Por Marian T. Horvat*
Traduzido por Andrea Patrícia
Parece
tão bom e saudável - jovens reunidos para saudar o Papa, celebrar sua fé
Católica e aprender mais sobre ela para evangelizar os outros. O que poderia
haver de errado com a Jornada Mundial da Juventude lançada por João Paulo II em
1985 em Roma, e repetida 18 vezes mais em cidades ao redor do mundo? Em 1993,
os EUA organizou uma Jornada Mundial da Juventude em Denver. Em julho de 2002,
o Canadá teve sua vez, em Toronto.a
Tenho
falado frequentemente com os pais com "dúvidas" sobre a JMJ. Mas,
certamente, eles
racionalizam: deve dar tudo certo porque o Papa vai estar lá,
os Bispos o apoiam, e o pároco ou diretor CCD vai dirigir a van levando homens
e mulheres jovens ao evento. O alarme deve estar indo embora com aquela última
frase: sempre foi contra a moral Católica que jovens de sexos mistos viajem
juntos como uma grande família para acampar ou fazer retiros durante a noite.
Estas novas práticas estranhas ignoram a realidade do pecado original; elas
seguem uma moral frouxa de uma nova Igreja pós-Vaticano II.
Para
expor a doutrina desta Contra-Igreja e como isso moldou o Dia Mundial da
Juventude igualitário e pan-religioso, Cornelia Ferreira e John Vennari uniram
forças em frentes diferentes, no local e nos bastidores do que está acontecendo
na JMJ.
O editor
da CFN, Vennari, conta a história no local. Em julho de 2002, ele decidiu
participar da JMJ canadense para fornecer um testemunho ocular do que se passa.
Ele permaneceu com a família da respeitada autora e palestrante Cornelia
Ferreira que estava fazendo uma extensa pesquisa sobre como o evento era parte
de uma Igreja reestruturada pelo Vaticano II. Os dois autores decidiram unir
seus esforços. Foi uma união fecunda, que nos deu seu livro recém-lançado,
World Youth Day, From Catholicism to Counterchurch.
Agora, os
pais com dúvidas saudáveis sobre o JMJ têm um recurso seguro para aprender
tanto sobre o que acontece em uma JMJ, quanto sobre o pensamento ruim e a
doutrina modificada que é o combustível dela.
Parte Um:
da Igreja para a Contra-Igreja
Desde o
Concílio Vaticano II, alguns slogans tornaram-se jargão comum no discurso da
Contra-Igreja. A Sra. Ferreira mostra como "comunidade" e
"peregrinação" foram manipulados para criar um novo conceito de
Igreja (Cap.1). Programas de Educação Religiosa, reuniões de conselho
paroquial, eventos como a JMJ, são usados para promover a
"comunidade".
Mas
observe com cuidado, não estamos mais falando de uma vida normal de uma
paróquia Católica, mas sim de uma comunidade expandida, incluindo seguidores de
outros credos, e mesmo aqueles que não professam qualquer credo. A ideia é
colocar a doutrina de lado para que todos possam se unir ao diálogo, ou
"fazer o bem" aos outros. É a grande fraternidade universal, a
unidade sem fronteiras, a qual João Paulo II muitas vezes se referiu em seus
discursos para a juventude (p.118).
A
propaganda da JMJ também fala constantemente de peregrinação: juventude como
peregrinos, jovens em peregrinação. Mas, novamente, a palavra mudou.
Peregrinação não significa mais uma viagem a um lugar sagrado. Tornou-se uma
jornada evolutiva de "autodescoberta", de encontrar sua própria
espiritualidade. As sessões JMJ incentivam os jovens a desafiar a autoridade e
"as velhas formas" e trabalhar juntos para criar novas soluções para
questões religiosas em sintonia com os tempos. Todos unidos para encontrar os
valores que definem o seu espírito, os jovens aprendem e, em seguida,
colocam-nos em prática.
Esse é
supostamente um estágio superior do "processo de fé", observa a Sra.
Ferreira, uma Igreja nova e democrática "sempre vindo a ser"
supostamente superior à Igreja antiquada de doutrina definida e moral
firmemente fixada (p.30-6). Na verdade, o dogma deve ser evitado porque é um
princípio de divisão em vez de união. Ele não construiu comunidade...
O
espírito falso da JMJ
Qual é o
espírito da JMJ? A Sra. Ferreira descreve-o como adolescente e artificial
(Capítulos 3 e 4). O próprio nome é falso: a chamada "juventude"
inclui uma boa porção de adultos de até 35 anos de idade. O evento não é um
"dia", mas se estende a uma semana de "experiências"
regulares que giram em torno de shows de pop e rock, uma grande festa.
A
celebração é uma farsa. A juventude celebra a si mesma: "Nós somos a
Juventude, o futuro do mundo!" "Nós somos a luz do mundo e sal da
terra". O objetivo da evangelização é uma farsa: ao invés de trazer outras
pessoas para a verdade da fé Católica, os jovens abraçam e "trocam
experiências" com pessoas de todas as religiões e credos. Os facilitadores
do evento nem sequer são obrigados a ser católicos.
