Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

15/08/2012

Festa da Assunção de Maria - 15/08/2012

Quarta-feira, 15 de agosto de 2012, 10h12
Festa da Assunção de Maria - 15/08/2012



Solenidade da Assunção da Beata Virgem Maria
Paróquia pontifícia de “São Tomás de Villanova”, em Castel Gandolfo
Quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Queridos irmãos e irmãs,

Em 1º de novembro de 1950, o Venerável Papa Pio XII proclamava como dogma que a Virgem Maria “terminado o curso da vida terrena, foi assunta à glória celeste em alma e corpo”. Esta verdade de fé era conhecida pela Tradição, afirmada pelos Padres da Igreja, e era, sobretudo, um aspecto relevante do culto rendido à Mãe de Cristo. O elemento cultual constitui, por assim dizer, a força motora que determinou a formulação deste dogma: o dogma parece um ato de louvor e de exaltação em relação à Virgem Santa. Este emerge também do próprio texto da Constituição apostólica, onde se afirma que o dogma é proclamado “em honra ao Filho, para a glorificação da Mãe e a alegria de toda a Igreja”. É expresso assim na forma dogmática algo que já foi celebrado no culto da devoção do Povo de Deus como a mais alta e estável glorificação de Maria: o ato de proclamação da Assunta se apresentou quase como uma liturgia da fé. E no Evangelho que escutamos agora, Maria mesma pronuncia profeticamente algumas palavras que orientam nesta perspectiva. Diz: “Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz” (Lc 1,48). é uma profecia para toda a história da Igreja. Esta expressão do Magnificat, referida por São Lucas, indica que o louvor à Virgem Santa, Mãe de Deus, intimamente unida a Cristo, seu filho, diz respeito à Igreja de todos os tempos e de todos os lugares. E a anotação destas palavras da parte do Evangelista pressupõe que a glorificação de Maria estivesse já presente no período de São Lucas e ele a considerou um dever e um compromisso da comunidade cristã para todas as gerações. As palavras de Maria indicam que é um dever da Igreja recordar a grandeza de Nossa Senhora para a fé. Esta solenidade é um convite, portanto, a louvar Deus, e a olhar para a grandeza de Nossa Senhora, para que conheçamos Deus na face dos seus.

Mas, por que Maria é glorificada na assunção ao Céu? São Lucas, como ouvimos, vê a raiz da exaltação e do louvor à Maria na expressão de Isabel: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1, 45). E o Magnificat, este canto ao Deus vivo e operante na história é um hino de fé e de amor, que brota do coração da Virgem. Ela viveu com fidelidade exemplar e guardou no mais íntimo do seu coração as palavras de Deus ao seu povo, as promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacó, fazendo do seu conteúdo sua oração: a Palavra de Deus estava no Magnificat transformada em Palavra de Deus, lâmpada do seu caminho, até torná-la disponível a acolher também em seu ventre o Verbo de Deus feito carne. A atual página evangélica apresenta esta presença de Deus na história e no próprio desenvolver-se dos eventos; especialmente, há uma referência ao Segundo livro de Samuel no capítulo sexto (6, 1-15), no qual Davi transporta a Arca Santa da Aliança. O paralelo que faz o Evangelista é claro: Maria à espera do nascimento do Filho Jesus e a Arca Santa que porta em si a presença de Deus, uma presença que é fonte de consolação, de alegria plena. João, de fato, dança no ventre de Isabel, exatamente como Davi dançava diante da Arca. Maria é a “visita” de Deus que cria alegria. Zacarias, em seu canto de louvor, dirá explicitamente: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e libertou o seu povo” (Lc 1,68). A casa de Zacarias experimentou a visita de Deus com o nascimento inesperado de João Batista, mas, sobretudo, com a presença de Maria, que porta em seu ventre o Filho de Deus.

Mas agora nos perguntamos: o que a Assunção de Maria ensina ao nosso caminho, à nossa vida? A primeira resposta é: na Assunção vemos que em Deus há espaço para o homem, Deus mesmo é a casa com muitas moradas da qual fala Jesus (Jo 14, 2). O próprio Deus é a casa do homem, em Deus há espaço de Deus. E Maria, unindo-se a Deus, não se distancia de nós, não vai para uma galáxia desconhecida, mas quem vai a Deus se aproxima, porque Deus está perto de todos nós, e Maria, unida a Deus, participa da presença de Deus, está muito perto de nós, cada um de nós. Há uma bela palavra de São Gregório Magno sobre São Bento que podemos aplicar ainda também a Maria: São Gregório Magno diz que o coração de São Bento tornou-se grande que toda a criação podia entrar neste coração. Isso vale ainda mais para Maria: Maria, unidade totalmente a Deus, tem um coração tão grande que toda a criação pode entrar neste coração, e os testemunhos em todas as partes da terra o demonstram. Maria está perto, pode escutar, pode ajudar, está perto de todos nós. Em Deus, há espaço para o homem, e Deus está perto, e Maria, unida a Deus, está muito perto, tem um coração alargado como o coração de Deus.

Mas tem também outro aspecto: não só em Deus há espaço para o homem; no homem há espaço para Deus. Também vemos isso em Maria, a Arca Santa que porta a presença de Deus. Em nós, há espaço para Deus e nesta presença de Deus em nós, tão importante para iluminar o mundo na sua tristeza, em seus problemas, esta presença se realiza na fé: na fé abrimos as portas do nosso ser para que Deus entre em nós, para que Deus possa ser a força que dá vida e caminho ao nosso ser. Em nós, há espaço, vamos nos abrir como Maria se abriu, dizendo: “Seja realizada a Tua vontade, eu sou serva do Senhor”. Abrindo a Deus, não perdemos nada. Ao contrário: nossa vida torna-se rica e grande.

E assim, fé, esperança e amor se combinam. Existem hoje muitas palavras sobre um mundo melhor a esperar: seria a nossa esperança. Se e quando este mundo melhor vem, não sabemos, não sei. Certo é que um mundo que se afasta de Deus não se torna melhor, mas pior. Só a presença de Deus pode garantir também um mundo bom.Mas deixemos isso. Uma coisa, uma esperança é certa: Deus nos espera, nos aguarda, não caminhamos no vazio, somos esperados. Deus nos espera e encontramos, indo ao outro mundo, a bondade da Mãe, encontramos os nossos, encontramos o Amor eterno. Deus nos espera: esta é a grande alegria e a grande esperança que nasce exatamente desta festa. Maria nos visita, é a alegria da nossa vida e é a esperança da alegria.

O que dizer, portanto? Coração grande, presença de Deus no mundo, espaço de Deus em nós e espaço de Deus para nós, esperança, ser esperados: esta é a sinfonia desta festa, a indicação que a meditação desta Solenidade nos dá. Maria é aurora e esplendor da Igreja triunfante; ela é a consolação e a esperança para o povo ainda em caminho, diz o Prefácio de hoje. Vamos nos confiar à sua materna intercessão, para que o Senhor nos ajude a reforçar nossa fé na vida eterna; nos ajude a viver bem o tempo que Deus nos oferece com esperança. Uma esperança cristã, que não é somente nostalgia do Céu, mas vivo e operoso desejo de Deus aqui no mundo, desejo de Deus que nos torna peregrinos incansáveis, alimentando em nós a coragem e a força da fé que, ao mesmo tempo, é coragem e força no amor. Amém.






