Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

12/10/2012

PAPA PIO IX - SYLLABUM


SYLLABUM
Contendo os principais erros de nossa época
notados nas Alocuções Consistoriais, Encíclicas e outras Letras Apostólicas
do nosso Santo Padre Pio IX

I. PANTEÍSMO, NATURALISMO E RACIONALISMO ABSOLUTO
1º Não existe Divindade alguma suprema e sapientíssima e providentíssima, distinta desta universalidade das coisas, e Deus é o mesmo que a natureza das coisas, sujeito, portanto, a mudanças, e Deus, na realidade, se forma no homem e no mundo, e todas as coisas são Deus e tem a mesma substância de Deus; Deus é uma e a mesma coisa que o mundo, e, portanto, o espirito é o mesmo que a matéria, a necessidade que a liberdade, a verdade que a falsidade o bem que o mal, e a justiça que a injustiça.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

2º Deve negar-se toda a ação de Deus sobre os homens e sobre o mundo.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

3º A razão humana, considerada sem relação alguma a Deus, é o único árbitro do verdadeiro e do falso, do bem e do mal, é a sua própria lei e suficiente, nelas suas forças naturais, para alcançar o bem dos homens e dos povos.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

4º Todas as verdades da religião derivam da força natural da razão humana, e por isso a mesma razão é a principal norma pela qual o homem pode e deve chegar ao conhecimento de todas as verdades de qualquer gênero que sejam.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Enc. "Singulari quidem" de 17 de Março de 1856.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

5º A revelação divina é imperfeita e. portanto, sujeita ao progresso contínuo e indefinido que corresponde ao progresso da razão humana.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Aloc. "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.

6º A Fé de Cristo repugna a razão humana, e a revelação divina não só não é útil, mas é contrária à perfeição do homem.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Aloc. "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.

7º As profecias e milagres expostos e narrados nas Sagradas Letras são comentários de poetas; os mistérios da Fé Cristã, uma recompilação de investigações filosóficas; tanto o Velho como o Novo Testamento contêm invenções fabulosas, e o mesmo Jesus Cristo é uma ficção mítica.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

II. RACIONALISMO MODERADO

8º Corno a razão humana se equiparar à mesma religião, por isso as disciplinas teológicas se devem tratar do mesmo modo que as filosóficas.
Aloc. "Singulari quadam perfusi", de 9 de dezembro de 1854.

9º Todos os dogmas da religião cristã, indiscriminadamente, são objeto da ciência natural ou filosófica; e a razão humana, com o estudo, unicamente, da história, pode, pelos seus princípios e forças naturais, chegar ao verdadeiro conhecimento de todos os dogmas, mesmo os mais recônditos, com tanto que estes dogmas sejam propostos como objeto à mesma razão.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Gravissimas", de 11 de Dez. de 1862.
Epist. Ao mesmo "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

10º Como o filósofo é diverso da filosofia, aquele tem direito de se submeter à autoridade que ele mesmo prova que é a verdadeira; mas a filosofia não pode nem deve sujeita-se a autoridade alguma.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Gravissimas", de 11 de Dez. de 1862.
Epist. Ao mesmo "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

11º A Igreja não só não deve repreender em coisa alguma a filosofia, mas tolerar os erros da mesma e deixar que ela se corrija dos mesmos.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Gravissimas", de 11 de Dez. de 1862.

12º Os decretos da Sé Apostólica e das Congregações Romanas impedem o progresso livre da ciência.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

13º O método e os princípios por que os antigos Doutores escolásticos ensinaram a Teologia não convêm às necessidades da nossa época e ao progresso das ciências.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

14º A Filosofia deve ser tratada sem nenhuma a relação com a revelação sobrenatural.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

III. INDIFERENTISMO, LATITUDINARISMO

15º É livre a qualquer um abraçar e professar aquela religião que ele, guiado pela luz da razão, julgar verdadeira.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

16º No culto de qualquer religião podem os homens achar o caminho da salvação eterna e alcançar a mesma eterna salvação.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Aloc. "Ubi primum", de 17 de Dezembro de 1847.
Enc. "Singulari quidem" de 17 de Março de 1856.

17º Pelo menos deve-se esperar bem da salvação eterna daqueles todos que não vivem na verdadeira Igreja de Cristo.
Aloc. "Singulari quadam", de 19 de Dezembro de 1854.
Enc. "Quanto conficiamur", de 17 de Agosto de 1863.

18º O protestantismo não é senão outra forma da verdadeira religião cristã, na qual se pode agradar a Deus do mesmo modo que na Igreja Católica.
Enc. "Noscitis et Nobiscum", de 8 de Dezembro de 1849.

IV. SOCIALISMO, COMUNISMO, SOCIEDADES SECRETAS, SOCIEDADES BÍBLICAS, SOCIEDADES CLÉRICO-LIBERAIS

Estas pestes, muitas vezes, e com palavras gravíssimas, foram reprovadas na encíclica "Qui Pluribus", de 9 de Novembro de 1846; na alocução "Quibus quantisque", de 20 de Abril de 1849; na encíclica "Noscitis et Nobiscum", de 8 de Dezembro de 1849; na alocução "Singulari quadam", de 9 de Dezembro de 1854; na encíclica "Quanto conficiamur moerore", de 10 de Agosto de 1863.

V. ERROS SOBRE A IGREJA E OS SEUS DIREITOS

19º A igreja não é uma sociedade verdadeira e perfeita, inteiramente livre, nem goza de direitos próprios e constantes, dados a ela pelo seu divino Fundador, mas pertence ao poder civil definir quais sejam os direitos da Igreja e os limites dentro dos quais pode exercer os mesmos.
Aloc. "Singulari quadam", de 19 de Dezembro de 1854.
Aloc. "Multis gravibusque", de 17 de Dezembro de 1860.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

20º O poder eclesiástico não deve exercer a sua autoridade sem licença e consentimento do governo civil.
Aloc. "Meminit unusquisque", de 30 de Setembro de 1861.

21º A Igreja não tem o poder de definir dogmaticamente que a religião da Igreja Católica é a única verdadeira.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.

22º A obrigação a que estão sujeitos os mestres e escritores católicos refere-se tão somente àquelas coisas que o juízo infalível da Igreja propõe como dogmas de fé para todos crerem.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

23º Os Pontífices Romanos e os Concílios ecumênicos ultrapassaram os limites do seu poder, usurparam os direitos dos Príncipes, e erraram, mesmo nas definições de fé e de moral.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.

24º A Igreja não tem poder de empregar a força nem poder algum temporal, direto ou indireto.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

25º Além do poder inerente ao Episcopado, é-lhe atribuído outro poder temporal, concedido expressa ou tacitamente pelo império civil, que o mesmo império civil pode revogar quando lhe aprouver.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

26º A Igreja não tem poder natural e legítimo de adquirir nem de possuir.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.
Enc. "Incredibili", de 17 de Setembro de 1863.

27º Os ministros sagrados da Igreja e o Pontífice Romano devem ser completamente excluídos de todo o cuidado e domínio das coisas temporais.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

28º Não é lícito aos Bispos, sem licença do governo, publicar nem as próprias letras apostólicas.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.

29º As graças concedidas pelo Pontífice Romano devem-se julgar de nenhum efeito, não sendo imploradas pelo governo.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.
30º A imunidade da Igreja e das pessoas eclesiásticas nasce do direito civil.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.

