Pedaços da Imagem de Na. Sra. Aparecida,
após o sacrílego atentado em 1978
Paulo Roberto Campos
24 de fevereiro de 2017 — dia lutuoso na História do Brasil. Dia
em que nossa Rainha e Padroeira foi profanada. Ela foi conduzida forçadamente a
participar de um desfile de horrores e imoralidades.
Uma imagem de
Nossa Senhora Aparecida foi blasfemamente levada ao Sambódromo da capital
paulista para desfilar na Escola de Samba Unidos da Vila Maria. Entre diversas
outras condutas hediondas, uma componente de tal escola, vestida como se fosse
Nossa Senhora… sambava. Pior. Este horror foi promovido por alguns prelados da
própria Igreja Católica. E muitas outras autoridades eclesiásticas foram
complacentes. A CNBB, cruzando os braços, não fez nada para impedir tal
sacrilégio.
Há quase 40 anos,
um outro sacrílego atingiu brutalmente a veneranda imagem de nossa Rainha e
Mãe: no dia 16 de maio de 1978 sua imagem foi quebrada por um seguidor de uma
igreja protestante. Este arrancou a imagem de seu altar e a espatifou. A
bendita imagem, jogada ao chão, ficou reduzida a 200 pedaços [foto
abaixo].
Naqueles idos, os
fieis católicos de norte a sul do Brasil ficaram transtornados e fizeram atos
de reparação.
E hoje, com essa
terrível afronta a sagrada imagem de Nossa Senhora Aparecida, levada no
carnaval pornográfico do Sambódromo, como reagem os católicos? Vamos aguardar
os próximos dias para se avaliar adequadamente a possível reação e os eventuais
atos de desagravo.
Em reparação à
Santa Mãe de Deus, tão gravemente afrontada neste carnaval, transcrevemos
abaixo um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira (publicado na “Folha de S. Paulo”
em 29 de maio de 1978), no qual ele expressa a dor que lhe causou a notícia do
sacrílego ato protestante.
A Imagem quese partiu
Plinio
Corrêa de Oliveira
O Brasil, há mais
de dois séculos, venera Nossa Senhora como sua especial Padroeira. E essa
veneração se dirige a Ela sob a invocação de Imaculada Conceição Aparecida.
— Nossa Senhora
Aparecida!
A exclamação acode
freqüentemente ao espírito dos brasileiros. E sobretudo nas grandes ocasiões.
Pode ser o brado de uma alma aflita que se dirige a Deus pela intercessão da
Medianeira que nada recusa aos homens, e à qual Deus, por sua vez, nada recusa.
Pode igualmente ser a exclamação de uma alma que não se contém de alegria e
extravasa seu agradecimento aos pés da Mãe, de quem nos vêm todos os
benefícios.
A história da pequena
imagem de terracota escura — com o seu grande manto azul sobre o qual
resplandecem pedras preciosas, e cingindo à fronte a coroa de Rainha do Brasil
— encheria livros. Esses livros, se fossem concebidos como eu os imagino,
deveriam conter não só os insignes fatos históricos que a Ela se prendem, mas
também, em apêndice, as legendas que a piedade popular a respeito deles teceu.
É da amálgama de uma coisa e outra — história séria e incontestável, e legenda
graciosa — que resulta a imagem global da Aparecida como ela existe no coração
de todos os brasileiros:
— o escravo que
rezava aos pés da Senhora concebida sem pecado original, ao mesmo tempo que
dele se acercava o dono inclemente, quando as algemas se rompem, o coração do
amo que se comove etc.;
— o Príncipe
Regente que saudava a imagem no decurso do trajeto que o levava do Rio a São
Paulo, onde iria proclamar a Independência e fazer-se imperador;
— o ato do novo
monarca colocando oficialmente o Brasil sob a proteção da Virgem Imaculada
Aparecida;
— a coroação da
imagem com a riquíssima coroa de ouro cravejada de brilhantes, oferecida anos
antes pela Princesa Isabel, coroação feita em 8 de setembro de 1904 pelos
bispos da Província Meridional do Brasil e de outros pontos do País, em razão
do decreto do Cabido da Basílica Vaticana, aprovado por São Pio X;
— o velho Venceslau
Brás, ex-presidente da República, assistindo piedoso, no jubileu de prata da
coroação da imagem, à missa hieraticamente celebrada por D. Duarte Leopoldo e
Silva, reluzente daquela como que majestade episcopal tão caracteristicamente
dele;
— a solene proclamação
do decreto do papa Pio XI, de 16 de julho de 1930, constituindo e declarando “a
Beatíssima Virgem Maria, concebida sem mácula, sob o título de Aparecida,
padroeira principal de todo o Brasil, diante de Deus”;
— a apoteótica
manifestação do dia 31 de maio de 1931, em que o episcopado nacional, diante da
milagrosa imagem levada triunfalmente ao Rio de Janeiro em trem-santuário, na
presença das maiores autoridades civis e militares e em união com todo o povo —
mais de um milhão de pessoas! — consagrou o País a Nossa Senhora da Conceição
Aparecida.
