Deus, sempre virgem!
Salve, ó Maria, Mãe de Deus, virgem e mãe, estrela e vaso de eleição! Salve, Maria, virgem, mãe e serva: virgem, na verdade, por virtude daquele que nasceu de ti; mãe por virtude daquele que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por aquele que amou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebeste sem concurso de varão, e foi divino teu parto. Salve, Maria, templo onde mora Deus, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: "O teu templo é santo e admirável em sua justiça" (Sl 64). Salve, Maria, criatura mais preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti nasceu o sol da Justiça! Salve, Maria, morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível! Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2,14). Salve, Maria, Mãe de Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve, Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz! Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador" (Tt 2,1). Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, a nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12). Deus te salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is 9, 2), uma luz não outra senão Jesus Cristo nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1,9). Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 21,9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel! Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembléia de entusiásticos defensores de tua honra!
Também aquele que, levando cartas de perseguição, sendo derrubado pela luz do céu no caminho de Damasco, falou sobre ti e confirmou para o mundo a fé na Trindade consubstancial, de um só Senhor, de um só batismo; de um só Pai, um só Filho, um só Espírito Santo; da substância inseparável e simplicíssima; da divindade incompreensível do Senhor Deus de Deus, Luz de Luz, Esplendor da Glória, que nasceu de Maria Virgem, conforme o anúncio do Arcanjo: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo, o Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, e por isso o santo que de ti nascer será chamado Filho de Deus vivo" (Lc 1,35). Não somente o sabemos pelo arcanjo Gabriel; também Davi, no vaticínio que canta diariamente a Igreja, nos diz: "O Senhor me disse: és meu filho; no dia de hoje te gerei" ( Sl 2,7). Já o sábio Isaías, filho do profeta Amós, profeta nascido de profeta, o predissera: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho e seu nome será Emanuel, que significa Deus conosco" (Mt 1,23).
Por isso todos os que formos fieis às Escrituras, seguindo os caminhos de Paulo, ouvindo as vozes dos profetas clamar-te-ão Bem aventurada.. Todos os que formos seguidores dos Evangelhos permaneceremos como disse o profeta: seremos como “oliveira fértil na casa de Deus” (Sl 51), glorificando a Deus Pai Todo Poderoso, a seu Filho UNIGÊNITO que nasceu de Maria e ao vivificante Espírito Santo, que se comunica a todos na vida; submissos aos fidelíssimos imperadores, honrando as rainhas, discretas e santas virgens, no seu amor à fé ortodoxa de Cristo de Jesus, nosso Senhor a quem se deve a glória pelos séculos dos séculos . Amém.


FONTE:
GOMES, Folch F. Antologia dos Santos Padres. Ed Paulinas . SP 1979
EXTRAÍDO DO SITE: http://www.ecclesia.com.br

14/05/2012

A UNIDADE DA IGREJA CATÓLICA POR SÃO CIPRIANO DE CARTAGO


São Cipriano de Cartago nasceu entre 200 e 210 dC; converteu-se ao Cristianismo em 246, recebendo o batismo; elevado a bispo em 249, teve sua atividade pastoral interrompida em 250 em virtude da violenta perseguição desencadeada pelo imperador Décio. Presidiu 3 concílios regionais em Cartago, entre os anos 251 e 256. Foi decapitado a 14 de setembro de 258, durante a perseguição de Valeriano.
A obra "A Unidade da Igreja Católica" (De Ecclesiae Unitate), deve ter sido composta durante o concílio cartaginês de maio de 251. Nela, Cipriano impugna o cisma de Novaciano, em Roma, e, ao mesmo tempo, o de Felicíssimo, em Cartago. Acentua, incute e demonstra o dever de todo cristão de perseverar, para a salvação de sua alma, na Igreja Católica, isto é, em união com um legítimo bispo católico. Com a finalidade de combater o cisma de Novaciano, enviou logo sua obra a Roma.
Esta obra é de leitura obrigatória para todos os cismáticos e hereges de plantão, para que reconheçam a marca fundamental da verdadeira Igreja de Cristo, isto é, a Unidade, pois "todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto; e a casa dividida contra si mesma cairá" (Luc. 11,17).

I - VIGIAI: O INIMIGO VEM DISFARÇADO
1. "Vós sois o sal da terra" (Mt 5,3), diz o Senhor, e ainda nos recomenda que seijamos simples pela inocência e prudentes na simplicidade [Mt 10,16]. Nada pois é mais importante para nós, irmãos diletíssimos, quanto vigiar com todo o cuidado para descobrir logo e, ao mesmo tempo, compreender e evitar as ciladas do inimigo traiçoeiro. Sem isso, embora sejamos revestidos de Cristo [Rom 13,14; Gál 3,27], que é a Sabedoria de Deus Pai [1Cor 1,24], nos mostraríamos menos sábios na defesa da salvação.
2. De fato, não devemos temer só a perseguição e os vários ataques que se desencadeiam abertamente para arruinar e abater os servos de Deus. Quando o perigo é manifesto, a cautela é mais fácil. O nosso espírito está mais pronto para lutar contra um adversário abertamente declarado. É mais necessário ter medo e guardar-nos do inimigo que penetra às escondidas, e se vai insinuando oculta e tortuosamente com falsas imagens de paz. Bem lhe convém o nome de serpente! Essa foi sempre a sua astúcia, esse foi sempre o tenebroso e pérfido engano com que tenta seduzir o homem.
3. Já no começo do mundo mentiu e enganou as almas crédulas e ingênuas (dos nossos primeiros pais), acariciando-as com palavras falazes [Gên 3,1ss] . Igualmente ousou tentar a Cristo, nosso Senhor, e se aproximou dele insinuando, disfarçando, mentindo. Foi contudo desmascarado e repelido. Desta vez, foi derrotado porque foi reconhecido e descoberto [Mt 4,1ss].