31º O foro eclesiástico para as coisas temporais dos clérigos, quer civis quer criminais, deve ser de todo suprimido, mesmo sem consultar-se a Sé Apostólica, e não obstante as suas reclamações.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.

32º Pode-se derrogar, sem violação alguma de equidade e de direito natural, a imunidade pessoal, pela qual os clérigos são isentos do serviço militar, e esta derrogação é reclamada pelo progresso civil, especialmente na sociedade constituída debaixo da forma de regime mais livre.
Epist. Ao Bispo de Montreal "Singularis Nobisque", de 29 de Set. de 1864.

33º Não pertence unicamente ao poder da jurisdição dirigir, pelo seu direito próprio e natural, a doutrina das matérias teológicas.
Epist. Ao Arceb. De Frising "Tuas libenter", de 21 de Dez. de 1863.

34º A doutrina dos que compararam o Pontífice Romano a um Príncipe livre, e que exerce o seu poder sobre toda a Igreja, é doutrina que prevaleceu na Idade Média.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

35º Não impede que, por sentença de um Concílio Geral ou por decisão de todos os povos, seja Sumo Pontificado transferido do Bispo Romano e de Roma para outro Bispo e para outra cidade.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

36º A definição de um Concílio nacional não admite discussões subsequentes, e o poder civil pôde exigir que as questões não progridam.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

37º Podem ser instituídas Igreja nacionais isentas da autoridade do Pontífice Romano, e separadas dele.
Aloc. "Multis gravibusque", de 17 de Dezembro de 1860.
Aloc. "Jamdudum", de 18 de Março de 1861.

38º Os atos em demasia arbitrários dos Pontífices Romanos produziram a separação da Igreja em Oriental e Ocidental.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

VI. ERROS DE SOCIEDADE CIVIL, TANTO CONSIDERADA EM SI, COMO NAS SUAS RELAÇÕES COM A IGREJA

39º O Estado, sendo a origem e fonte de todos os direitos, goza de um direito que não é circunscrito por limite algum.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

40 A doutrina da igreja Católica é oposta ao bem e aos interesses da sociedade humana.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Aloc. "Quibus quantisque", de 20 de Abril de 1849.

41º Ao poder civil, mesmo exercido por um príncipe infiel, pertence um poder indireto e negativo sobre as coisas sagradas; pertence-lhe não só o direito que se chama "exsequatur", mas ainda o da apelação que se chama "ab abusu".
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

42º Em conflito entre os dois poderes, deve prevalecer o poder civil.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

43º O poder secular tem autoridade de rescindir, de declarar e tornar nulos os convênios solenes, ou Concordatas celebradas com a Sé Apostólica, relativos ao uso dos direitos pertencentes à imunidade eclesiástica sem consentimento da mesma Sé Apostólica, e mesmo se ela reclamar.
Aloc. "In consistoriali", de 1º de Novembro de 1850.
Aloc. "Multis gravibusque", de 17 de dezembro de 1860.

44º A autoridade civil pode envolver-se nas coisas relativas à religião, aos costumes e ao governo espiritual; donde se segue que tem competência sobre as instruções que os pastores da Igreja publicam em harmonia com a sua missão, para a direção das consciências. Ainda mais, tem poder para decretar a respeito da administração dos divinos Sacramentos e das disposições necessárias para os receber.
Aloc. "In consistoriali", de 1º de Novembro de 1850.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

45º A completa direção das escolas públicas, nas quais se educa a mocidade de algum Estado cristão, excetuando, por alguma razão, os Seminários Episcopais tão somente, pode e deve ser atribuída à autoridade civil, e atribuída de tal modo, que a nenhuma autoridade seja reconhecido o direito de intrometer-se na disciplina das escolas, no regime dos estudos, na escolha e aprovação dos professores.
Aloc. "In consistoriali", de 1º de Novembro de 1850.
Aloc. "Quibus luctuosissimis", de 5 de Setembro de 1851.

46º Ainda mais, nos próprios Seminários dos clérigos o método dos estudos se deve sujeitar à autoridade civil.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.

47º A melhor condição da sociedade civil exige que as escolas populares, abertas sem distinção aos meninos de todas as classes do povo, e os estabelecimentos públicos, destinados a educar e a ensinar aos jovens as letras e os estudos superiores estejam fora da ação de qualquer autoridade eclesiástica, e de qualquer influxo moderador e de qualquer ingerência dessa autoridade, e estejam completamente sujeitos ao poder civil e político, conforme o beneplácito dos imperantes e as opiniões comuns da época.
Carta ao Arceb. De Frib. "Quum non sine", de 14 de Julho de 1864.

48º Aquele modo de instruir a mocidade que se separa da Fé Católica e do poder da Igreja e atende somente aos conhecimentos dos objetos naturais e aos fins da vida social terrena, única ou ao menos principalmente, pode ser aprovado pelos católicos.
Carta ao Arceb. De Frib. "Quum non sine", de 14 de Julho de 1864.

49º A autoridade civil pode impedir que os prelados e os fiéis comuniquem livremente entre si e com o Pontífice Romano.
Aloc. "Maxima quidem, de 9 de Junho de 1862.

50º Autoridade secular tem por sua natureza o direito de apresentar os Bispos, e pode exigir deles que tomem posse de suas dioceses, antes de terem recebido as Santa Sé a instituição canônica e as Letras Apostólicas.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.

51º Ainda mais a autoridade secular tem direito de demitir os Bispos das suas funções pastorais, e não é obrigada a obedecer ao Pontífice Romano naquelas coisas que dizem respeito ao Episcopado e à instituição dos Bispos.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.

52º O governo tem direito de mudar a idade prescrita pela lgreja para a profissão religiosa, tanto dos homens como das mulheres, e de proibir a todas as Ordens religiosas que admitam alguém à profissão solene sem licença do mesmo governo.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.

53º Devem-se revogar as leis que dizem respeito à proteção das Ordens religiosas, aos seus direitos e obrigações; além disso o poder civil pode prestar o seu apoio a todos os que quiserem deixar a vida religiosa e quebrar os votos solenes; pode igualmente suprimir as Ordens religiosas, as colegiadas e os benefícios simples, ainda que sejam de padroado, e submeter os seus bens à alçada e administração da autoridade civil.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.
Aloc. "Probe memineritis", de 22 de Janeiro de 1855.
Aloc. "Cum saepe", de 26 de Julho de 1855.

54º Os Reis e os Príncipes não só estão isentos ela jurisdição da Igreja, mas também em resolver as questões de jurisdição são superiores à Igreja.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.

55º A Igreja deve estar separada do Estado e o Estado da Igreja.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.

VII. ERROS ACERCA DA MORAL NATURAL E A MORAL CRISTÃ

56º As leis morais não carecem da sanção divina, e não é necessário que as leis humanas sejam conformes ao direito natural ou recebam de Deus o poder obrigatório.
Aloc. "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.

57º A ciência das coisas filosóficas e morais e as leis civis podem e devem ser livres da autoridade divina e eclesiástica.
Aloc. "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.

58º Não é preciso reconhecer outras forças senão as que residem na matéria, e o sistema moral e a honestidade dos costumes devem consistir em acumular ou aumentar riquezas por qualquer meio e na satisfação de todos os gozos.
Aloc. "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.
Enc. "Quanto conficiamur", de 10 de Agosto de 1863.

59º O direito firma-se no fato material; todos os deveres do homem são palavras vãs, e todas as ações humanas têm força de direito.
Aloc "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.