14/08/2012

EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA - PARTES XI; XII; XIII E XIV


EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo

XI. A SANTA MISSA É O HOLOCAUSTO MAIS EXCELENTE
Havia, na antiga lei, quatro espécies de sacrifícios: o holocausto ou sacrifício latréutico, pelo qual se reconhecia o soberano domínio de Deus; o sacrifício de louvor e de reconhecimento; o sacrifício pacífico, quer fosse eucarístico, quer impetratório, pelo qual se atraíam os benefícios de Deus; e o sacrifício expiatório, em que Deus era honrado como Juiz; era oferecido pela remissão dos pecados e pela expiação das culpas. Cada um destes sacrifícios tinha um rito particular.
Desde a criação do mundo até a vinda do Messias, inumeráveis holocaustos foram oferecidos ao Senhor, e a Sagrada Escritura afirma que agradavam a Deus. A lei de Moisés ordenava aos judeus o sacrifício perpétuo ou sacrifício da manhã e da tarde, que consistia na imolação de um cordeiro. Nos sábados, o número era dobrado. Em cada lua nova, imolavam sete cordeiros, duas cabras e um carneiro. O mesmo número devia ser oferecido durante oito dias, na Páscoa e no Pentecostes. Na festa dos Tabernáculos, o número das vítimas aumentava, eram quatorze cordeiros, treze cabras, dois carneiros e um bode que se imolavam cada dia durante todo o oitavário. Além destas oblações obrigatórias, cada um apresentava ainda, segundo sua piedade, ou suas posses, bois, cabras, ovelhas, carneiros, pombas, vinho, incenso, pão, sal e óleo.
Citamos tudo isto para mostrar como eram custosos os sacrifícios impostos aos patriarcas e aos sacerdotes judeus, bem que não trouxessem a Deus senão uma exígua honra, e não merecessem senão pequena recompensa, como disse São Paulo em sua Epístola aos Hebreus. Não obstante, agradavam a Deus, porque eram símbolos do Sacrifício incruento de Jesus Cristo. Comparai com tudo isto o nosso holocausto que é pouco custoso, fácil de oferecer, sendo, entretanto, o sacrifício mais agradável a Deus, o mais precioso para o céu, o mais útil para o mundo, e o mais consolador para o purgatório.
Se um homem tivesse imolado todas as vítimas que foram sacrificadas desde o começo do mundo até Jesus Cristo, sem dúvida, teria rendido uma grande homenagem a Deus. Mas que seria este culto comparado ao que rendemos à divina Majestade por uma só Missa?
Eis como São Tomás de Aquino expõe a essência e o fim do nosso holocausto: "Confessamos, pelo santo Sacrifício, que Deus é o autor de toda a criatura, o fim supremo de toda a beatitude, o Senhor absoluto de todas as coisas, a quem oferecemos, como testemunho de nossa submissão e adoração, um sacrifício visível, que figura a oferenda invisível, pela qual a alma se dá inteiramente a Deus como a seu princípio e a seu fim". O holocausto somente pode ser oferecido a Deus, que o reservou para si: "Eu sou o Senhor, é este o nome que me é próprio. Não darei a outrem a minha glória, nem consentirei que se tribute aos ídolos o louvor que só a mim pertence" (Is. 42, 8).
Esta proibição do Senhor de oferecer sacrifícios a outros, diz, claramente, que o santo Sacrifício da Missa não poderia ser oferecido a nenhuma criatura, nem a Santa Virgem, nem aos Santos; jamais poderíamos oferecer-lhes a santa Missa. Eis neste sentido a doutrina do Concílio de Trento: "Embora a Igreja tenha costume de celebrar a Missa em honra e memória dos Santos, não ensina que lhes seja oferecido o sacrifício, porém, a Deus, que os coroou" (Sess. 22, c. 3). Também o sacerdote não diz: "São Pedro, São Paulo, ofereço-vos este Sacrifício", mas, agradecendo a Deus de lhes haver concedido a vitória, implora-lhes o socorro, a fim de que se dignem interceder por nós, no céu, enquanto lhe celebramos a memória na terra.
Sendo a vida de Jesus Cristo mais nobre do que a de todos os homens, sua morte foi mais meritória e preciosa aos olhos de Deus. E, visto que o Salvador renova sua morte em cada Missa, segue-se que Deus Pai recebe do santo Sacrifício maior honra e glória do que se todo o gênero humano lhe fosse imolado em holocausto.
Que é a santa Missa senão uma embaixada à Santíssima Trindade, para oferecer-lhe uma oferta de valor inestimável, pela qual reconhecemos-lhe a soberania e lhe testemunhamos nossa inteira submissão?
Esta oferta quotidiana é Jesus Cristo, o próprio Filho de Deus, o único que conhece a infinita Majestade do Senhor e a honra que lhe é devida. Ele somente pode, com efeito, render esta honra e lha rende dignamente, imolando-se sobre o altar. E Jesus Cristo, a adorável vítima, dá-se-nos tão inteiramente, que nos é possível oferece-lo ao Deus três vezes santo, como nosso próprio bem.
Pobres pecadores, prestamos-lhe, deste modo, o culto e a honra que lhe é devida. Sem a santa Missa, ficaríamos eternamente devedores de Deus.
Caro leitor, não desejais oferecer cada manhã o mais precioso dos dons a teu Senhor e Deus? Que desculpa terás, no dia do juízo, de tua negligência?

XII. A SANTA MISSA É O MAIS SUBLIME SACRIFÍCIO DE LOUVOR
Deus é inefável. Não há criatura que possa exprimir-lhe a santidade e a glória. É a mais rigorosa justiça, a mais doce misericórdia, a beleza personificada, em uma palavra, é o conjunto de todas as perfeições.
Bem que os Anjos e os Santos o amem de todo o coração, tremem em presença de sua sublime Majestade e adoram-no prostrados com o mais profundo respeito. Louvam, exaltam e bendizem-lhe as infinitas perfeições sem jamais poderem saciar-se.
O sol, a lua, as estrelas imitam-nos. Todas as outras criaturas: os animais, as árvores das florestas, os metais e as pedras, bendizem ao Senhor, conforme a espécie e os meios, e contribuem assim para sua maior glória.
Se, pois, todos os seres devem louvar ao Senhor, quanto mais o homem, que foi criado para este fim com uma alma racional.
David, rei e profeta, cumpriu, excelentemente, este dever. Convidou a terra e o céu, os seres animados e inanimados, para com ele bendizerem ao Senhor, a fim de que as gerações futuras continuassem a celebrar a glória de seu nome.
Mais estritamente que o povo judeu, somos obrigados para com Deus, a quem "predestinou sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça" (Ef. 1, 5-8).
Em outros termos, Deus adotou os cristãos para que louvassem e bendizessem a magnificência de sua graça. Eis o dever sagrado ao qual não nos poderemos subtrair sem pecado grave. Para cumprir este dever, imperadores, reis, príncipes piedosos edificaram magníficos templos e fundaram mosteiros, onde os louvores ao Senhor deviam seguir-se noite e dia, pelo canto das horas canônicas. É por essa razão que a Igreja obriga seus clérigos, desde que recebem o subdiaconato, à recitação quotidiana do breviário, obrigação que estende sobre a maior parte das Ordens religiosas de um e de outro sexo. Todos se conformam com isto alegremente e "elevam a glória do Senhor tão alto quanto podem, e elevam sua grandeza quanto possível, porque ele está acima de todo louvor".
Para que, porém, o nosso louvor seja um tributo digno de ser recebido pela imensa Majestade de Deus, Jesus Cristo, conhecendo a fraqueza humana, instituiu a santa Missa, o "sacrifício de louvor" por excelência, oferecido ao Senhor todos os dias e a toda hora.
Recordai, sob este ponto de vista, as diferentes partes da santa Missa. Que hino magnífico o "Glória in excelsis; 'laudamus te', nós Vos louvarmos; 'benedicimus te', nós Vos benzemos; 'adoramus te', nós Vos adoramos; 'gloricamus te', nós Vos glorificamos!"
Que cântico ardente o "Sanctus": "Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos; Vossa glória enche os céus e a terra. Hosana nas alturas, bendito seja quem vem em nome do Senhor!"
O profeta Isaías, em um êxtasis, ouviu os coros dos Anjos que cantavam, alternadamente, este cântico, e o hosana de alegria partia do coração dos judeus, quando Jesus entrou em Jerusalém, seis dias antes de sua Paixão. Unindo, na santa Missa, nossas fracas vozes e essas melodias celestes, rendemos a mais pura glória que possa ser rendida a Deus no céu e na terra.
"A Santa Igreja, pela Carne e pelo Sangue de Jesus Cristo, oferece um sacrifício de louvor", diz Santo Agostinho. E São Lourenço Justiniano escreve: "É certo que Deus não poderia ser mais louvado do que pelo Sacrifício da Missa, instituído para esse fim pelo Salvador".
Na Missa, o Filho de Deus oferece-se a seu Pai e rende-lhe toda a honra, toda a glória que lhe rendia sobre a terra. Desta sorte e assim unicamente, o Pai é glorificado de maneira digna dele: eis porque Deus recebe, de uma só Missa, mais honra e glória do que poderiam proporcionar-lhe todos os Anjos e Santos.
Se, em honra da Santíssima Trindade, o céu inteiro organizasse uma procissão, à frente da qual marchasse a Mãe de Deus, seguida dos nove coros dos Anjos e do exército inumerável dos Santos e bem-aventurados, Deus seria certamente muito honrado por ela. Mas, se enviasse a Igreja militante um só de seus sacerdotes para rematar esta augusta procissão pelo santo Sacrifício da Missa, verdadeiramente, este pobre sacerdote, pela única Missa que celebrasse, renderia a Deus uma homenagem infinitamente maior do que a que resultaria de uma tão tocante cerimônia; homenagem tão elevada acima da primeira, como o Filho de Deus está elevado sobre todas as criaturas.
"Quando, um dia, assistia à Missa, conta-nos Santa Brígida, pareceu-me, no momento da consagração, o sol, a lua, as estrelas, todo o firmamento e suas evoluções cantarem as mais doces e penetrantes harmonias. Unia-se-lhes uma multidão de cantores celestes, cujos acentos eram tão melodiosos que nem se pode imaginar. Os coros angélicos contemplavam o sacerdote e inclinavam-se diante dele com o mais profundo respeito, enquanto os demônios fugiam, tremendo de espanto. Logo que as palavras sacramentais foram pronunciadas sobre o pão, percebi um cordeirinho em lugar da hóstia; tinha a figura de Jesus; os Anjos o adoravam e o serviam. Uma infinidade de almas santas louvavam também, com os Anjos, o Altíssimo e o Cordeiro imaculado" (Lib. 8, c. 56).
Caro leitor, estás no meio desta assembléia celeste, quando assistes à santa Missa e ajudas a louvar ao Senhor. Ele repara as blasfêmias, os insultos que os homens insensatos proferem diariamente. Sem este augusto sacrifício de louvor, o mundo não subsistiria. A santa Missa retém o braço de Deus; opõe aos ultrajes dos ímpios as homenagens dignas de sua divina Majestade.
Agradece, pois, sem cessar, a nosso bom Mestre a instituição da santa Missa e aproveita, cada vez mais, deste meio eficacíssimo de louvar ao Senhor.

