“O verdadeiro nome dessa divindade maçônica é “Jeová“, o
tetragrama sagrado, a “Palavra Perdida” base do dogma e dos mistérios
maçônicos. Jeová (outra forma da palavra Yahvé na Bíblia) procede por emanação,
estende-se, emite partes de si mesmo num espaço vazio preparado para recebê-las”
A
Maçonaria é a congregação militante da Gnose.
Todos os Mestres da Ordem, conhecedores da ciência maçônica, têm dito isso
incessantemente. Basta, para se convencer disso, examinar seus escritos, seus
manuais de base, os rituais e as instruções dos diferentes graus. Contudo é
necessário desembaraçar essas obras clássicas da Maçonaria de toda uma
miscelânea simbólica ou alegórica que torna a leitura delas tão penosa para uma
inteligência comum. Assim, descobriremos a substância de seu ensinamento e
ficaremos completamente espantados ao nos depararmos com pessoas
conhecidas.
A
DIVINDADE MAÇÔNICA
A
Maçonaria é uma Super-Religião: “A Maçonaria, diz o I.. Albert Pike
– Morals and Dogma -, ensina e tem conservado em toda
sua pureza os princípios fundamentais da velha fé primitiva, que são
as bases sobre as quais se apoia toda religião. Todas as religiões que
existiram até aqui tiveram um fundo de verdade e todas a encobriram com
erros. As verdades primitivas ensinadas pelo Redentor foram mais
rapidamente corrompidas, misturadas e aliadas a ficções que quando elas foram
ensinadas aos primeiros homens”.
Outrossim,
“a Maçonaria, afirma o Dr. Mackey, não tem de forma alguma a
pretensão de ocupar um lugar entre as religiões do mundo, entendidas como
seitas ou sistemas particulares de fé e de culto, pelo quê distinguimos o
Cristianismo do Judaísmo…”
Assim,
portanto, ela é a Religião universal (e, portanto,
eminentemente católica, mas não romana, pois essa última é a religião
particular dos romanos, logo, uma seita infestada pelos micróbios e as
corrupções do país e do clima romano). Ela solicita aos iniciados apenas a
adesão a duas verdades fundamentais: a crença na existência de Deus e
na imortalidade da alma. Todavia, é preciso entender bem o que a ciência
maçônica entende por isso.
Albert
Pike nos mostra “Deus como Pai infinito de todos os homens…”; “A Natureza,
acrescenta ele, entendendo por essa palavra a totalidade dos seres, eis o que é
poderoso, ativo, sábio e bom”. “A Natureza tira de si mesma sua própria
vida, ela foi, é e será a causa de sua existência, o espírito do Universo e sua
própria Providência. Há, na verdade, um plano e uma vontade, das quais
provém a ordem, a beleza e a harmonia: esse plano e essa vontade pertencem à
Natureza…”. Podemos nos perguntar como um ser (a Natureza) poderia
ser a causa de si mesmo e, portanto, agir antes de existir? Porém pouco
importa!
“Deus,
acrescenta Albert Pike, é a alma viva, pensante, inteligente do
Universo, o Permanente, o Imutávelde Simão, o Mago, o Uno que é de Platão,
etc. (Vê-se que o conhecedor da ciência maçônica conhece os bons autores e se
refere a eles como aos seus mestres)”.
Ele
precisa até: “Enquanto que o indiano nos diz que Parabrahma, Brama e Paratma
compõem a primeira Trindade, que o egípcio adora Amom-Rá, Neith e Ptah (Thot ou
Hermes) e que o piedoso cristão acredita que o Verbo habita no corpo mortal de
Jesus de Nazaré… a Maçonaria inculca sua velha doutrina, e nada mais… Segundo
a Cabala, Deus e o Universo são apenas um. Segundo Pitágoras, Deus era uno,
uma única substância cujas partes contínuas se prolongariam através do
universo, sem separação. Pitágoras faz assim do Universo um Grande Ser,
inteligente como o Homem, uma imensa divindade, tendo em si o que o homem tem
em si, o movimento, a vida, a inteligência. Tal é, meu irmão, o verdadeiro
Segredo Real“.
Reconhecemos
aí a doutrina do Emanatismo, essencial à Gnose. Porém é necessário
precisar que a referência a Pitágoras se aplica à seita neo-pitagoriciana,
aquela que compôs os “Versos de Ouro” cujos falamos.