II - ACIMA DE TUDO, CUMPRIR OS MANDAMENTOS DE CRISTO
1. Sirvam-nos estes exemplos. Evitemos o caminho do homem velho, para não cair no laço da morte. Sigamos as pisadas de Cristo vencedor, para que, usando cautela diante do perigo, alcancemos a verdadeira imortalidade.
2. Mas, como poderíamos chegar à imortalidade, sem observar os mandamentos de Cristo? São eles os únicos meios para combater e vencer a morte. Ele nos avisa: "Se queres chegar à vida, observa os mandamentos" (Mt 19,17), e, de novo: "Se fizerdes o que vos mando, já não vos chamarei servos, mas amigos" (Jo 15,15).
3. Esses são os que ele diz serem fortes e firmes. Esses têm fundamento sólido na pedra, e gozam de inabalável resistência contra todas as tempestades e as rajadas do século. "Quem ouve as minhas palavras - diz ele - e as cumpre é semelhante ao homem sábio que construiu a sua casa sobre a pedra. Desceu a chuva, desabaram as correntes, sopraram os ventos, batendo contra aquela casa, e ela não caiu porque fora fundada na pedra" (Mt 7,25).
4. Devemos, pois, prestar atenção às suas palavras, devemos aprender e praticar o que ele ensinou e o que fez. Como poderia asseverar que acredita em Cristo aquele que não cumpre o que Cristo mandou? E como conseguirá o prêmio da fé aquele que recusa a fé no que foi mandado? Fatalmente ele irá vacilando, à ventura, e, arrastado pelo espírito do erro, será varrido como pó agitado pelo vento.
5. Nunca poderão conduzir à salvação os passos daquele que não adere à verdade da única via que salva.

III - O DEMÔNIO É O AUTOR DOS CISMAS
1. Devemos pois guardar-nos, irmãos caríssimos, não só dos males que aparecem claramente como tais, mas também, como já disse, daqueles que nos enganam pela sutileza da astúcia e da fraude.
2. Pois bem, vede agora a que ponto chega a astúcia e a sutileza do inimigo. Veio Cristo ao mundo. Veio a luz para os povos e resplandeceu para a salvação dos homens [Lc 2,32]. Com isto ficou descoberto e derrotado o antigo adversário. Os surdos abrem os ouvidos às graças espirituais, os cegos abrem os olhos a Deus, os enfermos ficam são ao ganhar a saúde eterna, os coxos correm à Igreja, os mudos soltam as suas línguas na oração [Mt 11,5; Lc 7,22]. Aumenta dia a dia o povo fiel, abandonam-se os velhos ídolos, tornam-se desertos os seus templos.
3. Então, o que faz o malvado? Inventa nova fraude para enganar os incautos com o próprio título do nome cristão. Introduz as heresias e os cismas para derrubar a fé, para contaminar a verdade e dilacerar a unidade. Assim, não podendo mais segurar os seus na cegueira da antiga superstição, os rodeia, os conduz ao erro por novos caminhos. Rouba à Igreja os homens e, fazendo-lhes acreditar que alcançaram a luz e se subtraíram à noite do século, envolve-os ainda mais nas trevas: não observam a lei do Evangelho de Cristo e se dizem cristãos, andam na escuridão e pensam que possuem a luz, nisto são iludidos e lisonjeados pelo adversário, que, como diz o Apóstolo, "se transfigura em anjo de luz" (2Cor 11,14).
4. Disfarça seus ministros em ministros de justiça, ensina-lhes a dar à noite o nome de dia, à perdição o nome de salvação, ensina-lhes a propalar o desespero e a perfídia sob o rótulo da esperança e da fé, a apregoar o Anticristo com o nome de Cristo. Mestres na arte de mentir, diluem com as suas sutilezas toda a verdade.
5. Isto acontece, irmãos caríssimos, porque não se bebe à fonte mesma da verdade, não se busca aquele que é a Cabeça, nem se observam os ensinamentos do Mestre celestial.

IV - "TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA..."
1. Quem presta atenção a estes ensinamentos não precisa de longo estudo, nem de muitas demonstrações. A prova da nossa fé é fácil e compendiosa.
2. Assim fala o Senhor a Pedro: "Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas dos infernos não a vencerão. Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado também nos céus" (Mt 16,18-19).
3. Sobre um só edificou a sua Igreja. Embora, depois da sua ressurreição, tenha comunicado igual poder a todos os Apóstolos, dizendo: "Como o Pai me enviou, eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo, a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados, a quem os retiverdes ser-lhe-ão retidos" (Jo 20,21-23), todavia, para tornar manifesta a unidade, dispôs com a sua autoridade que a origem da unidade procedesse de um só.
4. É verdade que os demais Apóstolos eram o mesmo que Pedro, tendo recebido igual parte de honra e de poder, mas a primeira urdidura começa pela unidade a fim de que a Igreja de Cristo aparecesse uma só.
5. O Espírito Santo, falando na pessoa do Senhor, designa esta Igreja única quando diz no Cântico dos Cânticos: "Uma só é a minha pomba, a minha perfeita, única filha da sua mãe e sem igual para a sua progenitora" (Cânt 6,9).
6. Aquele que não guarda esta unidade poderá pensar que ainda guarda a fé? Aquele que resiste e faz oposição à Igreja poderá confiar que ainda está na Igreja?
7. Paulo apóstolo inculca o mesmo ensinamento e mostra o sacramento da unidade, dizendo: "Um só corpo e um só espírito, uma é a esperança da vossa vocação, um Senhor, uma fé, um Batismo, um só Deus" (Ef 4,4-5).
8. E, depois da ressurreição, diz ao mesmo: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,17). Sobre ele só constrói a Igreja e lhe manda que apascente as suas ovelhas. Embora comunique a todos os Apóstolos igual poder, todavia institui uma só cátedra, determinando assim a origem da unidade.
9. É verdade que os demais [Apóstolos] eram o mesmo que Pedro, mas o primado é conferido a Pedro para que fosse evidente que há uma só Igreja e uma só cátedra. Todos são pastores, mas é anunciado um só rebanho, que deve ser apascentado por todos os Apóstolos em unânime harmonia.
10. Aquele que não guarda esta unidade, proclamada também por Paulo, poderá pensar que ainda guarda a fé? Aquele que abandona a cátedra de Pedro, sobre o qual foi fundada a Igreja, poderá confiar que ainda está na Igreja?