60º A autoridade não é mais do que a soma do número e das forças materiais.
Aloc. "Maxima quidem", de 9 de Junho de 1862.

61º Uma injustiça de fato, coroada de bom êxito, em nada prejudica a santidade do direito.
Aloc. "Jamdudum", de 18 de Março de 1861.

62º É preciso proclamar e observar o princípio da não intervenção.
Aloc. "Novus et ante", de 27 de Setembro de 1860.

63º É lícito negar a obediência aos Príncipes legítimos e mesmo revoltar-se contra eles.
Enc. "Qui pluribus", de 9 de Novembro de 1846.
Aloc. "Quisque vestrum", de 4 de Outubro de 1847
Enc. "Noscitis et Nobiscum", de 8 de Dezembro de 1849.
Letras Apostólicas "Cum Catholica", de 26 de Março de 1860.

64º Tanto a violação de qualquer juramento santíssimo, como qualquer ação infame e perversa contrária à Lei sempiterna, não só não é censurável, mas também até completamente lícita e digna de grandes elogios, quando for feita por amor da Pátria.
Aloc. "Quibus quantisque", de 20 de Abril de 1849.

VIII. ERROS ACERCA DO MATRIMÔNIO CRISTÃO

65º Não há razão alguma para julgar que Cristo elevasse o matrimonio à dignidade de Sacramento.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

66º O Sacramento do matrimônio é apenas um acessório do contrato de que se pode separar, e o mesmo Sacramento consiste tão somente na Bênção nupcial.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

67º Pelo direito natural o vínculo matrimonial não é indissolúvel, e em muitos casos pode a autoridade sancionar o divórcio propriamente dito.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.

68º A Igreja não tem poder de estabelecer impedimentos dirimentes ao casamento; pertence isso à autoridade civil, pela quaI os impedimentos existentes têm de ser tirados.
Letras Apostólicas "Multiplices inter", de 10 de Junho de 1851.

69º A Igreja, no decurso dos séculos, começou a introduzir os impedimentos dirimentes, usando, não de um direito seu próprio, mas de um direito concedido pelo poder civil.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

70º Os Cânones do Concilio de Trento, que pronunciam anátema contra os que negam à Igreja a faculdade de estabelecer os impedimentos dirimentes, ou não são dogmáticos, ou devem ser considerados em relação ao poder concedido pela autoridade civil.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

71º A forma prescrita pelo mesmo Concílio não obriga debaixo de pena de nulidade, quando a lei civil estabelecer outra forma e quiser que, em virtude disto, seja válido o matrimônio.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

72º Foi Bonifácio VIII o primeiro que declarou que o voto de castidade, pronunciado no ato da ordenação, tornava nulo o matrimônio.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

73º Um contrato meramente civil pode, entre os cristãos, tornar-se um verdadeiro matrimônio; e é falso ou que o contrato matrimonial entre os cristãos sempre seja Sacramento, ou que esse contrato seja nulo, se não houver Sacramento.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.
Carta ao Rei da Sardenha, de 9 de Setembro de 1852
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.
Aloc. "Multis gravibusque", de 17 de Dezembro de 1860.

74º As causas matrimoniais e esponsalícias pertencem, por sua natureza, à jurisdição civil.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.

IX. ERROS ACERCA DO PRINCIPADO CIVIL DO PONTÍFICE ROMANO

75º Os filhos da Igreja cristã e católica discutem entre si acerca da compatibilidade da realeza temporal com o poder espiritual.
Letras Apostólicas "Ad Apostolicae", de 22 de Agosto de 1851.

76º A ab-rogação do poder temporal que possui a Sé Apostólica contribuiria muito para a felicidade e liberdade da Igreja.
Aloc. "Quibus quantisque", de 20 de Abril de 1849.

77º Na nossa época já não é útil que a Religião Católica seja tida como a única Religião do Estado, com exclusão de quaisquer outros cultos.
Aloc. "Nemo Vestrum", de 26 de Julho de 1855.

78º Por isso louvavelmente determinaram as leis, em alguns países católicos, que aos que para aí emigram seja lícito o exercício público de qualquer culto próprio.
Aloc. "Acerbissimum", de 27 de Setembro de 1852.

79º É falso que a liberdade civil de todos os cultos e o pleno poder concedido a todos de manisfestarem clara e publicamente as suas opiniões e pensamentos produza corrupção dos costumes e dos espíritos dos povos, como contribua para a propagação da peste do Indiferentismo.
Aloc. "Nunquam fore", de 15 de Dezembro de 1856.

80º O Pontífice Romano pode e deve conciliar-se e transigir com o progresso, com o Liberalismo e com a Civilização moderna.
Aloc. "Jamdudum cernimus", de 18 de Março de 1861.