E assim por diante,
sem falar das curas, aos milhares. Quantos milhares? Cegos, aleijados,
paralíticos, leprosos, cardíacos, que direi eu mais! Multidões e multidões sem
conta de devotos, vindas do Brasil inteiro, com as mães contando às
criancinhas, ao voltarem para os lares, alguma narração piedosa sobre a santa,
inventada na hora ou ouvida da avó ou da bisavó. Bem entendido, narração
enriquecida, de geração a geração, com mais pormenores maravilhosos.
Tudo isso levava o
Brasil inteiro a emocionar-se — e com quanta razão — ante a pequena Imagem de
terracota escura, vendo nela o sinal palpável da proteção de Nossa Senhora.
E o sinal se quebrou.
Por sua vez, essa
quebra não será um sinal? Sinal de quê?
A julgar pelas
narrações da imprensa, os pormenores do fato ocorrido estão envoltos em
mistério. [...] Nosso público, habitualmente informado com inútil luxo de
pormenores acerca de qualquer crime do gênero dos que entram na triste rotina
das grandes cidades contemporâneas, entretanto pouco sabe desse sacrilégio
trágico que marca a fundo a história de Aparecida, a história religiosa do
Brasil e por isto, pura e simplesmente, a história do Brasil. [...]
Amigos meus que
conversaram há dias com altíssima personalidade eclesiástica, dela ouviram que
o sacrilégio teria relação com a aprovação do divórcio no Brasil.
A hipótese faz
pensar. Talvez, entristecida a fundo pela promulgação do divórcio, Nossa
Senhora, ao permitir o crime, tenha querido fazer ver ao povo brasileiro seu
desagrado pelo fato. Seria bem isso? Sem dúvida, a introdução do divórcio foi
um gravíssimo pecado coletivo cometido pela Nação brasileira. [...]
Há dois aspectos
pelos quais a aprovação do divórcio pode ser relacionada com o crime sacrílego.
De um lado, se o divórcio foi aprovado, é porque a resistência contra o mesmo
foi insuficiente. Quando o sr. N. Carneiro era aclamado aos brados pelo
plenário do Congresso e por uma minoria que abarrotava as galerias, logo depois
da aprovação da lei, a Nação dormitava. E essa soneira em hora tão grave
exprime, por sua vez, uma flagrante falta de zelo. Pois não nos basta não fazer
uso da lei. Se não a queríamos, por que não a impedimos?
Por outro lado,
como não reconhecer nesse censurável indiferentismo, não um estado de espírito
de momento, mas uma atitude de alma resultante de efeitos ainda muito mais
profundos?
Quando a
moralidade das modas decai assustadoramente, quando os costumes sociais se
degradam a todo momento e a limitação da natalidade, praticada por meios
condenados pela Igreja, vai ganhando proporções assustadoras, prepara-se o
caldo de cultura para o comunismo. Este, embuçado em criptocomunismos,
eurocomunismos, socialismos e outros disfarces ideológicos, vai avançando. Como
não reconhecer nisto um complexo de circunstâncias nas quais se insere, com
toda a naturalidade, o divórcio?
Isto dito, como
não lembrar a profecia de Nossa Senhora, feita em Fátima pouco depois da queda
do tzarismo?
Eis as palavras
d’Ela: “Se atenderem a meus
pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo
mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados,
o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim,
o meu Imaculado Coração triunfará”.
É impossível não
perguntar se existe uma relação entre essa trágica e materna previsão,
desatendida pelo mundo ao longo dos últimos sessenta anos, e a também trágica
ocorrência de Aparecida. Não será esta um eco daquela? Um eco destinado
especialmente ao Brasil, pois que entre nós, e contra a Imagem de nossa
Padroeira, o crime se deu.
Especialmente para
o Brasil, sim; exclusivamente para o Brasil, quiçá não. Pois nosso País é o que
tem hoje em dia a maior população católica do globo. E Aparecida é, depois de
Guadalupe, o santuário mariano de maior afluxo de peregrinos em todo o orbe.
Pelo que, quanto aqui ocorra em matéria de devoção marial tem um significado
para o mundo inteiro.
Muitos dirão que a
ilação entre Fátima e Aparecida não pode ser afirmada, por falta de provas
cabais. Não entro aqui na análise da questão. Pergunto simplesmente se há quem
se sinta com base para negá-la…
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