V - A IGREJA ÚNICA E UNIVERSAL: MUITOS SÃO OS RAIOS, UMA A LUZ...
1. Esta unidade devemos guardar e exigir com firmeza, especialmente nós, bispos, que na Igreja presidimos, para dar prova de que o episcopado também é um e indiviso. Ninguém engane os irmãos com mentiras, ninguém corrompa a pureza da fé com pérfidos desvios.
2. Uma só é a ordem episcopal e cada um de nós participa dela completamente. Mas a Igreja também é uma, embora, em seu fecundo crescimento, se vá dilatando numa multidão sempre maior.
3. Assim muitos são os raios do sol, mas uma só é a luz, muitos os ramos de uma árvore, mas um só é o tronco preso à firme raiz. E quando de uma única nascente emanam diversos riachos, embora corram separados e sejam muitos, graças ao copioso caudal que recebem, todavia permanecem unidos na fonte comum.
4. Se pudéssemos separar o raio do corpo do sol, na luz assim dividida já não haveria unidade. Quando se quebra um ramo da árvore, o ramo quebrado já não pode vicejar. Se separamos um regato da fonte, ele secará.
5. Igualmente a Igreja do Senhor, resplandecente de luz, lança seus raios no mundo inteiro, mas a sua luz, difundindo-se em toda a parte, continua sendo a mesma e, de modo nenhum, é abalada a unidade do corpo.
6. Na sua exuberante fertilidade, estende os seus ramos em toda a terra, derrama as suas águas em vivas torrentes, mas uma só é a cabeça, uma a fonte, uma a mãe, tão rica nos frutos da sua fecundidade. Do parto dela nascemos, é dela o leite que nos alimenta, dela o Espírito que nos vivifica.

VI - ÚNICA ESPOSA DE CRISTO: NÃO PODE TER DEUS POR PAI, QUEM NÃO TEM A IGREJA POR MÃE
1. A Esposa de Cristo não pode tornar-se adúltera, ela é incorruptível e casta [Cf Ef 5,24-31]. Conhece só uma casa, observa, com delicado pudor, a inviolabilidade de um só tálamo. É ela que nos guarda para Deus e torna partícipes do Reino os filhos que gerou.
2. Aquele que, afastando-se da Igreja, vai juntar-se a uma adúltera, fica privado dos bens prometidos à Igreja. Quem abandona a Igreja de Cristo não chegará aos prêmios de Cristo. Torna-se estranho, torna-se profano, torna-se inimigo.
3. Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja.
4. O Senhor nos alerta e diz: "Quem não está comigo está contra mim, quem comigo não recolhe, dissipa" (Mt 12,30). Quem rompe a paz e a concórdia de Cristo trabalha contra Cristo. Quem faz colheita alhures, fora da Igreja, esse dissipa a Igreja de Cristo.
5. Diz ainda o Senhor: "Eu e o Pai somos um" (Jo 10,30), e do Pai, do Filho e do Espírito Santo está escrito: "Estes três são um" (1Jo 5,7). Como poderá alguém pensar que esta unidade da Igreja, decorrente da própria firmeza da unidade divina, e tão conforme com este celeste mistério, pode ser rompida e sacrificada ao arbítrio de vontades opostas? Quem não observa esta unidade não observa a lei de Deus, não observa a fé do Pai e do Filho, não possui nem a vida, nem a salvação.

VII - A TÚNICA INCONSÚTIL DE CRISTO
1. Este sacramento da unidade, este vínculo de concórdia inviolada e sem rachadura, é figurado também pela túnica do Senhor Jesus Cristo. Como lemos no Evangelho, ela não foi dividida, nem, de modo algum, rasgada, mas sorteada. Isto quer dizer que quem toma a veste de Cristo e tem a dita de se revestir do próprio Cristo [Rom 13,14; Gál 3,27], deve receber a sua túnica toda inteira e possuí-la intacta e sem divisão.
2. Diz a divina Escritura: "Quanto à túnica, visto que, desde a parte superior, era feita de uma única tecedura, sem costura alguma, disseram: não a dividamos, mas lancemos-lhe a sorte para ver a quem toca" (Jo 19,23-24). A unidade da túnica derivava da sua parte superior - em nosso caso, do céu e do Pai celeste. Aquele que a recebia e guardava não podia rasgá-la de modo nenhum, de fato ela era resistente e sólida por ser constituída de um modo inseparável.
3. Não pode possuir a veste de Cristo aquele que rasga e divide a Igreja de Cristo.
4. O contrário aconteceu à morte de Salomão, quando o seu reino e o povo deviam ser divididos. O profeta Aías, indo ao encontro do rei Jeroboão no campo, cortou o seu manto em doze partes, dizendo: "Toma para ti dez partes, porque assim diz o Senhor: eis que eu divido o reino da mão de Salomão, a ti darei dez cetros e dois ficarão para ele, por causa do meu servo Davi e de Jerusalém, a cidade eleita em que eu pus o meu nome" (1Rs 11,30-36). Para separar as doze tribos de Israel, o profeta dividiu O seu manto
5. Mas o povo de Cristo não pode ser dividido, e por isso a sua túnica, que era um todo feito de uma só tecedura, não foi dividida por aqueles que a deviam possuir. Ficando uma só, bem firme na sua contextura, ela mostra a união e a concórdia do nosso povo, isto é, daqueles que são revestidos de Cristo. Por este sinal sagrado da sua veste, proclamou ele a unidade da Igreja.

VIII - FIGURAS DO ANTIGO TESTAMENTO: RAABE, O CORDEIRO PASCAL
1. Portanto quem será tão celerado e pérfido, tão louco pelo furor da discórdia, para pensar como possível ou até para ousar romper a unidade de Deus, a veste do Senhor, a Igreja de Cristo?
2. Ainda uma vez nos avisa ele no Evangelho dizendo: "E haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10,16). E como se pode pensar que, num mesmo lugar, existam muitos pastores e muitos rebanhos?
3. O apóstolo Paulo, por sua vez, inculcando esta mesma unidade, suplica e exorta: "Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos digais as mesmas coisas e não se dêem cismas entre vós. Sede unidos no mesmo sentimento e no mesmo pensamento" (1Cor 1,10) E de novo: "Sustentando-vos mutuamente no amor, esforçando-vos por conservar a unidade do Espírito na união da paz" (Ef 4,2-3).
4. Achas tu que alguém pode afastar-se da Igreja, fundar, a seu arbítrio, outras sedes e moradias diversas e ainda perseverar na vida? Ouve o que foi dito a Raabe, na qual era prefigurada a Igreja: "Recolhe teu pai, tua mãe, teus irmãos e toda a tua família junto de ti, na tua casa, e qualquer um que ouse sair fora da porta da tua casa, será ele próprio culpado da sua perda" (Jos 2,18-19).
5. Igualmente o sacramento da Páscoa [antiga], como lemos no Êxodo, exigia que o cordeiro, morto como figura de Cristo, fosse comido numa só casa. Eis as palavras de Deus: "Seja comido numa só casa, não jogueis fora da casa carne alguma dele" (Ex 12,46). A carne de Cristo, o Santo do Senhor, não pode ser jogado fora. Para os que nele crêem, não há outra casa a não ser a única Igreja.
6. O Espírito Santo anuncia e significa esta casa, esta morada da união dos corações, dizendo nos salmos: "Deus faz habitar na casa aqueles que são unânimes" (Sl 67,7). Na casa de Deus, na Igreja de Cristo, os moradores são unidos e perseveram na concórdia e na simplicidade.