O
verdadeiro nome dessa divindade maçônica é “Jeová“, o tetragrama
sagrado, a “Palavra Perdida” base do dogma e dos mistérios maçônicos. Jeová
(outra forma da palavra Yahvé na Bíblia) procede por emanação, estende-se,
emite partes de si mesmo num espaço vazio preparado para recebê-las.
Mais
ainda, dizem nossos conhecedores da Maçonaria, Jeová é o próprio homem,
Adam-Kadmon, o Arquétipo (diríamos, hoje, o Protótipo) da humanidade, a
primeira emanação da divindade, o “Filho de Deus”. Assim, “é a Humanidade que
cria Deus, diz o I.. Pike, e os Homens acreditam que Deus os fez à sua imagem,
porque eles o fazem à deles”. Compreendemos por essa fórmula que a Divindade
maçônica se criou a si mesma estendendo-se sob as formas humanas, que são as
mais perfeitas emanações do Grande Ser.
Mas
não confundamos! O “Jeová”, divindade maçônica, não tem nada a ver com o
“Jeová” da Bíblia, outro nome de Yahvé, aquele do Deus criador. Com efeito, “por
toda parte, a divindade do Antigo Testamento, diz ainda Albert Pike,
sempre em Morals and Dogma, é representada como o autor
direto do Mal, enviando aos homens espíritos maus e enganadores
(Entre parênteses, trata-se dos anjos e dos profetas)…O Deus do
Antigo Testamento e de Moisés se rebaixou ao nível das paixões humanas… ele é
uma divindade violenta, invejosa, vingativa, tanto quanto inconstante e
irresoluta. Ela comanda atos odiosos e revoltantes de crueldade e
de barbárie…” O ódio do Deus Criador é a pedra angular, o caráter
específico de toda a Gnose, e isso é uma blasfêmia! A Maçonaria a tomou
emprestada da Gnose.
A
ALMA HUMANA
“A
Alma, diz ainda Albert Pike, é de natureza divina, tendo se
originado numa esfera mais próxima da divindade, e para lá retornando
quando ela for desembaraçada do despojo do corpo, podendo entrar lá apenas
purificada de todas as sujeiras do pecado que foram, por assim dizer, incorporados
à substância em consequência de sua união com o corpo… O Maçom que
possui o Segredo Real pode demonstrar que a alma, quando ela tiver sido
despojada da matéria que a envolve e que a tem subjugado, quando ela tiver sido
desembaraçada do invólucro que a deforma, reencontrará sua verdadeira
natureza e se elevará, por graus, por meio da escada mística das esferas (são
os éons dos nossos gnósticos) para ganhar novamente sua primeira
morada, seu lugar de origem“. Qualquer comentário diminuiria a força de tais
afirmações que foram copiadas diretamente das obras gnósticas.
O
GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO
A
Maçonaria se propôs como finalidade a reconstrução do Templo de Jerusalém, ou
seja, a reconstrução da Humanidade. Por que reconstruir? Senão porque
o primeiro demiurgo, Yahvé, tinha falhado em sua criação. Reconstruir a
Humanidade, para o Maçom consciente e profundamente iniciado, é realinhar o
retorno à Unidade das almas dispersas nos corpos, é perfazer a Divindade
primitiva, levá-la à plenitude, é a “Grande Obra”. Outrossim a Iniciação
constitui um “choque humanitário”. Por sua iniciação, o Iluminado “abre os
olhos”, vê, enfim, em sua religião, as corrupções que deformaram a revelação
primitiva, e “penetra na Verdade, depois de ter vagueado entre os erros,
completamente coberto pelas sujeiras do mundo exterior e profano…”
É
preciso, portanto, purificar a Humanidade e reconstrui-la de acordo com o plano
de um arquiteto divino. Que o iniciado tome seu avental, arme-se com o
compasso, a espátula, o esquadro e o triângulo, e que ele se coloque a
trabalho: “Nosso trabalho constitui nosso culto”.
Mas
para isso, é preciso proceder com ordem; é preciso conhecer a ciência da
geometria. O irmão iniciado é um construtor do Templo da Humanidade, ele
precisa de um arquiteto, um Grande Construtor, um Grande Geômetra: “O
Grande Arquiteto do Universo… é um contramestre, sob as ordens do qual
devemos trabalhar como operários”. Na verdade, ele é divino, assim como o
Homem após sua Iluminação pelo rito da Iniciação; porém ele não é a
Divindade total, o “Jeová”.