13 de Outubro de 1917 - O Milagre do Sol




De um modo geral, os livros e a mídia mencionam "O Milagre do Sol" muito superficialmente, às vezes de modo incompleto e bastante resumido, sem destacar o colorido e o esplendor do acontecimento, e com esse procedimento, proporcionam uma ideia extremamente modesta que não realça o valor da ação de DEUS. Todavia, na realidade foi uma ocorrência única, deslumbrante e admirável, que impressionou a todas as pessoas. Por essa razão, decidimos buscar na origem as informações do fato, a fim de apresentar integralmente uma correta e minuciosa descrição do fenômeno utilizado pelo CRIADOR para atestar de maneira veemente e definitiva, a vinda de NOSSA SENHORA à Fátima e também, com a finalidade de autenticar e colocar em realce, o conteúdo da Missão da Divina Mãe.
Já haviam decorrido as duas primeiras aparições de NOSSA SENHORA em Fátima, quando Lúcia, no dia 13 de Julho de 1917 dirigiu à SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA este pedido:
- “Queria pedir-LHE para nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece.”  
NOSSA SENHORA respondeu:
- “Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou o que quero e farei um Milagre que todos hão de ver, para acreditar.”
O Milagre é Obra Divina e somente ele, é que coloca o sinete de DEUS nos acontecimentos, para provar a sua veracidade.
Dessa forma, a Missão de NOSSA SENHORA foi plenamente confirmada com a realização do Milagre do Sol, no dia 13 de Outubro de 1917. Ele foi anunciado com 92 dias de antecedência, a fim de que uma maioria de pessoas soubessem da profecia e se interessassem em conferir a realidade.
No dia e à hora anunciada, aconteceu o fenômeno nunca visto antes, presenciado e testemunhado por milhares de pessoas estarrecidas e maravilhadas com sua grandeza e inconfundível beleza.
Também foi testemunha o jornalista Avelino de Almeida, que fora enviado pelo diário “O Século”, para relatar as ocorrências daquele dia, na Cova da Iria. Assim, com os seus próprios olhos viu “as coisas espantosas” e nesse jornal diário, no dia 15 de Outubro, sob o título: “Como o Sol bailou ao meio dia em Fátima” descreveu todos os fatos deslumbrantes e memoráveis que teve a felicidade de presenciar.
Naquele dia começou a chover às 11 horas e na hora marcada chovia torrencialmente! Mas a multidão de 70.000 pessoas esperou pacientemente durante 4 horas a chegada dos Pastorzinhos. O terrível temporal molhou as roupas, o corpo e até os ossos de todos que estavam lá, deixando poças por todos os lados com uma espessura de até 10 centímetros de água, além de estar soprando um vento úmido, incômodo e muito frio. O Milagre fora marcado para as 12 horas. E exatamente à essa hora, as nuvens escuras carregadas de água de repente desmancharam-se no firmamento.
Apareceu em Fátima um maravilhoso arco-íris ao meio dia, muito embora pela posição do sol, os arco-íris somente acontecem pela manhã ou a tarde. Contudo ali estava um arco-íris especial e suas cores brilhavam com uma intensidade cem vezes superior a cor dos arco-íris normais, formando ao invés de um arco abobadado como habitualmente, formou uma grande faixa perpendicular com 12 metros de altura que cobriu homens, muros e árvores. A multidão pareceu ver por cima o céu azul, mas era apenas uma ilusão de ótica. Porque na realidade, as pessoas olhavam não para o sol planetário, atrelado a sua órbita, mas para um disco na mesma dimensão do sol, que parecia dourado a uns observadores, prateado a outros, ou ainda na cor de salmão, ou também, como se fosse um disco multicolorido que mudava a sua cor. Entretanto, o que espantava não era o disco, mas sim a faixa circular de luz ao redor dele, que crescia rapidamente de luminosidade e derramava o seu admirável brilho sobre a multidão, sem cegar os olhos, envolvendo todos os presentes numa luz difusa, como se fosse uma meia sombra sem, contudo, projetar uma imagem de sombra em qualquer direção! 
O disco começou a girar neste mar de luz celestial, imprimindo cada vez mais velocidade, aumentando o seu movimento de rotação, projetando feixes de luzes coloridas em todas as direções, que encantava a todos os observadores. Acontecimento lindo que fascinava e fazia lembrar as "rodinhas" (fogos de artifício), mas muito mais intenso e mais fantástico! E assim permaneceu durante 2 minutos. Depois parou. Fez uma pausa cerca de 1 minuto e logo recomeçou num segundo ato, mais vibrante e de uma maneira diferente da anterior. Sob o intenso campo luminoso do céu, o disco passou a se movimentar mudando continuamente de posição e também mudando de cor: dourado, prateado, azul, vermelho, amarelo canário, verde, etc., proporcionando a impressão mais bonita e surpreendente. Agora o disco começou a dar pulos, eram saltos triangulares com tão grande agilidade que imitava um ritmo, ou talvez uma dança popular. A seguir, depois de mostrar uma agitação oscilatória fez uma nova pausa. Assim permaneceu por mais 1 minuto e logo, recomeçou de modo impressionante o terceiro ato. O disco como um foguete, num aumento crescente de velocidade, se projetou em direção a terra sobre a multidão, como se fosse massacrar o povo, e de repente, evitando a colisão, parou próximo ao solo, que de tão perto dir-se-ia poder alcança-lo com as mãos, e retornou velozmente. Agora, mudando a sua trajetória, fazendo aquele movimento de zigzag em direção ao verdadeiro sol planetário, que por fim o absorveu, ou seja, ficaram superpostos, aparecendo só o disco solar que rompeu as nuvens mais altas com a força de seu brilho e iluminou toda a multidão. As muitas nuvens que existiam dispostas no espaço a milhares de metros de distância uma das outras, foram movidas com precisão sensacional e de tal maneira sobrepostas, que o sol verdadeiro perdeu o brilho e nenhuma das 70.000 pessoas que presenciavam o fenômeno, sofreu danos na retina ocular. Neste momento veio uma onda de calor e de repente, todas as roupas molhadas secaram-se numa fração de tempo e a água das poças e dos charcos evaporou-se. Em menos de 2 minutos a água pantanosa e a lama fria transformaram-se em suave beleza campestre! Essa onda de calor foi sentida agradavelmente por algumas pessoas e por outras nem sequer foi notada. Quando terminou aquela notável apresentação tudo estava completamente seco.
Muitos estavam profundamente comovidos. Rezavam em voz alta, pediam a DEUS o perdão de seus pecados. Contudo é importante ressaltar, que a extraordinária dança do disco solar não constituiu uma ameaça e nem trouxe terror em nenhum momento, mas trouxe sim, um estimulo vigoroso que convidava todas as pessoas a viverem com alegria e a cultivarem a fé com atenção, devoção e um fervoroso ardor.
O Milagre teve a duração de 12 minutos.
Na realidade, naquele dia estava acontecendo dois Milagres, ou melhor, um Milagre dentro do outro. Depois que NOSSA SENHORA se despediu, enquanto a multidão apreciava os fenômenos extraordinários com as manifestações mais impressionantes e surpreendentes do disco solar, e também se admiravam com a atuação da chuva, do vento e daquele maravilhoso festival de cores, os três Pastorzinhos receberam visitas inesquecíveis. Vamos acompanhar as palavras da Irmã Lúcia. Ela descreve em sua Quarta Memória as ocorrências do dia 13 de Outubro de 1917.
"Saímos de casa bastante cedo, contando com as demoras do caminho (as pessoas que se aproximavam, faziam pedidos, queriam orações ou narravam alguma ocorrência).O povo era em massa. A chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as mesmas cenas do mês passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova da Iria, junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o Terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e, em seguida, NOSSA SENHORA apareceu sobre a carrasqueira.
- “Que é que Vossemecê quer?” foi a pergunta de Lúcia.
-"Quero dizer-te que façam aqui uma Capela em Minha honra, que Sou a SENHORA DO ROSÁRIO, que continuem sempre a rezar o Terço todos os dias. A guerra (1ª Guerra Mundial) vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas." 
- "Eu tinha muitas coisas para LHE pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc."
- "Uns, sim; outros não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados."
E tomando um aspecto com as feições mais triste, ELA disse:
- “Não ofendam mais a DEUS NOSSO SENHOR que já está muito ofendido!”
Descreveu a Irmã Lúcia: "E abrindo as mãos, projetou feixes de luz que refletiram no Sol. E enquanto se elevava da azinheira para o Céu, continuava o reflexo da Sua própria luz a projetar-se no Sol.”
Lúcia emocionada gritou: "Olhem, olhem para o Sol". Depois ela explicou: "O meu fim não era chamar para si a atenção do povo, pois que nem sequer me dava conta da sua própria presença. Fi-lo apenas levada por um movimento interior que a isso me impeliu."
Naquele exato momento "as nuvens desapareceram num instante, a chuva terminou e apareceu o sol que tinha uma cor prateada e não cegava". E então, começaram as duas manifestações sobrenaturais distintas: a dos Pastorzinhos e aquela da multidão que foi apresentada acima.
Lucia continua a descrever:
-"Desaparecida NOSSA SENHORA na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do Sol, São José com o Menino JESUS e NOSSA SENHORA vestida de branco, com um manto azul. São José com o Menino JESUS pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi NOSSO SENHOR e NOSSA SENHORA que me dava a ideia de ser NOSSA SENHORA DAS DORES. NOSSO SENHOR parecia abençoar o Mundo da mesma forma que São José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda NOSSA SENHORA em forma semelhante a NOSSA SENHORA DO CARMO."
Esta extraordinária manifestação sobrenatural, representa mais um supremo esforço do Amor de DEUS, objetivando acordar a humanidade do torpor do pecado, atraindo todos os seus filhos à conhecerem a Verdade Cristã e a se dedicarem com entusiasmo e devoção, ao estabelecimento de uma sincera e permanente amizade com o SENHOR, procurando cultivar em plenitude, o direito, a justiça e o amor fraterno. A grandeza do acontecimento, testemunha a dimensão infinita do poder Divino e coloca na mente e no coração da humanidade, a imensidão da felicidade que a amizade e o amor de DEUS proporcionam a todos os seus filhos, que buscam a sua tão querida e eficaz proteção.