IX - A POMBA, EXEMPLO DE SOCIABILIDADE E CONCÓRDIA
1. Por isto também o Espírito Santo desceu em forma de pomba [Mt 3,16; Mc 1,10], animal simples e alegre, sem amargura alguma de fel, incapaz de se enfurecer; não morde, não arranha com as unhas. Prefere as moradias dos homens e gosta de habitar numa mesma casa. Quando criam, as pombas cuidam dos filhotes juntamente, quando viajam, voam pertinho umas das outras. Passam o tempo em tranqüilos arrulhos, manifestam a concórdia e a paz beijando-se no rosto. Enfim, em todas as coisas seguem a lei da boa harmonia.
2. Esta é a simplicidade que deve reinar na Igreja, essa a caridade que devemos realizar: o amor fraternal imite as pombas, a mansidão e a brandura sejam iguais às dos cordeiros e das ovelhas.
3. Como podem estar no coração de um cristão a ferocidade dos lobos, a raiva dos cães, o veneno mortífero das serpentes ou a crueldade sanguinária das feras?
4. Devemos alegrar-nos quando os que têm esses sentimentos se separam da Igreja. Assim as pombas e as ovelhas de Cristo não serão contagiadas pela sua maldade e pelo seu veneno. Não podem conciliar-se e juntar-se amargura e doçura, trevas e luz, chuva e céu sereno, guerra e paz, esterilidade e fecundidade, secura e manancial, tempestade e bonança.
5. Não acreditem que os bons possam deixar a Igreja: não é o trigo que o vento carrega, o furacão não arranca as árvores que têm sólidas raízes. Ao contrário são as palhas vazias que a tormenta agita, são as árvores vacilantes que a força dos turbilhões abate. Contra esses o apóstolo S. João manifesta a sua repulsa, dizendo: "Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, sem dúvida teriam ficado conosco" (1Jo 2,19).

X - ORIGEM E MALDADE DAS HERESIAS
1. A origem de onde nasceram freqüentemente e continuam nascendo as heresias é a seguinte: há mentes perversas e sem paz, que, discordando em sua perfídia, não podem suportar a unidade. O Senhor, por seu lado, respeita a liberdade do arbítrio humano, permite e tolera que isto aconteça, a fim de que o crisol da verdade purifique os nossos corações e as nossas mentes, e, na provação, resplandeça com luz inequívoca a integridade da fé.
2. O Espírito Santo nos previne, por meio do Apóstolo: "Convém que haja heresias para que entre vós se tornem manifestos os que resistem à prova" (1Cor 11,19). Assim, aqui mesmo, antes do dia do juízo, são divididas as almas dos justos e dos perversos e as palhas são separadas do trigo.
3. Esses são os que, por própria iniciativa e sem chamamento divino, se põem a encabeçar temerários grupinhos. Contra toda a lei da ordenação, se constituem superiores e, sem que ninguém lhes dê o episcopado, se atribuem a si mesmos o nome de bispos. A eles faz alusão o Espírito Santo, no Salmo, falando dos que estão sentados em cátedras de pestilência, porque são peste infecciosa da fé. Mestres na arte de corromper a verdade, eles enganam com bocas de serpente, vomitando de suas línguas pestilentas peçonhas mortíferas. Os seus discursos brotam como chaga cancerosa, o trato com eles deixa no fundo de cada coração um veneno mortal.

XI - O BATISMO CISMÁTICO
1. Contra esses homens brada o Senhor, para afastar ou retirar deles o seu povo desviado: "Não escuteis os sermões dos pseudoprofetas, porque vivem iludidos pelas alucinações do seu coração. Falam, mas não as palavras do Senhor. Aos que rejeitam a palavra de Deus dizem eles: tereis a paz, vós e todos os que andam segundo as próprias vontades. Não virá mal algum, ainda sobre aqueles que seguem os erros do próprio coração. Eu não lhes falei e eles vão profetando. Se tivessem atendido ao meu conselho, ouvido as minhas palavras e as tivessem ensinado ao meu povo, eu os teria convertido dos seus perversos pensamentos" (Jer 23,16-22).
2. E de novo fala deles o Senhor: "Abandonaram a mim, que sou a fonte da água viva, e escavaram para si covas escuras, que nem podem dar água" (Jer 2,13).
3. Enquanto não pode haver senão um Batismo, eles pensam que podem batizar. Abandonaram a fonte da vida e ainda prometem a graça da água que dá a vida e a salvação. Lá os homens não são purificados, mas, ao contrário, mais poluídos. Lá os pecados não são perdoados, mas, antes, aumentados. Aquele nascimento não gera filhos para Deus, mas para o demônio.
4. Os que pretendem nascer por meio da mentira não recebem absolutamente as promessas da verdade. Gerados pela perfídia, não alcançam a graça da fé. Aqueles que, no delírio da discórdia, quebraram a paz do Senhor, não podem chegar ao prêmio da paz.

