“Clara....
virgem no corpo e puríssima no coração; jovem em idade mas amadurecida no espírito.
Firme na decisão
e ardentíssima no amor de Deus. Rica em sabedoria, sobressaiu na humildade. Foi clara de nome,
mais clara por sua
vida e claríssima em suas virtudes”....
Duplo
– Param. brancos
Santa Clara¹ nasceu em Assis, pelos fins
do século XII e, imitando São Francisco, deu todos os seus haveres aos pobres, iniciando,
sob direção do Santo, a família das Clarissas.
Quando o seu mosteiro foi assaltado pelos Sarracenos², ela apresentou-se
aos assaltantes orientando a sagrada Pixide: Deus os confundiu e fugiram todos.
Morreu em 1253.
“Missal Romano Quotidiano – Latim/Português
Edições Paulinas-1959”
¹ Clara
de Assis, nascida Chiara d’Offreducci (Assis, 16 de julho de 1193 – Assis, 11
de agosto de 1253).
²
Sarracenos, muçulmanos ou árabes. Os termos islã e muçulmano só foram introduzidos
na Europa no século XVII.
Santa Clara de Assis, Luz que iluminou o
mundo!
Luís Carlos Azevedo
Num Domingo de Ramos, dia 18 de
março de 1212, uma jovem, aos dezoito anos de idade, foge da casa de seus pais
e se encaminha para a igrejinha da Porciúncula (na atual basílica de Santa
Maria dos Anjos), onde São Francisco de Assis e seus Frades, em oração,
aguardavam sua chegada.
Com círios acesos, os religiosos saem ao encontro
da jovem, então luxuosamente adornada com seus trajes de fidalga, em direção à
porta da igrejinha. Conduziram-na diante do altar de Nossa Senhora e a uniram
para sempre ao seu Esposo Jesus Cristo. Ali mesmo, em presença de amigas e dos
religiosos, São Francisco lhe corta os belos cabelos loiros. Essa tonsura é
sinal de que a jovem, Clara de Assis, pertence virginalmente a Nosso Senhor.
Após esse ato, os Frades a acompanham até o
mosteiro das Beneditinas de Bastia.
Irredutível resistência à família, por amor à
vocação
Entretanto, os familiares reagem com grande
indignação a esta fuga. Mas a Santa não se entrega, permanecendo irredutível.
Quando percebe que a violência está por prevalecer, agarra com uma mão a toalha
do altar e com a outra tira o véu da cabeça... Aí seus parentes constatam que
ela já é de Nosso Senhor, e as esperanças de demovê-la caem por terra.
Depois da Páscoa, Santa Clara sai da cidade de
Bastia e vai para o mosteiro das Beneditinas de Sant'Angelo di Ponzo, onde,
dezesseis dias depois de sua fuga, no dia 4 de abril, é alcançada pela sua irmã
mais nova, Santa Inês, que também fugira de casa, querendo firmemente
dedicar-se ao serviço de Deus.
A encantadora cidade de Assis fica em polvorosa e
se divide: uns estão a da família das Santas; outros, das “fugitivas”. Desta
vez, porém, o pai está decidido a reaver viva ou morta sua filha mais nova.
Doze cavaleiros, parentes das Santas, invadem sacrilegamente o mosteiro de
Sant'Angelo. Um deles, chamado Monaldo, enfurecido, lança-se sobre Inês a socos
e ponta-pés, arrastando-a pelos longos cabelos, enquanto outros agarram-na
pelos braços e pelas vestes. E lhe infligiram tão desapiedados tratos, que pelo
chão ficaram pedaços da roupa e punhados de cabelos. E assim conduziram-na
montanha abaixo. Santa Inês, contudo, grita pela irmã, a qual se põe a rezar em
seu favor. Então, pela graça de Deus, repentinamente Inês caiu estendida no
caminho, e tornou-se de um peso tal, que os doze homens, nem mesmo com o
auxílio de alguns lavradores, conseguiram arrastá-la.