OS TRES PEQUENOS PASTORES
Aljustrel é uma pequena localidade próximo a Fátima, onde vivem poucas famílias. Entre elas residiam as famílias "Dos Santos" e "Marto" , que eram parentes. Maria dos Santos teve sete filhos sendo Lúcia de Jesus (22/03/1907) a última. Sua parenta Olímpia, esposa de Manuel Pedro Marto, eram os pais de Francisco (11/03/1908) e Jacinta (10/03/1910). Olímpia era irmã do pai de Lúcia, em consequência Lúcia, Francisco e Jacinta eram primos.
Muitos anos mais tarde, em carta escrita ao Bispo de Leiria, Lúcia descreve com pormenores comovedores a sua infância feliz. Sendo a filha mais nova foi muito mimada pelas irmãs mais velhas e era sempre lembrada nas brincadeiras, nos passeios e nas festas. Também se recorda com muita ternura e alegria do dia em que fez a primeira comunhão. Descreve assim: "Já vestida com o meu vestido branco, a minha irmã Maria levou-me à cozinha para pedir perdão aos meus pais, para lhes beijar a mão e lhes pedir a benção. Ao terminar esta cerimônia, a mãe fez-me as últimas recomendações. Disse-me o que eu devia pedir a NOSSO SENHOR, quando ELE estivesse dentro de meu peito e deixou-me com estas palavras: Sobretudo pede a NOSSO SENHOR que faça de ti uma Santa. Estas palavras ficaram gravadas de forma inesquecível no meu coração e foram as primeiras que eu disse a NOSSO SENHOR depois de o ter recebido".
A amizade com os primos Francisco e Jacinta cresceu quando eles foram juntos apascentar as ovelhas. Francisco era um menino tranquilo e um pouco calado. Só falava o absolutamente necessário, assim mesmo, depois de muita insistência. Gostava da solidão e só participava dos jogos quando era convidado. Gostava de tocar pífaro, de cantar e também tinha prazer em admirar a natureza. Sempre dava de comer as aves, brincava com os lagartos e as cobras pequenas, aos quais dava o leite das ovelhas. Jacinta tinha o gênio completamente diferente do irmão: era sensível e cuidadosa, era muito viva, esperta e teimosa, mas era também muito delicada e gentil. Ela também gostava dos animais, sempre brincava com os cordeirinhos e as vezes levava um para casa nas costas, para o animal não se cansar.
Durante as Aparições do Anjo, eles tiveram a oportunidade de sentir a magnitude do delicioso prazer de estar diante do sobrenatural, embora fosse apenas o prelúdio do extraordinário evento que estava para acontecer. Foi como se a visita do Anjo, fosse um meio de prepara-los, para o incomparável evento da suprema visita da MÃE DE DEUS.
Quando NOSSA SENHORA os visitou, transformou os seus dias numa felicidade sem limites. Foram inundados pela imensidão do Amor de DEUS e suas vidas se transformou numa doce e terna preocupação de querer retribuir, para agradar muito mais a DEUS e a VIRGEM MARIA. Rezavam com fervor, flagelavam o corpo e se submetiam a duras e difíceis penitencias, por iniciativa própria, objetivando consolar e desagravar o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, por causa de todas as blasfêmias, das maldades, das injúrias e de todos os pecados cometidos contra eles.
Mas também foi naquele período que eles viveram momentos de intensa angústia e aflições. À medida que os fatos se tornavam do conhecimento público, muita gente levada pelo despeito e pela inveja criticavam e zombavam deles, pois imaginavam que era mentira ou brincadeira de mal gosto das crianças. Os seus próprios pais e irmãos, inicialmente não acreditavam no que os filhos diziam e não lhes davam a mínima importância. Com a sucessão dos acontecimentos e a continuidade das Aparições foi que começaram a acreditar. O povo passou a acompanhá-los nos "encontros com NOSSA SENHORA", a princípio timidamente, somente movidos pela curiosidade, embora algumas pessoas ficassem impressionadas com a simplicidade e a espontaneidade daquelas crianças tão pequenas e com um comportamento tão adulto, e por isso mesmo, decidiram acreditar. Porque também elas começaram a perceber os fenômenos que aconteciam na natureza, quando a MÃE DE DEUS conversava com as crianças: o sol perdia o brilho e podia-se ver a lua e as estrelas; uma cor amarelada envolvia toda a atmosfera; uma pequena nuvem envolvia a azinheira onde estava a VIRGEM MARIA e os videntes; e também, caía do Céu uma chuva de flocos de neve que não chegava a tocar o chão, mas se desfazia a certa altura. Mas, as autoridades, pelo contrário, não estavam satisfeitas com aquela aglomeração e movimentação de pessoas na Cova da Iria e por isso, tentaram por diversos modos proibir a frequência do povo. Como nada conseguiram, decidiram pressionar as crianças: primeiro com interrogatórios forçados e depois com ameaças, chegando ao absurdo de prendê-los na cadeia municipal, numa cela junto com malfeitores.
Depois das Aparições, a vida dos três priminhos resumiu-se no ascendente propósito de intensificar as suas orações, penitências e jejuns, suplicando pela conversão dos pecadores, para consolar o Coração do SENHOR DEUS.
Por ordem de seus pais, somente a Lúcia continuou pastoreando o rebanho de ovelhas, até uma certa época, quando decidiu ir para o Convento. A Jacinta e o Francisco ficaram com a tarefa de atender as pessoas que os procuravam, respondendo todas as perguntas que faziam sobre as Aparições. Mas frequentemente eles desapareciam, sem que ninguém os pudesse encontrar. É possível que fossem para a gruta do Monte Cabeço e em companhia de Lúcia, ficassem rezando o Terço, a Oração do Anjo e fazendo sacrifícios que só NOSSO SENHOR conhece. Quando frequentavam a escola, aproveitavam a proximidade da Igreja, para visitar JESUS Sacramentado. Jacinta queria falar e passar muito tempo ao lado de "JESUS escondido". Francisco também, até faltava as aulas e permanecia na Igreja, ao lado de "JESUS escondido".
No dia 23 de Dezembro de 1918, Francisco e Jacinta foram atacados por uma epidemia de broncopneumonia que tinha se alastrado por toda a Europa e adoeceram gravemente. O caso do Francisco foi mais complicado e o organismo dele não resistiu. Recebeu a Primeira Comunhão Eucarística com "grande lucidez e piedade" e ficou radiante de felicidade. Disse para a Jacinta:
- "Hoje sou mais feliz do que tu, porque tenho dentro de meu peito "JESUS escondido".
Faleceu no dia seguinte, sexta-feira, dia 4 de Abril de 1919, às 22 horas, com o rosto iluminado por um sorriso angélico, sem agonia e nem dores.