XII - "ONDE DOIS OU TRÊS..." (Mt 18,20)
1. Alguns se enganam a si mesmos com uma presunçosa interpretação das palavras do Senhor, que disse: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles" (Mt 18,20).
2. São falsificadores do Evangelho e intérpretes mentirosos. Apegam-se ao que é dito depois, esquecendo o que foi dito antes, lembram-se de uma parte da frase e, astutamente, deixam do lado a outra. Assim como eles se separaram da Igreja, do mesmo modo truncam o sentido de uma única sentença.
3. De fato, o que queria dizer nosso Senhor? Para inculcar aos seus discípulos a união e a paz, diz ele: "Eu vos afirmo que, se dois de vós concordarem na terra em pedir qualquer coisa, ela lhes será outorgada por meu Pai que está nos céus" (Mt 18,19). E continua: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles", mostrando que o que mais vale na oração não é o número dos que oram, mas a sua união de espírito.
4. "Se dois de vós concordarem na terra", diz ele. Antes exige a união, põe na frente a paz: o seu primeiro e mais firme preceito é que entre nós haja acordo. E como poderá estar de acordo com alguém aquele que está em desacordo com o corpo da Igreja e a totalidade dos irmãos?
5. Como poderão estar reunidos dois ou três em nome de Cristo, se é patente que estão separados de Cristo e do seu Evangelho? De fato não somos nós que nos apartamos deles, mas eles de nós. E quando, em seguida, formando entre si vários grupos, deram origem a heresias e cismas, abandonaram a cabeça e a fonte da verdade.
6. O Senhor quer falar da sua Igreja e dirige aquelas palavras àqueles que estão na Igreja, dizendo que, se dois ou três deles estiverem concordes, como ele ensinou e mandou, e se reunirem em um só espírito para rezar, embora sejam só dois ou três, impetrarão da majestade de Deus o que pedem.
7. "Onde quer que se encontrem reunidos em meu nome dois ou três, eu mesmo estou com eles", quer dizer com os simples, com os pacíficos, com os que temem a Deus e observam os seus preceitos. Com esses, ainda que não fossem mais do que dois ou três, prometeu que estaria, assim como esteve com os três jovens na fornalha ardente, e, porque permaneciam simples com Deus e unidos entre si, até no meio das chamas, os animou com uma brisa de orvalho (Dan 3,50).
8. Do mesmo modo esteve presente aos dois Apóstolos encerrados na cadeia, porque eram simples e unânimes. Ele mesmo abriu as portas do cárcere e os conduziu de novo à praça para que pregassem à multidão a palavra que tão fielmente anunciavam.
9. Por conseguinte, quando o Senhor coloca entre os seus preceitos estas palavras: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles", não quer separar os homens da Igreja, pois ele mesmo instituiu e formou a Igreja, mas ao contrário, repreendendo os pérfidos pela discórdia e encarecendo, com a sua própria voz, a paz aos fiéis, quer mostrar que ele está mais com dois ou três que oram unânimes, do que com muitos que oram na dissidência, e que obtém mais a prece concorde de poucos que a oração sediciosa de muitos.

XIII - NÃO ACHARÁ A DEUS PROPÍCIO QUEM NÃO ESTÁ EM PAZ COM O IRMÃO
1. Por isto, quando ensinou o modo de orar, acrescentou: "Quando estiverdes em pé para orar, perdoai, se por acaso tendes mágoa contra alguém, a fim de que o vosso Pai que está nos céus vos perdoe também os pecados" (Mc 11,25). E se alguém vier ao sacrifício, estando de mal com alguém, ele o afasta do altar e ordena que, antes, se ponha de acordo com o irmão, e só depois volte em paz para oferecer a Deus a sua dádiva [Cf Mt 5,24].
2. Deus não olhou aos presentes de Caim [Gên 4,5], porque aquele que, pelo rancor da inveja, não tinha paz com o irmão, não podia encontrar a Deus propício.
3. Que espécie de paz podem pretender os inimigos dos irmãos? Que sacrifício pensam eles oferecer, enquanto não são que rivais dos sacerdotes? Julgam que Cristo esteja presente nas suas reuniões, enquanto se reúnem fora da Igreja de Cristo?

XIV - NEM O MARTÍRIO LAVA A MANCHA DA DISCÓRDIA
1. Ainda que esses homens fossem mortos pela confissão do nome cristão, o seu sangue não lavaria esta mancha. O pecado da discórdia é tão grande e tão imperdoável, que não se apaga nem pelos tormentos. Não pode ser mártir quem não está na Igreja, não pode alcançar o Reino quem abandonou aquela que nasceu para reinar.
2. Cristo nos deu a paz. Ele nos mandou que fôssemos concordes e unidos, ordenou que os laços do amor e da caridade fossem conservados intactos e sem rachadura. Não pode iludir-se de ser mártir aquele que não conservou a caridade fraterna.
3. O apóstolo Paulo ensina e testemunha isto mesmo quando diz: "Ainda que eu tivesse fé para remover as montanhas, mas não tivesse a caridade, eu nada seria, ainda que distribuísse em alimento dos pobres tudo o que é meu, e entregasse o meu corpo às chamas, mas não tivesse a caridade de nada adiantaria. A caridade é magnânima, a caridade é benigna, a caridade não rivaliza, não faz mal, não se pavoneia, não se irrita, não pensa com maldade, tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais termina" (1Cor 13,1-9).
4. A caridade nunca termina, ela estará sempre no Reino, durará eternamente pela unidade dos irmãos em mútua harmonia. A discórdia não entra no Reino dos céus. Quem, com pérfida divisão, violou a caridade de Cristo, não poderá chegar aos prêmios do mesmo Cristo, que disse: "Este é o meu mandamento, que vos ameis mutuamente como eu vos amei" (JO 15,12).
5. Quem vive sem caridade está sem Deus. Eis a voz do bem-aventurado apóstolo João: "Deus é amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele" (1Jo 4,16). Não podem permanecer com Deus os que não quiseram estar unidos na Igreja de Deus. Ainda que, lançados no fogo, fossem consumidos pelas chamas ou perdessem a vida sendo expostos às feras, tudo isto não seria unia coroa da fé, mas, antes, um castigo da sua perfídia, não seria o desfecho glorioso de uma vida religiosa intrépida, mas um fim sem esperança.
6. Um homem assim poderia ser morto, mas não coroado. Ele confessa que é cristão do mesmo modo que o diabo, muitas vezes, engana dizendo ser ele o Cristo. Escutemos o aviso do Senhor: "Muitos virão com o meu nome, dizendo: sou eu o Cristo, e enganarão a muitos" (Mc 13,16). Como o diabo não é Cristo, embora tome este nome, assim não pode passar por cristão aquele que não permanece na verdade do Evangelho e na fé de Cristo.

XV - A LEI DO AMOR E A UNIDADE
1. É certamente coisa incomum e admirável profetizar, expulsar demônios e fazer obras portentosas aqui na terra, mas quem faz todas essas coisas não conseguirá o Reino celeste se não anda no caminho reto e certo.
2. Ouçamos ainda o Senhor: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não te lembras que em teu nome profetizamos e em teu nome expulsamos demônios e em teu nome fizemos obras portentosas? Eu porém lhes direi: jamais vos conheci, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7,21-23). É necessária a justiça para que alguém possa ser premiado por Deus. É necessário obedecer aos seus mandamentos e aos seus avisos, para que os nossos méritos alcancem a recompensa.
3. O Senhor, no Evangelho, querendo mostrar-nos em breve resumo a senda da nossa fé e da nossa esperança, disse: "O Senhor, teu Deus, é um só", e continua: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças" (Mc 12,29-31). "Eis o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a ele: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois preceitos funda-se toda a lei e também os profetas" (Mt 22,39-40).
4. Com a sua autoridade ensinou, ao mesmo tempo, a unidade e o amor. Em dois preceitos compendiou a lei e todos os Profetas. Mas que unidade observa, que amor pensa praticar aquele que, como doido pelo furor da discórdia, divide a Igreja, destrói a fé, perturba a paz, aniquila a caridade, profana o Sacramento?