XIII. A SANTA MISSA É O MELHOR SACRIFÍCIO DE AÇÃO DE GRAÇAS
Os benefícios de Deus para conosco estão acima de todo o número e de todo o alcance. Criou-nos, concedeu-nos os sentidos e todos os membros do corpo; deu-nos uma alma feita à sua imagem e semelhança; santificou-a pelo batismo, escolheu-a para ser-lhe esposa; confiou-a à guarda de um Anjo. Cuida de nós, noite e dia, perdoa-nos os pecados pelo Sacramento da Penitência, e sustenta-nos com sua Carne no Sacramento da Eucaristia. Suporta, pacientemente, nossas ofensas, dá-nos boas inspirações, aguardando nossa conversão. Instrui-nos pela boca de seus sacerdotes, atende as nossas fracas orações e preserva-nos de mil perigos. É nossa consolação nas penas, nosso escudo nas tentações, a recompensa em qualquer circunstância. Como se tantas graças não fossem suficientes, acrescentou mais uma, excelente entre todas: adotou-nos por seus filhos.
"Considerai que amor o Pai nos testemunhou, fazendo que nos chamássemos filhos de Deus e que efetivamente o fôssemos", escreve o Apóstolo São João (I Epístola, 3, 1). "Se somos filhos", diz, por sua vez, São Paulo, "somos também herdeiros de Cristo" (Romanos, 8, 17). Não é excesso de bondade que pobres mendigos sejam admitidos à adoção e à herança do Rei dos reis?
Depois deste dom incomparável, sua mão paterna não se fechou; tendo o pecado nos colocado sob o poder de Satanás, Deus libertou-nos por seu Filho Jesus. "Deus amou tanto ao mundo que lhe deu seu Filho único" (Jo. III, 16), não só revestindo-o de nossa natureza, porém entregando-o por nós à morte mais dolorosa.
Se Deus não nos tivesse concedido outra coisa além de um olhar favorável, quem poderia agradecer-lhe bastante? Não é Ele a Majestade infinita, e nós, pobres criaturas? Como então agradecer a Jesus Cristo sua encarnação, vida, paixão e morte? Não devemos dizer com o rei David: "Que renderei ao Senhor por todos os bens de que me tem cumulado?" (Sl. 115) ou com o profeta Miquéias: "Que posso oferecer ao Altíssimo que seja digno dele?" (5, 6). E eis a resposta inspirada do santo rei: "Oferecerei um sacrifício em ação de graças e cumprirei meus votos ao Senhor" (Sl. 115).
Este sacrifício de ação de graças é a santa Missa, e assistí-la com esta intenção é, por conseguinte, uma maneira perfeita de agradecer a nosso soberano Benfeitor. "Este santo Sacrifício, diz Santo Irineu, foi instituído a fim de que não fôssemos ingratos para Deus" (Lib. 4, contra haer. C. 22). Fora deste Sacrifício, nada acharíamos para oferecer à Santíssima Trindade, na proporção de seus benefícios.
Também as palavras do missal indicam, claramente, o caráter de ação de graças da santa Missa. Além dos versículos já citados do "Glória", se diz no "Prefácio": "Agradeçamos ao Senhor, nosso Deus. É verdadeiramente justo e razoável, é proveitoso e salutar agradecer-Vos, sempre e em todo o lugar, Senhor santo, Pai poderosíssimo, Deus eterno, por Jesus Cristo, nosso Senhor".
Imediatamente antes da consagração, o sacerdote diz: "Ele tomou o pão em suas mãos santas e veneráveis, e, levantando os olhos para o céu, rendeu graças".
Oh! amável elevação dos olhos de meu Jesus! Oh! poderoso testemunho de gratidão, substituindo nossos agradecimentos incompletos! O que Jesus fez depois da última Ceia, renova-o em cada Missa. E nesta ação de graças duma pessoa divina, sendo infinita, Deus encontra uma satisfação incomparável.
Pesai agora o valor desta ação de graças. Se, desde a infância até agora, tivésseis agradecido a Deus os inumeráveis benefícios, teríeis feito menos do que assistindo apenas a uma Missa em ação de graças. Se tivésseis convidado todas as almas piedosas a unir os cânticos de agradecimento aos vossos, e, durante toda a vida, todos juntos, tivésseis unido vossas vozes e vossos corações, o resultado jamais atingiria ao da celebração da santa Missa. Dizemos mais, se o próprio exército celeste tivesse assumido esta tarefa, não se aproximaria da perfeição do reconhecimento testemunhado a Deus por Jesus Cristo sobre o altar.
Oh! Deus, faça-nos compreender o tesouro, oculto na santa Missa. Tal conhecimento nos tornaria felizes e ávidos de assistirmos ao divino Sacrifício!
"As graças, diz São Tomás de Aquino, devem ser referidas ao seu autor pela gratidão, e isto pelo mesmo canal com que no-las transmitiu".
Jesus, porém, é o caminho pelo qual nos chega todo o bem. Logo, por Jesus Cristo, imolado sobre o altar, nossas ações de graças devem subir ao céu.
Também São Paulo, escrevendo aos Coríntios, diz: "Rendo ao meu Deus continuadas ações de graças, por vós, pela graça que vos foi feita em Jesus Cristo. Porque nele fostes cumulados de riquezas, de maneira que não ficais inferiores a ninguém em toda a sorte de graças" (I Cor. 1, 4)
Considerai, pois, piedoso leitor, quanto és devedor pela instituição da santa Missa, visto que, sem ela, não terias o meio de agradecer, dignamente, a Deus. Praza a Deus que possas apreciar bastante nossa felicidade. No santo Sacrifício, Jesus torna-se nossa propriedade; com ele possuímos-lhe os méritos, de maneira que, em união com a Vítima divina, podemos oferecê-los ao Rei celeste e apagar a dívida que nos acabrunha.

