A natureza humana é corporal e espiritual e envolve o fato de que o corpo procede da maternidade"
Os Padres da Igreja se fizeram essa pergunta por muito tempo: por que Deus escolheu encarnar-se, nascer de uma mulher? Nosso Senhor Jesus Cristo, o novo Adão, poderia, de fato, ter sido criado como um adulto, como o primeiro homem. Essa pergunta nos dá ocasião para meditar e contemplar o plano que Deus escolheu ao querer a Santíssima Virgem Maria como sua mãe.
As razões são fáceis de descobrir. As profecias
sobre o Messias anunciaram que Ele nasceria de uma mulher, bem como o
protoevangelho (Gn 3,15), que anuncia a inimizade entre o Messias e Sua Mãe com
a serpente, isto é, o demônio. Essas profecias deviam ser cumpridas.
O fato de que o poder divino seria melhor
demonstrado se o Salvador nascesse de uma mulher é outra razão: Deus triunfa
através de uma criatura, o que manifesta Seu soberano poder, capaz de usar
instrumentos frágeis para as maiores obras.
Uma terceira razão é que, entre as criaturas, apenas
uma mulher poderia se tornar a Mãe de Deus. A natureza humana permite ao Filho
de Deus encontrar uma mulher, uma pessoa que Lhe dará aquela natureza que será
oferecida em holocausto para a glória de Deus e a salvação da humanidade.
Os Padres e teólogos descobriram outras razões
maravilhosas.
Uma razão muito importante é atestar a verdade da
Encarnação. Muitos hereges, como os docetistas, alegaram que Jesus Cristo não
era homem, que Ele apenas “atravessou” pela Virgem Maria. A afirmação da
maternidade divina refuta essas fantasias.
Além disso, a natureza humana é corporal e
espiritual e envolve o fato de que o corpo procede da maternidade:
contrariamente às alegações dos hereges mencionados acima, possuir uma natureza
verdadeiramente humana não diminui a dignidade do Verbo.
De modo semelhante, a vida familiar é parte da nossa
natureza: toda criança nasce numa família. Não há imperfeições nessa situação.
É apropriado, portanto, que o Verbo Encarnado assuma uma vida familiar.
Essa vida familiar gerou a oportunidade do Verbo
Encarnado servir de modelo de piedade filial.
Santo Agostinho deu outra boa razão: a humanidade é
honrada em um representante masculino, um homem que é Deus, e em um
representante feminino, uma mulher revestida da dignidade de Mãe de Deus.
Outra boa razão diz respeito ao casamento místico da
humanidade com o Verbo: o Fiat de
Maria foi dado em nome de toda a humanidade.
Quanto à salvação da humanidade, o fato de que o
Verbo Encarnado Se tornou homem, descendente de Adão de acordo com a carne,
nascido de mulher, colocou-O em posição de mediador: Ele é aceito pelas duas
partes que Ele conecta, Céu e terra, Deus e os homens.
Finalmente, para que a expiação do Messias possa ser
aceita por Deus como advindo dos pecadores que O ofenderam, era necessário que
Ele pudesse estar com os pecadores: é isso que Isaías e São Paulo dizem. Não
que Ele seja um pecador, mas em razão de sua natureza humana e de sua origem em
Adão.
É claro que todas essas razões não nos fornecem a resposta à
questão indagada. Mas elas a explicam e ilustram, e permitem-nos adentrar os
segredos de Deus sobre Seu Filho encarnado e Sua mãe.
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