XVI - ESSAS ABERRAÇÕES FORAM PREDITAS
1. Este mal, ó irmãos fidelíssimos, já tinha começado algum tempo atrás, mas agora, como triste calamidade, foi crescendo dia a dia e a venenosa praga da heresia e dos cismas aparece e pulula sempre mais. Assim deve acontecer no fim do mundo, como nos vaticina e nos avisa o Espírito Santo por meio do Apóstolo: "Nos últimos dias, diz ele, chegarão tempos difíceis e haverá homens que só buscam os próprios gostos, soberbos, arrogantes, avarentos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, desalmados, sem afeição e sem respeito de compromisso, caluniadores, incontinentes, violentos, sem nenhum amor ao bem, traidores, atrevidos, estupidamente altivos, amando mais os prazeres que Deus, ostentando um verniz de religiosidade, mas conculcando todo valor religioso. Deles são os que se insinuam nas casas e conquistam mulherzinhas carregadas de pecados, que se deixam levar por várias volúpias e se mostram sempre curiosos de saber, mas nunca chegam ao conhecimento da verdade. E como Jamnes e Mambres fizeram resistência contra Moisés, assim estes resistem à verdade. Mas não serão bem sucedidos, porque a sua incapacidade será a todos manifesta, como aconteceu àqueles" (2Tim 3,1-9).
2. Tudo o que tinha sido preanunciado se está cumprindo e, enquanto se aproxima o fim do mundo, tudo se realiza nas pessoas e nos acontecimentos.
3. O adversário está solto. Cada vez mais, o erro vai espalhando os seus enganos. A insensatez gera orgulho, arde a inveja, a cobiça chega até à cegueira, a impiedade deprava, a soberba incha, a discórdia exaspera, a ira enfurece.

XVII - NÃO CEDER AO ESCÃNDALO. EVITAR OS HEREGES
1. Porém não nos impressione nem perturbe essa desmedida e temerária perfídia de muitos. Ao contrário, torne-se mais forte a nossa fé ao constatarmos a verdade do que foi profetizado. Alguns fizeram-se traidores, porque assim fora predito; os demais irmãos, em virtude da mesma profecia, acautelem-se contra essas coisas, escutando a voz do Senhor, que diz: "Vós, porém, acautelai-vos, porque eis que eu vos predisse tudo" (Mc 13-23).
2. Evitai, pois, eu vo-lo peço, irmãos, esses homens e repeli, de vosso lado e de vossos ouvidos suas perniciosas conversas, como se repele um contágio mortífero. Está escrito: "Cerca os teus ouvidos com uma sebe de espinhos e não ouças a língua maldosa" (Eclo 28,24). E ainda: "As péssimas conversas corrompem até as pessoas de boa índole" (1Cor 15,33). O Senhor nos recomenda que evitemos essa gente. "São cegos, diz ele, e guias de cegos. Quando é um cego que conduz outro cego, caem juntos na fossa" (Mt 15,14).
3. Convém estar longe e fugir de qualquer um que se separou da Igreja. É um transviado, um culpado, ele se condena por si próprio [Cf Ti 3,11]. Poderá pensar que está com Cristo aquele que está tramando contra os sacerdotes de Cristo e se separa da comunidade do seu clero e do seu povo? Ele levanta armas contra a Igreja e resiste às ordens de Deus. Adversário do altar, rebelde contra o Sacrifício de Cristo, traidor na fé, sacrílego na religião, servo intratável, filho ímpio, irmão inimigo, despreza os bispos e abandona os sacerdotes de Deus e ousa erguer um outro altar, pronunciar com voz ilícita uma outra prece, profanar, com falsos sacrifícios, a Hóstia do Senhor, e esquece que quem vai contra as ordens de Deus será punido com os divinos castigos pela sua atrevida audácia.

XVIII - CASTIGOS DOS PROFANADORES DO CULTO
1. Assim Coré, Datã e Abirão receberam, sem demora, o castigo da sua presunção, porque, violando as ordens de Moisés e do sacerdote Aarão, pretenderam usurpar o direito de oferecer sacrifícios [Cf Num 16,31-35]. A terra perdeu a sua firmeza, fendeu-se numa profunda voragem, e o chão, assim aberto, os engoliu vivos e em pé. A justiça indignada de Deus não atingiu só os autores daquele gesto, mas também os outros duzentos e cinqüenta, seus companheiros, que foram cúmplices e solidários com eles. De repente saiu do Senhor um fogo punitivo e os consumiu. Isto deve valer como demonstração e sinal de que foi ofensa contra Deus tudo o que aqueles perversos tentaram, com suas vontades humanas, para frustrar as ordens do próprio Deus.
2. Assim aconteceu também ao rei Ozias, quando segurou o turíbulo e, com violência, pretendeu oferecer ele mesmo o incenso, violando a lei de Deus e desobedecendo ao sacerdote Azarias, que a isto se opunha [Cf 2Crôn 26,16-20]. Lá mesmo foi confundido pela divina indignação e acometido por uma espécie de lepra na fronte. Pela sua ofensa a Deus, foi punido justamente naquela parte do corpo, onde recebem o sinal (da cruz) os eleitos de Deus.
3. Também os filhos de Aarão, por ter colocado no altar um fogo profano, contra os preceitos do Senhor, foram mortos no mesmo instante pela divina vingança [Cf Lev 10,1-2; Num 3,4].