Lúcia e Jacinta sentiram muito a morte dele, principalmente a irmãzinha, por estar com o organismo enfraquecido pela pneumonia. Nas semanas seguintes, Jacinta contraiu uma pleurisia purulenta, seguida de outras complicações, que por conselho médico, foi levada para o Hospital de Vila Nova de Ourém. Muito pouco resolveu a internação, voltou para casa com uma ferida aberta no peito, à qual devia fazer curativos diários, e por causa dela sofria muito. Guardava silêncio, não queria demonstrar o seu sofrimento, porque oferecia todas as suas dores pelos pecadores, para reparar o Coração Imaculado de Maria, por amor a JESUS e pelo Santo Padre. Viajou para Lisboa com a mãe, por insistência do Dr. Eurico Lisboa, que visitava Aljustrel em meados de Janeiro de 1920, porque viu que ela necessitava de um tratamento mais especializado.
Na capital portuguesa, pelo fato de seu estado de saúde ser extremamente grave, foi rejeitada por diversas Casas de Saúde e só encontrou hospedagem na pobreza do Orfanato de NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, na rua da Estrela, 17. Conta a Irmã Superiora, Madre Maria da Purificação Godinho, que imediatamente reconheceu nela o extraordinário tesouro que o Céu havia colocado em suas mãos. Sua paciência, o notável espírito de oração e sua obediência, aliadas a uma inocência belíssima e a uma modéstia nata, influiu diretamente no comportamento das outras crianças.
Recebia a Sagrada Comunhão diariamente e sentia-se feliz de viver embaixo do mesmo teto onde estava JESUS Sacramentado.
Por mais de uma vez recebeu a visita de NOSSA SENHORA. Como não tinha mais a Lúcia e o Francisco para confidenciar-lhes os seus segredos, escolheu a Madre Godinho, a quem chamava de Madrinha. Dentre as muitas anotações feitas pela Madre das conversas da Jacinta com nossa MÃE SANTÍSSIMA, relacionamos o seguinte:
"Os pecados que levam mais almas para o Inferno, são os pecados da carne. Hão de vir umas modas que vão ofender muito a NOSSO SENHOR. As pessoas que servem a DEUS não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. NOSSO SENHOR é sempre o mesmo. Os pecados do mundo são muito grandes. As guerras são castigos por causa dos pecados do mundo. NOSSA SENHORA já não consegue sustar o braço de seu FILHO sobre o mundo. É preciso fazer penitência."
No dia 2 de Fevereiro de 1920, depois de se confessar e comungar, foi dizer adeus a "JESUS escondido" no sacrário da pequena Igreja do Orfanato, porque despedia-se da Casa de NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, para ser internada no Hospital D. Estefânia, para ser operada.
A operação não deu resultado. Na sexta-feira, dia 20 de Fevereiro, pediu os últimos Sacramentos, porque sentia-se muito mal. As 22horas e 30minutos deste dia NOSSA SENHORA veio buscá-la para o Céu. Jacinta morreu com muita paz, assistida apenas por uma enfermeira.
Lúcia ficou muito triste quando soube do acontecimento, principalmente porque estava muito longe e não pode acompanhar a doença da Jacinta e consolar os seus sofrimentos.
A Jacinta e o Francisco foram beatificados pelo Papa João Paulo II em cerimônia solene no Santuário de Fátima no dia 13 de Maio de 2000.
Agora, Lúcia estava só sem os seus queridos priminhos. Conforme tinha anunciado NOSSA SENHORA, ela ainda ficaria algum tempo aqui para divulgar e propagar a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Lúcia viveu uma existência de labor, fazia o trabalho de casa e ajudava a mãe nas arrumações e na costura. Mas em virtude de sua popularidade, por causa das Aparições, todos queriam vê-la, conversar com ela, pedir orações e inclusive, queria que ela pegasse em determinados objetos os quais depois eram zelosamente guardados pelos possuidores como recordação. Visitantes apareciam em quantidade e até vinham em peregrinação com o objetivo de estar com ela. Ela não se acostumava com aquela evidência, e também, com aquelas constantes solicitações, porque representava um sacrifício monstruoso, muito além de seu limite pessoal. Por isso, as vezes entristecia e não poucas vezes, chorava às escondidas. Permaneceu nesta "roda viva", em companhia dos pais e irmãos, até maio de 1920.
Em 17 de Maio foi admitida no Asilo de Vilar, na cidade do Porto, dirigido pelas irmãs religiosas de Santa Dorotéia, onde ouviu a voz de NOSSO SENHOR que a chamou para a vida religiosa. Foi para Tuy na Espanha e a 2 de Outubro de 1926, entrou no noviciado do Instituto das Irmãs de Santa Dorotéia. Com o hábito da irmandade, recebeu o nome de Maria Lúcia das Dores e foi destinada aos trabalhos domésticos. Fez a profissão religiosa dos votos temporários a 3 de Outubro de 1928 e seis anos depois, em 3 de Outubro de 1934, fez os votos perpétuos.
Com a eclosão da revolução espanhola em 1936, ela com outras irmãs, foram transferidas para o Colégio de Sardão, em Vila Nova de Gaia, no Porto. Ali recomeçaram as entrevistas, as constantes visitas, os inoportunos e exaustivos interrogatórios, que fizeram com que ela decidisse deixar as Religiosas de Santa Dorotéia e entrar no Convento de Santa Teresa, para viver isolada do mundo, no claustro. E conseguiu obter, depois de várias tentativas, a desejada autorização diretamente de Sua Santidade o Papa Pio XII.
No dia 23 de Março de 1948 entrou no Carmelo de Coimbra. A 13 de Maio vestiu o hábito das Carmelitas Descalças e a 31 de Maio de 1949, emitiu a profissão solene com o nome de "Irmã Maria Lúcia de JESUS e do Coração Imaculado".
Desenvolveu uma atividade notável dentro do Convento em benefício da conversão dos pecadores, incrementou a difusão e a veneração ao Imaculado Coração de Maria, propagou e estimulou a reza cotidiana do Terço, se empenhou em orações pela saúde e proteção de Sua Santidade, o Santo Padre o Papa e também, procurou divulgar com intensidade a Comunhão Reparadora nos cinco primeiros sábados de cada mês para consolo e desagravo do Sagrado Coração de JESUS e do Imaculado Coração de Maria. Dedicou sua vida a oração, à contemplação e a penitência. Também exercitou grande atividade literária e manteve uma imensa correspondência. Utilizava uma maquina de escrever elétrica com um monitor com muitas memórias. Escreveu as Suas Memórias (2 volumes) e Apelos da Mensagem de Fátima, que foram traduzidos em diversos idiomas. Gostava também de confeccionar trabalhos manuais. Com habilidade e beleza, fabricou milhares de terços. Faleceu com 97 anos de idade no dia 13 de Fevereiro de 2005, no Carmelo português de Santa Teresa, em Coimbra. NOSSA SENHORA veio buscá-la às 17horas e 25minutos. O jornal da Santa Sé "L'Osservatore Romano" escreveu recordando a carmelita: Fecharam-se docemente aqueles olhos que viram os OLHOS da VIRGEM. Todas as realidades do país se detiveram para render homenagem à grandiosa figura de uma pastorinha que com a "força escondida" da oração e da fé, soube tocar os corações de todos.



