“Quem Nele crê, não é condenado, mas quem não crê,
já está condenado porque não crê no nome do Filho Unigênito de Deus”. – São João 3:18
A existência
de Deus não é um dado apenas da fé, pois Ele é cognoscível naturalmente, ou
seja, sua existência pode ser verificada por meio de provas racionais. Dessa
forma, como explicar que haja ateus? Será verdade que existem? E, se existem,
quais são as causas e conseqüências do ateísmo?
Ateu é o
que não crê na existência de Deus.
Desta
definição se vê que não devemos incluir no número dos ateus:
a) Os
indiferentes, que põem de parte o problema da origem do mundo e da alma, e
vivem sem preocupações acerca de seu destino. Ainda que esta disposição de
espírito conduza ao ateísmo, os indiferentes não são ateus propriamente ditos.
b) Os
agnósticos, para os quais Deus pertence ao domínio do incognoscível. Esta
atitude equivale a um cepticismo religioso.
c) Muito
menos devem ser tidos por ateus aqueles que ignoram quase por completo a
religião e professam exteriormente o ateísmo, porque julgam essa atitude
própria dos espíritos fortes, ou porque têm interesse de seguir a corrente do
favoritismo oficial.
Portanto,
devemos somente considerar como ateus os homens de ciência e os filósofos que,
depois de ponderar maduramente as razões, pró e contra, da existência de
Deus, optam pela negativa. Embora pouco numerosos proporcionalmente, os ateus
têm um número crescente e geralmente atuam em conjunto com agnósticos.
As causas
do ateísmo podem ser intelectuais, morais e sociais.
Causas
intelectuais
a) A
incredulidade dos homens de ciência, deve atribuir-se ordinariamente a
preconceitos e ao emprego de um método falso. É evidente que nunca poderão
ultrapassar os fenômenos e atingir as substâncias, se nesta matéria empregam o
método experimental, que só admite o que pode ser objeto da experiência e ser
observado pelos sentidos. Notemos ainda que algumas fórmulas, por eles usadas, não
são verdadeiras, pelo menos no sentido em que tomam. Por exemplo, quando alegam
que a matéria é necessária e não contingente, invocam para o demonstrar a
necessidade da energia e das leis. Ora, é bem claro que a palavra necessária
neste caso é equívoca. A necessidade pode ser absoluta ou relativa. É absoluta,
quando a não-existência encerra contradição; relativa quando a coisa em
questão, na hipótese de existir, deve possuir tal ou tal essência, esta ou
aquela qualidade, por exemplo: uma ave deve ter asas, sem elas já não seria
ave. Como a energia e as leis são necessárias somente no sentido relativo, os
materialistas erram em concluir que a matéria é o “Ser necessário no sentido
absoluto”.
b)
O ateísmo dos filósofos contemporâneos tem a sua origem no criticismo de Kant e
no positivismo de Conte. Segundo os criticistas e os positivistas, a razão não
pode chegar à certeza objetiva, nem conhecer as substâncias que se ocultam sob
os fenômenos. Diminuindo assim o valor da razão, rejeitam todos os argumentos
tradicionais da existência de Deus. Pode pois dizer-se que a crise de fé, na
maioria dos filósofos contemporâneos, é de fato uma crise da razão. Mas há de
acontecer a esta o que acontece aos que estão injustamente detidos: será um dia
reabilitada e retomará os seus direitos.
Causas morais
a) A falta de boa vontade. Se as provas da
existência de Deus se estudassem com mais sinceridade e menos espírito de
crítica, não haveria tanta resistência à força dos argumentos. Também não se
deve exigir dos argumentos mais do que eles podem dar: é evidente que a sua
força demonstrativa, ainda que real e absoluta, não nos pode dar evidência
matemática.
b) As paixões. A fé é um obstáculo para as
paixões. Ora, quando alguma coisa nos incomoda, encontramos sempre motivos para
nos afastar. “Há sempre no coração apaixonado, motivos secretos para julgar
falso o que é verdadeiro…facilmente se crê o que muito se deseja; e quando o
coração se entrega à sedução do prazer, o espírito abraça voluntariamente o
erro que lhe dá razão” (Frayssinous, Defense du christianisme. L´ incrédulité
dês jeunes gens). P. Bourget (Essai de psychologie contemporaine), refletindo
sobre a realidade francesa, numa análise penetrante que faz da incredulidade,
escreve as seguintes linhas: “O homem quando abandona a fé, desprende-se, sobretudo,
duma cadeia insuportável aos seus prazeres…Nenhum daqueles, que estudaram nos
nossos liceus e universidades, ousará negar que a impiedade precoce dos livres
pensadores de capa e batina começou por alguma fraqueza da carne, seguida do
horror de a confessar. Acode imediatamente a razão a aduzir argumentos (!!!) em
defesa duma tese de negação, que já antes admitira por causa das necessidades
da vida prática”.
c)
Os veículos de comunicação. Não aludimos aos que são claramente imorais, mas
aos que atacam disfarçadamente e continuamente os fundamentos da moralidade e,
em nome de um pretendido progresso e de uma suposta ciência, querem fazer-nos
crer que Deus, a alma e a liberdade são apenas palavras a encobrir quimeras.
Causas sociais
a) A educação. Não é exagero dizer que as
escolas neutras são um terreno excepcionalmente próprio para a cultura do
ateísmo. A sociedade hodierna em geral caminha para o ateísmo, porque assim o
quer.
b) O respeito humano. Muitos têm medo de
parecer crentes porque a religião já não é estimada em certos círculos
influentes e temem cair no ridículo.
Conseqüências do ateísmo
O ateísmo, pelo fato de negar a existência
de Deus, destrói radicalmente o fundamento da moral e dá origem às mais
funestas conseqüências para o indivíduo e para a sociedade.
Para o indivíduo:
a) O ateu deixa-se arrastar pelas paixões.
Se não há Deus, se não existe um Senhor Supremo, que possa impor a prática do
bem e castigar o mal, porque razão não se hão de satisfazer todos os apetites e
correr atrás da felicidade terrena, por todos os meios que estiverem ao alcance
de cada um?
b) Além disso, o ateísmo priva o homem de
toda a consolação, tão necessária nos reveses da vida.
Para a sociedade:
As conseqüências do ateísmo são ainda mais
prejudiciais à sociedade. Suprimindo as idéias de justiça e de
responsabilidade, o ateísmo leva os Estados ao despotismo e à anarquia, e o
direito é substituído pela força. Se os governantes não vêem acima de si um
Senhor que lhes pedirá contas da sua administração, governarão a sociedade
segundo os seus caprichos. Mais ainda, os homens, na realidade, não são todos
iguais nas honras, nas riquezas, nas situações e nas dignidades. Ora, se não
existe um Deus para recompensar um dia os mais deserdados da fortuna, que
cumprem animosamente o seu dever e aceitam com resignação as provas da vida,
porque não haveriam de se revoltar contra um mundo e uma sociedade injusta e
reclamar para si, a todo custo, o seu quinhão de felicidade e prazer?
Bibliografia: BOULANGER. Manual de
Apologética.
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