XIX - MENOS GRAVE É O PECADO DOS LAPSOS
1. São esses os exemplos que seguem e imitam os que buscam doutrinas estranhas, introduzem ensinamentos de invenção humana e desprezam a divina tradição. A eles aplicam-se as repreensões e as censuras do Evangelho: "Rejeitais o mandamento de Deus para apegar-vos à vossa própria tradição (pagã)" (Mc 7,90).
2. Este crime é pior do que aquele que se pensa terem cometido os lapsos, ao menos se falarmos dos que estão arrependidos e rogam a Deus perdão do seu pecado, dispostos a dar completa satisfação. Os lapsos, com súplicas, procuram a Igreja, os cismáticos combatem-na. Os primeiros podem ter sido vítimas de alguma pressão, os segundos erram no pleno uso da sua liberdade. O lapso, pecando, se prejudicou unicamente a si mesmo, ao passo que aquele que tenta criar heresias e cismas engana a muitos, arrastando-os à sua seita. Lá há detrimento de uma só alma, aqui o perigo é de muitos. O lapso reconhece que certamente pecou, disto lamenta-se e chora, o cismático, cheio de orgulho no seu coração e comprazendo-se dos seus próprios erros, arranca os filhos à mãe, afasta, com aliciamentos, as ovelhas do Pastor, arrasa os divinos Sacramentos.
3. O lapso pecou só uma vez, o outro continua pecando a cada dia. Por fim, o lapso, mais tarde, poderá enfrentar o martírio e conseguir as promessas do Reino, o cismático, ao contrário, se for morto enquanto está fora da Igreja, não alcançará os prêmios da Igreja.

XX - CONFESSORES QUE NÃO PERSEVERARAM
1. Não deveis estranhar, irmãos diletíssimos, que até entre os confessores haja alguns que caíram nestes crimes. Acontece também que alguns deles cometam outros pecados graves e vergonhosos. A confissão da fé não torna uma pessoa imune das ciladas do demônio. A quem ainda vive neste mundo ela não comunica uma perpétua segurança contra as tentações, os perigos e o ímpeto dos ataques mundanos. Se assim fosse, não veríamos, em confessores, os roubos, os estupros e os adultérios, que agora, com imensa tristeza, devemos lamentar em alguns deles.
2. Quem quer que seja um confessor, ele não poderá ser maior, melhor e mais amigo de Deus que Salomão. Entretanto, este, durante o tempo em que se manteve nos caminhos do Senhor, conservou a benevolência com que o mesmo Senhor o tinha favorecido, mas quando se desviou destes caminhos, perdeu também a benevolência do Senhor [3Rs 11,9].
3. Por isto diz a Escritura: "Segura o que tens, para que um outro não tome a tua coroa" (Ap 3,11). Se lá o Senhor ameaça tirar a alguém a coroa da justiça, é sinal que quem renuncia à justiça fica privado também da coroa.
XXI - A HONRA DA "CONFISSÃO" AUMENTA O DEVER DO BOM EXEMPLO
1. A confissão da fé é um preâmbulo da glória, mas não é ainda a posse da coroa. Não é a glória definitiva, mas só o início do mérito. Está escrito: "O que perseverar até o fim, este será salvo" (Mt 10,22). Tudo pois o que fazemos antes do fim é só um passo com o qual vamos subindo ao monte da salvação, mas só ao fim da subida chegaremos à posse perfeita do cume.
2. Trata-se de um confessor? Ora, depois da confissão da fé, o perigo torna-se maior, porque o adversário está mais enraivecido contra ele.
3. É confessor? Por isto, mais do que nunca, deve permanecer fiel ao Evangelho do Senhor, ele que pelo Evangelho conseguiu esta honra. Diz o Senhor: "A quem muito é dado, muito será pedido e a quem é concedida maior dignidade, deste exigem-se maiores serviços" (Lc 12,48). Ninguém se deixe levar à perdição pelo mau exemplo de algum confessor. Ninguém aprenda, do seu modo de proceder, a injustiça, a arrogância ou a perfídia.
4. É confessor? Seja humilde e tranqüilo em todo o seu comportamento, seja disciplinado e modesto, de modo que, como é chamado confessor de Cristo, imite também aquele Cristo que confessa "Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado" (Lc 18,14). Assim disse ele, e foi exaltado pelo Pai, porque, sendo ele a Palavra, a Virtude e a Sabedoria de Deus Pai, se humilhou a si mesmo na terra. E como poderia amar a altivez, ele que, com a sua lei nos preceituou a humildade, e, em prêmio da sua humildade, recebeu do Pai o nome mais sublime? [Cf Flp 2,9]
5. Alguém foi confessor de Cristo? Muito bem, mas, depois, por sua culpa, não sejam blasfemadas a majestade e a santidade do próprio Cristo. A língua que confessou a Cristo não seja maldizente nem sediciosa, não se ouça vociferando em altercações e brigas; depois de palavras tão divinas de louvor não vá vomitando veneno de serpente contra os irmãos e contra os sacerdotes de Deus.
6. Em suma, se alguém, depois da confissão, se tornou culpável e detestável, se aviltou a sua confissão com maus comportamentos, se manchou a sua vida com torpezas indignas, se, afinal, abandonou a Igreja, na qual se tornara confessor, e, quebrando a harmonia da unidade, trocou a fé de então com a perfídia, um tal homem não pode lisonjear-se, presumindo da sua confissão, de ser como que predestinado ao prêmio da glória. Ao contrário, por isto mesmo, aumentaram seus títulos para o castigo.

XXII - ELOGIO DOS CONFESSORES
1. Vemos também que chamou a Judas entre os Apóstolos, e este Judas, em seguida, traiu o Senhor. A fé e a perseverança dos Apóstolos não esmoreceram pelo fato que Judas traidor tinha pertencido ao seu grupo. Igualmente em nosso caso: a santidade e a dignidade dos confessores não ficam destruídas, se naufragou a fé em alguns deles.
2. O bem-aventurado apóstolo Paulo diz numa das suas cartas: "Se alguns decaíram da fé, será que a sua infidelidade tornou vã a fidelidade de Deus? De modo algum. De fato, Deus é verídico e todo homem é mentiroso" (Rom 3,3-4; Sl 115,11).
3. A maioria e a parte melhor dos confessores mantém-se no vigor da sua fé e na verdade da lei e da disciplina do Senhor. Lembrando-se de ter alcançado a graça e a benevolência de Deus na Igreja, não se afastam da paz da mesma Igreja. Nisto merecem mais amplo louvor pela sua fé, porque, desligando-se da perfídia daqueles que já foram seus companheiros na confissão, resistiram ao contágio do mal. Iluminados pela luz verdadeira do Evangelho, brilhando na pura e cândida claridade do Senhor, mostram-se tão dignos de encômio na conservação da paz de Cristo, quanto o foram no combate, quando se tornaram vencedores do demônio.

