Rebelião de Shimabara e Amakusa: Os últimos samurais cristãos
A rebelião deve seu nome à cidade de Shimabara, localizada na ilha de Kyushu, ao sul do país. A região passou a ser vista pelo governo como uma ameaça à unidade do Japão devido a sua grande população católica. A religião era uma influência direta dos portugueses, cujo primeiro contato com os japoneses tinha sido justamente em Kyushu, onde aportaram em 1543, na cidade de Tanegashima. E o porto de Nagasaki, na parte oeste da mesma ilha, foi a principal porta de entrada de embarcações vindas de Portugal entre os séculos 16 e 17.
Apelidados de nanban-jin (a tradução literal é “bárbaros do sul”), os portugueses logo tomaram conta das ruas de Nagasaki. Senhores feudais de Kyushu tornaram-se cristãos para ganhar a simpatia do povo e dos comerciantes estrangeiros. Em princípio, isso não afetava o poder central. Oda Nobunaga, que governou o Japão de 1567 a 1582, chegou até a incentivar o trabalho dos jesuítas para enfraquecer a influência dos monges budistas (com quem disputava poder político).
Mas...a pregação da necessidade de ser batizado e ser membro da unica Igreja de Cristo começou a bater de frente com a hierarquia imposta pelo xogum – desde o século 12, esse era o nome da autoridade que detinha o poder militar, executivo e judiciário no Japão. Em 1603, o xogum Ieyasu Tokugawa havia tomado o poder no país, unificando à força as várias partes do território, controladas por diferentes senhores feudais. Preocupado com a ascensão da religião trazida pelos portugueses, Ieyasu levou seu filho e sucessor, Hidetada, a proibir o cristianismo em 1614. Naquela época, já havia cerca de 300 mil japoneses convertidos.
A proibição, entretanto, foi ignorada. Contrariado, Hidetada mandou executar quatro missionários estrangeiros em 1617, no primeiro ato contra cristãos no Japão. Pouco depois, em 1622, começaram os massacres. Naquele ano, 22 cristãos foram queimados e 30, decapitados. Dois anos depois, a população de Nagasaki já tinha caído de 50 mil para 30 mil habitantes devido às perseguições. Mas os executados tornavam-se mártires e a repressão teve efeito contrário ao pretendido pelas autoridades: a fé dos camponeses só aumentava.
Em Shimabara os conflitos se acentuaram em 1630, quando Shigeharu Matsukura tornou-se o senhor feudal que controlava a cidade. Sua fama era de repressor: ele ordenava aos soldados que ateassem fogo a cristãos vestidos de casacos de palha de arroz. Além disso, implantou um imposto que cobrava dos lavradores 80% do produzido. Esse foi o estopim da rebelião de Shimabara. “Os lavradores passavam fome, havia muita pobreza”, diz Koichi Mori, especialista em cultura japonesa da Universidade de São Paulo. “A população havia sobrevivido a calamidades naturais como seca, má safra e terremotos.”
Amakusa Shirō (天草 四郎), foi um ronin japones. Shiro, com apenas dezesseis anos, torna-se líder da Rebelião Shimabara, escolhido entre os outros quatro ronin que participaram da insurreição, por uma profecia atribuída a São Francisco Xavier, encontrada no texto deixado por um missionário jesuíta, expulso do Japão vinte e cinco anos antes, e contida em uma poesia onde se dizia que chegaria um rapaz "ame no tsukai" (em português "enviado do céu") que teria evangelizado o Japão.
Estátua de Amakusa Shiro no castelo Hara |
Da escolha do líder até o fim de 1637, vários levantes ocorreram. Camponeses atearam fogo a casas, destruíram templos budistas e agrediram oficiais do governo. Em 5 de dezembro, Shiro Amakusa e os 'rebeldes' invadiram o castelo abandonado de Hara, a 32 quilômetros de Shimabara. O local foi escolhido porque ficava em um cume e era cercado por fossos de água, o que facilitava o isolamento e a defesa.
Vários livros de história descrevem que, em momentos de desespero, os camponeses se apoiavam na fé, levantando cruzes e bandeiras brancas. Para adquirir coragem, rezavam e gritavam os nomes de Jesus Cristo e da Virgem Maria. Em uma escavação arqueológica na fortaleza, iniciada em 1992 com o patrocínio da prefeitura de Nagasaki, foram encontradas imagens de bronze de Jesus, Maria e São Francisco Xavier, além de cruzes e rosários.
Dos 37 mil "rebeldes" que se reuniram em Shimabara, quase metade eram mulheres e crianças. Entre os cerca de 20 mil homens, uma pequena parte eram ronins (como eram chamados os samurais desempregados, que não estavam servindo a nenhum senhor). Era considerado como um grande ato de penitencia ser ronin.
Tomando conhecimento da revolta, o xogunato enviou tropas do Daimiô Itakura Shigemasa que, para tentar deter a revolta, aprisionou e torturou a mãe e as irmãs de Shiro, o qual decide entrincheirar-se dentro do castelo de Hara e combater o Daimiô com a ajuda dos camponeses católicos que o seguiam. No castelo se encontravam mais de 37.000 pessoas, sendo que cerca da metade era composta por esposas e filhos dos “soldados” que defenderam o castelo com armas leves, contra um exército regular composto por mais de 125.000 soldados comandados por Itakura Shigemasa e por Matsudaira Nobutsuna, este último, homem de confiança do xogum Iemitsu,[1] veio a substituir o primeiro depois de sua morte, que se deu durante um confronto com os insurretos. Shiro conseguiu defender-se por muito tempo, derrotando os adversários, inclusive conseguindo a morte de Itakura Shigemasa. Matsudaira Nobutsuna, sucendendo Itakura Shigemasa, decidiu aproveitar-se de seus aliados holandeses, fazendo-os destruir, com suas embarcações, os muros do castelo e em fim ensejando uma batalha final, onde Matsudaira Nobutsuna conseguiu derrotar os insurretos liderados por Shiro, visto que esses estavam cansados, com fome e sem munição. Amakusa e todos aqueles que estavam no castelo, incluidos as mulheres e crianças, foram decaptados. A cabeça do jovem ronin ficou exposta, sobre uma estaca, em Nagasaki como advertência aos "rebeldes" católicos.
Christus Vincit, Christus Regnat, Christus Imperat!
Extraído de guiadoestudante e wikipedia com modificações do texto original
Fonte: http://brasildogmadafe.blogspot.com.br/2016/01/rebeliao-de-shimabara-e-amakusaos.html
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