Mesmo assim continuaram as crueldades. O tio
Monaldo alçou o braço direito para descarregar um golpe sobre Inês, que
bastaria para dar-lhe a morte, se a houvesse alcançado. No ato de erguer a mão,
porém, esta se lhe contraiu, e assim ficou por bastante tempo. Deixaram então
Santa Inês na estrada e fugiram.
Fundação das Clarissas
Alguns dias após esses fatos, São Francisco de
Assis faz uma visita ao mosteiro e reveste também Santa Inês do hábito da Ordem
Segunda Franciscana, consagrando-a para sempre a Nosso Senhor. E escolhe para
ambas as irmãs uma casa definitiva: a pobre residência da igreja de São Damião,
situada fora dos muros de Assis.
Em pouco tempo, com outras jovens da cidade e de
Perúsia, Santa Clara e Santa Inês formam a primeira comunidade das Irmãs Pobres
de São Damião, que passarão a chamar-se Clarissas, após a morte de Santa Clara
de Assis, ocorrida a II de agosto de 1253.
Refúgio em Perúsia
Em 1198, o povo da comuna de Assis elege os
cônsules para administrar a cidade, derrubando um a um, todos os castelos dos “Maiores”.
Os Beneditinos do Monte Subásio acolhem os nobres refugiados... Mas muitos
deles fogem de Assis.
Favorino Offreducci, pai de Santa Clara, refugia-se
com sua família em Perúsia, onde permanece até 1209. Ao lado de sua mãe, Santa
Clara cresce cortês e afável com todos, dedicando-se à oração e às obras de caridade,
criando laços de amizade com outras meninas também exiladas em Perúsia, algumas
das quais haveriam de acompanhá-la em Religião. Em 1209, Clara está novamente
em Assis, onde, após ouvir uma pregação do grande São Francisco, decide
consagrar-se inteiramente a Deus.
Enfrenta os sarracenos
Frederico II, Imperador da Alemanha, perjuro,
sacrílego e várias vezes excomungado, por ter sucessivas querelas com diversos
Romanos Pontífices, fazia guerra à Igreja e sobretudo aos religiosos. Para
tanto tinha a soldo um exército de sarracenos com mais de vinte mil soldados,
fixado na Itália, e particularmente no vale de Espoleto, pertencente à Santa
Sé, e onde ficava Assis.
Certo dia do ano de 1243, estando Santa Clara
acamada, ouviu suas religiosas em lágrimas lhe dizer, com grande pavor, que uma
tropa de maometanos tinha invadido o claustro externo da igreja de São Damião e
já escalavam as muralhas do mosteiro. A Santa, sem se espantar, ordenou que a
levassem, doente como estava, à porta do mosteiro bem em face do inimigo.
Ali, precedida de uma caixinha de prata guarnecida
de marfim, contendo o Santíssimo Sacramento, ela se prosternou, em lágrimas,
dizendo a Nosso Senhor Sacramentado a seguinte oração: “Senhor, guardai Vós
estas vossas servas, porque eu não as posso guardar”. Ouviu-se então uma voz de
maravilhosa suavidade dizendo: “Eu te defenderei para sempre”. Santa Clara rezou
ainda pela cidade de Assis: “Senhor, que Vos apraza defender também a esta
vossa cidade”. E a mesma voz disse: “A cidade sofrerá muitos perigos, mas será
defendida”. Após o que Santa Clara se voltou para as Irmãs, dizendo: “Não
fiquem com medo, porque eu sou a sita garantia de que não vão passar nenhum
mal, nem agora nem no futuro, enquanto se dispuserem a obedecer os Mandamentos
de Deus”. Os sarracenos foram embora sem fazer qualquer mal ou causar prejuízo
ao mosteiro e às religiosas.
Aparições do Menino Jesus
Depondo sob juramento no processo de canonização, a
Irmã Francisca de Messer Capitaneo de Col de Mezzo conta que certa vez viu no colo
de Santa Clara, bem junto ao seu peito, uma criança belíssima, que só de vê-la
sentia indizível suavidade e doçura. E que não tinha a menor dúvida de que se
tratava do Menino Jesus.