O
objetivo da unidade é também uma farsa, uma vez que é baseada em uma falsa
premissa de que todas as religiões levam à salvação, que todos os deuses dos
falsos credos podem ser adorados ao lado de um verdadeiro Deus. No Canadá, por
exemplo, os católicos participaram de ritos cerimoniais pagãos indianos para o
"grande espírito", que foram referidos como "serviços de oração
tradicional" (p. 90).
Outro
item considerado irrelevante na JMJ é o código moral de tempos passados. A Sra.
Ferreira observa: "Em Roma, apelidado de "Woodstock Católico",
ombros nus, barrigas de fora e microssaias foram autorizados em São Pedro, e a
Missa papal mostrou meninas dançando em trajes transparentes". Em Toronto,
os peregrinos "tiravam as roupas ficando de biquíni e brincavam em uma
fonte em uma via principal" (p. 64). Na noite antes da Missa Papal, os
jovens – homens e mulheres juntos - estavam acampados em tendas ou sacos de
dormir o que valeu o apelido dado pela imprensa secular de "festa do
pijama Papal" [1] (p. 65). O que aconteceu em algumas dessas tendas pode
ser deixado para a imaginação do leitor. Certamente, foi para evitar este tipo
de escândalo que a moral Católica sempre - até o Vaticano II - proibiu que
homens e mulheres não casados dormissem em tais condições.
E depois
há o entretenimento, a abundância de rock, dança e teatro para manter as coisas
vivas. Na JMJ 2002, em Toronto, por exemplo, havia 25 etapas, onde 500
performances diferentes foram executadas. Os “peregrinos" no geral não
estavam buscando um conhecimento mais profundo da fé Católica, mas sim
"comunidade", experiência e diversão. É como a Sra. Ferreira
apropriadamente a denomina: "a religião como diversão."
As raízes
da JMJ
Em dois
capítulos esclarecedores, a Sra. Ferreira examina as origens da JMJ. Sempre me
foi ensinado que se você quiser entender a intenção de um movimento, você deve
encontrar as suas raízes. No capítulo cinco, ela mostra as raízes da JMJ: os
grupos progressistas não tão transparentes que têm surgido na Igreja depois do
Concílio Vaticano II para construir uma nova Igreja, com base na comunidade.
Estes são movimentos leigos como os dos Focolares, Comunhão e Libertação, e o
Caminho Neocatecumenal.
Os
métodos empregados na JMJ seguem a "fórmula" do Movimento dos
Focolares: bandas, danças, testemunhos pessoais, aplausos altos. A emoção
delirante exibida para o Papa é paralela à "histeria em massa
manipulada" em torno da fundadora do movimento Chiara Lubich. Os
princípios igualitários e ecumênicos que orientam esses grupos na construção de
uma nova igreja futura são os mesmos que dirigem a agenda da JMJ. Na verdade,
esses movimentos fornecem uma grande parte dos diretores e equipe de trabalho
para os eventos JMJ. E tal como a JMJ, a revolucionária "espiritualidade
da unidade" de Lubich desfrutou da bênção incondicional de João Paulo II.
O
Capítulo Seis, "Teilhard e o Triunfo do Sillon", se aprofunda mais
ainda. "A peregrinação da Igreja para a Contra-Igreja começou no Concílio
Vaticano II", observa a Sra. Ferreira, "utilizando as forças
combinadas da Maçonaria, Humanismo, Comunismo e Modernismo." Ela mostra
como cada um desses inimigos irrompeu no Concílio para se tornar política
oficial e começar a remodelar a face da Igreja.
Em
particular, ela aponta para Teilhard de Chardin como um dos mentores da nova
religião baseada na experiência pessoal, objetivos humanistas, e um sonho
iluminista. O pensamento de Chardin teve uma forte influência sobre o teólogo
modernista Karl Rahner, um dos primeiros a difundir o conceito de "Igreja
como povo de Deus", que ele incorporou em sua escrita da Lumen Gentium.
Rahner sustentou que os próprios fiéis eram a fonte da autoridade na Igreja e,
portanto, a fonte do profetismo.
Permitam-me
acrescentar uma nota aqui: Karl Rahner foi o mentor de outro teólogo
progressista em ascensão no Concílio, o padre Joseph Ratzinger. Até o momento,
o discípulo nunca renunciou ou condenou o pensamento revolucionário de seu
mestre. Pode-se indagar se, como Bento XVI, Ratzinger vai denunciar esta
doutrina ruim? Além disso, ele vai corrigir as infrações galopantes contra a Fé
Católica que tipificam o Dia Mundial da Juventude? [2]
Até
agora, o Papa Bento XVI afirmou que ele estaria presente na próxima Jornada
Mundial da Juventude em Colônia, na Alemanha, que promete seguir o padrão
anterior de um evento para promover a tolerância às falsas religiões, maus
costumes e vulgaridade. Será que virá uma palavra do Papa Ratzinger e mudará a
direção do evento? Até agora, pelo menos, nada foi dito.