“A
Maçonaria, diz Oswald Wirth, em seu livro Livro do Mestre, evita
definir o Grande Arquiteto do Universo e deixa a cada um de seus adeptos a
total liberdade para se fazer, dele, uma ideia conforme à sua fé ou à sua
filosofia. Evitemos, portanto, ceder a essa preguiça de espírito que
confunde o Grande Arquiteto dos Iniciados com o Deus dos crentes”.
Eis
o que é claro: não é preciso definir sobretudo a natureza desse arquiteto, e
nem lhe dar um nome que permitiria identificá-lo.
Porém
os verdadeiros Iniciados, os “Mestres do Segredo Sublime”, aqueles que
penetraram antes nos mistérios da Grande Arte real, conhecem bem seu nome. “A
Serpete, diz Oswald Wirth, em seu Livro do Companheiro, inspiradora
da desobediência, da insubordinação e da revolta, foi maldita pelos antigos
teocratas, enquanto que ela era honrada entre os Iniciados. Estes consideram,
com efeito, que não pode haver nada de mais sagrado do que as aspirações que
nos levam a nos aproximar progressivamente dos deuses considerados como as
potências conscientes, encarregadas de ordenar o caos e de governar o mundo.
Tornar-se semelhante à divindade, tal era o fim dos antigos mistérios. Em
nossos dias, o programa da iniciação não mudou”.
Assim,
portanto, a Serpente é chamada pelos Grandes Iniciados a ordenar o caos de um
mundo mal feito por um demiurgo desastrado, para reconstrui-lo de acordo com um
plano perfeito, aquele do Grande Templo da Humanidade e, assim, “conseguiremos
realizar a última palavra do Progresso, o Homem, sacerdote e rei de si mesmo,
que dependerá apenas de sua vontade e de sua consciência” (Ragon, Cours
philosophique).
ALGUNS
HERDEIROS DA GNOSE MODERNA
O
homem moderno é um “gnóstico sem sabê-lo“. Como se
espantar com isso? A sociedade de hoje está quase que completamente impregnada
pelos ideais maçônicos. Os modos de pensar atuais saíram das lojas por uma
multidão de sociedades, clubes, grupos de pressão. A Igreja em si não se
defende mais contra essa nova invasão bárbara, mais destruidora que a
precedente, porque ela se obstina em demolir o que resta da civilização
cristã.
Não
é nossa intenção nos comportarmos de modo erudito, tanto mais porque isso já
foi feito. Não queremos descrever com minúcias as formas tomadas atualmente
pelos gnósticos modernos: isso seria perturbar o leitor e confundir os
espíritos. Queremos, ao contrário, “clarificar” essas gnoses e aí reencontrar
as fórmulas primitivas; mais ainda, nos esforçamos para reencontrar, sob a
miscelânea das mitologias modernas, as grandes direções do pensamento que se
mantém e se desenvolvem ao longo dos séculos. Com efeito, existe um progresso
no erro, como na verdade. Certos espíritos, atraídos pela aparência de verdade
que os falsos princípios podem conter, não veem imediatamente todas as
consequências de suas afirmações; todavia, as gerações seguintes vão se dirigir
a elas necessariamente, visto que essas consequências estão contidas
implicitamente nas premissas. Assim veremos que Freud,
Jung, Hegel e Marx não falharam em desenvolver a
gnose na linha da maior subversão; visto que a Psicanálise ou o
Marxismo são sim religiões; mas completamente invertidas: não se pode
substituir impunemente o culto de Satanás ao de Jesus Cristo. A subversão de
toda ordem cristã é “fecunda” em catástrofes apocalípticas. Satanás continua
“homicida” e “mentiroso” até o fim dos séculos.
Acabamos
de mostrar que a Maçonaria é a herdeira e a verdadeira detentora da Gnose.
Vimos, no Rito do Rosa Cruz, 18º grau, que ela pratica o Amor pela Humanidade,
que ela ensina a Roda Universal das Coisas e a Evolução do Grande Todo. É
do seio das lojas que nasceram os grandes movimentos contemporâneos que se
esforçam para divulgar, numa sociedade descristianizada, as fórmulas e as
práticas gnósticas.
COUVERT,
Etienne. De la gnose à l’oecumenisme. Tradução de Robson
Carvalho. Montreuil, Éditions de Chiré, 1983, p.32-37.
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