Examinando os pontos deste documento que merecem uma análise crítica rigorosa à luz da doutrina católica, particularmente no que diz respeito ao risco de ambiguidade e afastamento da Tradição magisterial da Igreja, deixamos a seguir tópicos de relevante consideração.
Uma das principais questões reside na não definição do termo "dignidade" em si mesmo, apesar de ser o tema central a dignidade humana, propondo a existência de quatro tipos específicos de dignidade – ontológica, social, moral e existencial – sem esclarecer suficientemente o que significa "dignidade" e em que consistem essas quatro formas de dignidade. Entre estes, é afirmado que a "dignidade ontológica" é infinita, afirmação que ressoa de forma alarmante, uma ideia maçônica, de que o homem possui um valor intrínseco ilimitado que aspira a elevar o homem ao nível de Deus.
São Tomás de Aquino nos dá uma definição clara e consistente com a fé: dignitas é "a bondade intrínseca de um ser" (In Sent. III, d. 35, q. 1, a. 4, q. 1, c.). Se a dignidade humana fosse infinita, então os direitos humanos também seriam infinitos. Essa afirmação é perigosa porque, em essência, daria ao homem um atributo exclusivo do divino: o infinito (S.Th. I, q.7, a.1). De acordo com a doutrina católica, no entanto, o homem é uma criatura que, embora criada à imagem e semelhança de Deus, permanece finita, marcada pelo pecado original. Ao declarar a infinitude da dignidade humana, nega implicitamente o dogma do pecado original, sugerindo que o homem guarda uma bondade perfeita e ilimitada – incompatível com a antropologia cristã.
O homem pode desejar à união com Deus pela graça, mas a dignidade humana não se tornaria infinita em si mesma, exceto em virtude de Jesus Cristo. Portanto, referir-se a uma dignidade "infinita" do homem representa um grave erro teológico e podendo abrir a porta de tendências antropocêntricas, onde o homem é levado a pensar que possui uma espécie de autonomia absoluta, contrária ao reconhecimento de sua dependência de Deus. Como a Liturgia nos lembra, somos salvos "por meio de Cristo, com Cristo e em Cristo". Não há outras maneiras, sem Cristo!
São Tomás de Aquino, em De rationibus fidei, esclarece ainda: "Nenhum homem tem uma dignidade infinita, capaz de satisfazer, adequadamente, uma ofensa contra Deus". O pecado original comprometeu gravemente a bondade do homem, introduzindo uma ferida em sua natureza que necessita da Redenção. Se o homem possuísse uma dignidade infinita, ele seria capaz de expiar a culpa infinita do pecado por si mesmo, não necessitando de Jesus Cristo, da Igreja e dos Sacramentos. Mas a Igreja ensina que somente Deus, assumindo a natureza humana em Cristo, foi capaz de redimir a humanidade.
Portanto, a reivindicação de uma dignidade infinita mina, em suas implicações últimas, a necessidade lógica e teológica da Encarnação e da Redenção realizada por Cristo. Toda a estrutura teológica do pecado e da salvação é questionada aqui. A verdadeira questão é, então: os autores deste documento acreditam no pecado original e na necessidade de um Redentor?
Outra consequência altamente prejudicial para a teologia católica é a negação do inferno. Se, de fato, cada pessoa possui dignidade infinita e pode reivindicar direitos infinitos, mesmo diante de Deus (enfatizamos: a dignidade é a fonte dos direitos), então cada pessoa pode expiar sua própria culpa e salvar a si mesma sem a necessidade do Mediador Divino (negando que há condenação e inferno, todos, todos se salvam, NT).
Além disso, a Declaração sugere que a dignidade humana, sendo infinita, serve de base para evitar a violência contra os outros. Tal afirmação implica que a dignidade humana é imutável e não está sujeita à degradação. No entanto, isso é falso, a Tradição Católica ensina que o pecado mortal degrada a dignidade de um indivíduo. Uma dignidade infinita, por outro lado, tornaria o homem imune a qualquer condicionamento ou diminuição. Tal noção elimina toda justificativa teológica e até filosófica para as penas sociais e civis, incluindo a pena de morte, que, embora permitida apenas em casos muito precisos e excepcionais, sempre foi reconhecida como legítima na doutrina tradicional.
Ao enfatizar a "dignidade infinita" do homem, o documento também parece promover uma visão da natureza humana que corre o risco de ser neopelagiana, depositando confiança excessiva nas habilidades naturais do homem sem a ajuda necessária da graça divina. Essa visão foi condenada pelo Concílio de Orange em 529 dC, que reafirmou a necessidade da graça para a salvação e para toda boa ação realizada pelo homem. A doutrina católica afirma que o homem, ferido pelo pecado original, precisa da graça para ser elevado a Deus, como diz o próprio Catecismo da Igreja Católica, §2001, de 1983.
Finalmente, a citação da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas como um "eco autorizado" da dignidade humana levanta preocupações significativas. A Igreja, como única portadora da Verdade divina, não pode e não deve procurar a validação de uma organização mundial que representa uma visão secular e relativista da dignidade e dos direitos. A ONU, de fato, promove uma ideia de direitos humanos que muitas vezes entra em conflito com os princípios cristãos, como evidenciado por suas posições sobre aborto e sexualidade. O que deveria ser um anúncio doutrinal da Igreja, paradoxalmente, acaba buscando legitimidade de uma fonte externa.
A Declaração Dignitas infinita corre o risco de distanciar a Igreja de sua autêntica mensagem evangélica e alinhá-la com princípios estranhos à doutrina cristã. Em vez de se apoiar na autoridade do Magistério e da Escritura, o documento parece adotar visões antropológicas próximas ao modernismo e à Maçonaria, que veem o homem como a medida de todas as coisas. De acordo com a perspectiva católica, o homem é uma criatura nobre e finita, marcada pelo pecado e necessitada de redenção. Sua dignidade não é infinita, mas depende inteiramente de seu relacionamento com o Criador, e é plenamente realizada somente na graça divina.
Em vez de se tornar um "eco autorizado" dos princípios mundanos, a Igreja deve lembrar ao mundo que a única dignidade infinita pertence a Deus e que somente por meio de Cristo e da vida sacramental na Igreja Católica o homem pode ser elevado, purificado e salvo. Só assim a Igreja pode continuar a ser farol de verdade e guardiã da dignidade humana, segundo o desígnio de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.