Parte
Dois: JMJ experimentada
Canadá
JMJ 2002
Na
segunda parte, John Vennari nos leva à JMJ de Toronto. Do show de punk rock na
sexta-feira (Capítulo 10) às Estações da Cruz e das "não muito
solenes" Vésperas (Capítulo 12), à Missa Papal carregada de abusos
litúrgicos (Capítulo 15), seguimos os seus passos cansados e observações
muitas vezes incrédulas de que ele finalmente apelida de "o dia mundial da
juventude dormir fora" onde os jovens "cruzam o limiar do
paganismo" (Capítulo 14).
Poderíamos
ser tentados a pensar que Vennari está exagerando sua descrição para causar
efeito, mas esse não é o caso. Ele tem o cuidado de apontar grupos piedosos
aqui e ali, ele observa os jovens bem-intencionados e nada óbvios cantando
hinos católicos; ou um momento solene nos serviços. O que ele relata é a mesma
história que ouvi de outros participantes. O tom dominante é o de um festival
de rock 'n' roll, e a intenção geral da juventude presente é conhecer outras
pessoas e se divertir.
O que a
"experiência" ensina aos jovens? O que seu filho ou filha
implicitamente aprenderia ao fazer parte de um evento como esse? John Vennari
diz claramente: eles são ensinados de que não há nada de errado com a dança
litúrgica, a música rock, leigos leitores da leitura da Epístola, vestuário
indecente e desleixado na Missa, rituais pagãos, ministros leigos e Comunhão na
mão. Em suma, ele conclui:
"A
Jornada Mundial da Juventude oferece uma falsificação, uma religião emocional
do tipo “comício animado”. Suas cerimônias contêm inúmeras novidades, práticas
e sacrilégios que foram condenados pelo constante ensinamento e prática dos
Papas ao longo dos séculos. A JMJ é um escândalo para os nossos jovens. Ela
corrompe a juventude." (P. 214-5).
Pão e
circo
Até o
final do século I, o Império Romano esteve em uma fase de decadência e corrupção.
O outrora orgulhoso cidadão do Senado e reto romano tinha sido enfraquecido por
uma sucessão de imperadores corruptos e decadentes e um relaxamento geral dos
costumes. As pessoas estavam distraídas dos problemas do colapso do Império
porque tinham pão e circo, comida barata e entretenimento gratuito: as corridas
de bigas do Circus Maximus, os violentos combates de gladiadores e o abate de
mártires católicos no Coliseu.
O Senador
Romano Juvenal lamentou o estado reduzido de pessoas, que não mais buscavam
honrarias, batalhas, ideais elevados e orações sóbrias, mas clamavam "por
apenas duas coisas: pão e circo". Panem et circenses.
A
expressão “pão e circo” referia-se a benefícios ou divertimentos destinados a
aplacar ou desviar a atenção de uma situação grave. Eu acho que se aplica muito
apropriadamente à popular JMJ. Pão e circo para a juventude - para distraí-los
da seriedade do catolicismo, oferecendo entretenimento pop e uma religião de
diversão e jogos, uma espiritualidade para atender às suas fantasias. A
pergunta vem à mente: quem é mais a culpado, as autoridades eclesiásticas que
patrocinam e promovem esses circos JMJ, ou as massas de jovens que os
frequentam?
John
Vennari responde:
"Minha
maior frustração não é com os jovens, muitos dos quais eu acredito que são bem
intencionados, mas... enganados. Minha frustração principal é com os adultos
que promovem, organizam, participam, e louvam a Jornada Mundial da Juventude
como se fosse um meio legítimo para transmitir o catolicismo." (P. 162).
Em seu
último capítulo, Vennari define claramente o caminho correto para o católico
sério que ama a Deus e a Santa Igreja, o católico que iria seguir o Magistério
perene ao invés de abraçar novidades, abusos e heresias. Ele fornece sólida
evidência do ensinamento dos Papas do passado, Santos e Doutores da Igreja ao
qual um católico tem o direito para manter a pureza da Fé e da doutrina e da
prática. Além disso, um católico tem o dever de resistir ao ensino errôneo e às
novidades, mesmo que tais ensinamentos ou novidades em questão partam de um
Papa.
No caso
da Jornada Mundial da Juventude, a aplicação deste ensinamento é muito simples.
Se você sabe o tipo de atividades que acontecem lá, se você sabe qual o falso
pensamento e doutrina que estimula o seu espírito - o que você vai saber, se
você ler esta obra - então a JMJ deve ser enérgica e inequivocamente rejeitada.
*Resenha
do livro World Youth Day, From Catholicism to Counterchurch [Jornada Mundial da
Juventude, do catolicismo para a Contra-Igreja], por Cornelia R. Ferreira e
John Vennari, Canisius Books, 2005, 229 p.
Publicado
em Catholic Family News, junho de 2005.
Notas da
tradutora:
[1] Festa
do pijama: festa onde crianças ou adolescentes dormem fora de casa.
[2] Hoje
podemos ver que Bento XVI não corrigiu nada na JMJ. Tudo continuou ruim nas
edições posteriores.
Fonte:
Rosamulher.com
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