XIV. A SANTA MISSA É O SACRIFÍCIO MAIS EFICAZ DE IMPETRAÇÃO
Na lei de Moisés, Deus não somente prescreveu ao povo de Israel sacrifícios em testemunho de sua soberania e poder divino, mas também sacrifícios de paz e de impetração. E estes eram de uma eficácia maravilhosa, porque faziam descer sobre Israel graças e bênçãos de preservação.
Lê-se, na Sagrada Escritura (I Reis 7,7), que os israelitas, ameaçados pelos filisteus, pediram a Samuel que orasse por eles. Samuel imolou um cordeiro, implorou ao Senhor, e, de repente, um pânico apoderou-se dos inimigos, que fugiram em desordem.
Mais tarde, quando Deus castigou seu povo com a peste, o rei David ofereceu igualmente o sacrifício de paz, e o flagelo desapareceu. Exemplos semelhantes encontram-se, freqüentemente, no antigo Testamento.
Se Deus prodigalizou ao povo hebreu um tal meio de apaziguá-los, os cristãos receberam outro incomparavelmente mais eficaz. Com efeito, que não obterá o Cordeiro divino, imolado sobre o altar, quando os cordeiros dos judeus aclamaram tão favoravelmente o Altíssimo! Os sacrifícios da sinagoga só podiam ser oferecidos em uma intenção e com um rito particular: a santa Igreja, bem que tenha um sacrifício, pode oferece-lo em diversas intenções e obtém muito mais graças do que os múltiplos sacrifícios dos judeus.
Assim posso assistir à santa Missa ou celebrá-la para maior glória de Deus e alegria de Maria Santíssima, em honra dos Anjos e dos Santos, para minha salvação, para conservar ou recobrar minha saúde, para ser preservado de males temporais, obter a remissão de meus pecados, a emenda de minha vida, a graça duma boa morte. Tudo isto posso pedi-lo para meus parentes e amigos e para todos os fiéis.
Os doutores da santa Igreja são unânimes em proclamar o poder da santa Missa como sacrifício impetratório. "Ela é soberanamente eficaz, diz assim deles, por causa do preço da Vítima e da dignidade do grande Sacerdote sacrificador. Não há graças nem dons que, por seu intermédio, não se possam obter. O número de suplicantes não influi, todos receberão segundo seu pedido, porque, sendo Jesus Cristo o principal sacrificador, sua oferta é, infinitamente, agradável a Deus Pai; seus méritos apresentados, neste momento, são inesgotáveis, suas chagas têm um valor ilimitado".
São Lourenço Justiniano fala no mesmo sentido: "Nenhum sacrifício é maior, mais agradável à divina Majestade, que o Sacrifício da Missa, onde as chagas de nosso divino Salvador, sua flagelação e todos os suplícios e opróbrios que sofreu por nós, são de novo oferecidos a seu Pai, e este, vendo de novo imolar-se aquele que enviou ao mundo, concede o perdão aos pecadores, socorro, aos fracos, a vida eterna, aos justos" (Sermo de Corp. Christi).
Pela oblação do santo Sacrifício, damos mais do que podemos pedir. Por quê, pois, temer que nossa prece seja rejeitada? Para obter qualquer coisa finita, oferecemos uma Vítima de preço infinito. Como o Deus liberalíssimo, que prometeu uma recompensa por um copo dágua dado em seu nome, deixaria nossas súplicas sem resposta, quando lhe apresentamos o cálice cheio do Sangue de seu Filho, deste Sangue que implora graças e misericórdia por nós?
Depois da última Ceia, nosso bom Mestre disse: "Em verdade, em verdade vos digo, tudo o que pedirdes a meu Pai, em meu nome, Ele vo-lo dará". Que momento mais próprio para pedir em nome do Filho senão aquele em que Jesus, morrendo novamente por nós, é apresentado aos olhos de seu Pai?
São Boaventura dá uma outra razão da eficácia do santo Sacrifício: "Quando um soberano está prisioneiro, dá-se-lhe a liberdade somente pelo preço dum forte resgate. Não deixeis, pois, sair Jesus do altar, onde é nosso cativo, sem que vos tenha concedido o perdão de vossos pecados e a entrada no céu" (Tom. 4 in Expositione Missae). Quando o sacerdote eleva a sagrada Hóstia, parece dizer ao povo: "Vede, aquele que o mundo não pode conter, está em nossas mãos: não o deixemos retirar-se sem ter-nos concedido o que pedimos". Sim, repitamos com Jacó, dirigindo-se ao Anjo: "Não vos deixarei ir sem que me abençoeis".
Pela rica e agradável oblação da santa Missa, podemos obter de Deus tudo o que é necessário à nossa salvação.
Por quê é então que Deus nem sempre atende aos que oferecem a santa Missa? A esta pergunta de Santa Gertrudes, Nosso Senhor respondeu: "Se nem sempre atendo a tuas orações e a teus votos, é para preparar-te qualquer coisa mais útil, porque não és capaz, por causa da fragilidade humana, de conhecer o que te é mais vantajoso". Outra vez a mesma Santa queixava-se humildemente, dizendo: "De que servem minhas orações para aqueles em cujo favor as ofereço? Não vejo frutos". - "Não te admires, disse-lhe o divino Salvador, de não veres o efeito de tuas orações, visto que disponho das graças segundo minha sabedoria impenetrável; entretanto, podes estar certa de que, quanto mais se rezar por uma pessoa, mais feliz será, porque nenhuma oração sincera fica sem efeito, ainda que esse efeito possa conservar-se oculto".
Se, conforme a palavra de Jesus Cristo, cada oração sincera produz frutos, qual não será o fruto de uma Missa?
Lê-se na vida de São Severino, que uma nuvem de gafanhotos caiu nos arredores do castelo Corul. Os frutos, as árvores, toda a vegetação foi devastada. O povo dirigiu-se ao abade Severino, implorando-lhe a intercessão junto a Deus para afastar o flagelo.
Cheio de compaixão, o santo religioso convidou o povo a entrar na igreja e aí pregou sobre a penitência e a oração, terminando com as seguintes palavras: "Não conhecendo oração mais eficaz do que a santa Missa, vou oferecê-la em vossa intenção; oferecei-a comigo, e ponde nela toda a vossa confiança".
Todos se apressavam em obedecer, à exceção de um só que dizia: "Vã é a vossa confiança. Embora ouçais todas as Missas que se celebram no mundo inteiro e fiqueis o dia todo em oração, não afastareis um só gafanhoto". Dito isto, dirigiu-se para a sua tenda de trabalho. O povo, porém, piedosamente unido ao sacerdote celebrante, suplicou a Deus que o livrasse do terrível flagelo.
Terminada a santa Missa, saíram todos para seus campos e pastos e verificaram, com surpresa e reconhecimento, que os gafanhotos, apesar de serem tantos que formavam uma nuvem espessa, se retiraram: a alegria reinava, por isso, em todos os corações. Também o leviano que, pouco antes, zombava da santa Missa, associou-se aos outros fiéis, admirado pelo que viu. Grande, porém, foi a sua surpresa, quando a nuvem de gafanhotos, já bastante longe, de repente, como em castigo, voltou para o seu campo e só se afastou, depois de haver destruído completamente a sua colheita.
Este caso histórico mostra-nos, mais uma vez, a eficácia da oração durante a santa Missa, e o castigo reservado àqueles que a desprezam.
Tenhamos, pois, à semelhança daquele povo, grande confiança no santo Sacrifício. O Apóstolo São Paulo anima-nos a isso, dizendo: "Marchemos cheios de confiança para o trono de graça, a fim de obtermos misericórdia e merecermos o socorro oportuno".
Este trono de graças não é o céu, pois não podemos ir até lá, mas, sim, o altar, sobre o qual é imolado, todo dia, o Cordeiro, a fim de obter para nós graça e misericórdia.
Vamos cada manhã a este trono de graças, procurar os socorros necessários; vamos com alegria e confiança, porque é o trono da graça e não da vingança, da misericórdia e não da justiça.


Didaquê.