Em outra ocasião ainda, julgando as Irmãs que a
Santa estava para morrer, chamaram um sacerdote para dar-lhe a Comunhão. A
mesma Irmã Francisca viu sobre a cabeça da Santa um esplendor muito grande e a
Sagrada Eucaristia tinha o aspecto de uma criança pequena e belíssima. Depois
de comungar, Santa Clara disse: “Foi tão grande o benefício que Deus me fez
hoje, que com ele não poderiam ser comparados o céu e a terra”.
Milagres operados por Santa Clara em vida
Em certa ocasião, como não houvesse mais do que
meio pedaço de pão para a refeição das Irmãs, Santa Clara mandou dividir essa
metade em porções para dar às religiosas. Aquele pedaço multiplicou-se nas mãos
da que o partia de tal forma que deu para cinqüenta porções, suficientes para
as Irmãs que já estavam sentadas à mesa.
Mas a Santa, além de operar muitos milagres, exerceu
também ação exorcística. Como exemplo, cabe lembrar o caso da mulher de Pisa.
Dizia esta que Nosso Senhor, pelos méritos de Santa Clara a havia libertado de
cinco demônios que a atormentavam, e que. por isso, tinha vindo ao locutório
das Irmãs para agradecer primeiro a Deus e depois à Santa. Ao serem expulsos,
afirmou a mulher que os demônios bradavam: “As orações dessa santa nos queimam”.
Milagres após a morte
Depois de sua morte multiplicaram-se os milagres
junto a sua sepultura. Assim, curou um epiléptico que. ademais, tinha uma das
pernas atrofiadas. Ali receberam a cura integral pessoas cegas, corcundas,
aleijadas em geral, possessas e loucas.
Santa Clara escritora
Santa Clara foi excelente escritora. Tendo recebido
em casa uma formação muito boa para seu tempo, teve o dom de expressar em seus
escritos toda a riqueza de seu pensamento claro, conciso, elegante e
principalmente entusiasmado por tudo quanto dizia respeito a Deus.
O que se conhece de seus escritos revela uma mulher
inteligente e culta, que sabe muito bem o que quer e o exprime de maneira muito
feliz. Dominava bastante bem o uso do latim, distinguindo-se pela simplicidade,
clareza e objetividade.
“Falo com minha própria alma”
Três dias antes de sua morte, em presença de
algumas de suas Irmãs, Santa Clara encomendou sua própria alma a Deus dizendo: “Vá
em paz, porque tens boa escolta; pois aquele que te criou, previu tua
santificação. E, depois que te criou, infundiu-te o Espírito Santo. E depois te
guardou como uma mãe cuida do seu filho pequenino”.
Indagada a quem dirigia aquelas palavras
respondeu: “Falo com a minha alma
bendita”.
Visita de Nossa Senhora à hora da morte
Às vésperas da morte de Santa Clara tinha-se a
impressão de que a corte celestial se movimentava para preparar suas honras
fúnebres.
A Irmã Benvinda de dona Diambra de Assis, que a
assistia nos últimos momentos, viu de repente com os olhos reais uma grande
multidão de virgens, vestidas de branco, todas com coroas na cabeça, que
entravam pela porta onde jazia Santa Clara. Entre elas havia uma maior, que
excedia tudo quanto se possa imaginar, muito mais bela e com uma coroa maior na
cabeça. Em cima de sua coroa havia um pomo dourado do qual irradiava tanto
esplendor que parecia iluminar todo o recinto.
As virgens aproximaram-se do leito da Santa, e a
Virgem maior foi a primeira a cobri-la com um pano finíssimo, tão fino que por
sua transparência Santa Clara podia ser vista mesmo coberta com ele. Então a
Virgem das virgens inclinou o seu rosto sobre a Santa e após isso todas
desapareceram...
Considerações finais
Quem ler a Legenda de Santa Clara, escrita
por Tomás de Celano, não se surpreenderá vendo-a cantar tantos louvores à
Santa. Escrita por ocasião de sua canonização, em 1255, era natural que sua
tarefa fosse louvá-la efusivamente.