"O Século" noticia:
O MILAGRE DO SOL

O jornal "O Século" publica um artigo de Avelino de Almeida, onde este descreve o que presenciou na Cova da Iria no dia 13 de Outubro de 1917.

COISAS ESPANTOSAS!
COMO O SOL BAILOU AO MEIO DIA EM FÁTIMA
 As aparições da Virgem - Em que consistiu o sinal do céu - Muitos milhares de pessoas afirmam ter-se produzido um milagre - A guerra e a paz
Lucia, de 10 anos; Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, que na charneca de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourem, dizem ter falado com a Virgem Maria
 
OUREM, 13 de Outubro
Ao saltar, após demorada viagem, pelas dezasseis horas de honrem, na estação de Chão de Maçãs, onde se apearam tambem pessoas religiosas vindas de longes terras para assistir ao "milagre", perguntei, de chofre, a um rapazote do "char-á-bancs" da carreira se já tinha visto a Senhora. Com seu sorriso sardoico e o olhar enviezado, não hesitou em responder-me:

- Eu cá só lá vi pedras, carros, automoveis, cavalgaduras e gente!

Por um facil equivoco, o trem que nos devia conduzir, a Judah Ruah e a mim, até à vila, não apareceu e decidimo-nos a calcoffiar corajosamente cêrca de duas leguas por não haver logar para nós na diligência e estarem, desde muito, afreguezadas as carriotas que aguardavam passageiros. Pelo caminho, topámos os primeiros ranchos que seguiam em direção ao local santo, distante mais de vinte kilometros bem medidos.

Homens e mulheres vão quasi todos descalços - elas com saquiteis à cabeça, sobrepujados pelas sapatorras; eles abordoando-se a grossos vara-paus e cautelosamente munidos tambem de guarda-chuva. Dir-se-hiam, em geral, alheados do que se passa à sua volta, n"um desinteresse grande da paizagem e dos outros viandantes, como que imersos em sonho, rezando n"uma triste melopeia o terço. Uma mulher rompe com a primeira parte da ave-maria, a saudação; os companheiros, em côro, continuam com a segunda parte, a suplica. N"um passo certo e cadenciado, pisam a estrada poeirenta, entre pinhaes e olivedos, para chegarem antes que se cerre a noite ao sitio da aparição, onde, sob o relento e a luz fria das estrelas, projetam dormir, guardando os primeiros Jogares junto da azinheira bemdita - para no dia de hoje verem melhor.

À entrada da vila, mulheres do povo a quem o meio já infêtou com o virus do céticismo, comentam, em tom de troça, o caso do dia:

- Então vaes vêr ámanhã a santa?

- Eu, não. Se ela ainda cá viesse!

E riem-se com gosto, emquanto os devotos proseguem indiferentes a tudo o que não seja o objetivo da sua romagem. Em hourem só por uma amabilidade extrema se encontra aposentadoria. Durante a noite, reunem-se na praça da vila os mais variados veículos conduzindo crentes e curiosos sem que faltem velhas damas vestidas de escuro, vergadas já ao peso dos anos, mas faiscando-lhes nos olhos o lume ardente da fé que as animou ao ato corajoso de abandonar por um dia o inseparavel cantinho da sua casa. Ao romper d"alva, novos ranchos surgem intrépidos e atravessam, sem pararem um instante, o povoado, cujo silencio quebram com a harmonia dos canticos que vozes femininas, muito armadas, entoam n"um violento contraste com a rudeza dos tipos...

O sol nasce, mas o cariz do céu ameaça tormenta. As nuvens negras acastelam-se precisamente sobre as bandas de Fátima. Nada, todavia, detem os que por todos os caminhos e servindo-se de todos os meios de locomoção para lá confluem. Os automoveis luxuosos deslisam vertiginosamente, tocando as buzinas; os carros de bois arrastam-se com vagar a um lado da estrada; as galeras, as vitorias, os caleches fechados, as carroças nas quaes se improvisaram assentos vão ajoujados a mais não poderem. Quasi todos levam com os farneis, mais ou menos modestos, para as bocas cristãs a ração de folhelho para os irracionaes que o "poverelo" de Assis chamava nossos irmãos e que cumprem valorosamente a sua tarefa... Tilinta uma ou outra guiseira, vê-se uma carrocinha adornada de buxo; no emtanto, o ar festivo é discreto, as maneiras são compostas e a ordem absoluta... Burrinhos choutam à margem da estrada e os ciclistas, numerosissimos, fazem prodígios para não esbarrar de encontro aos carros.

Pelas dez horas, o ceu tolda-se totalmente e não tardou que entrasse a chover a bom chover. As cordas de agua, batidas por um vento agreste, fustigam os rostos, encharcando o macadame e repassando até os ossos os caminhantes desprovidos de chapeus e de quaesquer outros resguardos. Mas ninguem se impaciente ou desiste de proseguir e, se alguns se abrigam sob a copa das arvores, junto dos muros das quintas ou nas distanciadas casas que se debruçam ao longo do caminho, outros continuam a marcha com uma impressionante resistencia, notando-se algumas senhoras cujos vestidos colados aos corpos, por efeito do impeto e da pertinácia da chuva, lhes desenham as fórmas como se tivessem saído do banho!

O ponto da charneca de Fátima, onde se disse que a Virgem aparecera aos pastorinhos do logarejo de Aljustrel, é dominado n"uma enorme extensão pela estrada que corre para Leiria, e ao longo da qual se postaram os veículos que lá conduziram os peregrinos e os mirones. Mais de cem automoveis alguem contou e mais de cem bicicletas, e seria impossível contar os diversos carros que atravancaram a estrada, um d"eles o auto-omnibus de Torres Novas, dentro do qual se irmanavam pessoas de todas as condições sociaes.

Mas o grosso dos romeiros, milhares de creaturas que foram de muitas leguas ao redor e a que se juntaram fieis idos de varias províncias, alemtejanos e algarvios, minhotos e beirões, congregam-se em tomo da pequenina azinheira que, no dizer dos pastorinhos, a visão escolhera para seu pedestal e que podia considerar-se como que o centro de um amplo circulo em cujo rebordo outros espectadores e outros devotos se acomodam. Visto da estrada, o conjunto é simplesmente fantástico. Os prudentes camponios, abarracados sob os chapeus enormes, acompanham, muitos d"eles, o desbaste dos parcos farneis com o conduto espiritual dos hinos sacros e das dezenas do rosario.

Não ha quem tema enterrar os pés na argila empapada, para ter a dita de ver de perto a azinheira sobre a qual ergueram um tosco portico em que bamboleiam duas lanternas... Altenam-se os grupos que cantam os louvores da Virgem, e uma lebre, espavorida, que galga matagal em fóra, apenas desvia as atenções de meia duzia de zagaletes que a alcançam e prostram à cacetada...

E os pastorinhos? Lucia, de 10 anos, a vidente, e os seus pequenos companheiros, Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, ainda não chegaram. A sua presença assinala-se talvez meia hora antes da indicada como sendo a da aparição. Conduzem as rapariguinhas, coroadas de capelas de flôres, ao sitio em que se levanta o portico. A chuva cae incessantemente mas ninguem desespera. Carros com retardatários chegam à estrada. Grupos de freis ajoelham na lama e a Lucia pede-lhes, ordena que fechem os chapeus. Transmite-se a ordem, que é obedecida de pronto, sem a minima relutância. Ha gente, muita gente, como que em extase; gente comovida, em cujos labios secos a prece paralisou; gente pasmada, com as mãos postas e os olhos borbulhantes; gente que parece sentir, tocar o sobrenatural...

A criança afirma que a Senhora lhe falou mais uma vez, e o céu, ainda caliginoso, começa, de subito, a clarear no alto; a chuva pára e presente-se que o sol vae inundar de luz a paizagem que a manhã invernosa tomou ainda mais triste...

A hora antiga" é a que regula para esta multidão, que calculos desapaixonados de pessoas cultas e de todo o ponto alheias ás influencias misticas computam em trinta ou quarenta mil creaturas... A manifestação miraculosa, o sinal visivel anunciado está prestes a produzir-se - asseguram muitos romeiros... E assiste-se então a um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d"ele. Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possivel fitar-lhe o disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar:

- Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!