Didaquê - A Instrução dos Doze Apóstolos
Instrução do Senhor para as nações segundo os Doze Apóstolos
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Didaquê (Διδαχń em grego clássico) ou Instrução dos Doze Apóstolos, é um escrito do primeiro século que trata do catecismo cristão. Didaquê significa doutrina, instrução. É constituído de dezesseis capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico.
O título lembra a referência de Atos 2,42: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos ...”.
Estudiosos estimam que são escritos anteriores a destruição do templo de Jerusalém, entre os anos 60 e 70 d.C. Outros estimam que foi escrito entre os anos 70 e 90 d.C., contudo são coesos quanto a origem sendo na Palestina ou Síria.
Quanto a sua autenticidade, é de senso comum que o mesmo não tenha sido escrito pelos doze apóstolos, ainda que o título do escrito faça menção aos mesmos; mas estudiosos acreditam na compilação de fontes orais tendo recebido tais ensinos que resultaram na elaboração do mesmo. Também é senso comum que tenha sido escrito por mais de uma pessoa.
O texto foi mencionado por escritores antigos, inclusive por Eusébio de Cesaréia que viveu no século III, em seu livro "História Eclesiástica", mas a descoberta desse manuscrito, na íntegra, em grego, num códice do século XI ( ano 1056 ) ocorreu somente em 1873 num mosteiro em Constantinopla.
Nos escritos da Didaquê, além da catequese e liturgia cristã, o evangelho de Jesus é recomendado. A Didaquê também cita a oração do “ Pai Nosso” como sendo “ensinada pelo Senhor” e finda com a afirmação em consonância com o livro Apocalipse, do Novo Testamento, de que Jesus voltará:
“ ... conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele". Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu.” [Didaquê 16:7,8]
Nos escritos da Didaquê também são reforçados o batismo no nome do Pai, Filho e Espírito Santodogma da Trindade, contrapondo-se a defesa dos não trinitários de que não existiam escritos cristãos do primeiro século que defendessem o batismo no nome de Jesus. [7:1,3], sendo argumento para os que aceitam o
A respeito de Jesus, ainda sobre o batismo, diz: “Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor, pois sobre isso o Senhor [Jesus] disse: "Não dêem as coisas santas aos cães".” [9,5]
Tais escritos também sustentam argumentos de que existiam escritos do primeiro século apoiando a defesa da tese teológica de que Jesus é Deus.
Sobre questões polêmicas como o batismo, adverte para o batismo em imersão; sendo admitido por aspersão na inexistência de água corrente.
Nos escritos da Didaquê há uma similaridade quando se referencia hora ao Pai como o Senhor [Didaquê 10] e hora a Jesus como o Senhor [Didaquê 16], o que é aceito por alguns a interposição entre as duas pessoas. Também fazendo a distinção de pessoa chamando Jesus de servo do Pai.[9,3]
A Didaquê faz registro da celebração da eucaristia no domingo (dia do Senhor):
"Reuni-vos no dia do Senhor, para romperdes o pão e dardes graças" [Didaquê 14,1].
A Didaquê cita diretamente ou faz menção indireta a diversos livros do novo testamento: sendo Mateus, Lucas, I Epístola aos Coríntios, Hebreus, I Epístola da Pedro, Atos dos Apóstolos, Romanos, Efésios, Carta aos Tessalonicenses e Apocalipse.
Didaquê.
INTRODUÇÃO.
Didaquê - A Instrução dos Doze Apóstolos
Instrução do Senhor para as nações segundo os Doze Apóstolos.

Didaquê
Parte I
O CAMINHO DA VIDA E O CAMINHO DA MORTE

CAPÍTULO I

1Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte [Cf Jer 21,8; Dt 5,32s; 11,26-28; 30,15-20; Ecl 15,15-17]. Há uma grande diferença entre os dois.
2Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo [Cf Dt 6,5; 10,12s; Ecl 7,30; Lev 19,18; Mt 22,37]. Não faça ao outro aquilo que você não quer que façam a você [Cf Mt 7,12; Lc 6,31].
3Este é o ensinamento derivado dessas palavras: bendiga aqueles que o amaldiçoam, reze por seus inimigos e jejue por aqueles que o perseguem. Ora, se você ama aqueles que o amam, que graça você merece? Os pagãos também não fazem o mesmo? Quanto a você, ame aqueles que o odeiam e assim você não terá nenhum inimigo [Cf Mt 5,44s; Lc 6,27s; 6,32s].
4Não se deixe levar pelo instinto [Cf 1Ped 2,11]. Se alguém lhe bofeteia na face direita, ofereça-lhe também a outra face e assim você será perfeito. Se alguém o obriga a acompanhá-lo por um quilometro, acompanhe-o por dois. Se alguém lhe tira o manto, ofereça-lhe também a túnica. Se alguém toma alguma coisa que lhe pertence, não a peça de volta porque não é direito [Cf Mt 5,39ss; Lc 6,29].
5Dê a quem lhe pede e não peças de volta pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Bem-aventurado aquele que dá conforme o mandamento pois será considerado inocente. Ai daquele que recebe: se pede por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebeu sem necessidade, prestará contas do motivo e da finalidade. Será posto na prisão e será interrogado sobre o que fez... e daí não sairá até que devolva o último centavo [Mt 5,25s; Lc 12,58s].
6Sobre isso também foi dito: que a sua esmola fique suando nas suas mãos até que você saiba para quem a está dando [Cf Ecl 12,1].

CAPÍTULO II
1O segundo mandamento da instrução é:
2Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique a magia nem a feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe e nem depois que ela tenha nascido.
3Não cobice os bens alheios [Cf Mt 5,33; Ex 20,7], não cometa falso juramento, nem preste falso testemunho, não seja maldoso, nem vingativo.
4Não tenha duplo pensamento ou linguajar pois o duplo sentido é armadilha fatal [Cf Prov 21,6].
5A sua palavra não deve ser em vão, mas comprovada na prática.
6Não seja avarento, nem ladrão, nem fingido, nem malicioso, nem soberbo. Não planeje o mal contra o seu próximo [Cf Ex 20,13-17; Dt 5,17-21].
7Não odeie a ninguém, mas corrija alguns, reze por outros e ame ainda aos outros, mais até do que a si mesmo.

CAPÍTULO III
1Filho, procure evitar tudo aquilo que é mau e tudo que se parece com o mal.
2Não seja colérico porque a ira conduz à morte. Não seja ciumento também, nem briguento ou violento, pois o homicídio nasce de todas essas coisas.
3Filho, não cobice as mulheres pois a cobiça leva à fornicação. Evite falar palavras obscenas e olhar maliciosamente já que os adultérios surgem dessas coisas.
4Filho, não se aproxime da adivinhação porque ela leva à idolatria. Não pratique encantamentos, astrologia ou purificações, nem queira ver ou ouvir sobre isso, pois disso tudo nasce a idolatria.
5Filho, não seja mentiroso pois a mentira leva ao roubo. Não persiga o dinheiro nem cobice a fama porque os roubos nascem dessas coisas.
6Filho, não fale demais pois falar muito leva à blasfêmia. Não seja insolente, nem tenha mente perversa porque as blasfêmias nascem dessas coisas.
7Seja manso pois os mansos herdarão a terra [Cf Mt 5,5; Sl 31,11].
8Seja paciente, misericordioso, sem maldade, tranqüilo e bondoso. Respeite sempre as palavras que você escutou.
9Não louve a si mesmo, nem se entregue à insolência. Não se junte com os poderosos, mas aproxima dos justos e pobres.
10Aceite tudo o que acontece contigo como coisa boa e saiba que nada acontece sem a permissão de Deus.