XXIII - APELO AOS QUE FORAM ENGANADOS
1. Quanto a mim, irmãos diletíssimos, não deixo de exortar e insistir, porque desejo que, se for possível, nenhum dentre os irmãos pereça, e a mãe feliz (a Igreja) abranja no seu regaço o seu povo, unido na concórdia como um só corpo. Se, todavia, este salutar conselho não consegue reconduzir ao caminho da salvação certos chefes de cismas e certos autores de dissensão, preferindo eles obstinar-se em sua cega demência, ao menos os demais, os que foram surpreendidos na sua simplicidade, ou se deixaram desviar por algum equívoco, ou foram enganados pelo ardil de uma astúcia dissimulada, ao menos vós sacudi os laços falaciosos, livrai dos erros os vossos passos extraviados, sabei reconhecer o caminho reto que conduz ao céu.
2. Ouvi a voz do Apóstolo, que clama: "Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, nós vos mandamos, diz ele, que vos afasteis de todos os irmãos que andam desordenadamente e não segundo a tradição que receberam de nós" (2Tes 3,6). E de novo: "Ninguém vos engane com vãs palavras. Por causa disto veio a ira de Deus sobre os filhos da contumácia. Não estejais, pois, ao lado deles" (Ef 5,6-7).
3. Deveis evitar os delinqüentes e até fugir deles, para que não aconteça que, juntando-se aos que trilham os caminhos do erro e do crime, alguém se desvie também da verdade e se torne culpado de igual delito.
4. Deus é um, Cristo é um, uma é a sua Igreja, uma a fé e o povo (cristão) é também um, aglutinado pela concórdia como na compacta unidade de um corpo. Esta unidade não pode ser quebrada. Um corpo não pode ser dividido, desarticulando as suas junturas. Não pode ser reduzido a pedaços, dilacerando e arranhando as suas vísceras. Tudo o que se separa do centro vital não pode continuar a viver ou a respirar porque fica privado do alimento indispensável à vida.

XXIV - BEM-AVENTURADOS OS PACÍFICOS
1. O Espírito Santo assim nos fala: "Quem é o homem que quer viver e deseja ver dias excelentes? Refreia do mal a tua língua, e os teus lábios não falem insidiosamente. Evita o mal e faze o bem, busca a paz e segue-a" (Sl 33,13-15). O filho da paz deve buscar a paz, deve procurá-la. Quem conhece e ama o vínculo da caridade deve guardar a sua língua do flagelo da dissensão.
2. O Senhor, já próximo à paixão, entre outros preceitos e ensinamentos salutares, acrescentou o seguinte: "Eu vos entrego a paz, eu vos dou a minha paz" (Jo 14,27). Esta é a herança que nos deixou. Todos os dons e todos os prêmios das suas promessas estão incluídos nisto: a inviolabilidade da paz.
3. Se somos co-herdeiros de Cristo [Cf Rom 8,17], permaneçamos na paz de Cristo. Se somos filhos de Deus, sejamos pacíficos. "Bem-aventurados os pacíficos, diz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9). Convém, pois, que os filhos de Deus sejam pacíficos, mansos de coração [Cf Mt 11,29], simples quando falam, concordes nos afetos, sempre ligados uns aos outros pelos laços da unidade de espírito.

XXV - O EXEMPLO DOS PRIMEIROS CRISTÃOS
1. Essa unidade reinou ao tempo dos Apóstolos e a nova plebe, o povo dos que acreditaram, guardava os preceitos do Senhor e ficava fiel à sua caridade. Prova-o a divina Escritura, dizendo: "A multidão daqueles que acreditaram se comportava como se fossem todos uma só alma e uma só mente" (At 4,32).
2. E antes: "Estavam perseverando todos unânimes na oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos" (At 1,14). Por isto oravam de modo eficaz e podiam confiar em alcançar o que estavam pedindo à misericórdia divina.

XXVI - EXORTAÇÃO PARA UMA VIDA CRISTÃ INTEGRAL
1. Entre nós, ao contrário, esta união está demasiado relaxada, e ao mesmo tempo aparece muito enfraquecida a generosidade nas obras (boas). Então vendiam as suas casas e as suas propriedades e entregavam o preço aos Apóstolos, para que fosse distribuído aos pobres: assim colocavam seus tesouros no céu [Cf Mt 6,19]. Hoje nem se dão os dízimos dos patrimônios e, enquanto o Senhor diz "vendei" [Cf Lc 12,33], nós preferimos comprar e possuir mais. Como, entre nós, murchou o vigor da fé, como esmoreceu a força daqueles que crêem!
2. Por isto o Senhor, falando destes nossos tempos, diz no Evangelho: "Quando vier o Filho do homem, pensas que encontrará fé na terra?" (Lc 18,8). Vemos que está acontecendo o que ele predisse. No que diz respeito ao temor de Deus, à lei da justiça, ao amor, às obras, não há mais fé. Ninguém se preocupa com as coisas que hão de vir, ninguém pensa no dia do Senhor, na ira de Deus, nos futuros suplícios dos incrédulos, nos eternos tormentos destinados aos pérfidos. Se crêssemos, a nossa consciência teria medo de tudo isto. Se não temos medo é sinal que não cremos. Quem acredita se acautela, quem se acautela se salva.
3. Despertemos, irmãos diletíssimos, quebremos o sono da inércia rotineira e, por quanto for possível, sejamos vigilantes em guardar e cumprir os preceitos do Senhor. Sejamos prontos, como ele seja, quando diz: "Estejam cingidos os vossos rins, e as lâmpadas acesas nas vossas mãos, e vós sede semelhantes a homens que esperam o seu dono, quando voltar das núpcias, para lhe abrirem logo que ele chegar e bater. Bem-aventurados os servos que o Senhor, chegando, encontrar vigilantes" (Lc 12,35-37). É necessário que estejamos cingidos, a fim de que, quando vier o dia da partida, não sejamos surpreendidos cheios de impedimentos e de embaraços. Fique sempre viva a nossa luz e brilhe em boas obras, para nos guiar da noite deste mundo aos esplendores da claridade eterna. Sempre solícitos e cautos, fiquemos à espera da chegada repentina do Senhor. Quando ele bater, encontre a nossa fé vigilante com uma tal vigilância que mereça receber o prêmio do mesmo Senhor.
4. Se forem observados esses mandamentos, se forem postas em prática essas exortações, não acontecerá que sejamos vencidos, no sono, pela falácia do demônio, mas, como servos bons e vigilantes, reinaremos com Cristo glorioso.