Entretanto, é impressionante que o mesmo Celano, ao
escrever a primeira biografia de São Francisco de Assis, em 1228, quando Clara
não tinha mais do que 34 anos de idade (dos sessenta que deveria viver,
quarenta e dois dos quais como Abadessa das Irmãs Pobres de São Damião) já fale
dela como de uma santa canonizada:
“Clara.... virgem no corpo e
puríssima no coração; jovem em idade mas amadurecida
no espírito. Firme na decisão e ardentíssima no amor de
Deus. Rica em sabedoria, sobressaiu na humildade. Foi
clara de nome, mais clara por sua vida e claríssima em suas
virtudes....
“Clara de verdade pela santidade de seus
merecimentos ....”
Mas, quando o Processo de Canonização de Santa
Clara foi descoberto, em 1920, é que se fica sabendo da forte impressão que ela
exerceu sobre seus contemporâneos, desde criança: tanto as irmãs como os leigos
que depõem ficam sem palavras para comentar a santidade dessa mulher que, para
eles, “abaixo da Virgem Maria”, não devia ter igual.
Leitor, se em meio às vicissitudes dos dias atuais,
necessitas por ventura de alguma ajuda muito especial, pede-a a Santa Clara,
quem, no Céu, bem junto ao Imaculado Coração de Maria, rogará também
insistentemente por ti!
Trecho da Bula de
canonização de Santa Clara, publicada pelo Papa Alexandre IV, que canonizou a
Santa em Anagni a 15/8/1255
“Clara, preclara
por seus claros méritos, clareia claramente no céu pela claridade da grande
glória, e na terra pelo esplendor dos milagres sublimes. Brilha aqui
claramente sua estrita e elevada religião, irradia no alto a grandeza de seu
prêmio eterno, e sua virtude resplandece para os mortais com sinais
magníficos.
“A esta Clara foi
dado o título do privilégio da mais alta pobre::a; a ela é dada nas alturas
como recompensa lima profusão inestimável de tesouros; e os católicos
demonstram para com ela plena devoção e uma honra imensa. Esta Clara foi
distinguida aqui por suas obras fulgidas, esta Clara é clarificada no alto
pela plenitude da luz divina. E a maravilha de seus prodígios estupendos
declara-a aos povos cristãos.
“Ó Clara, dotada
de tantos modos pelos títulos da claridade! Foste clara antes da tua
conversão, mais clara na conversão, preclara por teu comportamento no
claustro, preclara pelos seus claros méritos, e brilhante claríssima depois
do curso da presente existência!
“O mundo recebeu
de Clara um claro espelho de exemplo: por entre os prazeres celestiais ela
oferece o lírio suave da virgindade. E na terra sentem-se os remédios
manifestos do seu auxílio.
“Ó admirável
clareza da bem-aventurada Clara, que quanto mais diligentemente é buscada em
pontos particulares mais esplendidamente é encontrada em tudo. Brilhou no
século e resplandeceu na religião. Em casa foi luminosa como um raio, no
claustro teve o clarão de um relâmpago! Brilhou na vida, irradia depois da
morte. Foi clara na terra e reluz no céu! Como é grande a veemência de sua
luz e como é veemente a iluminação de sua claridade!”
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FONTES DE REFERENCIA
1.Analecta Francisco, X.
2. J. Cambell, Actus Beati Francisci et
sociorum ejus. Edizioni Porziuncola, 1988.
3. Bughelti, OFM, Legenda de Santa Clara, in revista do Archivum
Franciscanum Historicum, 1912.
4. Bula de Canonização, Clara claris praeclara (1255). in
revista do Archivum Franciscanum
Historícum. 1920.
5. Frei Zeferino Lazzeri, Processo de. Canonização,in revista
do Archivum Franciscanum Historicum, 1920. E o manuscrito nº 251, da
Coleção Laudau-Finaly, da Biblioteca Nacional de Florença.
6. M. F. Bccker, J.F. Godet, T. Matura, Claire d'Assise:
Écrits, Paris. Editions du Cerf, 1985.
7. Omaechevarria, Escritos de Santa Clara, BAC, Madrid, 1982.
8. Frei José Carlos Corrêa Pedroso,
OFMCap, Fontes Clarianas, Vozes, Petrópolis.
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