CAPÍTULO IV
1Filho, lembre-se dia e noite daquele que prega a Palavra de Deus para você. Honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois Ele está presente onde a soberania do Senhor é anunciada [Cf Hb 13,7].
2Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis para encontrar forças em suas palavras.
3Não provoque divisão. Ao contrário, reconcilia aqueles que brigam entre si. Julgue de forma justa e corrija as culpas sem distinguir as pessoas [Cf Dt 1,16s; Prov 31,9].
4Não hesite sobre o que vai acontecer.
5Não te pareças com aqueles que dão a mão quando precisam e a retiram quando devem dar.
6Se o trabalho de suas mãos te rendem algo, as ofereça como reparação pelos seus pecados.
7Não hesite em dar, nem dê reclamando porque, na verdade, você sabe quem realmente pagou sua recompensa.
8Não rejeite o necessitado. Compartilhe tudo com seu irmão e não diga que as coisas são apenas suas. Se vocês estão unidos nas coisas imortais, tanto mais estarão nas coisas perecíveis [Cf At 4,32; Heb 13,16].
9Não se descuide de seu filho ou filha. Muito pelo contrário, desde a infância instrua-os a temer a Deus.
10Não dê ordens com rudeza ao seu escravo ou escrava pois eles também esperam no mesmo Deus que você; assim, não perderão o temor de Deus, que está acima de todos. Certamente Ele não virá chamar a pessoa pela aparência, mas somente aqueles que foram preparados pelo Espírito.
11Quanto a vocês, escravos, obedeçam aos seus senhores, com todo o respeito e reverência, como à própria imagem de Deus [Cf Ef 6,1-9; Col 3,20-25].
12Deteste toda a hipocrisia e tudo aquilo que não agrada o Senhor.
13Não viole os mandamentos dos Senhor. Guarde tudo aquilo que você recebeu: não acrescente ou retire nada.
14Confesse seus pecados na reunião dos fiéis e não comece a orar estando com má consciência. Este é o caminho da vida.

CAPÍTULO V
1Este é o caminho da morte: primeiro, é mau e cheio de maldições - homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatria, magias, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, coração com duplo sentido, fraudes, orgulho, maldades, arrogância, avareza, palavras obscenas, ciúmes, insolência, altivez, ostentação e falta de temor de Deus.
2Nesse caminho trilham os perseguidores dos justos, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os ignorantes da justiça, os que não desejam o bem nem o justo julgamento, os que não praticam o bem mas o mal. A calma e a paciência estão longe deles. Estes amam as coisas vãs, são ávidos por recompensas, não se compadecem com os pobres, não se importam com os perseguidos, não reconhecem o Criador. São também assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam os necessitados, oprimem os aflitos, defendem os ricos, julgam injustamente os pobres e, finalmente, são pecadores consumados. Filho, afaste-se disso tudo.

CAPÍTULO VI
1Fique atento para que ninguém o afaste do caminho da instrução, pois quem faz isso ensina coisas que não pertencem a Deus [Cf Mt 24,4].
2Você será perfeito se conseguir carregar todo o jugo do Senhor. Se isso não for possível, faça o que puder.
3A respeito da comida, observe o que puder. Não coma nada do que é sacrificado aos ídolos pois esse culto é destinado a deuses mortos.

Didaquê
Parte II
A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA

CAPÍTULO VII
1Quanto ao batismo, faça assim: depois de ditas todas essas coisas, batize em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo [Cf Mt 28,19].
2Se você não tiver água corrente, batize em outra água. Se não puder batizar com água fria, faça com água quente.
3Na falta de uma ou outra, derrame água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
4Antes de batizar, tanto aquele que batiza como o batizando, bem como aqueles que puderem, devem observar o jejum. Você deve ordenar ao batizando um jejum de um ou dois dias.

CAPÍTULO VIII
1Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e no dia da preparação.
2Não reze como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou em seu Evangelho. Reze assim: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão-nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai nossa dívida, assim como também perdoamos os nossos devedores e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal [Cf Mt 6,9-13; Lc 11,2-4], porque teu é o poder e a glória para sempre".
3Rezem assim três vezes ao dia.

CAPÍTULO IX
1Celebre a Eucaristia assim:
2Diga primeiro sobre o cálice: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre".
3Depois diga sobre o pão partido: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.
4Da mesma forma como este pão partido havia sido semeado sobre as colinas e depois foi recolhido para se tornar um, assim também seja reunida a tua Igreja desde os confins da terra no teu Reino, porque teu é o poder e a glória, por Jesus Cristo, para sempre".
5Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: "Não dêem as coisas santas aos cães".

CAPÍTULO X
1Após ser saciado, agradeça assim:
2"Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo nome que fizeste habitar em nossos corações e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.
3Tu, Senhor onipotente, criaste todas as coisas por causa do teu nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais e uma vida eterna através do teu servo.
4Antes de tudo, te agradecemos porque és poderoso. A ti, glória para sempre.
5Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu Reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre.
6Que a tua graça venha e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Venha quem é fiel, converta-se quem é infiel. Maranatha. Amém." [Cf 1Cor 16,22; Apoc 22,20]
7Deixe os profetas agradecerem à vontade.

Didaquê
Parte III
A VIDA EM COMUNIDADE

CAPÍTULO XI
1Se vier alguém até você e ensinar tudo o que foi dito anteriormente, deve ser acolhido.
2Mas se aquele que ensina é perverso e ensinar outra doutrina para te destruir, não lhe dê atenção. No entanto, se ele ensina para estabelecer a justiça e conhecimento do Senhor, você deve acolhê-lo como se fosse o Senhor.
3Já quanto aos apóstolos e profetas, faça conforme o princípio do Evangelho.
4Todo apóstolo que vem até você deve ser recebido como o próprio Senhor.
5Ele não deve ficar mais que um dia ou, se necessário, mais outro. Se ficar três dias é um falso profeta.
6Ao partir, o apóstolo não deve levar nada a não ser o pão necessário para chegar ao lugar onde deve parar. Se pedir dinheiro é um falso profeta.
7Não ponha à prova nem julgue um profeta que fala tudo sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas esse não será perdoado [Cf Mt 12,31].
8Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É desse modo que você reconhece o falso e o verdadeiro profeta.
9Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa não deve comer dela. Caso contrário, é um falso profeta.
10Todo profeta que ensina a verdade mas não pratica o que ensina é um falso profeta.
11Todo profeta comprovado e verdadeiro, que age pelo mistério terreno da Igreja, mas que não ensina a fazer como ele faz não deverá ser julgado por você; ele será julgado por Deus. Assim fizeram também os antigos profetas.
12Se alguém disser sob inspiração: "Dê-me dinheiro" ou qualquer outra coisa, não o escutem. Porém, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.

CAPÍTULO XII
1Acolha toda aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examine para conhecê-lo, pois você tem discernimento para distinguir a esquerda da direita.
2Se o hóspede estiver de passagem, dê-lhe ajuda no que puder. Entretanto, ele não deve permanecer com você mais que dois ou três dias, se necessário.
3Se quiser se estabelecer e tiver uma profissão, então que trabalhe para se sustentar.
4Porém, se ele não tiver profissão, proceda de acordo com a prudência, para que um cristão não viva ociosamente em seu meio.
5Se ele não aceitar isso, trata-se de um comerciante de Cristo. Tenha cuidado com essa gente!

CAPÍTULO XIII
1Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se em seu meio é digno do alimento.
2Assim também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como qualquer operário.
3Assim, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê aos profetas, pois são eles os seus sumos-sacerdotes.
4Porém, se você não tiver profetas, dê aos pobres.
5Se você fizer pão, tome os primeiros e os dê conforme o preceito.
6Da mesma maneira, ao abrir um recipiente de vinho ou óleo, tome a primeira parte e a dê aos profetas.
7Tome uma parte de seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, conforme lhe parecer oportuno, e os dê de acordo com o preceito.

CAPÍTULO XIV
1Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro.
2Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado [Cf Mt 5,23-25].
3Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: "Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações".

CAPÍTULO XV
1Escolha bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados pois também exercem para vocês o ministério dos profetas e dos mestres.
2Não os despreze porque eles têm a mesma dignidade que os profetas e os mestres.
3Corrija uns aos outros, não com ódio, mas com paz, como você tem no Evangelho. E ninguém fale com uma pessoa que tenha ofendido o próximo; que essa pessoa não escute uma só palavra sua até que tenha se arrependido.
4Faça suas orações, esmolas e ações da forma que você tem no Evangelho de nosso Senhor.