Aos olhos deslumbrados d"aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e que, palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas - o sol «bailou», segundo a tipica expressão dos camponeses.. Empoleirado no estribo do auto-omnibus de Torres Novas, um ancião cuja estatura e cuja fisionomia, ao mesmo tempo doce e energica, lembram as de Paul Déroulède, recita, voltado para o sol, em voz clamorosa, de principio a fim, o Credo. Pergunte quem é e dizem-me ser o sr. João Maria Amado de Melo Ramalho da Cunha Vasconcelos.

Vejo-o depois dirigir-se aos que o rodeiam, e que se conservaram de chapeu na cabeça, suplicando-lhes, veementemente, que se descubram em face de tão extraordinária demonstração da existência de Deus. Cenas idênticas repetem-se n"outros pontos e uma senhora clama, banhada em aflitivo pranto e quasi n"uma sufocarão:

- Que lastima! Ainda ha homens que se não descobrem deante de tão estupendo milagre!

E, a seguir, perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior numero confessa que viu a tremura, o bailado do sol; outros, porém, declaram ter visto o rosto risonho da propria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como uma roda de fogo de artificio, que ele baixou quasi a ponto de queimar a terra com os seus raios... Ha quem diga que o viu mudar sucessivamente de côr...

São perto de quinze horas.

O ceu está varrido de nuvens e o sol segue o seu curso com o esplendor habitual que ninguem se atreve a encarar de frente. E os pastorinhos? Lucia, a que fala com a Virgem, anuncia, com ademanes teatraes, ao colo de um homem, que a transporta de grupo em grupo, que a guerra terminára e que os nossos soldados iam regressar... Semelhante nova, todavia, não aumenta o jubilo de quem a escuta. O sinal celeste foi tudo. Ha uma intensa curiosidade em vêr as duas rapariguinhas com suas grinaldas de rosas, ha quem procure oscular as mãos das «santinhas», uma das quaes, a Jacinta, está mais para desmaiar do que para danças", mas aquilo por que todos anciavam - o sinal do ceu - bastou a satisfazel-os, a radical-os na sua fé de carvoeiro. Vendedores ambulantes oferecem os retratos das crianças em bilhetes postaes e outros bilhetes que representam um soldado do Corpo Expedicionario Portuguez "pensando no auxilio da sua protetora para salvação da Patria" e até uma imagem da Virgem como sendo a figura da visão...

Bom negocio foi esse e decerto mais centavos entraram na algibeira dos vendedores e no tronco das esmolas para os pastorinhos do que nas mãos estendidas e abertas dos leprosos e dos cegos que, acotevelando-se com os romeiros, atiravam aos ares seus gritos lancinantes...

O dispersar faz-se rapidamente, sem dificuldades, sem sombra de desordem, sem que fosse mister que o regulasse qualquer patrulha da guarda. Os peregrinos que mais depressa se retiram, correndo estrada fóra, são os que primeiro chegaram, a pé e descalços com os sapatos à cabeça ou dependurados nos varapaus. Vão, com a alma em lausperene, levar a boa nova aos logarejos que não se despovoaram de todo. E os padres? Alguns compareceram no local, sorridentes, enfileirando mais com os espectadores curiosos do que com os romeiros avidos de favores celestiaes. Talvez um ou outro não lograsse dissimular a satisfação que no semblante dos triunfadores tantas vezes se traduz...

Resta que os competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados - ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já agora celebrada charneca.





Avelino de Almeida
Publ.: "O Século", Lisboa (edição da manhã) 37 (l2.876) 15 Out. 1917, p. 1, cols. 6-7; p. 2, col. 1.














11/10/2012

N. S. da Conceição Aparecida - A Padroeira do Brasil - História da Imagem



No início de Outubro de 1717, chegou a notícia de que o novo Governador da Província de São Paulo e Minas passaria, em sua viagem, pela vila de Guaratinguetá.

As autoridades recrutaram os pescadores da vila a fim de recolherem no Rio Paraíba uma grande quantidade de peixes que permitisse fazer um banquete para receber o Governador. Vários barcos de pesca se incumbiram da tarefa, no dia 16 de Outubro.

Após 12 horas no rio, que normalmente tinha peixes em abundância, quase todos desistiram, ficando apenas 2 canoas. Elas pertenciam a Domingos Alves Garcia e seu filho João Alves, e a Felipe Pedroso, cunhado de Domingos e tio de João.

Considerando que estava anoitecendo, tentaram mais uma vez jogar as redes. João Alves recolheu a rede vazia, exceto por uma pequena imagem sem cabeça, de uma santa, com cerca de 40 cm.

Confusos, eles a embrulharam em suas camisas e tentaram novamente jogar a rede. A surpresa maior veio então: a pequenina cabeça da escultura, muito menor do que as malhas da rede, foi trazida ao barco, sem que eles entendessem como não havia escapado da rede e caído nas águas.

Novamente colocaram a imagem com cuidado envolta em suas roupas e lançaram a rede ao rio. Para surpresa de todos, a rede ficou tão pesada, cheia de peixes, que, em apenas dois lançamentos, eles encheram os barcos, e voltaram à vila.

Antes de se dirigir à Câmara, entregaram os pedaços da estátua a Silvana da Rocha Alves, esposa de Domingos, irmã de Felipe e mãe de João, que reuniu as 2 partes com cera, e a colocou num pequeno altar de família, agradecendo à Nossa Senhora o milagre dos peixes que rendeu o suficiente para sua família se estabelecer.

A estátua é feita de terracota, argila que foi modelada e queimada em forno, e mede 39 cm de altura. Pesa cerca de 4 quilos. Pode ter sido originalmente pintada, mas depois de ficar anos no leito do rio o material escureceu, adquirindo uma cor castanho dourada.

Conseguiu-se analisar a argila de que foi feita, e constatou-se que se origina da região de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, mas a autoria da escultura é obscura. Sabe-se que na época vivia em Santana do Parnaíba um monge beneditino escultor, Frei Agostinho de Jesus, cujo estilo é bem definido: lábios sorridentes, covinha no queixo, flores em relevo nos cabelos e broche com perolas no cabelo, e todos estes detalhes existem na imagem aparecida do rio.

Especialistas em arte barroca reconhecem nela o estilo seiscentista.
As duas partes da imagem foram definitivamente reunidas no ano de 1946, quando um especialista as uniu com um pino de ouro interno e completou o acabamento externo.

A estátua passou por uma destruição considerável em 1978, quando, num atentado, foi quebrada em 200 fragmentos. Foi totalmente reconstituída pelas mãos da especialista em restauração do Museu de Arte de São Paulo, Maria Helena Chartuni.

A cor de canela da escultura tem sido interpretada como um vínculo simbólico com a mistura racial da população brasileira, e de fato um dos primeiros milagres operados por intercessão de Nossa Senhora Aparecida foi a libertação de escravos acorrentados.

Ainda hoje é possível ver as correntes que se soltaram sozinhas dos escravos, no teto da Sala dos Milagres da Basílica. 

asperge me


Asperges me, Domine, hyssopo, et mundabor:
lavavis me, et super nivem dealbabor.
Ps. 50 Miserere mei, Deus, secundum magnam
misericordiam tuam.
Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.
Sicut erat in principo, et nunc, et semper: et in
sæcula sæculorum. Amen.