Didaquê
Parte IV
O FIM DOS TEMPOS

CAPÍTULO XVI
1Vigie sobre a vida uns dos outros. Não deixe que sua lâmpada se apague, nem afrouxe o cinto dos rins. Fique preparado porque você não sabe a que horas nosso Senhor chegará [Cf Mt 24,41-44; 25,13; Lc 13,35].
2Reúna-se com freqüência para que, juntos, procurem o que convém a vocês; porque de nada lhe servirá todo o tempo que viveu a fé se no último instante não estiver perfeito.
3De fato, nos últimos dias se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores, as ovelhas se transformarão em lobos e o amor se converterá em ódio [Cf Mt 24,10-13; 7,15].
4Aumentando a injustiça, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente. Então o sedutor do mundo aparecerá, como se fosse o Filho de Deus, e fará sinais e prodígios. A terra será entregue em suas mãos e cometerá crimes como jamais foram cometidos desde o começo do mundo [Cf Mt 24,24; 2Tes 2,4-9].
5Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam [Cf Mt 24,10-13].
6Então aparecerão os sinais da verdade: primeiro, o sinal da abertura no céu; depois, o sinal do toque da trombeta; e, em terceiro, a ressurreição dos mortos [Cf Mt 24,31; 1Cor 15-52; 1Tes 4,16].
7Sim, a ressurreição, mas não de todos, conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele".
8Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu [Cf Mt 24,30; 26,64].

13/08/2012

EXTRATOS SOBRE RELIGIÃO NO CÓDIGO DE TEODÓSIO


“O Codex Theodosianus (em português: Código de Teodósio), foi uma compilação das leis do Império Romano sob os imperadores cristãos desde 312. Uma comissão foi criada por Teodósio II em 429 e a compilação foi publicada na metade oriental do Império Romano em 438. Um ano depois, também foi introduzida no Ocidente pelo imperador Velentiniano III. Em 26 de março de 429, o imperador Teodósio II anunciou ao senado de Constantinopla suas intenções para formar um comitê para codificar todas as leis do reino de Constantino I até Teodósio II e Valentiniano III. Vinte e dois pesquisadores, trabalhando em duas equipes, trabalharam de 429 a 438 para montar o que viria a tornar-se o Codex  Theodosianus. Seu produto era uma coleção com mais de 2.500 constituições emitidos entre 313 e 437. John F. Mathews ilustra a importância do Codex Theodosianus quando ele disse, "O Código de Teodósio foi a primeira ocasião desde a Lei das Doze Tábuas em que o governo romano tinha tentado por uma autoridade pública recolher e publicar as suas leges." O código aborta temas políticos, socioeconômicos, culturais e religiosos do século IV e V no Império Romano. http://pt.wikipedia.org

EXTRATOS SOBRE RELIGIÃO NO CÓDIGO DE TEODÓSIO

Tradução: Carlos Martins Nabeto

·        XI,7,13: "O andamento dos processos judiciais e toda forma de negócio cessarão aos domingos, que nossos pais corretamente denominam 'Dia do Senhor', e [nesse dia] ninguém contrairá débitos públicos ou privados; os juízes também não ouvirão os debates dos advogados nomeados pela lei ou escolhidos voluntariamente pelas partes litigantes. Estes serão tidos não apenas por infames como também sacrílegos se, nesse dia, não comparecerem ao culto e observarem a santa religião". Graciano, Valentiniano e Teodósio Augustos.
·        XV,5,1: "No Dia do Senhor - isto é, o primeiro dia da semana - durante o Natal e também na Epifania, Páscoa e Pentecostes, considerando que as vestes [brancas dos cristãos] simbolizarão a luz da limpeza celestial, testemunhando a nova luz do sagrado batismo, também no tempo de sofrimento dos apóstolos - exemplos para todos os cristãos - os prazeres oferecidos pelos teatros e jogos deverão estar indisponíveis ao público, em todas as cidades, e toda meditação dos cristãos e crentes deverão se ocupar com a adoração de Deus. E se alguém se afastar da adoração em virtude da louca impiedade dos judeus ou por erro do insano e tolo paganismo, este deverá ficar sabendo que existe uma hora para rezar e outra para se divertir. E para que ninguém possa pensar que está obrigado a adorar nossa pessoa - como se tivesse grande necessidade de [cumprir] seu ofício imperial - ou tente dar sustentação aos jogos como desobediência da proibição religiosa [pagã], estará este ofendendo a nossa serenidade, demonstrando menos devoção para conosco; ninguém duvide que nossa clemência é reverenciada pela humanidade, no mais alto grau, quando a adoração de todo o mundo é prestada ao Deus todo-poderoso e todo-bondade". Teodósio Augusto e César Valentiniano.
·        XV,12,1: "Espetáculos sangrentos não são adequados para a paz civil nem para a tranqüilidade doméstica. Assim, já que tornamos proibido o ofício dos gladiadores, aqueles que eram sentenciados com essa punição, por causa de seus crimes, devem passar a trabalhar nas minas, onde continuarão a ser punidos, mas sem derramamento de sangue". Constantino Augusto.
·        XVI,1,2: "Desejamos que todos os povos que estão sob o domínio de nossa clemência vivam aquela religião transmitida pelo venerável apostólo Pedro aos romanos, seguido, como é evidente, pelo papa Dâmaso e Pedro, bispo de Alexandria, homem de santidade apostólica. É nisto que devemos crer: em um só Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, com igual majestade e em Santíssima Trindade, conforme o ensinamento apostólico e a autoridade do evangelho". Graciano, Valentiniano e Teodósio Augustos.
·        XVI,5,1: "É necessário que os privilégios concedidos para o cultivo da religião sejam oferecidos somente aos fiéis da fé católica. Desejamos que os hereges e cismáticos não apenas fiquem sem tais privilégios, como também estejam sujeitos a diversas multas". Constantino Augusto.
·        XVI,5,3: "Sempre que for encontrada uma reunião de pessoas maniqueístas, seus líderes serão punidos com pesadas multas e os demais presentes serão conhecidos como infames e desonrados, e serão impedidos de se associarem com os homens; as propriedades e casas onde tal doutrina profana for pregada serão desapropriadas pelos oficiais da cidade". Valentiniano e Valêncio Augustos.
·        XVI,7,1: "A capacidade e o direito de testamento devem ser retirados daqueles que eram cristãos e se tornaram pagãos; e, se acaso, de algum modo, conseguiram deixar testamento, este será ab-rogado após sua morte". Graciano, Valentiniano e Valêncio Augustos.
·        XVI,10,4: "Fica decretado que em todos os lugares e em todas as cidades os templos [pagãos] deverão ser fechados definitivamente e, após uma advertência geral, também a possibilidade do pecado será proibida ao ímpio. Decretamos, ainda, que os sacrifícios [aos deuses] não serão mais realizados. E se alguém cometer tal crime, será ferido com a espada da vingança; decretamos que a propriedade do executado poderá ser tomada pela cidade e os governadores das províncias serão punidos da mesma forma se negligenciarem na punição desses crimes". Contantino e Constâncio Augustos.

Bíblia ecumênica? Isto é contra a fé!


Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

O falso ecumenismo hoje reinante encarece uma leitura ecumênica da Sagrada Escritura. Multiplicam-se as assembléias inter-confessionais  em que se recitam trechos bíblicos, fazem-se  comentários amenos às páginas sagradas, tudo em um clima de paz e amor, sem nenhuma preocupação séria com o sentido autêntico das Sagradas Letras. Promovem-se edições da Bíblia com a participação de “especialistas” representantes das diversas “confissões”. É assim, diria o Padre Vieira, que a Palavra de Deus se transforma em palavras do homem ou do diabo. Pobre gente que perde seu tempo profanando a palavra divina para colocá-la a serviço de uma utopia.
Como se sabe, a Sagrada Escritura tem inúmeras passagens obscuras, de dificílima interpretação. É de fé que o depósito da Revelação, Sagrada Tradição e Sagrada Escritura, foi confiado ao magistério da Igreja. Ademais, compreende-se perfeitamente que a Igreja e a Tradição têm uma primazia sobre a Bíblia Sagrada, porquanto o próprio cânon bíblico só nos é conhecido com autenticidade pelo testemunho autorizado da Igreja e da tradição.
Por outro lado, todo o conteúdo da Sagrada Escritura, inclusive os livros históricos, se ordena a um fim sobrenatural, salvífico. Os livros sapienciais, com tantos ensinamentos maravilhosos que iluminam e consolam a vida do homem neste vale de lágrimas, tampouco visam a um fim meramente humanista ou filantrópico, de maneira que possam ser empregados para justificar ou ilustrar com propriedade empreitadas mundanas ou políticas. Esses livros igualmente, ao auxiliarem o homem a viver bem, a buscar a santidade conforme a lei de Deus, ensinam-lhe a esperar com fé a vida futura e não a felicidade na terra.
Qualquer leitura deve ser feita com honestidade, respeitando-se o sentido e a intenção do autor. Com plena honestidade e suma reverência, portanto, se deve procurar ler a Sagrada Escritura, com fidelidade ao seu conteúdo. Assim diz o Espírito Santo pela boca do apóstolo qual o fim do texto sagrado: “E desde a infância conheces as sagradas escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça” (II Tm. 3,15-16).
Tal é o fim da Bíblia Sagrada, formar o homem na santidade, com vista à vida eterna. Não foi escrita para que servisse de panfleto político de um projeto de reforma ou revolução social, como pretende a teologia da libertação com sua leitura deturpada do livro do Êxodo com a narrativa da libertação do povo hebreu do cativeiro do Egito.
Ora, nós, católicos, apoiados no testemunho universal e concorde dos padres da Igreja e do magistério eclesiástico, sempre professamos que a chave de leitura dos sagrados textos é a Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para ele convergem, de uma forma ou de outra, todas as coisas encerradas na Bíblia. Mais ainda. A verdadeira chave de leitura da Bíblia é descobrir em suas páginas o Cristo total, quer dizer, o seu Corpo Místico, a Santa Igreja.
Vale a pena citar algumas passagens de Santo Agostinho, o maior dos padres da Igreja Latina. Em seu comentário ao salmo 96, falando da obscuridade de algumas passagens da Escritura, diz: “Por grande que seja a dúvida que possa suscitar-se no ânimo do homem ao ouvir a Escritura de Deus, não se afaste de Cristo. Quando lhe houver sido revelado Cristo naquelas palavras, compreenda que entendeu, pois antes de chegar ao entendimento de Cristo não presuma haver entendido.”
Se o mistério de Cristo é o núcleo de toda a Sagrada Escritura, como então admitir uma leitura bíblica em comum com a sinagoga? Em outro comentário, Santo Agostinho é mais claro ao falar do Cristo e da Igreja, seu corpo místico : “O ensinamento e a doutrina desta escola é tal, que vos servirá para entender não um salmo, mas muitos se aplicais esta regra. Algumas vezes os salmos, e não apenas os salmos, mas também a profecia, falam de tal modo de Cristo, que só se referem à Cabeça; outras da Cabeça passam ao Corpo, isto é, à Igreja, sem parecer que mudaram de pessoa. Isto ocorre porque não se separa a Cabeça do Corpo, mas que se fala como de um todo. (Super Psalmos, 90). E explanando o salmo 30, diz o santo doutor: “os profetas falaram de maneira mais obscura sobre Cristo do que sobre a Igreja, porque viam no Espírito que alguns haveriam de criar facções contra a Igreja e não levantariam tantos pleitos contra Cristo. Sobre a Igreja excitariam grandes contendas. Por isto, sobre o objeto de maiores discussões, as predições foram mais claras e as profecias mais manifestas, a fim de merecerem o juízo aqueles que viram e fugiram para longe.”
Ressalte-se a importância dessas palavras de Santo Agostinho os profetas falaram com mais clareza sobre a Igreja. Isto significa que  não se pode ter um conceito vago ou ambíguo da Igreja, como se fosse uma sociedade sem contorno definido que se confundisse com a humanidade inteira. Essas palavras de Santo Agostinho arrancam pela raiz a erva daninha do falso ecumenismo de nossos dias. A Bíblia fala com clareza da Igreja. E a Igreja não está para ser inventada ou construída conforme uma ideologia qualquer. É a Igreja Católica que tem dois mil anos de tradição. O falso ecumenismo, contradizendo a doutrina de Santo Agostinho, isto é, separando a Cabeça do Corpo, transforma Cristo em monstro, porquanto diz que Cristo, a cabeça, tem vários corpos, várias igrejas.
Se tal é o conteúdo das profecias, como admitir leitura ecumênica da Bíblia sem incorrer em doentio subjetivismo? Só será possível semelhante leitura, se no fundo houver a intenção de desmantelar a Igreja institucional, fundada por Cristo sobre a rocha de Pedro. Se houver uma nova eclesiologia herética que negue a Igreja visível  ou alargue as suas fronteiras  de modo que venha a compreender todos os que têm algum tipo de interesse pela Bíblia e assim possam aplicar a si próprios as profecias, então será possível uma leitura ecumênica da Sagrada Escritura. Em última análise, para os ecumenistas, se a Bíblia fala de uma igreja, esta só poderá ser a própria humanidade, representada por todos homens “de boa vontade” em demanda da unidade.
A meu ver, é exatamente isto que se verifica hoje. Utiliza-se a Bíblia para promover a revolução mundial. É citada para justificar, louvar qualquer tipo de comportamento ou iniciativa. Ninguém se sente excluído do amparo da Bíblia. A Bíblia não condena ninguém. Até os adoradores de Baal poderão hoje propor uma nova interpretação pelo qual o seu ídolo será tão respeitado quanto o Deus vivo e verdadeiro.
Não bastasse a sólida doutrina patrística, temos ainda o ensinamento claríssimo do Catecismo de São Pio X sobre a leitura da Bíblia que diz:

“A leitura da Bíblia não é necessária a todos os cristãos, sendo, como são, instruídos pela Igreja; mas é contudo útil e recomendada a todos.”
“Só se podem ler as traduções da Bíblia que são aprovadas pela Igreja porque só Ela é legítima depositária e guarda da Bíblia.”
“O verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras podemos conhecê-lo só por meio da Igreja, porque só a Igreja é que não pode errar ao interpreta-las.”
“Um cristão a quem fosse oferecida a Bíblia por um protestante, ou por algum emissário dos protestantes, deveria rejeitá-la com horror, por ser proibida  pela Igreja. E, se a tivesse aceitado sem reparar, deveria logo lançá-la  ao fogo ou entregá-la ao próprio pároco.”

Como entender que haja católicos hoje partidários de um falso ecumenismo que contradiz abertamente toda a doutrina tradicional da Igreja? Isto só se explica se  se recordar que sociedades secretas de especulação mística sempre pretenderam ver um sentido esotérico na Sagrada Escritura com o objetivo de reformar o homem, construir um homem novo emancipado de dogmas, autoridades, enfim, um homem sem nenhum vínculo mas totalmente livre. Em suma, essas sociedades secretas pretendem estabelecer uma aliança do homem com a serpente, pretendem induzir o homem a comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, de maneira que ele decida para si o que é bom, sem respeitar a ordem natural das coisas.
Com muita razão dizia Donoso Cortés em 1851, no célebre Ensayo sobre el catolicismo, liberalismo y socialismo: “Quem não vê nas revoluções modernas, comparadas com as antigas, uma força de destruição invencível, que, não sendo divina, é forçosamente satânica? Antes de deixar esse assunto, me parece coisa oportuna fazer aqui uma observação importante, que proporei à meditação dos meus leitores. De dois diálogos do anjo das trevas, temos notícia exata; a primeira foi com Eva no paraíso; a segunda foi com o Senhor no deserto. Na primeira disse  palavras de Deus, desfiguradas a seu modo; na segunda citou a Escritura, interpretada a sua maneira. Seria temerário crer que assim como a palavra de Deus, tomada em seu sentido verdadeiro, é a única que tem o poder de dar a vida, é a única também que, sendo desfigurada, tem o poder de dar a morte? Se for assim, fica suficientemente explicado por que as revoluções modernas, nas quais se desfigura mais ou menos a palavra de Deus, têm essa virtude destruidora.”
Conclui-se, pois, que o diabo, pai da mentira, é também o pai do falso ecumenismo hoje reinante que corrompe a Palavra de Deus. 

Anápolis, 22 de agosto de 2008
Festa do Imaculado Coração de Maria